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As aves na cultura nalik: um projeto educativo na papua nova guiné

Cláudio da Silva

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade de Coimbra clau.smith@gmail.com resumo A Papua Nova Guiné é o país com maior número de línguas, cerca de 840 (Simons & Fenning, 2017), representando 12% de todos os idiomas falados no mundo (Volker, 2014); além de também arma- zenar 5% de toda biodiversidade do planeta (WWF, 2016). Estes dados sugerem uma grande diver- sidade biocultural, que armazena conhecimentos tradicionais de diversos grupos étnicos, muitos dos quais relacionados a plantas e animais; aprimorados durante gerações, num longo processo de interação e relacionamento do Homem com a natureza (Maffi, 2007). Este trabalho buscou re- gistrar e documentar o modo de vida, além de mitos e lendas folclóricas, sobre aves, presentes no imaginário cultural de um dos diversos grupos étnicos presentes na Papua Nova Guiné, o grupo Nalik. A investigação foi desenvolvida na região das aldeias Madina e Luaupul, na Província de New Ireland, durante os meses de setembro a novembro de 2016. Entre os objetivos encontram-se e a contribuição para o empoderamento desta comunidade, pelo processo de reconhecimento de suas raízes e a valorização da sua diversidade biocultural. Os participantes foram alunos do Sexto e Sétimo Ano, da Madina Primary School, além de membros da comunidade local. Esta pesquisa foi conduzida através da investigação ação em três etapas: 1. Registro de narrativas orais junto a comunidade e interpretação de suas simbologias no contexto local; 2. Exploração destes registros através atividades práticas interdisciplinares, com os alunos, buscando a discussão de temas refe- rentes a cultura Nalik e transposição de elementos das narrativas orais para o discurso escrito e pictórico; 3. Validação e complementação dos textos produzidos pelos alunos, pelos aos membros da comunidade. O material resultante deste processo foi, posteriormente, editado e transforma- do no livro: “A Maani: Birds and Nalik Culture”, construído através do olhar e das experiências dos participantes, compilando lendas locais, canções tradicionais, além de informações sobre a história e a cultura do povo Nalik.

Palavras-chave: conhecimento tradicional, interdisciplinaridade, etnozoologia, educação indí- gena, Papua Nova Guiné. AbstrAct Papua New Guinea has more of languages than any other country, about 840 (Simons & Fenning, 2017), accounting for 12% of all languages spoken in the world (Volker, 2014). It also has 5% of all biodiversity (WWF, 2016). These data suggest a great biocultural diversity, and a subsequent wealth of traditional knowledge of numerous ethnic groups. Much of this is related to plants and animals and is knowledge that has evolved over generations in a long process of human interac- tion and relationship with nature (Maffi, 2007). This work aimed to record and document the life- style, stories and folk tales about birds present in the cultural imagination of one of the numerous Papua New Guinean ethnic groups, the Nalik people. This research was conducted at Madina and Luaupul villages in New Ireland Province during the months between September to November 2016. Among the intended objectives were enhancing an awareness of cultural biodiversity and contributing to the empowerment of the community through renewed interest in its cultural heri- tage. The participants were six and seventh grade students and members of the local community. Research was conducted through three steps: 1. Recordings of oral narratives in the community, and subsequent interpretation of their symbols in the local context; 2. Exploration of these record- ings through interdisciplinary activities with the students and developing the transposition of oral narratives into drawings and written forms; 3. Validation and correction of the students’ text by the community. The material resulting from this process was subsequently edited and the final output was the short jointly authored book “A Maani: Birds and Nalik Culture” created through the eyes and experiences of the participants of the project. Keywords: traditional knowledge, interdisciplinarity, ethnozoology, indigenous education, Papua New Guinea. ___________ introdução

