Figura 11 ‐ The Innovative Care for Chronic Conditions Framework (ICCCF) (WHO, 2002)
2. M ODELOS E DIMENSÕES DE ANÁLISE , ACTUAÇÃO E AVALIAÇÃO EM
2.8 A avaliação da integração de cuidados
Assumindo que avaliar, “medir a integração” representa determinar até que ponto as organizações prestadoras de cuidados de saúde estão a conseguir implementar o conceito, colocam‐se a este respeito duas questões essenciais (Santana et al., 2010):
Qual o grau óptimo de integração para determinada realidade? Qual o grau de integração actual de determinada organização?
Recordam ainda os mesmo autores que, nesta avaliação, não podem ser ignorados aspectos de contexto que influenciam o desempenho das organizações no que diz respeito aos objectivos da integração de cuidados, ou seja, que as características da oferta e da procura de cuidados condicionam bastante o processo e os resultados, chegando por isso a afirmar‐se que cada estádio de plena integração é único e que deve ser determinado individualmente.
Da revisão de literatura sobre este tema, pode concluir‐se que esta é ainda escassa, até porque é também reconhecido que a falta de um consenso sobre a terminologia e sobre os conceitos relacionados com a integração de cuidados, faz com que não exista unanimidade sobre as medidas e os resultados (Suter et al., 2007). Outros autores referem ainda que os poucos estudos que têm sido feitos para avaliar os outcomes de iniciativas de integração de cuidados ainda se baseiam muito em benefícios percebidos, em percepções acerca da integração de cuidados, revelando também que existem de facto algumas lacunas no que diz
respeito à existência de ferramentas padronizadas para medir a integração de cuidados, nomeadamente no que diz respeito à eficiência e eficácia do sistema (Armitage et al., 2009). Salientam‐se, no entanto, alguns trabalhos desenvolvidos no âmbito da doença crónica e também outros mais orientados para a avaliação dos sistemas de saúde.
A avaliação de estratégias no âmbito da gestão da doença crónica procura compreender como os factores sociais, modelos de financiamento, estruturas organizacionais, processos, tecnologias e comportamentos dos indivíduos afectam o acesso, a qualidade e o custo dos cuidados de saúde e, mais recentemente, a saúde e o bem estar dos cidadãos. Esta avaliação pode ser feita num nível macro (sistema de saúde), num nível micro (interacção doente/prestador de cuidados) e num nível meso (foco nas organizações de saúde e nos serviços que prestam). No nível meso podem avaliar‐se os programas de gestão de doença e existem já alguns projectos de menor escala que procuram avaliar o impacto de elementos particulares destes programas. No entanto, até à data, têm sido desenvolvidos poucos estudos em larga escala, de base populacional, no âmbito da doença crónica (Busse et al., 2010).
Destacam‐se algumas recomendações que Busse et al. (2010) fazem relativamente à dimensão avaliação: Ao nível governamental e com um interesse particular para as entidades reguladoras no sector da
saúde, deve ser interiorizada a importância e os requisitos metodológicos básicos inerentes à avaliação, devendo ser assegurado que a avaliação é parte integrante dos programas destinados a gerir a doença crónica. Exemplificando, deveria existir um controlo sistemático da qualidade das intervenções, obrigatório, particularmente no caso de programas com financiamento público; É necessário desenvolver internacionalmente padrões e métodos de avaliação baseados em
evidência, bem como conferir maior transparência às decisões políticas;
A necessidade de avaliação não deve nem impedir a inovação, nem justificar a implementação de determinados programas de forma desequilibrada. Devem privilegiar‐se as abordagens step‐by‐ step, faseadas, nomeadamente com a implementação de experiências piloto avaliando o impacto da utilização de uma determinada tecnologia ou estratégia, num grupo restrito de doentes; Os Governos devem também assegurar que a informação produzida pelo sistema de saúde está
disponível aos investigadores independentes que queiram fazer este tipo de avaliações, nomeadamente de “custo‐efectividade” e eficácia das intervenções.
