C APÍTULO III
3. A INTEGRAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE E O SISTEMA DE SAÚDE PORTUGUÊS Este capítulo debruça‐se sobre o sistema de saúde português, com vista a elucidar sobre a questão da
3.7 As políticas e as experiências de integração de cuidados em Portugal O objectivo deste subcapítulo é avaliar o grau de importância que tem sido dado à integração e
continuidade de cuidados nas políticas públicas em Portugal, não só nas políticas dirigidas à prestação de cuidados de saúde, mas também à prevenção da saúde e ao exercício da influência sobre outros sectores cuja actividade tem impacto na saúde das populações. De facto, as preocupações de integração e continuidade de cuidados estão já bem presentes na Lei de Bases da Saúde. De acordo com a Lei N.º 48/90 de 24 de Agosto, e mais concretamente segundo a Base II, “os serviços de saúde estruturam‐se e funcionam de acordo com o interesse dos utentes, e articulam‐se entre si e ainda com os serviços de segurança e bem‐estar social”. Relativamente aos níveis de saúde, na Base XIII, postula‐se que “deve ser promovida a intensa articulação entre os vários níveis de cuidados, reservando a intervenção dos mais diferenciados para as situações deles carecidas e garantindo frequentemente a circulação recíproca e confidencial da informação clínica relevante sobre os utentes”. Em Portugal, assistimos já a algumas iniciativas com o objectivo de integrar cuidados de saúde, tendo sido a reorganização da oferta de cuidados de saúde uma intenção manifestada no programa de governo (XVII): “o desenvolvimento de experiências de financiamento global, de base populacional, por capitação ajustada, integrando cuidados primários e hospitalares, numa linha de Unidades Integradas de Saúde, respeitando a autonomia e a cultura técnico‐profissional de cada instituição envolvida” (Santana & Costa, 2008, p. 31). No SNS português, o primeiro ponto de contacto com o sistema deve ser o médico de família nos cuidados de saúde primários que é quem, teoricamente, assume o papel de gatekeeper. O problema parece estar não no modelo conceptual, mas na sua operacionalização, e já em 2007 se afirmava que existiam dificuldades na coordenação entre níveis de cuidados, nomeadamente entre os cuidados primários e hospitalares (Barros & Simões, 2007), à semelhança de outros países analisados. Já o Decreto‐Lei nº 11/93, de 15 de Janeiro, que aprovou o Estatuto do SNS, veio estabelecer o conceito de unidades integradas de cuidados de saúde, formadas pelos hospitais e grupos personalizados dos centros de saúde de determinada área
geográfica. Previa‐se, neste diploma legal que tanto os hospitais como os cuidados de saúde primários tivessem personalidade, autonomia e gestão próprias. No caso dos centros de saúde, esta autonomia traduzia‐se na criação da figura jurídica dos Grupos Personalizados de Centros de Saúde, o que nunca se concretizou, justificado pela ausência de uma cultura e de práticas de gestão adequadas a este nível de cuidados que garantissem equidade na capacidade negocial entre os dois níveis de cuidados (Ramos, 2009). Decorridos mais de cinco anos sobre a aprovação do Estatuto do SNS, verificou‐se, todavia, que o modelo nele consagrado para as unidades de saúde prevendo conselhos internos, compostos apenas por representantes dos hospitais e dos centros de saúde, só muito dificilmente possibilitaria a articulação entre hospitais, centros de saúde e outras instituições da mesma área geográfica, com vista à partilha de recursos e maior disponibilidade de oferta de serviços. Daí que tenha surgido a proposta de evolução do conceito de unidade funcional de saúde para serem criados mecanismos de convergência de recursos, de participação activa e co‐responsabilização de outros serviços e instituições, públicos e privados, que, numa determinada área geográfica, desenvolvessem actividades na área da saúde, ou actividades conexas, nomeadamente as autarquias locais e instituições do sector social. Nestes termos, foram instituídos pelo Decreto‐Lei n.