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1. C UIDADOS INTEGRADOS NO CONTEXTO DOS SISTEMAS DE SAÚDE

1.2 Integração, coordenação e continuidade de cuidados de saúde 

O  tema  da  integração  e  coordenação  de  cuidados  tem  vindo  a  ganhar  cada  vez  mais  importância,  particularmente em países com uma população cada vez mais envelhecida e com um número crescente de  doentes  crónicos,  uma  realidade  que  caracteriza  os  países  mais  desenvolvidos.  Os  sistemas  de  saúde,  e  particularmente  nas  economias  mais  desenvolvidas,  servem  também  uma  população  com  padrões  de  exigência mais elevados e com uma relação com a doença bem diferente da que existia no passado, ou seja,  com expectativas de viver mais anos e cada vez com mais autonomia. A par do aumento das expectativas  desta  população  mais  exigente  e  mais  envelhecida,  é  de  esperar  um  aumento  crescente  dos  custos  em  saúde, daí que a integração de cuidados de saúde surja como uma resposta viável para garantir uma maior  abrangência na prestação de cuidados, bem como a prestação de cuidados numa lógica mais individualizada  e  mais  adequada  a  cada caso.  A  integração  de  cuidados  tem,  ainda assim,  um  âmbito  mais  vasto  do  que 

aquele  que  será  considerado  neste  trabalho,  dizendo  respeito  às  possibilidades  de  colaboração  entre  diferentes sectores e seus profissionais, bem como com os prestadores informais de cuidados, através de  um esforço de coordenação das suas tarefas e trabalho em equipa, com vista a responder às necessidades  integrais  dos  utentes.  Pode  abranger  cuidados  de  saúde,  apoio  social,  bem  como  outro  tipo  de  serviços,  nomeadamente de alojamento e transporte, assegurando‐se a continuidade na prestação de cuidados para  além  das  fronteiras  físicas  das  instituições  envolvidas,  nomeadamente  a  prestação  de  cuidados  e/ou  serviços  em  casa.  No  essencial,  o  objectivo  da  integração  de  cuidados  é  garantir  que  os  utentes  tenham  acesso aos serviços que necessitam, no tempo e lugar adequados. A integração de cuidados aparece como  necessária quando os serviços prestados pelas instituições e/ou profissionais individualmente não cobrem  as necessidades integrais de cuidados da procura (Raak, Mur‐Veeman, Hardy, Steenbergen & Paulus, 2003).   Trabalhos de revisão de literatura sobre o tema da integração de cuidados (Armitage, Suter, Oelke, & Adair,  2009) não encontram uma definição universalmente aceite, ainda que se encontre uma associação muito  frequente com a dimensão de continuidade na prestação de cuidados, bem como com a inclusão da área  social, para além dos cuidados de saúde. Algumas definições incluem ainda a necessidade de se ser mais  “custo‐efectivo”  na  prestação  de  cuidados  de  saúde,  a  aplicabilidade  da  integração  a  doentes  com  necessidades complexas de saúde ou a abordagem da gestão e prestação dos cuidados de saúde numa base  populacional. Existem ainda outros conceitos de integração, nomeadamente a integração virtual, vertical,  horizontal, funcional, clínica, podendo ainda a integração ser entendida ao nível do sistema, ou ao nível da  coordenação dos serviços ou dos programas dirigidos a uma determinada população.  Tentar‐se‐á, no entanto, clarificar e aprofundar estas temáticas, nomeadamente a associação do tema da  integração de cuidados à continuidade de cuidados e à coordenação de cuidados. Importa, por isso, propor  definições, para saber do que falamos quando falamos em integração de cuidados. 

São  considerados  cuidados  integrados  iniciativas  de  cooperação  intersectoriais  entre  prestadores  de  cuidados da área social e da saúde, com vista à disponibilização de cuidados de forma contínua, a pessoas  vulneráveis  e  com  múltiplas  necessidades.  Os  cuidados  integrados  são  vistos  como  uma  solução  para  a  fragmentação e  descontinuidade  que caracterizam  os  sistemas  sociais  e  de  saúde  na  Europa  (Raak et  al.,  2003). 

