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Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA)

O objetivo do presente tópico é o de apresentar uma breve consideração sobre alguns aspectos do Programa Nacional do Meio Ambiente II e seus componentes: Gestão Integrada de Ativos Ambientais e Controle da Degradação Ambiental Decorrente da Suinocultura em

Santa Catarina, haja vista que reúne uma série de componentes que o coloca como uma das

pretende constituir-se num modelo metodológico de gestão ambiental em regiões com elevada concentração de animais.

Em que pese a importância desse Projeto, não foi possível realizar uma análise mais detalhada dos resultados e dificuldades apresentadas nessa sua primeira fase de desenvolvimento. No entanto, procurou-se realizar algumas considerações gerais que servem para ilustrar a distância que parece existir entre as propostas tecnológicas apresentadas e as condições efetivas para sua aplicação na realidade de campo. Essas considerações estão embasadas na leitura de documentos do programa e, sobretudo, em entrevistas com técnicos de diferentes instituições nele envolvidas.

O Programa Nacional do Meio Ambiente II ou PNMA II, como tem sido denominado pelos técnicos, foi conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e financiado através de um Acordo de Empréstimo com o Banco Mundial (BIRD). Atua de forma descentralizada, apoiando as diversas unidades da Federação no fortalecimento das instituições que compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e no incentivo à gestão integrada do meio ambiente.

Em Santa Catarina, o PNMA II financia, através do componente Gestão Integrada de

Ativos Ambientais, o projeto Controle da Degradação Ambiental Decorrente da Suinocultura em Santa Catarina. O programa, com duração prevista para 33 meses, conta com recursos de

ordem US$ 4.477.000,00, e atua de forma piloto nas Bacias Hidrográficas dos Fragosos, no município de Concórdia (Oeste do Estado), e do Coruja/Bonito, no município de Braço do Norte (Sul do Estado).

Esse projeto está diretamente vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, através da Unidade de Coordenação Nacional –(UCN). Em nível estadual, a coordenação está vinculada diretamente à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, através da Unidade de Coordenação Estadual – (UCE). Sua execução ficou a cargo da Embrapa Suínos e Aves, órgão de pesquisa vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Por sua vez a Secretaria Estadual da Agricultura, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Fundação de Meio Ambiente (Fatma) são os co-executores, além de contar com a participação de diversas instituições em ações específicas .

O objetivo principal do projeto é melhorar a qualidade da água degradada pela suinocultura nas bacias selecionadas através da redução de focos de contaminação por dejetos

de suínos. Para atender ao objetivo proposto, o PNMA II adota como estratégia geral a implantação de um modelo de gestão ambiental para as propriedades produtoras de suínos baseado na readequação completa do atual modelo de criação de suínos (figura 11), desde os sistemas de manejo e produção utilizados até os sistemas de tratamento e de disposição final de dejetos no solo (PNMA II) .

O PNMA II foi configurado para ser desenvolvido em três etapas sucessivas de implementação, no total de 10 anos. A Fase I do Programa teve início em abril de 2002 e sua conclusão está prevista para o segundo semestre do ano de 2005. Esse projeto deverá desenvolver um modelo a ser irradiado para outras regiões que apresentem a mesma problemática no Estado de Santa Catarina.

Figura 11 – Modelo da estratégia de intervenção do Projeto Controle da degradação

Fonte: Embrapa Suínos e Aves, 2004

Na página do projeto na internet é possível encontrar uma nota que faz o seguinte comentário:

O PNMA II pretende se transformar num exemplo de sucesso na recuperação ambiental de regiões que possuem produção intensiva de suínos, caso do Oeste e do Sul de Santa Catarina, nas Bacias Hidrográficas de Lageado dos Fragosos e Coruja/Bonito respectivamente, regiões que estão recebendo investimentos do programa. O que diferencia este programa é o foco que ele tem, ou seja, sua finalidade são as intervenções tecnológicas nas propriedades com vistas a recuperação e preservação da qualidade ambiental e não apenas diagnosticar e propor modelos de gestão ambiental.

As declarações acima servem para ilustrar que o projeto é bastante pretensioso, pois busca, através de intervenções tecnológicas, ser um exemplo de sucesso na recuperação ambiental das regiões de produção intensiva de suínos.