º 156/99 os sistemas locais de saúde, “conjuntos de recursos articulados na base da complementaridade e organizados segundo critérios geográfico‐populacionais, que se pretendem facilitadores da participação social e que, em articulação com a rede de referenciação hospitalar, concorram para o efectivo desenvolvimento e fortalecimento do SNS e do sistema de saúde português.” Esperava‐se que os sistemas locais de saúde conduzissem à forma ideal de articulação entre níveis de cuidados, públicos e privados. O objectivo principal inerente à sua criação era introduzir mudanças no cenário de desarticulação entre serviços e introduzir um sentido mais lato de cuidados de saúde, mais focado na população. Os orçamentos a serem alocados aos prestadores nas regiões seriam baseados num levantamento das necessidades de saúde locais (Barros & Simões, 2007). O conceito de sistema de saúde era o de um sistema aberto e adaptativo, envolvendo parceiros da comunidade local, directa ou indirectamente ligados à prestação de cuidados de saúde, pressupondo um conjunto de mecanismos integradores de regulação, nomeadamente (Ramos, 2009): planeamento flexível e ajustado de necessidades em saúde com garantia de respostas adequadas à população abrangida; financiamento de base populacional ajustado por necessidades; mecanismos de contratualização e de avaliação de desempenho; participação e envolvimento da comunidade. No entanto, os sistemas locais de saúde não chegaram a ser implementados e, a grande afluência de utentes aos hospitais sem referenciação do médico de família fez com que se seguissem novas propostas de reforma com o objectivo de melhorar a articulação entre níveis de cuidados, com consequências, nomeadamente no desenvolvimento do modelo de unidade local de saúde, tendo sido a ULS de Matosinhos, criada em 1999, a primeira experiência em Portugal.
O objectivo deste modelo foi o de articular um ou vários hospitais com um determinado número de centros de saúde, baseado na proximidade geográfica, no equilíbrio de especialidades e na existência de um serviço
de emergência médica (Barros & Simões, 2007). De facto, as exigências das populações em matéria de acesso e satisfação das suas necessidades em saúde com níveis de qualidade acrescidos, impunham uma gestão integrada dos recursos existentes numa determinada área geográfica. Assistiu‐se já, posteriormente, ainda que apenas oito anos depois da criação da ULS de Matosinhos, à criação de mais seis unidades locais de saúde em Portugal, concretamente: no Norte Alentejano, em 2007 (Decreto‐Lei n.º 50‐B/2007. DR nº 42 Série I 2º Suplemento de 2007‐02‐28), posteriormente, em 2008, na Guarda, no Baixo Alentejo e no Alto Minho (Decreto‐Lei n.º 183/2008, DR n.º 171, Série I de 2008‐09‐04), seguida da criação, em 2009, da ULS de Castelo Branco (Decreto‐Lei n.º 318/2009. DR n.º 212, Série I de 2009‐11‐02) e, em 2011, foi criada a Unidade Local de Saúde do Nordeste (Decreto‐Lei n.º 67/2011. DR n.º 107, Série I de 2011‐06‐02), todas com gestão empresarial. Importa, no entanto, realçar que no modelo de unidade local de saúde foram abrangidas apenas instituições da área da saúde, o que faz com que, na prática, o modelo possa ainda evoluir para outras configurações. Exigiu‐se, para isso, um conhecimento mais profundo destas experiências, bem como a avaliação dos resultados já conseguidos e o potencial de desenvolvimento futuro. Defendeu‐se, aliás, que o próprio processo de reforma nos cuidados de saúde primários poderia fazer emergir novos modelos de organização mais flexíveis e de nível intermédio, com relações de cooperação assentes em contratos entre organizações autónomas, interdependentes, e em rede (Ramos, 2009).
As próprias USF, criadas no âmbito da reforma dos cuidados de saúde primários, podem ser entendidas como promotoras da integração de cuidados e, concretamente, as USF integradas em ULS podem ter vantagens, nomeadamente pela proximidade com os órgãos de gestão, ainda que com o risco de perda de protagonismo dos cuidados de saúde primários, percepcionado por muitos. Será sim importante assegurar a presença de todas as partes na administração destas novas estruturas. Considerou‐se inclusivamente que a criação dos conselhos clínicos nos ACES, no âmbito da reforma dos cuidados de saúde primários, abria caminho a desenvolvimentos importantes no âmbito da governação clínica dos processos de interface, nomeadamente entre cuidados primários, hospitais e cuidados continuados, concretamente através do planeamento conjunto de necessidades de saúde das populações abrangidas, com vista a garantir uma resposta mais atempada, optimizada e efectiva a essas necessidades (Ramos, 2009).
