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LISTA DE VARIÁVEIS

1.6 Situação em Portugal na avaliação e gestão de situações de seca e escassez

1.6.1 Avaliação e gestão de situações de seca

De acordo com o verificado no ponto 1.4, não existe um enquadramento legal específico para a avaliação e gestão de situações de seca. Como tal, para melhor compreensão de como é efectuada actualmente a avaliação e gestão de situações de seca, será descrito o processo que

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foi seguido na situação mais recente de seca que afectou Portugal Continental, designada como Seca 2005, e que foi, também, utilizada para demonstrar a experiência de Portugal nesta matéria, no relatório da UE sobre planos de gestão de seca (DG Env EC, 2007a).

Em situação normal, tanto o INAG, IP como o IM, IP avaliam, de forma contínua, as condições de precipitação do país, através de ferramentas/ índices específicos. No caso do INAG, IP, é utilizado o Standardized Precipitation Index (SPI)26 (Mckee et al, 1993) e um modelo de avaliação de secas regionais27 (INAG, 1998), enquanto no caso do IM, IP é utilizado o Palmer Drought Severity Index (PDSI)28 (Palmer, 1965; Cabrinha & Santo, 2000; WMO, 2006).

Por outro lado, além dos dados de precipitação, o INAG, IP possui ainda um Sistema de Vigilância e Alerta de Recursos Hídricos (SVARH) que, além das secas, versa igualmente a detecção de situações de cheias e acidentes de poluição, e que permite conhecer, em tempo quase real, o estado hidrológico dos rios e das albufeiras do país (caudais, níveis de água, volumes armazenados e parâmetros de qualidade da água) bem como informação meteorológica relevante. As estações de monitorização, automáticas e com capacidade de teletransmissão de informação, estão localizadas nos principais pontos críticos de vigilância daqueles acontecimentos (INAG, 2003).

Este é o sistema que serve de base ao Programa de Vigilância e Alerta de Situações de Seca, em prática pelo INAG (INAG, 2005) e descrito em mais detalhe em Santos & Henriques (1998), segundo o qual a vigilância das situações de seca é efectuada tendo em conta o regime pluviométrico do território continental e os períodos críticos de avaliação das reservas hídricas para determinados usos. Com essa base, são definidos, como pontos de análise periódica, os meses de Janeiro e Março, surgindo a confirmação da existência de seca ao 8º mês do ano hidrológico, ou seja, em Maio (Figura 1.19). Segundo este esquema, no final do ano hidrológico é ainda efectuada uma análise estatística da situação de seca.

Figura 1.19: Sequência do acompanhamento e avaliação da severidade de seca com base no SVARH (Santos & Henriques, 1998; INAG, 2005)

26 Descrição mais completa no capítulo 2 (ponto 2.2.3) 27

Idem (ponto 2.2.4)

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Assim, quando se verificam condições de precipitação abaixo das condições normais, o IM, IP informa a Comissão de Gestão de Albufeiras, que analisa a situação, também com base nos elementos de avaliação do SVARH, particularmente no que toca ao armazenamento nas principais albufeiras nacionais e considerando estimativas das necessidades alocadas às mesmas. Se a deliberação desta Comissão for de existência de uma situação de seca, tal como sucedeu no caso da Seca de 2005 (CGA, 2005), é comunicada ao Governo a necessidade de declaração de situação de seca e de criação de um programa específico de acompanhamento e mitigação dos efeitos da mesma (DG Env EC, 2007a).

Por outro lado, no que toca à gestão de situações de seca, tal como destacado no ponto anterior29, o Instituto da Água (INAG) é o organismo nacional com as principais responsabilidades. Porém, devido à complexidade do fenómeno de seca, a sua gestão deverá ainda envolver utilizadores dos diversos sectores, tais como o abastecimento urbano, os sectores agrícola e das florestas, da indústria, do turismo, da energia e, mesmo, do ambiente.

Nesse contexto, após declaração formal de situação de seca, e da definição e aprovação do programa de acompanhamento e mitigação dos efeitos da situação de seca em causa, deverá ser estabelecido um modelo organizacional de gestão. No caso da Seca 2005, o esquema de gestão foi estabelecido pela Resolução do Conselho de Ministros nº 83/ 2005, sendo composto por dois níveis distintos:

 Nível Político-Estratégico: Comissão para a Seca 2005;

 Nível Técnico-Operacional: Secretariado Técnico (responsabilidade do INAG).

