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7.9 Apontamentos finais

8.1.3 A década de 90

A década de 90 constitui-se, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em 1992, marco definitivo para a questão ambiental no Brasil e no mundo, pois nesse encontro é que foram lançados os mais importantes documentos sobre os principais temas que ameaçam o planeta, entre os quais a Agenda 21.

Em relação aos dejetos suínos, aconteceu no mês de outubro de 1990, na sede da Embrapa Suínos e Aves, um encontro reunindo agroindústrias, a Embrapa, a Epagri, a ACCS, a Universidade Federal de Santa Catarina e a FATMA, com o objetivo de definir uma estratégia para o enfrentamento dos problemas ambientais provocados pela suinocultura. Entre as resoluções, foi proposto o desenvolvimento de um programa integrado entre as diversas entidades visando o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao dimensionamento de esterqueiras e biodigestores; aos equipamentos mais adequados para transporte e uso racional dos dejetos; ao conhecimento da aptidão dos solos para diferentes culturas e ao

impacto ambiental dos dejetos usados como fertilizantes, além de técnicas de tratamento e valorização dos dejetos de suínos. Esse evento representou um passo importante para a aproximação de diversos técnicos e entidades que estavam percebendo a necessidade do desenvolvimento de ações articuladas para o enfrentamento da problemática que crescia em importância, tanto por mudanças na percepção de segmentos da sociedade quanto pela própria expansão e concentração da atividade em determinadas regiões do Estado.

A partir de então ocorreram diversos outros eventos e programas que transformaram a problemática dos dejetos da atividade suinícola de uma questão de interesse agronômico em um reconhecido problema ambiental. Os principais programas que se desenvolveram durante os anos 90 abordando direta ou indiretamente a questão ambiental da suinocultura foram: o Programa Microbacias I, o Programa de expansão da suinocultura e controle dos seus dejetos e o Programa de controle dos mosquitos borrachudos. Apesar das especificidades de cada um desses programas, a estratégia adotada para enfrentar o problema dos dejetos era a mesma, ou seja, a construção de estruturas para o armazenamento dos dejetos (esterqueiras e bioesterqueiras) e o uso deles nas áreas de lavoura. A justificativa para esse enfoque devia-se ao resultado de um levantamento realizado pela Epagri junto aos produtores integrados, o qual apontava que, no inicio da década de 90, apenas 15% das granjas suinícolas possuíam estruturas para o armazenamento dos dejetos (TRAMONTINI, 1999 citado por PERDOMO, 2001).

Além disso, outros dois aspectos merecem ser salientados em relação ao período: um diz respeito à exigência de licenciamento ambiental para todas as granjas suinícolas que utilizassem os recursos do Programa de expansão da suinocultura e controle dos dejetos, e o outro se refere ao papel do Ministério Público, que passou a acionar juridicamente os suinocultores responsáveis por vazamentos de esterqueiras ou lançamento de dejetos nos recursos hídricos. Essas ações judiciais, mesmo que fossem reduzidas quando se compara ao número total de eventos de poluição que ocorreram no período, receberam grande notoriedade quer pelo seu ineditismo, quer pelo que representaram em termos simbólicos na visão dos produtores rurais da região.

As ações de pesquisa nesse período destacaram-se pela formalização de um programa interinstitucional envolvendo e Embrapa Suínos e Aves e a Universidade Federal de Santa Catarina, com o objetivo de desenvolver e disseminar metodologias e tecnologias preventivas e corretivas da poluição decorrente da suinocultura, bem como para capacitar os profissionais

de órgãos públicos e privados ligados à questão do saneamento ambiental rural. Essa parceria entre Embrapa e UFSC, ainda na década de 90 começou a divulgar os primeiros resultados e passou a fomentar um crescente número de pesquisas voltadas para a questão dos dejetos, notadamente aquelas desenvolvidas por estudantes de cursos de pós-graduação do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina.

Além disso, foi decisivo para o desenvolvimento de pesquisas na área ambiental o rapasse de recursos pelo governo do Estado de Santa Catarina, através do Fundo Rotativo de Estímulo à Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina (FEPA), para que a Embrapa Suínos e Aves pudesse montar parte da infra-estrutura necessária para a realização de experimentos visando a validação de alternativas de tratamento dos dejetos suínos.

A década de 90 também foi marcada pela realização de diagnósticos ambientais em algumas sub-bacias hidrográficas com elevada concentração de suínos. Através de equipe multidisciplinar composta por pesquisadores e técnicos do CIRAM/Epagri foram realizados diversos levantamentos envolvendo as condições do solo, água, população animal e outras informações que permitiram dar uma visão mais completa da situação ambiental dessas bacias. Um dos desdobramentos desses trabalhos foi, através do Programa Nacional do Meio Ambiente II (PNMA II), a implementação, na sub-bacia do Lajeado Fragosos e na sub-bacia do Coruja-Bonito, em Braço do Norte, do projeto “Controle da Degradação Ambiental Decorrente da Suinocultura em Santa Catarina”. Outra característica desse período é uma maior presença de empresas públicas e privadas que identificavam nos dejetos suínos um mercado promissor. Assim, intensificou-se a venda de bebedouros e comedouros que exploravam a sua suposta vantagem ambiental, empresas vendiam bactérias que reduzem o poder poluente e o odor dos dejetos, outras comercializaram lonas plásticas destinadas ao revestimento das estruturas de armazenagem e indústrias tentaram adaptar sistemas de tratamento desenvolvidos para problemas de dejetos humanos ou de efluentes industriais para o tratamento dos dejetos suínos; também cresceu a comercialização de máquinas e equipamentos destinados à distribuição dos dejetos suínos, tais como tanques e bombas para aspersão. Além disso, surgiram novas empresas de prestação de serviço que oferecendo soluções tecnológicas na área de tratamento e utilização dos dejetos suínos. Em resumo, a cadeia suinícola amplia e diversifica o leque de componentes relacionados à questão ambiental.