Uma publicação que resultou de uma revisão sistemática de literatura sobre o tema da avaliação da prestação integrada de cuidados de saúde (Strandberg‐Larsen & Krasnik, 2009) permite concluir que estão a emergir algumas medidas de desempenho, ainda que sejam ainda demasiado “recurso‐intensivas” e que não estejam ainda disponíveis medidas genéricas que possam ser adequadas a determinados propósitos. Esta análise reforça, no entanto, a ideia de que é fundamental investir mais no desenvolvimento de medidas mais concretas, ou seja, que é uma área em claro desenvolvimento. É indispensável clarificar a relação entre dimensões e conceitos centrais na integração de cuidados e os resultados com os doentes e
em termos de custos da prestação. Considera‐se ainda ser essencial o desenvolvimento de medidas, tanto qualitativas como quantitativas, adequadas à monitorização sistemática dos modelos e/ou experiências implementadas, ou seja, como suporte à decisão para o decisor político.
De acordo com Gillies et al. (1993), o potencial retorno de cada sistema não reside no seu desempenho financeiro isoladamente, mas no seu desempenho clínico, ou seja na sua capacidade de prestar um continuum integrado de serviços coordenados com o objectivo de satisfazer as suas necessidades efectivas. O foco tem que estar na manutenção, na reabilitação ou na recuperação da saúde dos doentes, o que consideram que só será possível se o foco estiver menos nos cuidados agudos e mais na coordenação de cuidados ao longo de todo o sistema. E a hipótese formulada pelos autores é a de que a variável nesta transição é a capacidade de integrar funções e actividades das várias unidades envolvidas na prestação. Concretamente, defendem que a integração funcional e a integração médica servem de suporte à coordenação clínica, mas será à medida que a integração clínica for melhorando, que o sistema globalmente melhora o seu desempenho. Os autores partem do pressuposto que a integração clínica dos serviços é central para melhorar o desempenho do sistema. A integração clínica implica, nomeadamente o desenvolvimento e utilização mais generalizada de protocolos para determinadas condições que são especificadas e/ou o desenvolvimento de programas de gestão de caso. Os cuidados de saúde passam a centrar‐se na gestão dos cuidados e, com a integração clínica, deve ser possível, nomeadamente, reduzir a duplicação de utilização de determinados recursos, quando esta é desnecessária (e.g. serviços, tecnologia), o que deverá, também, resultar em menores custos e em mais qualidade dos cuidados. Para o utente, a integração clínica deve representar não só mais qualidade no tratamento, mas também mais continuidade de cuidados, melhor acesso e menos carga burocrática. Concretamente, estes autores, no seu trabalho, partiram do pressuposto que a integração funcional e a integração médica facilitam a integração clínica e que esta, por sua vez, favorece o desempenho do sistema. Trata‐se de um modelo teórico, porque nada se sabe sobre a relação entre estas dimensões.
Este estudo (Gillies et al., 1993) resultou, maioritariamente, da avaliação de percepções relativamente aos níveis de integração clínica, integração médica e integração funcional em 12 sistemas de prestação de cuidados de saúde norte americanos, com recurso a questionários a gestores das várias unidades funcionais, membros dos Conselhos de Administração e médicos (aproximadamente 900 indivíduos no total). Os resultados sugerem níveis moderados de integração funcional, particularmente nas áreas da gestão financeira, planeamento estratégico e cultura organizacional, e níveis reduzidos de integração médica e integração clínica, particularmente no que diz respeito aos sistemas de informação e actividades não clínicas de suporte. Outro resultado digno de nota é a relação entre o grau de integração percepionado e a eficácia percepcionada do sistema. E isto sugere que a percepção de uma maior coordenação entre as várias funções do sistema, conduz a uma percepção de maior eficácia das mesmas e, globalmente, o sistema é também percepcionado como mais eficaz. O estudo aponta ainda áreas para estudo futuro e,
para além de apontar a necessidade de validação destas medidas perceptivas, considera ser fundamental o desenvolvimento de mais estudos que relacionem a integração com o desempenho dos sistemas, recordando, no entanto, ser primordial atender a variáveis de contexto, nomeadamente geográficas ou de percurso das organizações envolvidas.