De fato, a julgar-se pelo o número de entidades envolvidas, pelos recursos humanos e financeiros disponibilizados, pelo aporte tecnológico utilizado e pelo acúmulo de experiência que as instituições trazem de projetos anteriores, é de se esperar que o PNMA venha a se constituir num verdadeiro marco em termos de projeto de intervenção ambiental em bacias com elevada concentração de animais.

No entanto, em um trabalho produzido por Berto (2004) por meio de um criterioso balanço de nutrientes da sub-bacia do Lajeado Fragosos, constatou-se que, considerando os excedentes, principalmente da suinocultura e da avicultura, mesmo sem levar em conta o ingresso via fertilizante, os nutrientes superam a capacidade de exportação da produção vegetal em dez vezes para o N (sem considerar a volatilização) e em oito vezes para o fósforo. Nesse contexto, por mais importantes que sejam as medidas relacionadas à redução de perdas adotadas no âmbito de cada unidade de produção – redução do volume de água, realocação de esterqueiras e um maior e melhor aproveitamento dos dejetos como fertilizante –, elas serão insuficientes para enfrentar esse grande excedente de nutrientes que existe na bacia. Ou seja, as respostas apresentadas pelo projeto, por mais significativas que sejam, não são suficientes para atacar esse excedente em toda a sua magnitude.

Essa constatação remete à necessidade de que as bases do problema ambiental sejam revistas, pois existe uma espécie de consenso entre os diversos atores regionais de que o problema ambiental da suinocultura só poderá ser resolvido através da adoção de medidas relacionadas à utilização mais intensiva dos dejetos como fertilizante. Nesse sentido, o trabalho de Berto (2004) desautoriza o otimismo, pois mesmo que fosse possível a utilização dos dejetos em toda á área agricultável da bacia, que fosse melhorada a produtividade das culturas e que se introduzissem novos cultivos com maior capacidade de exportar nutrientes, o superávit ainda continuaria existindo. Além disso, mesmo combinando as diversas alternativas tecnológicas, tal como propõe o PNMA, elas serão insuficientes para dar conta desse excedente de nutrientes existente na bacia.

Mas admitindo-se que essas soluções do ponto de vista técnico fossem suficientes para equilibrar o balanço de nutrientes, continuariam existindo problemas para sua operacionalização. Uma das medidas mais importante para reverter o superávit sugere a

intensificação da produção vegetal por processos mais intensivos de rotação de cultura, pela utilização de plantas com maior potencial de extração de nutrientes e pelo aumento da produtividade das culturas; todavia, tal sugestão é de difícil viabilização, pois implica em profundas alterações na matriz de mão-de-obra das propriedades.

Nesse contexto, uma das maiores contribuições que o PNMA talvez possa prestar está relacionada à explicitação dos limites das alternativas tecnológicas disponíveis e, conseqüentemente, da necessidade de se construírem estratégias de gestão ambiental que estejam vinculadas a processos mais amplos de desenvolvimento do território rural.

Outro aspecto a ser mencionado diz respeito à base de dados do programa: para a elaboração dos croquis das microbacias escolhidas e das propriedades selecionadas utilizam- se, por exemplo, imagens de satélites e outras tecnologias de informação espacial que podem ser consideradas uma das mais completas do País. Essas informações são essenciais para que possam ser elaboradas políticas que vinculem de maneira direta sistemas sociais e naturais. Por isso, é muito importante que essas ferramentas sejam dominadas, avaliadas e difundidas para outros programas de desenvolvimento regional.

Além disso, espera-se que as informações obtidas a partir do programa possam servir de suporte para a validação das tecnologias preconizadas, bem como de subsídio para o aperfeiçoamento das medidas de regulação ambiental. Além disso, o programa, ao envolver diversas instituições ligadas à questão ambiental e ao desenvolvimento rural, deve preocupar- se em valorizar o aprendizado organizacional das instituições envolvidas e a formação de equipes interdisciplinares.

Assim, por tratar-se de um programa que foi concebido para servir de referência para as futuras intervenções mais abrangentes, seria fundamental que o PNMA II, ao finalizar a sua primeira etapa de intervenção, fosse objeto de uma ampla avaliação em seus principais resultados, visando melhor sistematizar a experiência, permitir uma aprendizado coletivo dos envolvidos e aperfeiçoar a qualidade das próximas etapas que estão previstas.