A diversidade biológica tem recebido especial atenção, nestas últimas décadas, devido ao atual status de conservação de muitos ambientes naturais. Segundo Diegues et al. (1999) a biodiversidade não seria simplesmente um produto da natureza, isolado e descontextualizado de contribuições promo- vidas pelas culturas humanas, pois décadas de estudos de etnobiologia e etnoecologia reuniram evi- dências da existência de uma complexidade no conhecimento indígena e tradicional sobre os seres vivos, habitats e funções ecológicas. Esta interação possibilitou o desenvolvimento de um sistema singular de conhecimento, sobre a utilização dos recursos naturais, uma sabedoria que é parte de uma diversidade cultural, intrinsecamente relacionada a diversidade biológica, que diversos autores denominaram de “Diversidade Biocultural”. De acordo com Maffi (2014, p. 8), trata-se de um con- ceito complexo, que descreve a inter-relação e interdependência entre três manifestações da diversi- dade: a biológica, a cultural e a linguística. Segundo Maffi (2007) muitos estudos demonstram como esta interação proporcionou ao homem um maior conhecimento do ambiente e também permitiu a ele manter, incrementar e até mesmo criar biodiversidade, em determinados locais, através de prá- ticas de gerenciamento dos recursos naturais.

Gorenflo et al. (2011) apresentam a ocorrência concomitante da diversidade linguística em “hots- pots1” de biodiversidade observando que, das 6.900 línguas existentes atualmente, mais de 4.800 ocorrem em regiões contendo alta biodiversidade. Um exemplo significativo é a Papua Nova Guiné (PNG), onde existem 830 línguas diferentes, as quais representam 12% de todas as línguas existen- tes no mundo (Lewis, 2009 citado por Volker, 2014). Assim, quando estendemos nosso olhar para a diversidade biológica, a PNG abarca cerca de 5% de toda biodiversidade mundial (WWF, 2016). Esta riqueza armazena o conhecimento de valores culturais, sociais e econômicos, de diversos grupos étnicos, muitos dos quais relacionados a plantas e animais; conhecimento este que evoluiu durante gerações, num longo processo de interação com a natureza. Apesar da diversidade linguística da PNG, o país reconhece apenas três línguas nacionais: o tok pisin, o hiri motu e o inglês, sendo este último o único adotado no sistema acadêmico, em todos os níveis (Levy, 2005).

Considerando que a linguagem pode ser tanto um depósito como um difusor da diversidade cultural, torna-se difícil entender a cultura de um povo sem considerar sua língua. Assim, o estudo de aspec- tos da literatura oral, como lendas e mitos folclóricos, pode ajudar a descobrir crenças, comporta- mentos e costumes, relacionados a biologia e ecologia de diversas espécies que coexistem com uma determinada comunidade.

Vários acervos culturais, de pequenas comunidades indígenas, encontram-se ameaçados na PNG devido a fatores culturais, socioeconômicos e ambientais, que estão acarretando no desaparecimento gradativo de diversas línguas. Segundo Volker (2014), existem hoje 31 línguas extremamente amea- çadas no país e dezenas de outras seguindo o mesmo caminho. Neste cenário, o registro da literatura oral de uma comunidade, além de catalogar sua riqueza, permite que as gerações futuras compreen- dam mais sobre o seu próprio patrimônio cultural.

Este trabalho relata o processo desenvolvido no registro e documentação de aspectos da literatura oral da comunidade indígena Nalik, relacionados a ornitofauna da região da Província de New Ire- land (PNI), na PNG. O material resultante foi, posteriormente, utilizado na produção do livro “A Maani2: Birds and Nalik Culture”, através de um workshop desenvolvidos com os alunos de uma escola local.

LocAL de estudo e pArticipAntes

A PNI é formada por um conjunto de ilhas localizadas na região Nordeste da PNG. A ilha principal, 1 “Hotspots” são áreas prioritárias para programas de conservação, pois possuem concen- trações excepcionais de espécies endêmicas que estão sofrendo perdas de habitat, devido a ação antrópica (Myers et al., 2000).

2 O termo “a maani” vem do nalik e significa “aves”. Na língua nalik a palavra “a” é sempre colocada na frente de substantivos (Volker, comunicação pessoal, Junho 23, 2016).

237 236 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 Ilha de New Ireland (INI), possui cerca de 194.000 habitantes e dois distritos: Kavieng, a sede admi-

nistrativa, localizada no Norte da INI e Namatanai, localizada a 260km ao Sul (ADI, 2016). Cerca de 68% da população da PNI vive de atividades de subsistência. A região possui características rurais, estando a disponibilidade de energia elétrica, água encanada, entre outros serviços públicos, presen- tes apenas nas regiões com maiores concentrações urbanas (ADI, 2016).