A  OMS  sugere  uma  outra  definição  para  os  “cuidados  integrados”,  considerando  que  se  trata  de  um  conceito  que  abarca  os  inputs,  os  processos,  a  gestão  e  a  organização  de  serviços  relacionados  com  o  diagnóstico, o tratamento, os cuidados e a reabilitação para a saúde. A integração é, assim, vista como o  meio  para  conduzir  à  melhoria  dos  serviços  no  que  se  refere  ao  acesso,  qualidade,  satisfação  dos  consumidores e eficiência (Gröne & Garcia, 2002). 

O conceito de cuidados integrados é amplo, envolvendo não só a perspectiva do utente, mas também as  implicações  em  termos  de  organização  e  gestão  dos  serviços  integrados.  Os  cuidados  integrados  não  são  um  fim  em  si  mesmos,  devendo  ser  entendidos  como  um  garante  de  qualidade,  em  termos  de  acesso,  eficácia, eficiência e satisfação do consumidor (Figura 7). 

  Figura 7 ‐ Cuidados integrados (adaptado de Gröne & Garcia, 2002) 

Para  que  as  estratégias  de  cuidados  integrados  sejam  bem  sucedidas,  é  fulcral  envolver  todos  os  stakeholders  (utentes,  prestadores  de  cuidados,  responsáveis  pelo  planeamento,  instituições),  mas  as  estratégias  conducentes  a  melhorar  os  cuidados  ou  os  serviços  prestados  aos  utentes  poderão  levar  a  perdas ao longo do sistema, nomeadamente de poder e controlo de alguns profissionais e/ou instituições, o  que gerará, naturalmente, resistências. 

O  conceito  de  cuidados  integrados  pode  ser  também  entendido  como  uma  resposta  impulsionada  pela  procura  com  o  objectivo  de  resolver  ou  atenuar  um  conjunto  de  problemas  com  que  se  deparam  os  sistemas  organizados  de  saúde,  nomeadamente  no  que  diz  respeito  ao  acesso  a  cuidados  de  saúde,  à  qualidade da prestação, à fragmentação dos serviços e da prestação de cuidados, bem como às ineficiências  inerentes  ao  funcionamento  do  próprio  sistema  e  às  dificuldades  no  controlo  de  custos.  Muitos  destes  problemas são resultado de uma tradição de especialização, diferenciação e segmentação na prestação de  cuidados, que foi transferida para praticamente todos os aspectos inerentes à organização dos sistemas de  saúde: a política de saúde, a regulação em saúde, o financiamento,  a organização da prestação de cuidados  e a própria cultura organizacional e profissional. Existe também ainda, tal como já foi referido, uma grande  incompatibilidade entre, por um lado, uma procura crescente de cuidados de saúde por doentes crónicos,  com  perfis  de  doença  bastante  complexos,  que  exigem  do  sistema  de  saúde  um  acompanhamento  mais  sistemático e continuado e, por outro lado, uma oferta ainda muito orientada para os cuidados agudos e  para contactos episódicos com os utentes dos serviços de saúde (Kodner, 2009). 

Outros autores resumem a integração como um processo que envolve a criação e a manutenção ao longo  do  tempo  de  uma  estrutura  comum  entre  parceiros  independentes  com  o  objectivo  de  coordenar  a  sua 

Saúde da  População  Qualidade   (acesso, satisfação,  eficiência, eficácia)  Continuidade na  prestação de cuidados  (experimentada por  profissionais e e/ou  utentes)  Cuidados  integrados   (visão, cultura,  modelo e  estratégia) 

interdependência,  para  permitir  o  seu  funcionamento  conjunto  no  âmbito  de  um  projecto  colectivo  (Santana, Marques, Lopes, & Barreto, 2010).  

