desenvolvimento local
Márcio José Sol Pereira Oliveira ESECS – Instituto Politécnico de Leiria Nuno Carvalho
ESE - Instituto Politécnico de Coimbra
CICS.NOVA - Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da FCSH-UNL
resumo
A presente investigação , enquadrada num estudo de caso, tem como objetivos analisar a impor- tância da Universidade Sénior de Oliveira do Bairro (UNISOB) para a quali-dade de vida dos seus alunos e para a promoção do desenvolvimento local. Do ponto de vista metodológico para a reco- lha de dados recorreu-se a pesquisa bibliográfica e do-cumental, observação direta, inquérito por questionário e entrevista semiestruturada.
Os resultados obtidos mostram que os alunos que integram a UNISOB percecionam um contributo muito positivo para a sua qualidade de vida, para a promoção do enve-lhecimento ativo e para o desenvolvimento comunitário. A comunidade entrevistada confirma este contributo para o desen- volvimento comunitário. Palavras-chave: Qualidade de Vida, Desenvolvimento Local, Envelhecimento Ativo, Universida- des Seniores. AbstrAct The present research, based on a case study, aims to analyze the importance of the University of Oliveira do Bairro (UNISOB) for the quality of life of its students and for the promotion of local de- velopment. For the data collection, a questionnaire and interview was used. For the research and bibliographical analysis and documentation, it was decided to use a set of documentary documents referring to the UNISOB project made available by the Parish Council of Oliveira do Bairro, speci- fically the UNISOB internal regulations. News from the local press was also consulted. The results show that the students of UNISOB perceive a very positive contribution to their quality of life, to the promotion of active aging and to community development. The community inter- viewed confirms this contribution to community development.
Key words: Quality of Life, Local Development, Active Aging, Senior Universities. ___________
enQuAdrAmento teórico
São evidentes os efeitos do acréscimo do peso dos idosos na população total (e na popu-lação ativa) em termos económicos, sociais e individuais, em particular as despesas so-ciais associadas a idosos, o fenómeno do isolamento e solidão dos idosos, assim como o impacto no sistema de segurança social. A par destas dinâmicas também a família vai perdendo protagonismo enquanto cuidador do idoso e na transmissão de garantias futuras às novas gerações.
Inseridas nesta estratégia de promoção do envelhecimento ativo, as universidades seniores, também designadas de universidades da/para a terceira idade, surgiram em França em 1973, tendo este con- ceito sido trazido para Portugal por Herberto Miranda, para a cidade de Lisboa, em 1978. São vários os estudos que alertam para a influência das universidades seniores na promoção da qualidade de vida do idoso. Salientamos a abordagem de Marconcin, Real, Dias & Fonseca (2010:18), que defende que a participa-ção dos idosos nas universidades seniores proporciona-lhes “crescimento pessoal, de-senvolvimento das suas capacidades cognitivas, físicas, sociais e psicológicas, senti-mentos de realização e valorização dos seus trabalhos e esforços, qualidade de vida e bem-estar.”
Segundo Veloso (2002 cit in Jacob, 2011:126), as UTI têm o propósito de, entre outros objetivos, promover a valorização e integração do idoso, garantir o contacto desta po-pulação com a realidade e a dinâmica social, evitar o isolamento e a marginalização e promover a ocupação de tempos livres. De acordo com Magalhães, Fernandes, Antão e Anes (2010), as UTI poderão constituir um impor- tante auxílio na desconstrução dos estereótipos e dos preconceitos associados à velhice, estimulando a melhoria do bem-estar do idoso e reduzindo as perceções nega-tivas que a sociedade tem sobre a velhice. Promovendo uma participação ativa e adap-tada dos idosos, permitirão melhorar a perceção destes sobre a sua vida, o que lhes possibilita “dar vida aos anos e não apenas anos à vida.”
As UTI, enquanto programas de promoção do envelhecimento ativo, promovem a aprendizagem ao longo da vida, prolongam a vida ativa e otimização das capacidades individuais e o bom estado de saúde de cada pessoa e da comunidade. (Comissão das Comunidades Europeias citada por Peralta, 2011). Desta forma, as UTI surgem como indutoras de desenvolvimento, particular de desenvolvi- mento local.