A avaliação da integração requer, assim, uma abordagem diferente da que tradicionalmente é usada na avaliação em saúde, facto justificado, designadamente, pela necessidade de medir o desempenho das parcerias inter‐organizacionais e interprofissionais. Na avaliação de desempenho, geralmente o foco são dois tipos de objectivos: os mais relacionados com os outcomes (impacto) e os que estão mais directamente ligados à implementação do programa/modelo/experiência. Nos primeiros, incluem‐se medidas como a satisfação dos utentes, condição clínica, qualidade de vida e custos da prestação de cuidados. Na avaliação do processo da integração de cuidados, o objectivo é identificar as razões que podem estar a contribuir para o sucesso ou insucesso de determinada experiência, podendo fornecer pistas sobre as razões e/ou barreiras que condicionaram o alcance de determinados outcomes. E, para isso, serão claramente mais adequadas as ferramentas de avaliação qualitativa, particularmente as entrevistas com peritos e focus groups, que permitirão compreender de forma mais aprofundada dimensões como a cultura organizacional, central na questão da prestação integrada de cuidados de saúde (Jong & Jackson, 2000). Estes autores propõem ainda, para a avaliação do processo de integração, o recurso ao modelo dos 3 C:
Comunicação e acesso (e.g. número de protocolos produzidos; número de doentes cuja informação da alta ou admissão do doente no hospital foi remetida ao médico de família nas 48 horas seguintes);
Cultura, valores e trabalho de equipa (e.g. stakeholders envolvidos; percentagem de stakeholders com envolvimento na partilha de informação);
Compromisso e incentivos (e.g duração da estadia; taxas de readmissão; redução duplicação de MCDT).
Também Linden (2001), nos seus estudos exploratórios sobre a já referida experiência holandesa com o “transmural care” propõe o que considera poder ser um ponto de partida para a discussão sobre a aplicabilidade da utilização de indicadores de desempenho no sistema de saúde holandês em experiências piloto nesta área. São, no seu trabalho, propostos alguns indicadores potencialmente relevantes para avaliar o desempenho de experiências de “transmural care”, dos quais se destacam:
Indicadores de efectividade: resultados em saúde (e.g. níveis de glicose sangue nos diabéticos; qualidade de vida dos doentes em cuidados paliativos); acontecimentos adversos (e.g. incidência de readmissões hospitalares); adesão a protocolos e guidelines (percentagem de diabéticos a receber cuidados de saúde especificados em guidelines; percentagem de doentes oncológicos que morrem em casa);
Indicadores de orientação para o utente: experiências dos doentes (e.g. grau de satisfação com a prestação);
Indicadores da qualidade, no que respeita à continuidade de cuidados: tempos de espera no decurso do tratamento (e.g. nos cuidados de saúde primários, na consulta externa, na admissão ao hospital); disponibilidade da informação sobre os cuidados prestados fornecida por outros prestadores (e.g. informação adequada e fornecida em tempo útil pelo médico de família, na carta de referenciação; informação adequada e fornecida em tempo útil pelo especialista hospitalar).
Ahgren e Axelsson (2005) usaram também uma escala de integração funcional para determinar o grau de integração das várias unidades numa rede de saúde local sueca (semelhante a uma rede de cuidados primários). Diferentes grupos profissionais das várias unidades de saúde foram solicitados a classificar a sua percepção de integração da sua unidade relativamente às restantes. As categorias genéricas propostas foram: separação, articulação, coordenação em redes, cooperação e integração plena (Figura 23), escala que, segundo os autores, pode ser utilizada para analisar a integração intra‐organizacional, inter‐ organizacional, a integração horizontal e a integração vertical.
Figura 23 ‐ Escala de Integração Funcional (Ahgren & Axelsson, 2005)
É relevante recordar também um estudo de carácter exploratório (Gillies, Chenok, Shortell, Pawlson, & Wimbush, 2006), com o objectivo de averiguar o impacto de determinadas opções de organização da prestação de cuidados, nomeadamente no que diz respeito ao modelo organizacional, às opções de organização dos próprios profissionais (e.g. grupos de médicos), aos processos (e.g. plano de cuidados) e ao recurso aos sistemas de informação, na qualidade dos cuidados e na satisfação dos utentes. O estudo revelou que o modelo de organização da prestação pode estar relacionado com alguns outcomes clínicos, mas não com a percepção dos doentes relativamente aos cuidados prestados, enfatizando‐se a importância das opções que são feitas em termos de organização da prestação, bem como a necessidade de serem efectuados mais estudos que averiguem a relação entre essas opções e o desempenho em saúde.
