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7.4 A regulação ambiental da suinocultura em Santa Catarina

7.4.1 O licenciamento ambiental

A licença ambiental é um instrumento prévio de controle ambiental para o exercício legal de atividades modificadoras do meio ambiente, dentre as quais se inclui a suinocultura (CONAMA, 237/97). No âmbito do Estado de Santa Catarina o licenciamento ambiental é regulado pelo Art. 69 do Decreto 14.250/81,e deve ser obtido para “[...] a instalação, a expansão e a operação de equipamentos ou atividades que dependem de prévia autorização, desde que inserida na Listagem das Atividades Potencialmente Causadoras de Degradação Ambiental”. As atividades que envolvem animais confinados de médio porte, incluindo suínos, fazem parte dessa listagem e seu potencial de degradação é classificado como grande, portanto, requerem o licenciamento ambiental junto ao órgão competente (Portaria Intersetorial no 01/92 de 27/10/92).

O enquadramento legal da atividade suinícola acontece de acordo com o que estabelece a Portaria nº 01/92, de 27.10.92 e o Decreto nº 1528, de 02.08.2000. A referida portaria considera a suinocultura como uma atividade com grande impacto ambiental na água, pequeno impacto no solo e no ar, mas de grande impacto geral, e, portanto, exige o seu licenciamento, bem como estabelece uma série de exigências que visam prevenir ou corrigir seus possíveis efeitos negativos sobre o ambiente49.

A FATMA, órgão ambiental competente do Estado de Santa Catarina, emite dois tipos de documentos: autorização ambiental, para criações com menos de 900 animais em terminação ou 100 matrizes em ciclo completo, e licença ambiental para criações maiores,. Para que um produtor possa obter a licença ou autorização ambiental de acordo com o porte de sua atividade, precisa atender a dois requisitos centrais: um que se refere à localização das instalações e depósitos de armazenamento dos dejetos, outro relacionado ao padrão de lançamento dos despejos no ambiente.

49 O decreto estadual n. 14.250, de 1981, estipula que as construções de estruturas ou depósitos de armazenagem de substâncias capazes de causar riscos aos recursos hídricos deverão ser dotadas de segurança e prevenção de acidentes e localizadas a uma distância mínima de 200m dos corpos de água, bem como regula as condições para lançamento de despejos nos cursos de água.

Portanto, para que um empreendimento suinícola possa se instalar e operar, necessita receber uma autorização ou licença ambiental, que, no caso do Estado de Santa Catarina, é fornecida pela Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (FATMA). Ao todo são três licenças: licença prévia, licença de instalação e licença de operação.

A Licença Prévia (LP) é concedida na fase preliminar, no planejamento do empreendimento, aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implantação. Em resumo, através de Licença Ambiental Prévia se declara a viabilidade do projeto e/ou da sua localização quanto aos aspectos de impacto ambiental e diretrizes de uso do solo.

A Licença de Instalação (LI) autoriza a instalação do empreendimento de acordo com as especificações constantes nos projetos aprovados, incluindo medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivos determinantes;

Licença de Operação (LO) autoriza a operação do empreendimento após vistoria e análises de resultados, quando são verificados o cumprimento do projeto proposto e a eficiência do sistema.

De forma genérica o procedimento consiste no preenchimento de um formulário específico para a atividade suinícola, denominado Instrução Normativa (IN -11), que visa levantar os dados da propriedade, do rebanho, do volume e local de destino dos dejetos, entre outros pormenores do empreendimento. Junto com esta instrução, encaminha-se um projeto técnico detalhando aspectos de como serão realizados o manejo, o tratamento (se for o caso) e a deposição dos dejetos.

Os prazos das licenças são emitidos de acordo com a confiabilidade do projeto. Um projeto considerado adequado pode receber licenciamento por um período de 3 a 5 anos. Para projetos operacionalizados em instalações antigas, localizadas em áreas em desacordo com a legislação ambiental, que possuem sistemas de armazenagem de dejetos com tempos de retenção menores do que os desejados (120 dias), ausência de equipamento próprio para distribuição dos dejetos, ou para empreendimentos que possuem pequena área de terra própria para a destinação dos dejetos, o prazo de validade das licenças é reduzido (LINDNER, 1995).

Em termos práticos, a granja suinícola, para poder operar dentro do que estabelece a atual legislação, deve atender às seguintes determinações: estar localizada a uma distância

mínima de 30 metros de córregos ou rios com até 10 metros de largura, a 50 metros de rios com largura entre 10 e 50 metros ou a 100 metros de rios com larguras superiores a 50 metros. Além disso, a propriedade deve distar no mínimo 50 metros de nascentes permanentes ou temporárias, incluindo os olhos d’água (Lei 4.771 de 15/09/65 - Código Florestal).

Por sua vez, o Código Sanitário Estadual (Decreto 4.085/2002) determina que as instalações devem estar situadas no mínimo a 20 metros das residências e das divisas das propriedades, a 10 metros das estradas municipais e a 15 metros das estaduais ou federais

Além disso, as granjas devem possuir um sistema de armazenamento e/ou tratamento dos dejetos (esterqueiras, bioesterqueiras, lagoas, etc.) que possibilite um tempo de retenção de no mínimo 120 dias. Esse prazo visa principalmente assegurar que os dejetos sejam biologicamente estabilizados e que possam ficar armazenados durante aqueles períodos nos quais inexistem áreas disponíveis para a sua deposição no solo.

As unidades de produção de suínos também devem possuir uma área agrícola útil, em condições para realizar a reciclagem dos dejetos. Para tanto, a Instrução Normativa -11 (FATMA, 2002) estabelece que não é possível aplicação superior a 50 metros cúbicos de dejetos /hectare/ano.

Para aqueles produtores que não possuem área própria suficiente para a deposição dos dejetos gerados em sua propriedade, existem duas alternativas básicas: conseguir áreas de terceiros para a deposição dos dejetos, ou então submeter os efluentes da atividade suinícola a alguma forma de tratamento que permita que sejam descartados de forma ambientalmente segura.

A legislação que regulamenta os padrões de emissão dos despejos suínos em cursos de água é o Decreto Estadual n. 14.250, de 1981. Esse decreto estabelece que três condições básicas devem ser obedecidas: reduzir o DBO em 80%; lançar o efluente com DBO de 60mg/l e não conferir aos cursos de água características em desacordo com os critérios e padrões de qualidade da água. Além disso, o decreto inclui cálculos para os padrões de emissão de efluentes líquidos segundo a capacidade de autodepuração dos cursos de água.

Todavia, as condições estabelecidas por esse decreto são de difícil atendimento, haja vista as especificidades das dejeções suinícolas, os parâmetros restritivos estabelecidos pela legislação e os elevados custos necessários para implantação e manutenção dos sistemas de tratamento dos dejetos. Além disso, existe um entendimento por parte do órgão ambiental de

que não é possível realizar o lançamento de qualquer efluente nos corpos hídricos, mesmo que atendendo às três condições citadas anteriormente, pois todos os rios da região estão com a qualidade de suas águas em desacordo com o que prevê a legislação, fato este que na prática desestimula a adoção dessa alternativa.