Em Portugal, têm existido algumas resistências relativamente à implementação de modelos clássicos de gestão de doença, daí que na implementação de um modelo experimental de Gestão Integrada da Doença se tenha optado por uma abordagem mais ampla, integrando as perspectivas clínica, financeira e de informação, e cuja aplicação experimental em Portugal se iniciou com três patologias escolhidas por motivos de oportunidade: Insuficiência Renal Crónica, Obesidade e Esclerose Múltipla. Identificaram‐se, no entanto, para futuras aplicações do modelo 10 patologias consideradas prioritárias (Tabela 7).
Tabela 7 ‐ Priorização das doenças a necessitar de uma ação estratégica (Escoval et al., 2010) Número Patologia 1 Diabetes 2 Insuficiência cardíaca 3 Hipertensão arterial 4 Asma
5 Doença pulmonar obstructiva crónica
6 HIV/Sida
7 Cancro da mama feminino
8 Depressão
9 Cancro do colo rectal
10 Doenças reumáticas degenerativas
Em Portugal, a implementação deste modelo experimental de Gestão Integrada da Doença resultou da colaboração entre a Direcção‐Geral da Saúde, a Administração Central do Sistema de Saúde e a Escola Nacional de Saúde Pública e, na fase de conceptualização do modelo português, foram considerados os seguintes factores (Escoval et al., 2010, p. 111):
“Utilização de um sistema de informação integrado com dados individuais e agregados da população; Identificação dos doentes com doença crónica; Estratificação das populações de risco; Participação activa dos profissionais e doentes na gestão da doença; Coordenação de cuidados (utilizando diferentes gestores, nomeadamente os gestores de caso, de doente e da doença); Constituição de equipas multidisciplinares; Integração de peritos, especialistas e generalistas; Integração de cuidados ao longo dos diferentes níveis de cuidados, sem barreiras organizacionais; Preocupação constante em diminuir as visitas e as admissões hospitalares desnecessárias”. Teve‐se também em linha de conta os alertas de alguns autores que tinham mencionado que esta implementação deveria ser feita ao nível regional, local ou dirigida a uma população específica para que fosse possível controlar as variáveis envolvidas, monitorizar e corrigir adequadamente os resultados em saúde (Escoval et al., 2010).
No caso dos cuidados continuados, tradicionalmente, em Portugal, têm sido as famílias e/ou outros prestadores informais de cuidados, a assumir a primeira linha na prestação deste tipo de cuidados, particularmente nas zonas rurais. No entanto, mudanças sociodemográficas, como os fenómenos migratórios para as zonas urbanas, o aumento do número de mulheres com uma profissão e o envelhecimento da população, fizeram com que tivessem que ser encontradas alternativas ao apoio informal, hoje bastante mais frágil. E, face a uma população envelhecida, as necessidades de cuidados de saúde e de apoio social numa lógica continuada têm vindo a aumentar em Portugal, esperando‐se que esta seja uma tendência crescente. Algum apoio social é já disponibilizado nas regiões através do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, no entanto, as Misericórdias, organizações caritativas independentes, são os prestadores de serviços sociais por excelência, a par de uma diversidade de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS). O apoio domiciliário está também em expansão, mas acredita‐se que o potencial de integração saúde/social nos cuidados ao domicílio é grande e existe espaço para muitos desenvolvimentos no futuro. Serão também de acompanhar os resultados da criação das unidades de cuidados na comunidade, no âmbito da reforma dos cuidados de saúde primários, com o objectivo de satisfazer uma procura com necessidades de saúde, psicológicas e sociais. Da maior relevância foi a criação da já referida RNCCI, produto de uma colaboração entre o Ministério da Saúde e o Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, e resultado da manifesta insuficiência em Portugal de recursos para cuidados de convalescença, reabilitação, longa‐duração e paliativos, face ao peso crescente da doença crónica. A RNCCI, ainda que com uma oferta que se encontra aquém das necessidades reais identificadas no país (ERS, 2013), traduz já um esforço no sentido de gerir a doença crónica, mas as unidades de cuidados na comunidade, no âmbito da reforma dos cuidados de saúde primários, podem também ajudar a satisfazer necessidades de uma procura com um padrão distinto.
