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8.2 Tecnologias para o controle da poluição

8.2.1 Produção

A quantidade diária de dejetos produzidos depende do número de animais existentes, do sistema de produção utilizado (confinado, ao ar-livre, extensivo);do tipo de produção (ciclo completo, produtor de leitões, produtor de terminados, produtor de reprodutores) e da quantidade de água utilizada na limpeza das instalações (OLIVEIRA et al, 1993).

Por sua vez, a quantidade de água presente nos dejetos depende do tipo de instalação e equipamentos utilizados na granja e da forma de limpeza das instalações. Além disso, perdas provocadas por vazamentos, escorrimento (run-off) e evaporação podem ser altas, resultando em dejetos com baixo conteúdo de matéria seca, o que aumenta os custos e o consumo de combustíveis fósseis para o seu transporte (JACKSON, 1998; SCHERER et al, 1996).

A composição dos dejetos está bastante influenciada pela alimentação utilizada e pela fase de vida dos animais. Segundo Jelinek (1977 citado por OLIVEIRA et al., 1993), o volume de dejetos produzidos pelos suínos varia de acordo com o desenvolvimento ponderal dos animais, variando de 8,5% a 4,9% de seu peso vivo/dia para a faixa de 15 a 100 kg. Todavia, existem muitas controvérsias quando se trata de utilizar esses valores em termos de cálculo para dimensionamento de estruturas de armazenagem, sistemas de tratamento e área agrícola necessária para a deposição dos dejetos.

Por exemplo, no diagnóstico da suinocultura dos produtores do Consórcio Lambari, utilizaram-se como referência de cálculo para estimar a situação dos produtores frente à legislação os valores da IN-11 da FATMA. Porém se os valores adotados fossem outros, apresentados por outros autores (Tabela 22), a situação ambiental da microrregião apresentaria um panorama ainda mais crítico.

Tabela 22 – Estimativas de volume de dejetos por tipo de criação segundo diferentes fontes Produção média (l)

Tipo de

Produção Produção média(l) Diluição Produção média (l)

Pouca Média Grande

Fonte: Embrapa 2004 Perdomo et al (1999) Instrução IN- 11

UPT 10,9 7,5 11,2 15,0 7,0

UPL 42,9 60,0 90,0 120,0 22,0

UCC 102,5 100,0 150,0 200,0 60,0

Legenda: UPT –unidade de crescimento e terminação de leitões, UPL – unidade de produção de leitões; UCC – unidade de criação de leitões

Fonte: Tabela adaptada de Embrapa Suínos e Aves (1997, 2004)

Essa diversidade nos índices técnicos tem servido, inclusive, como pretexto para que não se adotem determinadas alternativas tecnológicas. Por exemplo, na implementação do TAC, o órgão ambiental (FATMA) revogou a recomendação, permitindo que o volume das estruturas de armazenagem dos dejetos fosse 30% inferior ao valor constante na IN-11, desde que a granja utilizasse o tipo de bebedouro definido como ecológico. No entanto, as

agroindústrias estão reivindicando que essa redução continue vigorando, pois a sua revogação fará com que um contingente expressivo de granjas tenha que aumentar o volume de seus depósitos, o que acarretará um maior dispêndio de recursos para os suinocultores e agroindústrias, bem como um atraso no processo de licenciamento. Outro aspecto a ser considerado nessa discussão é de que, mantido esse índice de redução no volume, a área necessária para a deposição dos dejetos também ficará reduzida nessa mesma proporção, haja vista que a dose de dejetos por hectare é definida em função do volume total produzido e não da efetiva composição dos dejetos em termos de nutrientes.

Os argumentos utilizados pelos técncicos representantes das agroindústria enfatizam que o consumo de água nas propriedades foi reduzido devido a uma série de medidas técnicas e que o parâmetro empregado pela FATMA está defasado; todavia, outros aspectos relacionados a essa questão foram intencionalmente omitidos. Por exemplo, não basta que o produtor utilize um determinado tipo de bebedouro para que o consumo de água seja automaticamente reduzido, pois para tanto é necessário que toda a rede hidráulica esteja perfeitamente ajustada, situação essa que raramente acontece nas condições de campo (DALLA COSTA et al., 2000). Além disso, o período mínimo que os dejetos devem ficar armazenados é recomendado levando-se em conta tanto o período de tempo necessário para sua estabilização biológica, quanto as questões relacionadas a possibilidade de distribuição dos dejetos nas áreas agrícolas, pois em determinados períodos do ano verifica-se a ausência de áreas disponíveis para a aplicação dos dejetos, bem como escassez de equipamentos necessários para realizar a distribuição.