Gillies et al. (1993) são referidos como proponentes do Balanced Scorecared para o sector da saúde, uma ferramenta já amplamente utilizada noutros sectores (Kaplan & Norton, 1992; Kaplan & Norton, 1993), como resposta à desadequação das ferramentas de avaliação que tradicionalmente eram usadas, muito
orientadas apenas para o desempenho financeiro das organizações. Esta ferramenta é vista como muito flexível, uma vez que foi concebida por forma a ser ajustada à missão, estratégia, tecnologia e cultura de cada organização (Kaplan & Norton, 1993). Assim sendo, cada organização escolhe as dimensões para a avaliação e depois identifica os indicadores dentro de cada uma das dimensões (Figura 24). O objectivo é fornecer ao gestor um conjunto mais abrangente de medidas, definir pontos de referência e identificar alterações relevantes nas várias dimensões.
Figura 24 ‐ Balanced Scorecard‐ adaptado de Kaplan & Norton (1996)
Referindo, mais uma vez, Suter et al. (2007), estes concluem que na literatura sobre o tema existe ainda um número muito limitado de ferramentas para medir os resultados da integração, tendo sido, de facto, o Balanced Scorecared o mais reportado, o que já foi reforçado noutras revisões de literatura (Armitage et al., 2009). Foram ainda identificados alguns indicadores de resultados que podem indicar sucesso na integração dos sistemas e, numa perspectiva de sistema, sugerem‐se os seguintes: redução do número de casos não urgentes a recorrer ao serviço de urgência; redução da estadia média no hospital; melhor desempenho financeiro; e achatamento das estruturas organizacionais.
Um estudo levado a cabo em 2001 (Wan, Ma, & Lin, 2001) havia já também estudado o efeito da integração sobre a eficiência e a viabilidade financeira do grupo das top 100 “redes de prestação de cuidados integrados de saúde” americanas, tendo sido, para isso, utilizados múltiplos indicadores para estudar a relação entre as características destas redes e o seu desempenho (Figuras 1 e 2 Anexo E). Não foram, no entanto encontradas associações positivas entre os esforços de integração e o desempenho das redes em termos de eficiência ou lucros, concluindo‐se que são necessários mais estudos, bem como a definição de mais critérios, rigorosamente concebidos, para avaliar este efeito. São, concretamente, sugeridos mais estudos para avaliar as possibilidades de trade‐off entre qualidade (e.g. ganhos em saúde) e eficiência, bem
como os possíveis efeitos a curto e a longo prazo, para apoiar a tomada de decisão no que diz respeito, concretamente às iniciativas de integração de cuidados.
Um outro trabalho desenvolvido em 2004 teve como objectivo construir uma ferramenta para medir a implementação de componentes específicos de um sistema integrado de prestação de cuidados de saúde a idosos dependentes (“PRISMA Model ‐ Program of Research to Integrate Services for the Maintenance of Autonomy”), comparando o desempenho deste serviço em três áreas geográficas distintas na província do Québec, no Canadá (Hebert & Veil, 2004). Os mecanismos e ferramentas cuja implementação foi objecto de avaliação foram: a coordenação de todas as organizações envolvidas na prestação de serviços sociais e de saúde; a “porta de entrada única” no sistema; a gestão de casos; uma ferramenta de avaliação única assente num sistema de classificação por case‐mix; um plano individualizado de serviços/cuidados; e um sistema informático de informação clínica. Recorreu‐se neste estudo a focus groups, que incluiram investigadores, médicos, gestores e decisores políticos, onde foram identificados indicadores quantitativos para cada uma das componentes atrás referidas. Foram então definidos um conjunto de indicadores para cada componente, bem como foi atribuído um peso para cada componente que determina a sua importância relativa (Figura 3 Anexo E). Foi avaliado o período entre Julho de 2001 e Julho de 2003, e 30 meses depois do momento zero, a coordenação foi a componente mais desenvolvida nas três áreas experimentais avaliadas. Globalmente, em Julho de 2003, o sistema estava implementado em cerca de 70% nas três áreas.