Uma outra experiência particular de articulação de cuidados de saúde em Portugal, com relevo na área materno‐infantil, são as Unidades Coordenadoras Funcionais (UCF). As UCF da Saúde Materna e Infantil, criadas em 1991 e reestruturadas em 1998 pelo Despacho nº 12917/98, com o alargamento das suas competências para a saúde da criança e do adolescente, têm tido um papel importante na articulação entre os cuidados primários e hospitalares na área materno‐infantil (ACS, 2009). Esta experiência resultou da necessidade de promover a colaboração de diferentes estruturas que intervêm na prestação de cuidados, e de garantir que as diferentes partes envolvidas se encontram, com vista a melhorar o acompanhamento dos doentes na sua área de influência. Este trabalho em conjunto não interfere com a autonomia das instituições envolvidas, nem com os seus processos de gestão. As UCF são normalmente constituídas por elementos dos Cuidados de Saúde Primários e dos hospitais de uma determinada área de influência, e será aqui que serão definidos consensos sobre as intervenções de cada nível de cuidados, bem como as opções de articulação entre níveis. Alguns dos objectivos inerentes à sua criação foram o estabelecimento de metas adequadas às especificidades locais, a promoção da recolha de dados epidemiológicos e estatísticos, o desenvolvimento de ações de formação contínua na área da saúde com formadores e formandos dos dois
níveis de cuidados e a instituição da figura do pediatra consultor para cada centro de saúde. O acompanhamento da criança e do adolescente pelo médico de família é visto como fundamental mas, em situações particulares, acredita‐se poder haver benefícios muito significativos como resultado da cooperação entre as unidades de cuidados hospitalares de pediatria e os cuidados primários. E a Comissão Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente e a Missão para os Cuidados de Saúde Primários procuraram reforçar esta cooperação, nomeadamente estimulando a actividade das UCF e instituindo a figura dos Pediatras Consultores em sede de ACES. Considerou‐se que estes Pediatras Consultores deveriam ser elementos de proximidade no desenvolvimento profissional contínuo dos médicos de família, disponibilizando consultoria técnica e constituindo‐se como primeira referência pediátrica, participando na discussão e orientação de casos clínicos e até, sempre que necessário, fazendo observação conjunta. Entendeu‐se que estes consultores deveriam ser os pivots no relacionamento funcional e assistencial entre o ACES e o Serviço de Pediatria de Referência, integrando a respectiva UCF e deveriam cooperar no desenvolvimento de programas de formação em serviço elaborados com base nas prioridades dos médicos do Centro de Saúde (ACS, 2009). Tem‐se defendido que este é um modelo que, para além de ter tido um papel crucial na promoção da saúde materna e neonatal, da criança e do adolescente, é um modelo consensual entre os cuidados primários e os cuidados hospitalares, pelo que deveria ser estendido a outras áreas de cuidados (GTRH, 2011), o que acabou por acontecer com a criação das Unidades Coordenadoras Funcionais para a Diabetes (UCFD)1resultado de uma colaboração estreita com as unidades funcionais dos ACES e dos serviços hospitalares. O projecto arrancou em quatro hospitais e em quatro USF, respectivamente, Faro, Viseu, Coimbra e Barreiro, e com as USF, Âncora, Viseu, Briosa e Lavradio, com o objectivo de garantir que o utente não necessitasse de tantas deslocações ao hospital, podendo encontrar nos cuidados de saúde primários a rede de cuidados multidisciplinares necessária para controlar a sua diabetes (Portal da Diabetes, 2013).
Relativamente à referenciação entre os cuidados primários, cuidados hospitalares e cuidados continuados, foi possível identificar outras experiências, nomeadamente a Consulta a Tempo e Horas, para referenciar doentes dos cuidados primários para as consultas nos hospitais, bem como as equipas de gestão de altas dos hospitais, no âmbito da Plataforma da RNCCI, a referenciar doentes para a RNCCI. Continuavam, no
1
Despacho nº 3052/2013. Diário da República Electrónico: http://dre.pt/pdf2sdip/2013/02/040000000/0752707529.pdf
entanto, por cobrir muitas das especialidades hospitalares, bem como muitas situações com indicação para referenciação (GTRH, 2011).
