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LISTA DE VARIÁVEIS

1.5 Enquadramento legal e institucional em Portugal

1.5.2 Enquadramento institucional

Tendo por base a Lei da Água (Lei 58/2005 de 29 de Dezembro) as instituições da administração pública cujos órgãos assumem competências de gestão da água são (Art.º 7):

 Instituto da Água (INAG)

 Administrações de Região Hidrográfica (ARH)

 Conselho Nacional da Água (CNA)

 Conselhos de Região Hidrográfica (CRH)

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As competências de cada um destes órgãos, em matérias de escassez de água e secas são devidamente identificadas na Tabela 1.2.

Tabela 1.2: Competências de diferentes entidades e organismos na gestão da água em Portugal, em especial em matérias de escassez de água e secas (adaptado de Mendes, 2008)

Órgão Responsabilidades na Gestão da Água

(Lei 58/2005, Art.º 7) Principais competências em matéria de escassez de água e secas

Instituto da Água (INAG) Como autoridade nacional da água, representa o Estado como garante da

política nacional das águas

(Lei 58/2005, Art.8º)

Elaboração do plano nacional da água e aprovação dos planos específicos de gestão de águas e de gestão de bacia hidrográfica;

Definir a metodologia da análise das características de cada região hidrográfica, bem como das incidências das actividades humanas sobre o estado das águas e ainda

da análise económica das utilizações (…); Propor o valor da taxa de recursos hídricos;

Declarar a situação de alerta em caso de seca e iniciar, em articulação com as entidades competentes e os principais utilizadores, as medidas de informação e

actuação recomendadas; Promover o uso eficiente da água através

da implementação de um programa de medidas preventivas (…) em situação normal e medidas imperativas (…) em

situação de secas.

Administração de Região

Hidrográfica (ARH) Prosseguem atribuições de gestão das águas, incluindo o respectivo planeamento, licenciamento e

fiscalização.

(Lei 58/2005, Art.º 9)

Elaborar e executar os planos de gestão de bacias hidrográficas e os planos específicos;

Decidir sobre a emissão e emitir os títulos de utilização dos recursos hídricos e

fiscalizar essa utilização; Realizar a análise das características da região hidrográfica e das incidências das actividades humanas sobre o estado das águas, bem como a análise económica das

utilizações;

Definir e aplicar os programas de medidas previstos nos planos de gestão de bacias

hidrográficas;

Identificar as zonas de captação destinadas para consumo humano;

Aplicar o regime económico e financeiro nas bacias da área de jurisdição;

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Órgão Responsabilidades na Gestão da Água

(Lei 58/2005, Art.º 7) Principais competências em matéria de escassez de água e secas

Conselho Nacional da Água (CNA) Órgão consultivo do Governo em matéria de recursos hídricos

(Lei 58/2005, Art.º 11)

Apreciar e acompanhar a elaboração do Plano Nacional da Água, dos planos de gestão de bacia hidrográfica e outros planos

e projectos relevantes para as águas, formular ou apreciar opções estratégicas

para a gestão sustentável das águas nacionais, bem como apreciar e propor

medidas que permitam um melhor desenvolvimento e articulação das acções

decorrentes;

Contribuir para o estabelecimento de opções estratégicas de gestão e controlo

dos sistemas hídricos, harmonizar procedimentos metodológicos e apreciar determinantes no processo de planeamento relativamente ao Plano Nacional de Água e

aos planos de bacia hidrográfica, nomeadamente os respeitantes aos rios internacionais Minho, Lima, Douro, Tejo e

Guadiana.

Conselho de Região Hidrográfica

(CRH) da região hidrográfica para as respectivas Órgãos consultivos das administrações bacias hidrográficas nelas integradas

(Lei 58/2005, Art.º 12)

Apreciar e acompanhar a elaboração do plano de gestão da bacia hidrográfica e os

planos específicos de gestão das águas; Dar parecer sobre a proposta de taxa de

recursos hídricos;

Pronunciar-se sobre questões relativas à repartição das águas.

Não obstante, especificamente para a avaliação e gestão de situações de seca, importa atender que, além do Instituto da Água, estão ainda envolvidas as seguintes entidades:

 Instituto de Meteorologia, I.P.

 Comissão de Gestão de Albufeiras

 Autoridade Nacional de Protecção Civil

Instituto de Meteorologia, I.P. (IM)

Segundo o Decreto-Lei nº 157/2007 de 27 de Abril (Art.º 3), o IM, I.P é a autoridade nacional nos domínios da meteorologia, climatologia, sismologia e geomagnetismo, sendo a entidade responsável pela prossecução das políticas nacionais nesses domínios. Como tal, assume como responsabilidades (Art.º 3):

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“a) Assegurar a vigilância meteorológica e elaborar e difundir regularmente informações e previsões do tempo para todos os fins, no território nacional;

b) Assegurar a vigilância e o estudo do clima e da sua variabilidade, contribuindo para a análise dos efeitos decorrentes das alterações climáticas e para a definição das correspondentes medidas de adaptação;(…)

f) Fornecer às entidades nacionais com responsabilidade em matéria de protecção civil avisos especiais sobre situações meteorológicas e sismológicas adversas;(…)

i) Colaborar com os organismos responsáveis pela gestão dos recursos naturais, em particular os recursos hídricos;”

Assim, uma vez que as situações de seca são fenómenos de natureza meteorológica, cujas características poderão variar de acordo com o clima da região e respectiva variabilidade, o IM, I.P. enquanto entidade responsável pela vigilância climática e meteorológica, assume responsabilidades na avaliação contínua das condições de precipitação e indicação de início de uma eventual situação de seca, em coordenação com os organismos responsáveis pela GRH.