Assim, ao invés de se aceitar automaticamente que toda a instalação que aloje animais tenha o seu volume reduzido em 30% por cento, dever-se-ia contextualizar tal recomendação, através de estudos técnicos, em função da rede hidráulica da granja e, principalmente, das condições efetivas de distribuição dos dejetos disponíveis em cada propriedade.

No entanto, além de proporcionar a redução quantitativa dos dejetos, existe a possibilidade de se trabalhar no aspecto qualitativo dos dejetos. Nesse sentido, o manejo da nutrição tem sido apontado como possuidor de um grande potencial para minimizar os problema da poluição, pois é mais fácil e econômico evitar excessos nutricionais do que encontrar alternativas para dar destino ao excesso de nutrientes que estão presentes nos dejetos (LUDKE; LUDKE, 2002).

Entre os principais componentes poluidores dos dejetos suínos encontram-se o nitrogênio e o fósforo. Além dos macronutrientes, os dejetos de suínos, devido à suplementação mineral oferecida aos animais, contêm micronutrientes como o Zn, Mn, Cu e Fe, que, em doses elevadas, também podem ser tóxicos às plantas. A indústria de ração costuma usar doses elevadas de Zn (3. 000 ppm) e de Cu (250 ppm) na ração de leitões para a prevenção de diarréias e como estimulante do crescimento, respectivamente (PERDOMO et al., 2000).

Produtores e nutricionistas atualmente têm como objetivo a maximização individual da performance dos suínos, mas, atingindo esse objetivo, ocorre a suplementação de de nutrientes nas dietas, o que resulta em elevação na quantidade de N, P, K e outros nutrientes nas fezes e urina dos suínos. No caso dos suínos, é estimado que somente de 35% a 45% do nitrogênio protéico consumido é transformado em produto animal. Dessa forma, resultados de pesquisa que compararam um regime alimentar especialmente formulado versus a alimentação clássica dos suínos indicaram que se pode reduzir 30% da sua DBO, 40% do teor de sólidos e 30% de nutrientes com esta última. Para tanto as dietas deveriam ser formuladas com menores margens de segurança, baseadas nos conhecimentos das exigências nutricionais dos animais nas diferentes fases de produção e também conhecendo melhor a qualidade nutricional dos ingredientes disponíveis para a alimentação dos suínos (PENZ JR, 2000; EMBRAPA SUÍNOS E AVES, 2003). Os autores apontam que seria possível uma redução da perda de nitrogênio e de fósforo na ordem de 30% a 40%..

Em que pese o reconhecimento da possibilidade de reduzir a poluição através da formulação de dietas mais adequadas, essa alternativa não é efetivamente empregada em nível de campo. As dificuldades para a adoção voluntária dessas medidas estão relacionadas à possível elevação no custo de algumas rações, a alterações no manejo da alimentação dos animais e à necessidade de introdução de novos equipamentos (comedouros automáticos) que facilitassem a adoção de determinadas práticas, como a restrição alimentar no período final da fase de terminação dos animais. No entanto, na opinião de alguns técnicos, esses entraves seriam superados se a atual legislação ambiental que estipula a quantidade de dejetos fosse aplicada, se ao invés de ser determinada pelo volume dos dejetos passasse a ser realizada pela quantidade de nutrientes presentes na dieta, ou seja, através da adoção de um balanço de nutrientes da propriedade (SEGANFREDO, 2000).

Para a atual realidade da suinocultura catarinense essa possibilidade pode até ser considerada um pouco sofisticada, dada a existência de outros problemas mais básicos que ainda não foram superados, tais como a própria ausência ou insuficiência de estruturas de armazenagem dos dejetos em muitas granjas, mas pode-se esperar que, num futuro não muito distante, o Brasil, a exemplo dos países europeus e dos Estados Unidos, terá que adotar essa medida.

Outro aspecto refere-se à necessidade de avaliações mais detalhadas quanto aos impactos econômicos e ambientais que essa medida pode representar. Assim, caso uma dieta específica possa permitir, por exemplo, a redução da excreção do N presente nos dejetos em 10%, e caso os custos para tal prática não afetem significativamente os custos de produção, a legislação poderia estabelecer que todas as empresas fornecedoras de ração adotassem tal dieta. Essa regra não seria de difícil implementação e apresentaria um resultado rápido e comprovado em termos de redução do potencial poluidor. Além disso, teria o papel didático de mostrar que o peso da legislação não recai apenas sobre os suinocultores.