Neste  trabalho,  destaca‐se a  definição  de  integração  de  cuidados  de  saúde proposta  pela  OMS  em  2008,  designadamente: “A organização e gestão dos serviços de saúde por forma a que as pessoas recebam os  cuidados  de  que  necessitam,  quando  necessitam,  de  uma  forma  simples,  que  permitam  alcançar  os  resultados desejados e garantir uma boa relação custo‐benefício na prestação” (WHO, 2008a, p.5).  

A opção por destacar esta definição neste trabalho resultou, antes de mais, do facto de se tratar de uma  definição simples e abrangente, que atribui ao utente um papel central, que acentua a necessidade de ser  garantida  uma  prestação  de  cuidados  com  continuidade,  e  que  passa,  ainda  que  implicitamente,  a  mensagem da importância de organização da oferta em função das necessidades da procura, com vista à  obtenção dos melhores resultados em saúde, bem como a maximização da eficiência na prestação.  

A OMS, neste documento técnico (WHO, 2008a), sustenta ainda que há muitas questões importantes por  detrás  desta  definição  e  que  é  útil  olhar  para  a  integração  a  partir  de  diferentes  perspectivas.  Para  o  utilizador do sistema, a integração significa ter acesso a cuidados de saúde contínuos, sem interrupções e  “fáceis  de  navegar”.  Estes  utilizadores  desejam  serviços  coordenados,  que  valorizem  o  seu  tempo,  e  profissionais de saúde que se preocupem com a sua saúde como um todo (e não necessariamente apenas  com  os  aspectos  clínicos),  bem  como  profissionais  que  sejam  capazes  de  comunicar  entre  si  através  dos  vários  níveis  de  cuidados  de  saúde,  relativamente  ao  seu  caso.  Desejam,  portanto,  continuidade  de  cuidados.  Para  os  prestadores,  a  integração  significa  que  serviços  formalmente  separados  são  prestados,  geridos, financiados e avaliados ou conjuntamente ou de uma forma coordenada. Ao nível macro, quer na  perspectiva da gestão de topo quer dos decisores políticos, a integração acontece quando as decisões sobre  as políticas, financiamento, regulação ou prestação não são, inadequadamente, segmentadas. 

A  integração  de  cuidados  pode  ainda  ser  definida,  genericamente,  como  a  medida  em  que  as  funções  e  actividades  são  coordenadas  através  das  várias  unidades  envolvidas  na  prestação  de  cuidados,  com  o  objectivo  principal  de  maximizar  o  valor  para  o  cliente,  considerando‐se  que,  de  acordo  com  Gillies,  Shortell, Anderson, & Mitchell (1993) existem três tipos de integração: integração clínica; integração médica  e integração funcional. A integração clínica está relacionada com a medida de coordenação dos cuidados  prestados  aos  utentes  ao  longo  das  várias  funções,  actividades  e  unidades  do  sistema,  sendo  que  as  exigências de coordenação dependerão muito das necessidades específicas de cada utente e das decisões  do  médico  responsável.  Na perspectiva dos  autores,  este  é  o  tipo  mais  relevante  de  integração,  uma  vez  que  o  foco  é  colocado  no  utente.  A  integração  clínica  considera  tanto  a  integração  horizontal  como  a  integração vertical. Na integração horizontal, há uma procura da coordenação de funções, actividades ou  unidades  que  estão  no  mesmo  nível  no  processo  de  prestação  de  cuidados  (e.g.  fusão  de  hospitais).  Na 

integração  vertical,  esse esforço  de  coordenação  envolve  funções,  actividades  ou unidades que  estão  em  diferentes fases do processo (e.g. CSP e hospitais).  