De acordo com Trevisan (2009), o desenvolvimento assenta na lógica de que o bem-estar dos seres humanos se centra essencialmente no conforto material, na inovação tecnológica e na aquisição de níveis de conforto ideais para determinado momento.
Ao longo do tempo as necessidades do ser humano vão-se alterando e vão surgindo es-forços e so- luções da comunidade para os colmatar, constituindo-se as comunidades como agentes de desen- volvimento dessas mesmas comunidades. Para Caride, Freitas & Vargas (2007), o desenvolvimento comunitário é então um instrumento de participação da população, no qual a comunidade assume um papel preponderante, por ser um meio que orienta as necessidades dos seus indivíduos. O de- senvolvimento comunitário está assim associado ao progresso social, o que se traduz na mudança de comportamentos e atitudes das pessoas que estão inseridas nas comunidades (Arroteia, 2008). Desta forma, pode-se entender que o trabalho em comunidade, num determinado local, ocupa um lugar central no exercício de cidadania, devido às funções que lhe estão con-finadas, nomeadamente a funcionalidade da participação. O desenvolvimento comuni-tário ou local tem inerente a partici- pação das comunidades locais, e o seu envolvimento é fundamental para transformar e adaptar o maio às suas necessidades de comunidade. Segundo Carvalho (2009, 81-82), o desenvolvimento local é “um processo endógeno ge-ralmente assente em pequenas unidades territoriais e agrupa- mentos humanos capaz de promover o dinamismo económico e a melhoria da qualidade de vida das populações. Representa uma singular transformação nas bases económicas e na organização social ao nível local, resultante da mobilização das energias da sociedade, explorando as suas capacidades e potencialidades específicas. Para ser um processo consistente e sustentá-vel, o desenvolvimento deve aumentar as oportunidades sociais e a viabilidade e compe-titividade da economia local, au- mentando os rendimentos e as formas de riqueza, ao mesmo tempo que assegura a conservação dos recursos naturais”.
contexto dA inVestigAção
Este capítulo destina-se à apresentação do campo empírico deste estudo, procurando caracterizar de forma breve o Concelho e a Freguesia de Oliveira do Bairro, assim co-mo a Universidade Sénior de Oliveira do Bairro.
Caracterização do Concelho de Oliveira do Bairro
O concelho de Oliveira do Bairro está localizado na Região Centro e integra a Sub-região do Baixo Vouga.
De acordo com os Censos de 2011, do Instituto Nacional de Estatística (INE), o Conce-lho de Oliveira do Bairro integra 23028 habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de cerca de 264 habitantes/km2. O índice de envelhecimento (relação en-tre o número de idosos e o número de jovens) do concelho, apresentava em 2011 um va-lor de 132, o que significa que existiam mais de um idoso para cada jovem. O setor que em 2011 abrangia maior proporção da população empregada do concelho era o setor terciário (42%). A taxa de analfabetismo era em 2011 de 5,6%, acima da média nacional (5,2%).
Caracterização da Universidade Sénior de Oliveira do Bairro
A UNISOB é um projeto socioeducativo que surge com o objetivo de propiciar um espa-ço de apren- dizagem/ensino adequado à população sénior da região de Oliveira do Bairro. A necessidade desta iniciativa, para além de percebida pelos responsáveis au-tárquicos no seu trabalho de proximidade
291 290 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 com a população, é identificada no Plano de Desenvolvimento Social 2008-2013, levado a cabo pelo
Conselho Local de Ação Social de Oliveira do Bairro. Neste documento, apresentado em 2009, é evidenciada a referên-cia à necessidade de avançar com este projeto, como uma Intervenção de In- teresse Lo-cal, na estratégia de combate ao envelhecimento e como promoção da Aprendizagem ao Longo da Vida.