Segundo Simons and Fenning (2017), a PNI possui 22 grupos étnicos. As práticas descritas neste trabalho foram desenvolvidas na região de domínio do grupo Nalik, que se encontra distribuído por 15 aldeias na INI. O censo realizado em 2000 listava 4000 pessoas como pertencentes a este grupo, onde a maior aldeia é a Madina, com cerca de 600 habitantes (Volker, 2014). Os participantes en- volvidos nas práticas pedagógicas, desta investigação, foram 57 alunos, 23 do Sexto e 34 do Sétimo Ano, da Madina Primary School (MPS), localizada na Aldeia Madina. Esta unidade escolar recebe alunos de duas aldeias: Madina e Luaupul.

O grupo Nalik

Os grupos étnicos da PNI possuem uma estreita interação com os animais, onde estes estão repre- sentados em cerimônias, manifestações religiosas e na estruturação social. Também possuem cul- turas bem semelhantes partilhando, por exemplo, sociedades matrilineares o que contrasta, dire- tamente, com a maioria dos grupos indígenas da PNG que são patrilineares. As comunidades da região Norte da PNI, entre os quais incluem-se os Nalik, estão organizadas em um sistema de clãs (Were, 2003), os quais consistem numa importante característica social, pois definem os arranjos familiares (parentesco e descendência), influenciando casamentos, propriedade de terras, posições sociais, além da construção da identidade pessoal. Os clãs são geridos e liderados pelos maimais3. Segundo A Xomerang and Volker: “A maimaai or clan chief is like a drum, the voice of the land. He has the final authority to bring together differing opinions in consultation and to guide them to an agreement [...]” (2016, para. 8).

O grupo Nalik possui oito clãs, representados por animais selvagens da região da INI, sendo sete aves e uma cobra (Tabela 1).

tabela 1. Clãs Nalik e seus animais totêmicos, de acordo com as informações fornecidas pela comunidade Nalik das vilas Madina e Luaupul.

nome do clã em nalik Animal totêmico em nalik nome vulgar do animal totêmico em inglês1 Nome científico do animal totêmico

Moxomaaraba a regaaum Eastern osprey Pandion cristatus

Moxokala a rok Red-bellied pitta Pitta erythrogaster

Moxomaaf a mangaaf Coconut lorikeet Trichoglossus haematodus

Moxokaamade a babanga Blyth’s hornbill Aceros plicatus

Moxotirin a dau Great frigate bird Fregata ariel

Moxonuaas a baalus Red-knobbed imperial pigeon Ducula rubricera

Moxomunaa a manungulaai White-bellied sea eagle Haliaeetus leucogaster

Saramangges a xalawizi Sea krait Laticauda sp.

O clã Saramanges é o único não representado por uma ave, mas por uma espécie de cobra marinha e isto deve-se ao fato dos seus integrantes, originários das Ilhas Tabar (PNI), terem sido incorporados recentemente a comunidade Nalik. Por este motivo, eles não possuem um nome relacionado as aves, pois trouxeram consigo um animal totem de sua própria cultura. Were (2003), relata que os Saraa- manges estão na INI há apenas três gerações existindo, no entanto, um antigo e complexo histórico de relacionamento entre eles e os Nalik no passado.

Os animais têm grande importância nas cerimônias tradicionais simbolizando os totens dos clãs, além de serem protagonistas em diversas histórias, onde representam uma complexa relação com os 3 O titulo maimai significa ser “Líder de um Clã”, possuindo permissão para administrá-lo e falar em reuniões públicas, de acordo com as leis tradicionais de seus grupos. Um único clã pode possuir vários maimais (Volker, comunicação pessoal, Junho 23, 2016).

antepassados, dentre as quais, a mais importante é o malagan (ou malanggan). Trata-se de escul- turas entalhadas em madeira, acompanhadas de uma tradição cerimonial em homenagem aos seus antepassados mortos (Volker, 1993, p. 111). Esta cerimônia tem sido amplamente descrita em litera- tura, por vários antropólogos, entre os quais destacamos os trabalhos de Gunn (1997) para os rituais nas ilhas Tabar; Lincoln (1987), que retrata diversas esculturas malagan, descrevendo-as dentro do contexto destes rituais; Lewis (1969), que analisa as esculturas malagan, dentro do contexto de sua criação até a utilização nestas cerimônias funerárias.