Relativamente  aos  restantes  tipos  de  integração  propostos  por  Gillies  et  al.  (1993),  argumenta‐se  que,  o  grau em que o médico se encontra integrado no sistema, bem como o grau em que algumas actividades de  suporte (e.g. gestão recursos humanos, gestão da informação) estão integradas, condicionam a integração  clínica. Ou, melhor, a integração médica e a integração funcional são vistas como actividades que, quando  bem executadas, contribuem para a integração clínica. A integração médica diz respeito ao grau em que o  médico  está  ligado  ao  sistema,  nomeadamente  relativamente  ao  seu  grau  de  envolvimento  no  planeamento, gestão  e  governação  do  sistema.  Sustenta‐se  que  médicos  mais  integrados  desta  forma  no  sistema partilham objectivos comuns  e respondem melhor a incentivos que promovem a cooperação com  o  sistema.  A  integração  funcional  traduz  a  medida  em  que  funções  e  actividades  de  suporte  (e.g.  gestão  financeira, gestão de recursos humanos e gestão da informação) estão coordenadas ao longo do sistema,  através  de diferentes  unidades  funcionais,  com o  objectivo  de  garantir  o  máximo  valor  para  o  sistema.  A  relação entre as várias dimensões de integração propostas pode ver‐se na Figura 8, e importa ainda a este  nível realçar que a integração, para estes autores, não pode ser vista como um fim em si mesma, mas sim  como um meio para melhorar o desempenho do sistema, para a comunidade em geral, para os utentes e  para os compradores dos serviços. Outra ressalva que é também feita pelos autores diz respeito à influência  dos diferentes contextos em que os sistemas estão integrados, ou seja, existem variáveis de contexto que  influenciam  estes  factores,  nomeadamente  a  geografia e até  a  forma  como  o  sistema  evolui  ao  longo do  tempo,  a  sua  história.  Por  exemplo,  é  de  esperar  que,  num  sistema  em  que  as  unidades  envolvidas  na  prestação  estejam  fisicamente  mais  próximas  seja  mais  fácil  integrar  funções,  médicos  e  promover  a  integração  clínica.  Será  também  expectável  que,  numa  organização  que  se  desenvolveu  internamente  desde  a  sua  criação,  por  oposição  a  uma  outra  que  se  desenvolveu  como  resultado  de  uma  fusão,  a  primeira consiga atingir níveis de integração superiores.   

  Figura 8 ‐ A relação entre as várias formas de integração (Gillies et al., 1993) 

Para tratar o conceito da integração de cuidados de forma mais aprofundada Kodner (1999) propõe uma  análise  em  torno  de  cinco  dimensões:  foco  da  integração,  tipos  de  integração,  níveis  de  integração,  amplitude da integração e grau de integração. No que diz respeito ao foco da integração de cuidados, os 

esforços podem ser dirigidos a uma determinada população, independentemente do seu estado/perfil de  saúde;  a  subgrupos  mais  vulneráveis  ou  em  situação  de  dependência;  ou  a  doentes  com  patologias  complexas  (e.g.  doenças  crónicas).  Já  relativamente  aos  tipos  de  integração  de  cuidados,  é  possível  diferenciar:  integração  funcional  (o  grau  de  coordenação  entre  as  diferentes  organizações  no  que  diz  respeito  às  actividades  de  suporte, nomeadamente a  gestão  financeira,  a  gestão  de  recursos  humanos,  a  gestão  administrativa  e  a  gestão  da  informação);  integração  organizacional  (relações/parcerias  entre  diferentes organizações de saúde); integração profissional (relações/parcerias entre profissionais dentro da  organização e entre diferentes organizações); integração clínica (coordenação entre os vários serviços e/ou  organizações,  traduzida  num  processo  único,  procurando  transpor  algumas  barreiras,  nomeadamente  temporais,  espaciais  ou  profissionais);  integração  normativa  (missão,  valores  e  cultura  organizacional  e  profissional  partilhada)  e  integração  sistémica  (alinhamento  de  políticas  e  incentivos  ao  nível  organizacional).  São  ainda  atribuídos  cinco  níveis  distintos  de  integração,  muito  relacionados  com  as  tipologias  de  integração  de  cuidados,  atrás  descritas.  São  eles:  integração  do  financiamento;  integração  administrativa; integração organizacional; integração da prestação/serviço e integração clínica. No que se  refere  à  amplitude  da  integração,  identificam‐se  possibilidades  de  ligação  entre  diferentes  organizações  para  assegurar  a  prestação  de  um  conjunto  de  serviços,  clínicos  e/ou  de  suporte,  concretamente:   integração  horizontal  (entre  organizações  integradas  num  mesmo  nível  de  prestação  de  cuidados)  e  integração  vertical  (entre  organizações  posicionadas  em  níveis  distintos  de  prestação  de  cuidados).  Relativamente  ao  grau  de  integração,  recorda‐se  a  proposta  feita  por  Leutz  (1999,  como  referido  em  Kodner,  2009),  com  três  configurações  possíveis,  que  se  aprofundarão  mais  à  frente  neste  trabalho:  articulação; coordenação; e integração plena. 