Os destinatários são pessoas de ambos os sexos, com idade superior a 50 anos, refor-mados ou no mercado de trabalho.,
obJetiVos e metodoLogiA
Foi possível constatar que existem vários estudos sobre o impacte das universidades seniores na qua- lidade de vida dos cidadãos e na promoção do envelhecimento ativo, mas são escassos os trabalhos que analisam o impacto destas instituições na comuni-dade e no seu desenvolvimento. Perceber os ganhos que os intervenientes e a comunidade percecionam sobre esta tipologia de projetos torna-se fundamental para que as entida-des promotoras possam adequar a suas políticas ou estratégias de intervenção local e comunitária à evolução demográfica e à crescente procura de atividades sócio educati-vas do segmento sénior da nossa sociedade. Neste sentido, apresentamos os seguintes obje- tivos para a presente investigação:
• Analisar a importância da UNISOB para os seus alunos;
• Analisar a importância da UNISOB na promoção do desenvolvimento local.
Considerou-se que a metodologia mais adequada para o desenvolvimento deste estudo é estudo de caso. Trata-se de um estudo misto de carácter qualitativo e quantitativo, re-correndo às técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, observação direta, inqué-rito por questionário e inquérito por entrevista semiestruturada.
O inquérito por questionário foi realizado aos alunos da UNISOB, sendo a amostra deste estudo constituída por 97 alunos inscritos no ano letivo 2012/13. Consideramos que a amostra é representa- tiva da população inscrita na UNISOB, que totalizava na-quele período letivo 120 indivíduos., As entrevistas semiestruturadas tiveram como destinatários 3 indivíduos, informantes privilegiados, que pertencem à comunidade de Oliveira do Bairro e que representam vá-rios setores da sociedade. Assim sendo, selecionámos o Presidente da Câmara Munici-pal, o Padre da Paróquia e o Provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Instrumentos de Recolha e Tratamento de Dados
Com este estudo, pretende-se obter uma análise pormenorizada da UNISOB, não obs-tante de es- tarmos conscientes das limitações inerentes ao estudo de caso, nomeadamen-te a impossibilidade de se adaptar as mesmas conclusões a outros contextos, não con-tribuindo assim para a construção de teorias.
i) Pesquisa e análise bibliográfica e documental
A pesquisa documental neste estudo em concreto consistiu na análise de vários docu-mentos relati- vos à UNISOB. Foram ainda consultadas notícias da imprensa local. Por forma a realizar uma atual e relativamente detalhada análise dos indicadores conside-rados de interesse para a caracterização do concelho e freguesia de Oliveira do Bairro, foram consultados os diversos Estudos Sectoriais de Caracterização do Plano Diretor Municipal de Oliveira do Bairro.
ii) Observação Direta
Na presente investigação optou-se pela observação direta, participante, na medida em que o investi- gador se tornou-se parte integrante da situação.
iii) Inquérito por questionário
O inquérito por questionário destinou-se a aferir de que forma os alunos tomaram co-nhecimento da existência da UNISOB e quais as suas motivações, níveis de satisfação com este projeto, se reconhe- cem a UNISOB como um projeto que lhes trás um aumento na sua qualidade de vida e se é aberto à comunidade.
Após a recolha dos questionários, realizou-se o processamento dos resultados e o seu tratamento estatístico, com recurso ao programa de análise estatística IBM SPSS Sta-tistics (Statistical Package for Social Sciences).,
iv) Inquérito por entrevista semiestruturada
As entrevistas realizadas pretenderam aferir o conhecimento dos entrevistados sobre a UNISOB, no- meadamente sobre a forma da tomada de conhecimento deste projeto e so-bre a oferta letiva e ativi- dades que a mesma proporciona. Por último pretendeu-se per-ceber qual a perceção das mais valias deste projeto para os alunos e para a comunida-de.
As entrevistas foram objeto de análise de conteúdo numa lógica de verificação, tendo sido criados objetivos de análise para cada questão aquando da construção do instru-mento de recolha. Num primeiro momento procedeu-se à análise das respostas e à divi-são do seu conteúdo numa matriz de análise de conteúdo criada para o efeito, onde se fez corresponder aos objetivos e às categorias pré- -definidas, as unidades de registo.
ApresentAção e discussão dos resuLtAdos obtidos
Apresentam-se neste Capítulo, os resultados obtidos através do inquérito por questio-nário e inqué- rito por entrevista. Ao longo da apresentação dos resultados obtidos por questionário serão intro- duzidos gráficos e quadros demonstrativos, enquanto que, ao longo da apresentação dos resultados obtidos pelo inquérito por entrevista, serão in-troduzidos quadros referentes às matrizes de catego- rização das entrevistas.
