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A qualidade da água subterrânea

A água subterrânea geralmente tende a manter a sua qualidade relativamente constante no tempo, e é em regra límpida, incolor e isenta de bactérias, pois conta com a proteção natural do subsolo. Para que se saiba sua qualidade, torna-se necessária a realização de exames para verificar se não há alteração das propriedades originais causadas por fenômenos antrópicos ou até mesmo naturais.

Na região Oeste de Santa Catarina existem basicamente dois grandes reservatórios de água subterrânea, que são o Aqüífero Guarani e o Aqüífero Serra Geral. O primeiro encontra- se exclusivamente coberto pelas rochas vulcânicas da formação Serra Geral, o que lhe confere um caráter de aqüífero confinado; o segundo desenvolve-se nos derrames basálticos, com

condição de armazenamento e circulação de água localizadas em fraturas e outras descontinuidades, constituindo-se no aqüífero mais utilizado do Oeste catarinense (SANTA CATARINA, 2002).

A redução da qualidade e da quantidade das águas superficiais tem intensificado a demanda da utilização das águas subterrâneas para o consumo humano, industrial e agropecuário. Em decorrência disso, muitos poços profundos têm sido perfurados, alguns dos quais sem respeitar os critérios técnicos adequados (SANTA CATARINA, 2002).

Essa demanda crescente pelas águas subterrâneas, associada à elevada pressão ambiental proveniente das dejeções animais, faz com que se suspeite que a qualidade da água subterrânea pode estar sendo afetada por fontes locais de contaminação, tais como o nitrato, provenientes de dejeções animais.

Segundo Foster e Hirata (1988) citado por Cetesb (2003), “o risco de contaminação da água subterrânea pode ser avaliado através da associação entre a vulnerabilidade natural do aqüífero e a carga contaminante potencial existente”. O conceito de vulnerabilidade natural indica o grau de suscetibilidade de um aqüífero a uma carga poluidora.

Apesar de os aqüíferos apresentarem uma proteção natural contra a poluição em decorrência do solo sobreposto e das camadas confinantes, se a água subterrânea for contaminada, os custos e o tempo para a descontaminação são superiores aos da água superficial, e em muitos casos inviabilizam seu uso. Em geral, quando se detecta poluição nas águas subterrâneas, necessita-se de um intenso trabalho de investigação para delimitar as plumas e determinar a origem da contaminação, que pode ter ocorrido vários anos antes ou em locais distantes do poço contaminado.

Por causa da vulnerabilidade dos aqüíferos e do potencial de contaminação das águas subterrâneas, há necessidade de escolha adequada dos locais de perfuração dos poços tubulares destinados ao abastecimento humano, de estabelecimento de áreas de proteção em sua volta e de controle das atividades potencialmente contaminadoras nessas áreas (CETESB, 2003; SANTA CATARINA, 2002).

Em algumas regiões do mundo, como é o caso do Estado da Baviera, na Alemanha, onde a maior parte dos municípios, incluindo a capital, Munique, são totalmente abastecidos com água subterrânea, os poços são localizados em extensas áreas de proteção e fortemente resguardados contra vandalismos e/ou sabotagens. Além disso, as concessionárias de água

daquele Estado negociam com os produtores rurais uma indenização pela redução da produtividade agrícola pela redução do uso de fertilizantes nitrogenados, como forma de proteger a qualidade das águas captadas, que são, em sua maioria, provenientes dos aqüíferos sedimentares livres (freáticos) (CETESB, 2003).

O Projeto Oeste de Santa Catarina (PROESC), resultado de convênio firmado entre a Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e o Governo do Estado de Santa Catarina, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente – (SDM) e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura– (SDA), realizou um amplo diagnóstico da situação dos recursos hídricos subterrâneos do Oeste catarinense. Através desse projeto foram levantados 2.723 poços tubulares, dos quais 2.714 captam água do Aqüífero Serra Geral e apenas 9 poços captam água do Aqüífero Guarani.

O estudo realizado pelo PROESC abrange uma área continental de 22.500 km2 (23,56% da superfície territorial do Estado) que possui sua economia calcada principalmente na agroindústria e onde se encontram as grandes empresas do setor de avicultura e suinocultura ,como a Sadia, Perdigão, Chapecó e Aurora. Como conseqüência da intensa atividade agropecuária, geralmente realizada de maneira pouco sustentável, constata-se o agravamento da erosão e do assoreamento dos rios, além de grande contaminação dos mananciais superficiais por dejetos de suínos e agrotóxicos. A degradação das águas superficiais na região deu início a uma crescente corrida em busca das águas subterrâneas, expressa pelo incremento na perfuração de poços tubulares desde a década de 80.

Para avaliação da qualidade da físico-químico das águas subterrâneas da região, o Projeto realizou 183 análises e constatou "que, apesar das condições ambientais adversas a que os aqüíferos fraturados estão sujeitos na região, os problemas relacionados com contaminação deste recurso hídrico ainda são muito incipientes e localizados [....]”. Além disso, o valor máximo de contaminação por nitrato encontrado nos poços analisados foi de 1,10 mg/l (NO3-N).(FREITAS, 2003, p.26).

No entanto, o próprio relatório do referido projeto questiona: – Por quanto tempo o processo de degradação provocado pelo desmatamento, pelas práticas agrícolas inadequadas, pela utilização de dejetos de suínos na fertilização de lavouras e pelos agrotóxicos pode continuar sem afetar a quantidade e a qualidade das águas subterrâneas da região?

Além disso, é importante mencionar que muitos poluentes demoram um tempo relativamente longo até atingirem as águas subterrâneas. Trabalhos desenvolvidos por

pesquisadores americanos constataram que o nitrato aplicado durante um experimento realizado no período de 1969 a 1974 aparentemente levou quase trinta anos para mover-se pelo solo até chegar à água subterrânea, a uma profundidade de aproximadamente 20 metros (TOMER; BURKART, 2003).