Workshop: storYteLLing – our book proJect

O workshop: Storytellying – Our Book Project foi uma das etapas, de uma investigação, que teve como propósito registrar e documentar aspectos da ornitofauna presente na literatura oral do grupo indígena Nalik da PNG. A pesquisa, realizada entre os meses de setembro a novembro de 2016, foi efetuada através da investigação-ação. Durante o mês de setembro foram conduzidas entrevistas e conversas informais, com os moradores das aldeias Madina e Luaupul, buscando colher informações sobre a cultura Nalik. Os conhecimentos, emergidos durante um diálogo participativo e reflexivo com a comunidade, foram utilizados no workshop como base para o desenvolvimento de oficinas, onde os alunos construíram textos e ilustrações para narrativas folclóricas, descrições de animais e canções tradicionais. Estes registros, construídos a partir do olhar e da experiência dos alunos seriam também, posteriormente, complementados e validados pela própria comunidade, além de compilados e editados no formato de um livro. A figura 1 apresenta um diagrama das etapas desen- volvidas.

figura 1. Diagrama demonstrativo das etapas desenvolvidas durante a investigação.

O workshop foi desenvolvido ao longo dos meses de outubro e novembro de 2016, durante 7 sema- nas e aproximadamente 48 horas de atividades. O tema central foi a ornitofauna da PNI, analisada a partir da sua biodiversidade e influência na cultura Nalik. Em sala de aula, pude contar com a ajuda do Linguista Doutor Craig Alan Volker4 e do Maimai Neil Gaalis5, como facilitadores durante a co- municação com os alunos, elucidação de questões referentes a cultura Nalik, além da orientação e organização dos alunos durante as diversas práticas. A presença de ambos, também, foi importante no auxílio das correções dos textos produzidos pelos alunos, viabilizando a otimização do tempo e dinamização na condução dos trabalhos, o que foi fundamental para atender aos estudantes, per- mitindo disponibilizar tratamento especial para aqueles com maiores dificuldades. Fora da sala de aula, também pude contar com a ajuda e orientação de diversos membros da comunidade. Todas as práticas foram desenvolvidas utilizando-se a língua inglesa como veículo para comunicação, oral e escrita, pois trata-se da língua utilizada no ambiente acadêmico da PNG.

4 Professor adjunto do Cairns Institute, James Cook University – Australia; foi o responsá- vel pelo registro, documentação e elaboração de um sistema de escrita para a língua Nalik (Volker, 1998).

239 238 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017

A interdiscipLinAridAde nA construção do conhecimento

As práticas propostas no workshop possibilitaram a participação e o aprendizado de forma inter- disciplinar que, como propõe Fazenda (2009, p. 97), busca inter-relacionar conteúdos e conceitos disciplinares, para que suas noções, finalidades, habilidades e técnicas proporcionem a fomentação do processo de aprendizagem, respeitando os saberes dos alunos e sua integração. Desta forma, os alunos foram orientados não apenas a produzirem textos, mas também a pesquisarem, relativizarem, discutirem e explorarem vários temas, integrados com outras formas de linguagens e disciplinas, num processo dinâmico e dialógico onde os saberes compartilhados permitissem a construção con- junta de um novo saber. O processo de aprendizagem foi considerado, numa perspectiva que não se limita

[...] a substituição das velhas concepções, que o indivíduo já possui antes do processo de ensino, pelos novos conceitos científicos, mas como a negociação de novos signifi- cados num espaço comunicativo no qual há o encontro entre diferentes perspectivas culturais, num processo de crescimento mútuo (Mortimer & Scott, 2002, p. 284). Entre os conteúdos explorados, durante o workshop estevavam:

• A geografia da PNI: analisando aspectos importantes da paisagem da provín- cia, seus principais recursos naturais e grupos étnicos, além de particularidades referentes região de domínio Nalik, principalmente das aldeias onde os alunos residem (Madina e Luaupul);

• Tópicos em biologia e ecologia: identificando os animais, principalmente as espécies símbolos dos clãs e pesquisando sobre seus hábitos e história natural, além de discutir sobre os principais problemas ambientais existentes na região; • A história da PNI: compreendendo como o período colonial influenciou na atu-

al organização das aldeias, além de descrever determinados locais e ambientes, considerando-se suas conexões com eventos ocorridos no passado;

• Atividades artísticas: elaboração de desenhos e ilustrações.