Outro estudo (Suter, Hyman, & Oelke, 2007), levado a cabo na cidade de Calgary, também no Canadá, teve como objectivo avaliar o desempenho do modelo de prestação integrada de cuidados de saúde adoptada na região, o “SCHC – South Calgary Health Centre”, que entrou em funcionamento em 2004, bem como testar o modelo de avaliação proposto (Figura 4 Anexo E). Os serviços que integram o centro incluem serviços de urgência, diagnóstico por imagem, reabilitação, saúde mental, saúde pública, diálise e algumas clínicas de especialidade a tempo parcial, nomeadamente na área do planeamento familiar e acompanhamento de adultos com diabetes. Uma das fontes utilizadas no modelo de avaliação proposto foi o “Clinical Microsystem Assessment Tool” (Figura 5 Anexo E), uma ferramenta de avaliação assente em características como: interdependência na equipa; formação; foco na comunidade/mercado; integração da informação; compromisso com a melhoria dos processos e avaliação de desempenho. Uma diversidade de stakeholders foram envolvidos na avaliação, que considerou como outcomes‐chave do sistema a integração clínica, funcional e da comunidade, recorrendo‐se a múltiplas fontes, e a metodologias qualitativas e quantitativas. Do estudo resultou que os índices de satisfação, tanto de utentes como de profissionais, são elevados e, embora o modelo não tenha atingido os resultados pretendidos em termos de plena integração clínica, os participantes na avaliação defendem que o modelo tem potencial para atingir os objectivos que se propõe nomeadamente em termos de integração. Este modelo compreensivo de avaliação revelou‐se
útil para avaliar diferentes aspectos da integração, bem como as percepções dos prestadores e dos utilizadores relativamente à avaliação do centro.
Ainda no âmbito da avaliação de desempenho, identificou‐se um estudo publicado em 2008 (Kruk & Freedman, 2008), que resultou numa proposta de um modelo para avaliação dos sistemas de saúde (Figura 25), estudo esse que se considerou relevante apresentar neste trabalho, por se ter entendido que a sua estrutura poderia ser adaptada a um modelo para a avaliação da integração de cuidados de saúde.
Figura 25 ‐ Estrutura para avaliação de desempenho de sistemas de saúde (Kruk & Freedman, 2008)
As três dimensões principais de avaliação de desempenho que foram aqui consideradas foram a efectividade, a equidade e a eficiência.
Relativamente à dimensão de efectividade, para o utente, um sistema efectivo será o que consegue garantir‐lhe acesso atempado a todos os serviços de que necessita, de forma segura, sem interrupções, com respeito pelo doente, conduzindo a ganhos em saúde. Os autores, na sua proposta, focaram‐se no acesso e qualidade (outputs) e, no que diz respeito aos outcomes, no estado de saúde e na satisfação do doente. No que diz respeito aos outcomes, e como exemplos de indicadores de estado de saúde mais usados nos países em vias de desenvolvimento, são, nomeadamente: a mortalidade infantil, a mortalidade perinatal/neonatal, o baixo peso à nascença e a incidência de doenças infecciosas. Os países desenvolvidos incluem, por exemplo, as taxa de sobrevivência a diversos tipos de cancro, embora se admita que esta possa ser também uma medida da qualidade dos cuidados. Relativamente à satisfação dos doentes, a revisão de literatura
feita pelos autores deste trabalho identificou vários critérios comuns: cuidados centrados no doente; acesso; comunicação e informação; cortesia e apoio emocional; qualidade técnica; eficiência no atendimento; e infraestruturas. Voltando aos outputs, a dimensão acesso tem pelo menos três componentes: disponibilidade, utilização e cuidados atempados. A disponibilidade de serviços é um indicador de processo ligado às políticas, aos níveis de financiamento e modelos organizacionais vigentes em cada país. Disponibilidade é assumido como relativo a volume de recursos disponíveis (e.g. médicos, enfermeiros, hospitais) por população ou dentro de uma área geográfica. Relacionado também com o conceito de disponibilidade é o acesso organizacional, mais concretamente a existência ou ausência de barreiras estruturais aos cuidados, tais como a ausência de referenciação para um nível adequado de cuidados, mesmo quando este está disponível. O acesso a cuidados em tempo útil é visto como essencial para salvar vidas em algumas condições e para minimizar o sofrimento e as incapacidades. Também os internamentos inadequados, evitáveis, para determinadas condições, podem indicar problemas no acesso a outro tipo de cuidados, nomeadamente aos cuidados primários. Talvez a componente mais estudada ao nível da efectividade seja a qualidade de cuidados no seu sentido mais amplo e, na ausência de uma única definição, os autores propõem que os cuidados de qualidade sejam entendidos como os cuidados seguros, eficazes, centrados no doente, oportunos, eficientes e equitativos (Kruk & Freedman, 2008). Exemplos de indicadores comummente utilizados são, para determinadas intervenções cirúrgicas, a taxa de mortes após