Kodner  (2009)  sintetiza  ainda  um  conjunto  de  métodos  e  ferramentas  para  integração  de  cuidados,  nomeadamente ao nível do financiamento (e.g. financiamento por capitação), ao nível administrativo (e.g.  central de compras, consolidação de funções), ao nível organizacional (e.g. critérios para referenciação de  doentes, alianças estratégicas, rede, fusão), na prestação cuidados (e.g. formação conjunta, gestão de caso,  gestão de doença, equipas multidisciplinares, integração de sistemas de informação) e ao nível clínico (e.g.  ferramentas  conjuntas  de  suporte  à  decisão  clínica,  planeamento  conjunto  de  cuidados,  registo  clínico  partilhado, monitorização contínua do doente e apoio à família). Outro aspecto que é enfatizado é o de que  não existe uma “melhor forma” para integrar cuidados, ou seja, que será importante atender ao contexto,  nomeadamente  institucional,  populacional,  profissional,  até  porque,  para  fomentar  uma  cultura  de  colaboração  e  de  partilha,  em  prol  do  doente,  será  fundamental  desenvolver  uma  cultura  própria,  uma  configuração à medida das circunstâncias específicas. 

A dimensão de continuidade na prestação de cuidados integra vários aspectos, nomeadamente: o período  de tempo durante o qual o utente se relaciona com o prestador; o tempo e a qualidade da relação com o  prestador;  a  capacidade  de  adaptação  da  oferta  de  cuidados  às  necessidades  do  utente,  em  constante 

mudança; a gestão da informação sobre o utente; os meios disponibilizados para comunicação à distância  entre  o  prestador  e  o  utente  (e.g.  telefone,  internet);  e  a  experiência  global  do  utente  relativamente  ao  processo integral da prestação de cuidados (Solinís, 2008). A continuidade de cuidados traduzirá, portanto,  a experiência do utente no sistema de saúde, no que se refere ao seu grau de coerência e coesão (Kodner,  2009).   Já o termo coordenação de cuidados é, muitas vezes utilizado alternadamente com o termo integração de  cuidados e, de facto, as fronteiras entre os dois conceitos são muito ténues. Ainda assim, o primeiro estará  muito mais relacionado com as questões de organização da prestação de cuidados, muito focado na gestão  dos  processos  e  na  articulação  entre prestadores  de cuidados  (Hofmarcher  et al.,  2007),  enquanto que  o  conceito  de  integração  de  cuidados  pode  implicar  mudanças  que  vão  muito  para  além  da  gestão  dos  processos organizacionais. Integrar cuidados pode implicar mudanças mais profundas, designadamente ao  nível da estratégia das organizações envolvidas (e.g. prestação, gestão, financiamento, avaliação) e abarca  diferentes perspectivas, nomeadamente a dos utilizadores do sistema, a dos prestadores e a dos decisores  políticos.  