Esse mesmo documento (RCM nº 83/2005 - ponto 2) definiu que a Comissão para a Seca 2005 era encarregue de “acompanhar de forma permanente a situação de seca e de preparar e propor medidas de emergência a adoptar, sendo composta por representantes das entidades:

Instituto da Água, que coordena;

Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (actual Associação Nacional de Protecção Civil - ANPC);

Instituto Regulador de Águas e Resíduos;

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (função actualmente desempenhada pela ARH Norte);

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (função actualmente desempenhada pela ARH Centro);

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (função actualmente desempenhada pela ARH Tejo);

Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (função actualmente desempenhada pela ARH Alentejo);

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Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (função actualmente desempenhada pela ARH Algarve);

Direcção-Geral de Geologia e Energia;

Direcção-Geral da Empresa;

Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (actual Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural - DGADR);

Direcção-Geral dos Recursos Florestais;

Gabinete de Planeamento e Política Agro-Alimentar (actual Gabinete de Planeamento e Políticas);

Direcção-Geral da Saúde;

Instituto de Meteorologia;

Águas de Portugal, SGPS, S. A.;

Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva, S. A.;

Associação Nacional dos Municípios Portugueses.”

Além das entidades referidas, foram ainda incluídas, nas reuniões desta comissão, representantes de estruturas associativas dos sectores da agricultura, da indústria e do abastecimento de água RCM nº 83/2005 - ponto 3).

Entre as actividades atribuídas à referida Comissão destacam-se (DG Env EC, 2007a): a) Estabelecimento de níveis de severidade dos impactos de seca;

b) Criação de um sistema para contacto entre as entidades envolvidas na gestão da situação de seca e divulgação de informação;

c) Gestão da evolução da situação de seca mediante o diagnóstico regular e a identificação de medidas a adoptar.

d) Identificação das entidades responsáveis pela implementação das medidas;

e) Identificação e proposta de adopção das iniciativas de índole legislativa e orçamental que se revelem necessárias;

f) Identificação de um conjunto de medidas específicas de apoio ao prosseguimento da actividade agrícola nas zonas afectadas;

g) Identificação das medidas, preconizadas no Programa para o Uso Eficiente da Água, aplicáveis no imediato e preparação de medidas a adoptar a médio e longo prazo;

h) Activação de um grupo de emergência no seio da Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção (CADC) (para gestão das bacias partilhadas com Espanha).

Por sua vez, o Secretariado Técnico, sendo responsável pelos aspectos técnicos e operacionais de avaliação e gestão da situação de seca, teve como principais atribuições (RCM nº 83/2005 – ponto 7):

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“a) Assegurar a produção de um relatório quinzenal de evolução da situação da seca; b) Apreciar os pedidos dirigidos às diversas entidades que integram a Comissão solicitando apoio técnico e financeiro, (…).”

Como conclusão poderá considerar-se que a base de funcionamento deste modelo organizacional estabelecido para a situação de seca de 2005 assentou, essencialmente, na disponibilização de informação a todas as entidades responsáveis pela gestão de secas, bem como aos principais agentes económicos e ainda ao público em geral. A avaliação de seca foi sempre efectuada em tempo real, em relatórios quinzenais, incluindo a quantificação das disponibilidades ao nível do escoamento em rios, reservas em albufeiras e níveis das águas subterrâneas, sendo definidos diferentes níveis de prioridade na satisfação dos diferentes sectores utilizadores e, ainda, eventuais restrições. De igual forma foram sistematizados os principais impactos ocorridos, bem como as medidas adoptadas segundo cada sector utilizador.

Por último, o Secretariado Técnico efectuou ainda uma série de contactos próximos das entidades representativas dos diferentes sectores utilizadores, de forma a avaliar e quantificar, as medidas necessárias para colmatar as perdas devidas à situação de seca, inclusivamente do ponto de vista económico (DG Env EC, 2007a).

Do funcionamento da Comissão para a Seca 2005 resultaram muitos dados relevantes, tanto para sistematização de procedimentos na gestão de situações de seca, como para a identificação das principais falhas/ lacunas e proposta de melhoramentos para futuro. Nestas últimas destacam-se as apresentadas no relatório de balanço da Comissão para a Seca 2005, de 31 de Dezembro de 2005 (CPS, 2005):

 criação de um sistema integrado de previsão e gestão das situações de seca (que permita agregar a informação das diferentes origens de água e conjugar com as características das utilizações nas diferentes regiões em avaliação);

 estabelecimento de um sistema de informação fiável das disponibilidades em todas as origens de água (superficiais e subterrâneas) e o conhecimento das principais utilizações existentes para os diversos fins, em termos de quantidades e de distribuição temporal;

 maior promoção do uso eficiente da água.