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No entanto, a abordagem ambientalmente mais adequada para avaliar a pressão ambiental da atividade pecuária na bacia do Jacutinga talvez seja a realização de um balanço dos nutrientes, pois é fundamental que se contabilize a quantidade total de nutrientes que entra na região através dos alimentos e fertilizantes e daqueles que saem da região na forma de alimentos, grãos, carne ou outros produtos (JAKCSONS, 1996, BERTO, 2004).

Em análise ambiental o balanço de massas é empregado como ferramenta para o estabelecimento de objetivos e metas ambientais e como indicador de desempenho. Para tanto, é necessário que seja definido o sistema de referência e o estabelecimento dos dados de entrada e saída (GRAEDEEL; ALLENBY, 1995).

Assim, utilizando os dados do Diagnóstico, realizou-se, com base em metodologia desenvolvida por Berto (2004), um balanço de nutrientes nitrogênio e fósforo (N e P) das 3.821 propriedades levantadas. Por essa metodologia, como entradas do sistema consideram- se o total de nutrientes (N e P) excretados pelos suínos e, quando existentes, os das aves de corte e de postura. Por sua vez, as saídas referem-se às exportações desses nutrientes (N e P) por meio das principais culturas agrícolas e florestais cultivadas nas unidades analisadas.

A bovinocultura, apesar de presente em quase todas as propriedades, não foi considerada no balanço, pois, segundo Berto (2004), a quantidade de N e P fornecidos pelos concentrados equivale à dos nutrientes exportados via carne e leite.

No presente caso, o balanço de nutrientes (N e P) foi realizado de forma simplificada, empregando dados da literatura, por não haver análises específicas para tal situação. Além disso, no balanço do N não foram consideradas as entradas via deposição atmosférica, fixação biológica (simbiótica e assimbiótica) e adubação mineral, bem como as saídas decorrentes da denitrificação e volatilização de amônia. Apesar de saber que a volatilização de amônia, desde sua excreção até sua utilização como fertilizante (inclusive), chega a representar 38% do N total excretado (BERTO, 2004).

A estimativa da excreção de N e P foi realizada com base nos índices apresentados por BERTO (2004), nos quais são considerados os ingressos de nutrientes no sistema, o total de nutrientes excretados pelos animais (suínos e aves de corte e postura). Assim, considerando-se os valores de nutrientes presentes nos dejetos, o número de matrizes (no caso de UPL e ciclo completo) e o número de animais em terminação, foi estimada a excreção total da atividade suinícola. Para a avicultura, caso a propriedade também desenvolvesse essa atividade, os valores de excreção do N e P por ave foram multiplicados pelo número total de aves alojadas.

As saídas do sistema foram calculadas a partir da quantidade de nutrientes (N, P) exportados pela colheita das diferentes culturas existentes. Dessa forma, a exportação para cada cultura é obtida multiplicando-se a área cultivada pela produtividade e pelo teor total de nutrientes contido no produto vegetal exportado. Á área cultivada foi obtida através dos dados do Diagnóstico..., enquanto que para calcular a produtividade foram considerados os valores médios de produtividade da microrregião de Concórdia (ICEPA, 2001) e os teores médios de nutrientes exportados, aqueles definidos pelo Comissão de Fertilidade do Solo RS/SC (1995). 5.5.1 Estimativa da excreção de nutrientes

Contabilizando o nitrogênio excretado anualmente pelos suínos (e aves, se existentes) na área estudada, registra-se um total 21.367.245 kg (Tabela18). Em relação à suinocultura, a maior contribuição na excreção de N é proveniente das propriedades que adotam a modalidade de terminação, responsáveis por 48,7% do N total. Por sua vez a avicultura, que está presente em 24,7% das propriedades, contribui com 2.806.701Kg N, o que representa 13% do total da excreção desse mineral.

Tabela18– Estimativa da excreção anual de N e P proveniente da suinocultura, segundo o tipo de produção, e

da avicultura nas propriedades levantadas.

Tipo de atividade N º de unidades Excreção média N/kg/UdP N Total excretado % Excreção média P/kg/UdP P Total excretado (kg/ano) % CC 865 4.627 4.002.482 18,73 800 691.918 16,82 UPL 1.375 3.017 4.147.908 19,41 655 901.247 21,91 Terminação 1.665 6.252 10.410.153 48,72 923 1.537.070 37,36 Sub total 18.560.544 86,86 3.130.235 76,09 Aves 946 2.967 2.806.701 13,14 1.040 983.546 23,91 Total 3.821 5.592 21.367.245 100,00 1.077 4.113.782 100,00

Fonte: Embrapa, 2003, Berto, 2004 (adaptado pelo autor).