Comissão de Gestão de Albufeiras (CGA)

A Comissão de Gestão de Albufeiras é um órgão permanente de intervenção e acompanhamento da gestão de albufeiras, cujas responsabilidades são definidas pelo Decreto- Lei nº 21/98 de 3 de Fevereiro. De facto, neste documento estabelece-se que:

Art.º 1

“(...) a Comissão de Gestão de Albufeiras (...) tem como atribuição a coordenação do planeamento e da exploração de albufeiras;”

Art.º 3

“Compete à comissão: (...)

o Estabelecer o regulamento técnico que estipula as regras de elaboração dos programas de exploração e define os níveis máximos e mínimos de armazenamento das albufeiras (...);

o Apreciar, avaliar e aprovar os programas de exploração das albufeiras apresentados pelas entidades responsáveis pela respectiva exploração.”

Art.º 4

“Em situações de emergência provocadas por iminência ou ocorrência de cheias, ou ruptura de barragens a Comissão constitui-se em Comité Permanente para tomar as medidas adequadas ao acompanhamento da situação (...).”

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Art.º 6

“O comité permanente é constituído pelo presidente do INAG, que preside, pelo presidente do Serviço Nacional de Protecção Civil” (actual Autoridade Nacional de Protecção Civil), “pelo director-geral da Energia, pelo presidente do Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente” (actual Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural - DGADR), “pelo director de Serviços de Recursos Hídricos do INAG e pelo director de Serviços de Projectos e Obras do INAG.”

Art.º 8

“A Comissão reúne pelo menos duas vezes por ano, uma no início do ano hidrológico, (...) e outra no início da Primavera para proceder à reavaliação dos programas de exploração em face dos recursos disponíveis;”

Tendo sido esta Comissão que, pelo acompanhamento permanente do estado das albufeiras portuguesas, despoletou, em 2005, a elaboração e implementação do Programa de Acompanhamento e Mitigação dos Efeitos da seca 2005 (CGA, 2005), apresenta-se como o organismo deliberativo que assegura o acompanhamento formal e vigilância contínuos ao surgimento de eventuais situações de seca. Refira-se ainda que, além das entidades representadas em comité permanente, as reuniões de plenário desta Comissão contam ainda com a presença de entidades como a Direcção-Geral da Autoridade Marítima, o Instituto de Meteorologia, as diferentes ARH e ainda um representante do grupo EDP (Art.º 5).

Não obstante, verifica-se que o decreto-lei que estipula as responsabilidades desta Comissão encontra-se especialmente orientado para as situações de cheias e de rupturas de barragens (tal como se pode comprovar no Art.º 4). Por estes factos, na reunião plenária de 24 de Janeiro de 2006 (CGA, 2006) ficou expressa a necessidade de revisão deste Decreto, alargando o seu objecto a todas as origens de águas, nas vertentes de cheias, secas e acidentes graves de poluição.

Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC)

Segundo a Lei nº 27/2006 de 3 de Julho, a Protecção Civil é definida como (Art.º 1) “a actividade desenvolvida pelo Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais, pelos cidadãos e por todas as entidades públicas e privadas com a finalidade de prevenir riscos colectivos inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em perigo quando aquelas situações ocorram.”

Neste documento é, ainda, disposto (Art.º 4) que:

“2 – A actividade de protecção civil exerce-se nos seguintes domínios: a) Levantamento, previsão, avaliação e prevenção dos riscos colectivos; b) Análise permanente das vulnerabilidades perante situações de risco;

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c) Informação e formação das populações, visando a sua sensibilização em matéria de autoprotecção e de colaboração com as autoridades;

d) Planeamento de soluções de emergência, visando a busca, o salvamento, a prestação de socorro e de assistência, bem como a evacuação, alojamento e abastecimento das populações;(…)”

Apesar de, segundo o disposto neste documento, existir a Comissão Nacional de Protecção Civil, que assegura a coordenação em matéria de protecção civil (Art.º 36), é a Autoridade Nacional de Protecção Civil, enquanto parte integrante dessa Comissão, a entidade que tem por missão planear, coordenar e executar a política de protecção civil, designadamente na prevenção e reacção a acidentes graves e catástrofes, de protecção e socorro de populações.

Tal surge definido na Lei orgânica dessa instituição, através do Decreto-Lei nº 75/2007 de 29 de Março (Art.º 2 - ponto 1), que estipula ainda que a ANPC, em matéria de previsão e gestão de risco (Art.º 2 - ponto 2), deve:

“a) Promover o levantamento, previsão e avaliação dos riscos colectivos de origem natural ou tecnológica e o estudo, normalização e aplicação de técnicas adequadas de prevenção e socorro;

b) Organizar um sistema nacional de alerta e aviso (para os diferentes riscos);”

Em matéria de planeamento e emergência (Art.º 2 - ponto 3) a ANPC é responsável por: “a) Contribuir para a definição da política nacional de planeamento de emergência, elaborar directrizes gerais, promover a elaboração de estudos e planos de emergência e facultar apoio técnico e emitir parecer sobre a sua elaboração por entidades sectoriais;”

Segundo o disposto nestes diplomas, poderá dizer-se que, em situação extrema, a ANPC é também uma das entidades responsáveis pela gestão de uma situação de seca, não só na componente de planeamento e de actuação em situação de emergência (nas secas mais severas), mas também na prevenção e avaliação de riscos e vulnerabilidades.

1.6 Situação em Portugal na avaliação e gestão de situações de