Estas inter-relações foram conduzidas concomitante a discussões e reflexões de vários aspectos da cultura Nalik, buscando a descrição de símbolos, práticas tradicionais e narrando histórias folclóri- cas presentes no imaginário cultural da região. Nosso propósito foi considerar o aluno não apenas um mero aprendiz, a ser moldado dentro de uma nova experiência pedagógica, mas como um indi- víduo detentor de saberes construídos dentro de seu meio cultural e da história de sua comunidade, permitindo a ele também se expressar e propagar sua voz. Partindo desta prerrogativa, de mediar a construção do conhecimento a partir da vivência e experiência dos participantes, as práticas uti- lizadas foram organizadas buscando a criação de situações de aprendizagem onde o aluno pudesse participar ativamente. Este procedimento considerou o “[...] processo de produzir, de levantar dú- vidas, de pesquisar e de criar relações, que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções do conhecimento” (Prado, 2003, p. 6), um processo onde o educador envolvido “[...] deixa de ser aquele que ensina pela simples transmissão de conhecimento para transformar-se num orientador, num mediador entre as situações vivenciadas” (Prado, 2003, p. 6). De acordo com Weisz and Sanchez (2002),

Boas situações de aprendizagem costumam ser aquelas em que: os alunos precisam pôr em jogo tudo o que sabem e pensam sobre o conteúdo que se quer ensinar, os alunos têm problemas a resolver e decisões a tomar em função do que se propõe pro- duzir, a organização da tarefa pelo professor garante a máxima circulação de infor- mação possível, o conteúdo trabalhado mantém suas características de objeto socio- cultural real, sem se transformar em objeto escolar vazio de significado social (p. 66). A autora ainda pondera que nem sempre é possível contemplar, simultaneamente, todos estes pres- supostos pedagógicos, pois eles dependem muito dos conteúdos considerados e dos objetivos que orientam nossa proposta de trabalho, mas são princípios que “apontam uma direção, e é esta direção que convém não perder de vista” (p. 66).

Outro cuidado observado foi a proposição de práticas que possibilitassem uma nova forma de en- sinar, distanciando-se dos métodos mais tradicionais utilizados pelos professores no cotidiano es- colar local, onde verificamos a quase ausência de trabalhos em grupos e a utilização de aulas quase que exclusivamente expositivas. Procuramos, desta forma, integralizar diversas mídias e conteúdos curriculares numa abordagem de aprendizagem construcionista. Segundo Valente (1999, p. 141), o

construcionismo, significa “[...] a construção de conhecimento baseada na realização concreta de uma ação que produz um produto palpável (um artigo, um projeto, um objeto) de interesse pessoal de quem o produz”. Durante o workshop, os alunos foram solicitados a sugerirem e criarem seus próprios materiais (textos, desenhos e pinturas), orientados pelas discussões surgidas durante a se- quência de tópicos explorados. Este processo envolveu a participação em atividades práticas, organi- zadas em grupos, o que permitiu uma maior interação e cooperação entre seus integrantes (Figuras 2). Durante as oficinas

• observamos livros de diferentes gêneros literários, analisando a morfologia des- tas publicações e seus vários componentes.

• discutimos sobre os gêneros discursivos e como eles se apresentam, como forma de preparar os alunos para, posteriormente, construírem seus próprios textos. • contamos histórias de outras culturas e analisamos narrativas que haviam sido

colhidas na própria comunidade.

• solicitamos aos alunos para pesquisarem outras narrativas com seus familiares. Depois construímos pequenos livros artesanais, com estas histórias. Cada aluno redigiu, ilustrou, editou e encadernou o seu livro manualmente.

• Elaboramos as ilustrações que seriam, posteriormente, utilizadas na produção final: “A Maani: Birds and Nalik Culture”.

figura 2. Alunos trabalhando em grupos na produção de textos e ilustrações.

As atividades constantes deste workshop, apesar de considerarem uma intencionalidade pedagógica visando intervir no processo de aprendizagem dos participantes, possibilitando a incorporação de novos conceitos e a aplicação destes em atividades práticas contextualizadas com a temática escolhi- da, não tiveram suas etapas planejada para serem executadas de forma isolada. Em sala de aula procuramos considerar e respeitar o tempo de cada aluno na conclusão das atividades propostas. Muitas vezes, alguns grupos finalizam determinadas tarefas com maior fluidez e rapidez que outros

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