Em relação ao fósforo, a excreção total da atividade é de 3.130.235 kg/ ano, sendo a maior contribuição proveniente das propriedades especializadas na terminação dos suínos, que representam 37,36% do total. O fósforo proveniente da excreção das aves totaliza 4.113.782 kg/ano, o que representa 24% do total.

5.5.2 Estimativa da produção/ extração de nutrientes pelas culturas

O total da área ocupada com as principais culturas anuais (milho, trigo, soja e feijão) é de 36.539 ha. A cultura do milho, ocupando 96,3 % da área total cultivada, é a principal atividade agrícola da microrregião. Entretanto, quando se consideram as áreas ocupadas com citrus, eucalipto, pinus e erva-mate obtém-se uma total de 41.667 ha. Além das culturas acima mencionadas, existe uma parcela significativa da superfície agrícola ocupada com pastagens permanentes e temporárias, que, todavia, não foi computada como área de exportação de nutrientes, pois é utilizada pela bovinocultura de corte e leite, atividade que, considerando-se o sistema de produção predominante na região, representa um montante pouco significativo no balanço total de nutrientes.

A Tabela 19 explicita a exportação média de N e P, calculada a partir da produtividade e dos teores médios de nutrientes extraídos pelas culturas, e a exportação total anual do nitrogênio e do fósforo, através da produção vegetal.

Tabela 19 – Número de unidades de produção, área total cultivada no ano agrícola 2002/2003 e exportação

média e total de N e P por cultura

Culturas Número de unidades de produção (UdP) Área total cultivada (ha) N Total Kg/ano N médio exportado kg/UdP/ano P Total Kg/ano P médio exportado Kg/ UdP/ano

Milho 3.589 35.172 1.695.716 472,5 291.396 81,2 Trigo 145 957 37.050 255,5 1852 205,8 Soja 9 220 5.700 39,3 Feijão 116 189 5.697 49,1 752 6,5 Outros* 1.972 5.128 70.832 35,9 6.343 3,2 Total 3.821 1.904.855 498,5 318.665 83,5

*Outros: citrus, eucalipto, pinus, erva-mate.

A exportação total anual de nitrogênio e fósforo através da produção vegetal considerada é de 1.904.855 e 318.665 kg, respectivamente, valores esses bastante inferiores ao total de nutrientes excretado pelos suínos e aves.

5.5.3 Saldo do balanço de nutrientes

O balanço final resultante do ingresso de N e P via excreção dos suínos e aves e a exportação via produtos vegetais é apresentado na Tabela 20. Os valores demonstram a existência de um excedente de aproximadamente 19,5 milhões de kg de N e 3,8 milhões de kg de P, ou seja, somente 9% do N e 8% do P que ingressam via excreção são exportados através da produção vegetal. Mesmo no caso do N, em que ocorre uma perda via volatilização da amônia de aproximadamente 37% do N excretado23 (do armazenamento até o a colheita da cultura adubada), sobram cerca de 54% do N (BERTO, 2004).

Constata-se que apenas 9% do N e 8 % do P total excretado pelos suínos e aves conseguem ser exportados via produção vegetal existente nas propriedades que se dedicam à suinocultura. Nas propriedades analisadas ocorre um excedente médio de 5.093,5 kg de N. Em relação ao fósforo, a média é de 993,2 kg por propriedade.

Tabela 18 – Nitrogênio e fósforo médio, total, mínimo e máximo e excedente por propriedade.

N Total P Total (kg/UdP)N médio P médio

(kg/UdP)

N mínimo por

propriedade P máximo porpropriedade

Excretado 21.367.245 4.113.782 5.592,0 1.077,0 -2.522 120.105 Exportado 1.904.855 318.665 498,5 83,5 -418 21.109

23 Total de perdas que ocorre do momento da estocagem dos dejetos em lagoas até a colheita dos grãos da cultura onde os dejetos foram utilizados.

Saldo 19.462.390 3.795.117 5093,5 993,2

Pelo balanço das propriedades suinícolas levantadas, constata-se que elas geram através dos dejetos animais um total de 21.367.245 Kg de nitrogênio e 4.113.782 Kg de fósforo por ano. Já a exportação total de nutrientes das propriedades através das principais culturas é de 1.904.855 kg de N/ano e de 318.665 kg de P/ano. Portanto, nas propriedades analisadas, ocorre uma acumulação anual de 19.462.390 kg de N e 3.795.117 Kg, o que representa uma média por propriedade de 5.093 Kg de N e 993 Kg de P. Em outra palavras, apenas 8,9% do N e 7,7% do P são exportados via culturas agrícolas.

Desse modo, existe um grande superávit de nutrientes na região. Em uma situação hipotética, se o total de nutrientes excretados pelos suínos e aves na área total das UdP fosse distribuído, ocorreria mesmo assim um excedente médio anual de 328 kg de N/ha e de 62 kg de P/ha, valores esses superiores às exigências de adubação para culturas anuais na região.