Importa ainda referir os esforços que foram desenvolvidos na articulação entre o Ministério da Saúde e o Ministério do Trabalho e Solidariedade Social no que respeita ao Sistema Supletivo de Atribuição e Financiamento de Ajudas Técnicas/produtos de apoio (Despacho N.º 731/2009, de 29 de Dezembro (II Série)), revelando uma preocupação em adequar a oferta a novas necessidades, nomeadamente ao aumento do número de pessoas com limitações ao nível da funcionalidade resultantes do envelhecimento da população e da maior incidência de doenças crónicas.
No que diz respeito à informação do utente, e ainda antes de mencionar os esforços que foram desenvolvidos no âmbito do “Registo de Saúde Electrónico (RSE)” é de recordar um projecto levado a cabo em 2007 na Universidade de Aveiro, o Projecto “RTS – Rede Telemática da Saúde”, desenvolvido no âmbito do Programa Aveiro Digital, com apoio financeiro dos fundos do “Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional/Fundo Social Europeu” (FEDER), através do “Programa Operacional Sociedade de Informação”(POSI). O projecto “RTS – Rede Telemática da Saúde” (RTS, 2007) propunha tornar mais ágil a comunicação e a partilha de informação clínica entre profissionais de saúde e entre estes e os cidadãos ao nível regional, através do recurso a uma plataforma informática distribuída e acessível por tecnologia web. O acesso a esta plataforma, depois de autorizado, permitiria obter um “Processo Clínico Regional Resumido” dos utentes, resultante do acesso integrado às aplicações informáticas em utilização nas diferentes instituições de saúde envolvidas. A RTS oferecia ainda outras possibilidades de comunicação electrónica entre os vários profissionais envolvidos bem como entre estes e os utentes nomeadamente no que se referia à marcação de consultas ou à renovação do receituário sem necessidade de deslocação do cidadão à instituição respectiva. Relativamente ao RSE, foi constituído em 2009 um grupo de trabalho para a criação do RSE (Despacho nº 86/2009, de 30 de Junho), assumindo‐se que “(...) a criação de um registo de saúde electrónico (RSE) dos cidadãos, que permita aos profissionais de saúde o acesso à informação clínica relevante para a prestação de serviços, independentemente do momento e local da sua prestação, poderá contribuir de modo significativo para a qualidade e celeridade da prestação do serviço ao utente (…)”. No entanto, o RSE, à data da elaboração deste trabalho, não havia sido ainda implementado.
O que acabou por ser implementado em 2012, foi a “Plataforma de Dados da Saúde (PDS)” que, se define como sendo “(…) uma plataforma web, que disponibiliza um sistema central de registo e partilha de informação clínica de acordo com os requisitos da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD). A plataforma permite o acesso a informação dos cidadãos que tenham número de utente do Serviço Nacional de Saúde, aos profissionais de saúde em diversos pontos do SNS (hospitais, urgências, cuidados primários, rede nacional de cuidados continuados), sem os deslocar do local seguro onde agora estão guardados. Este
acesso pode ser auditado e gerido pelo próprio utente através do Portal do Utente”(SPMS, 2013). Relativamente a esta plataforma, não foi possível obter muita informação, mas de acordo com uma notícia do Jornal Público de 28 de Setembro de 2014 1, “(…) o projecto do RSE era bastante mais ambicioso, sendo que hoje, nesta plataforma (PDS), apenas se encontram inscritos 838 mil utentes, quando a expectativa era ter cerca de dois milhões durante o ano de 2014”. Salientou‐se nesta notícia a necessidade da “plena implementação” de “um registo de saúde electrónico universal”, constatando‐se que “(...) no sistema que existe os dados de um sistema não podem ser utilizados por outros (entre hospitais, por exemplo) e os que são necessários em situações de emergência não são acedidos por não estarem disponíveis em arquivo”. Referiu‐se também na mesma notícia, e de acordo com o actual presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), empresa pública a quem cabe gerir várias valências tecnológicas do Serviço Nacional de Saúde, que, “(…) quando o RSE foi pensado, o objectivo era adquirir um software de raiz, o que não foi possível fazer, optando‐se assim por usar os software antigos”. O projecto inicial do RSE esteve também condicionado pelas limitações impostas pela própria CNPD que, de acordo com a mesma notícia