Ao  conceito  dos  cuidados  integrados  está  ainda  associado,  na  literatura  sobre  o  tema,  os  conceitos  de  gestão de caso e de gestão da doença, prosseguindo‐se com algumas propostas de definição destes termos,  utilizados em diferentes países da OCDE.  

Na  gestão  de  caso,  há  uma  preocupação  em  coordenar  os  vários  elementos  que  compõem  o  sistema  de  saúde,  de  forma  a  obter  resultados  concretos.  Pressupõe  a  avaliação  das  múltiplas  necessidades  dos  utentes no longo prazo e inclui recomendações para os cuidados a prestar, monitorização e seguimento dos  utentes. A gestão de caso engloba, nomeadamente, a avaliação de necessidades e a responsabilidade pela  coordenação  e  monitorização  de  todos  os  cuidados  que  o  utente  necessita.  O  objectivo  é  evitar  os  reinternamentos e o recurso a serviços de urgência de indivíduos com múltiplas patologias, que necessitam  de  um  acompanhamento  mais  intensivo.  Trata‐se  de  um  processo  abrangente  e  sistemático  de  triagem,  avaliação,  planeamento,  organização,  coordenação  e  acompanhamento  no  que  se  refere  à  prestação  de  cuidados de saúde a utentes com necessidades de cuidados continuados e/ou que apresentem condições  de alto risco. Este processo proactivo tem quatro objetivos principais: melhorar a coordenação, adequação  e consistência entre os serviços; melhorar a escolha e flexibilidade na prestação de serviços; garantir mais  eficiência do serviço e melhorar os resultados em saúde dos utentes.  

A  estratégia  de  gestão  da  doença,  a  primeira  grande  iniciativa  relevante  para  prevenir  e  gerir  a  doença  crónica, surgiu nos Estados Unidos, na década de 90 do século passado, e rapidamente se disseminou por  vários países, nomeadamente o Canadá, o Reino Unido e a Nova Zelândia. A gestão da doença, geralmente  focada em utentes com uma só doença crónica, tem como objectivo, através de um processo contínuo e  coordenado de prestação de cuidados, melhorar o estado de saúde de grupos específicos da população ao 

longo dos vários estádios de evolução da doença. Esta segmentação da população é feita para grupos de  doentes  crónicos,  com  risco  elevado  de  agravamento  do  seu  estado  de  saúde  e  que  representam  custos  elevados  para  os  sistemas  de  saúde.  A  gestão  da  doença  pode  ser  ainda  definida  como  uma  abordagem  sistemática  e  de  base  populacional,  que  pressupõe  a  identificação  de  pessoas  em  risco  de  ter  uma  determinada doença, as intervenções ao longo de todo o ciclo de vida da doença, a gestão dos tratamentos  e a coordenação dos serviços a envolver, com o objectivo de alcançar melhores resultados em saúde, e que  sejam também estes mais custo‐efectivos. Os programas de gestão da doença desenvolvem‐se em torno de  condições  crónicas  específicas  (e.g.  diabetes,  asma,  depressão),  e  recorre‐se  a  uma  diversidade  de  ferramentas, nomeadamente à gestão de caso, a normas de orientação clínica e a iniciativas de educação  dos  utentes  (Kodner,  2009).  Importa  referir  que  o  conceito  de  gestão  da  doença  não  tem  estado,  no  entanto, imune a críticas, já que muitas vezes tem sido associado a iniciativas de  curto prazo, de redução  de  custos,  e  não  como  tendo  um  foco  no  doente  e  na  qualidade  de  vida  das  populações.  Ainda  assim,  considera‐se  ser  fundamental  fazer  a  avaliação  do  risco  que  lhe  está  subjacente,  pois  será  com  uma  abordagem mais proactiva e de prevenção da doença, que se acredita ser possível melhorar os resultados  em saúde (Escoval et al., 2010). 

1.3 Os modelos integrados de organização da prestação de cuidados 

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