Resultados obtidos do inquérito por questionário
Caracterização dos inquiridos
Constata-se a prevalência de inquiridos do sexo feminino (60,8%). Os homens represen-tam 39,2% dos inquiridos. Quanto à idade, os indivíduos inserem-se predominantemen-te no grupo etário [65- 69] com 65% dos inquiridos, seguindo-se os grupos etários [60-64] com 62,7% e [70-74] com 15,5%. Quase metade dos indivíduos tem habilitações ao nível o ensino básico (68%), com predominância do 1º ciclo com 47,4%. Seguem-se 16,5% dos inquiridos com o ensino secundário e 15,5% com o en- sino superior. Quanto ao estado civil, 68% dos alunos é casado, 18,6% é viúvo, 6,2% é solteiro, 4,1% é separado ou divorciado e 3,1% vive em união de facto. Relativamente à situação profissional, 77,3% dos alunos se encontra em situação de reformado ou pensionista, 15,5% está de-sempregado e 7,2% está empregado.
Conhecimento da UNISOB
No que se refere ao modo como os alunos tomaram conhecimento da UNISOB, consta-tamos que 50,5% dos alunos inscritos tomaram conhecimento do projeto através da Junta de Freguesia de Oli- veira do Bairro. Cerca de 31% dos inquiridos responde que a tomada de conhecimento foi através de amigos que já frequentavam a UNISOB, tratan-do-se neste particular, de amigos, familiares ou vizi- nhos de alunos já a frequentar este projeto e aproximadamente 11% dos inquiridos respondeu que foi através dos meios de comunicação social local que tomou conhecimento da existência da UNISOB. Ao nível das motivações, verificamos que obter novos conhecimentos é a motivação principal. Efe- tivamente, 35,4% dos alunos inscreve-se motivado pelo interesse em obter novos conhecimentos e 23,6% dos alunos pelo interesse em complementar conhecimen-tos já adquiridos. O aspeto social surge também como fator motivacional – 22,1% dos alunos inscreveram-se porque queriam conviver mais – assim como a ocupação de tempos livres (17,9%).
Verificamos ainda que a disciplina que os alunos consideram mais interessante é a In-formática (29,2%), seguida das línguas portuguesa e estrangeiras (Português: 8,2%; In-glês: 13,4%; Francês: 6,9%). Disciplinas como a Cidadania (8,6%), Gerontologia Social (7,9%) e Culinária (7,9%) são tam- bém ofertas curriculares da UNISOB que os alunos mais valorizam.
Ao nível das atividades extracurriculares, as palestras, workshops, visitas de estudo ou convívios de carácter pontual (22,3%) surgem como a atividade preferencial, seguida pela tuna académica para cerca de 22% dos inquiridos. Segue-se o grupo de teatro (17,9%) como atividade que garante tam- bém satisfação da população sénior. O clube de leitura (9,5%), o clube de fotografia (6,0%) e o clube lúdico-pedagógico (5,3%) são as atividades extracurriculares que despertam menos interesse. Quanto à satisfação face à orgânica interna da UNISOB, observando os resultados re-lativos ao nível de satisfação associado cada um dos elementos, verificamos que mais de 97% dos inquiridos estão satisfeitos com os professores, serviços académicos, coor-denação, horários e oferta letiva e extra- curricular.
293 292 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2017 Contributos da UNISOB para os alunos
Da observação do Gráfico 1 verificamos que a quase totalidade dos inquiridos encontra benefícios para a vida pessoal e/ou social resultantes da sua inscrição na UNISOB.
Gráfico 1. Benefícios para vida pessoal e/ou social associados UNISOB (%).
Quando questionados de uma forma genérica sobre se percecionam ganhos para a sua vida pessoal e/ou social, pelo facto de frequentarem a UNISOB, os alunos são pratica-mente unânimes em res- ponder afirmativamente.
Pela análise do Quadro 1, os alunos consideram mesmo o contributo da frequência da UNISOB como de elevada importância para a melhoria da sua vida pessoal e social.
Quadro 1. Importância da UNISOB para a vida pessoal e social (%).