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subsistência. Na área diretamente impactada pela barragem, predominam pequenas propriedades, com diferentes graus de ligação com o mercado.

Debates sobre a construção de barragens na região ocorreram ainda na década de 1980, conduzidos pela CRAB, e com participação destacada de pessoas ligadas à Igreja. Enfatizando este papel da Igreja na organização dos atingidos, O. M. R. (liderança local – barragem Campos Novos) lembra que padres e irmãs, que agiam na comunidade discutindo a questão das barragens, sempre cantavam uma música religiosa na qual faziam uma pequena adaptação para incentivar a participação dos atingidos na luta contra as barragens: “Quem é que vai? Quem é que vai lutar contra a barragem no rio Uruguai?” 165. No final dos anos 1980 e na primeira metade dos anos 1990, as discussões praticamente desapareceram, mas voltaram em questão em meados da década de 1990, devido à construção da Barragem de Itá, voltando outra vez, a cair no anonimato, no final da década de 1990.

O cadastramento das famílias que se encontravam dentro da área a ser impactada pelo empreendimento e os Estudos do EIA/RIMA ocorreram sem maiores questionamentos dos atingidos166. Pelos dados do cadastro Sócio-Econômico (1999), seriam, no total, 466 famílias atingidas e, destas, 281 (60,3%) tinham documentos de propriedade de terra, enquanto 185 (39,7%) não o possuíam.

O discurso da empresa, de que estaria trazendo progresso, desenvolvimento, geração de renda e a possibilidade do local se tornar um importante pólo turístico, foi absorvido, de forma positiva, pelas pessoas do local. Os empreendedores contaram com o apoio de prefeitos, vereadores, comerciantes e outras pessoas que tinham certa liderança local, o que facilitava sua inserção regional.

As obras se iniciaram em junho de 2001, sem maiores questionamentos, ocorrendo a formação de uma Comissão Municipal de Negociação em cada município impactado, constituída por lideranças comunitárias, incentivada e reconhecida pela empresa, para colaborar nos trabalhos de indenização dos atingidos. Estas Comissões tiveram apoio e reconhecimento da sociedade local, que acreditava no seu trabalho, enquanto as ações dos atingidos organizados em torno do MAB não tinham muita repercussão na área. A Comissão passou a ter amplos poderes de negociação entre atingidos e empresa, aceitando ou refutando pedidos de inclusão de famílias com direito à indenizações, na definição das áreas a serem

165 Esse trecho foi adaptado de uma conhecida música cantada pelos religiosos católicos em suas celebrações:

“Quem é que vai? Quem é que vai, para casa do Senhor, quem é que vai?”

166 Este fato leva ao questionamento de até que ponto havia um envolvimento significativo dos atingidos na

CRAB, ou se este envolvimento era muito mais com a Igreja e/ou sindicato (combativo), e de forma secundária com a CRAB.

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compradas, na organização dos reassentamentos etc. Criou-se, também, o Conselho de Negociações da Usina Hidrelétrica de Campos Novos, que era formada por representantes das Comissões Municipais e da ENERCAN, com o objetivo de:

estabelecer as normas de organização para proposição e elaboração das diretrizes e relativo as ações de desapropriação e reassentamento, que comporão o documento denominado ACORDO, como forma de melhor atender a implementação do Programa de Remanejamento da População Rural da Usina Hidrelétrica Campos Novos (ENERCAN, s.d.).

As primeiras indenizações destinadas aos atingidos que se encontravam na área do canteiro de obras foram consideradas bem pagas, e a expectativa era que o mesmo ocorreria com as demais áreas. Esta situação gerava um clima de tranquilidade e confiança na

Comissão, como podemos perceber nas palavras de O.M.: “Até 2003, do ano de 2001 a 2003,

a Comissão toda fez o processo, participou de todo o processo. Então até ali eu diria que... foi pacífico, porque as famílias acreditavam na comunidade que elegeram para negociar os

direitos”.

A Comissão de representantes dos atingidos teve um papel importante na neutralização do MAB local, transferindo o conflito, que deveria ser da empresa com os atingidos, para o conflito entre atingidos, ou seja,os que apoiavam a Comissão versus os que apoiavam o MAB. J. (liderança local) destaca que, neste embate entre Comissão e MAB, a primeira se utilizava de ameaças aos que se aproximavam do Movimento, dizendo que não seriam indenizados ou que seriam os últimos a serem indenizados, colocando dificuldades burocráticas no momento de encaminhar documentos referentes à indenização etc. A Comissão, também, incentivava atingidos a aceitarem carta de crédito como indenização ou a organizarem minirreassentamentos (de 5 a 7 famílias), maneiras que desobrigavam a empresa de se responsabilizar por investimentos em infraestrutura e isolavam os atingidos, dificultando uma maior organização dos mesmos. No decorrer desta queda de braços entre atingidos, a construção da barragem seguia seu plano, dentro do cronograma estipulado.

A partir de 2003, tem-se uma mudança no jogo de poder entre Comissão e MAB. Os atingidos passaram a ficar descontentes com o processo de indenização e a questionar a função da Comissão, destacando que a mesma não estaria representando os interesses dos atingidos e, sim, servindo aos ditames da empresa. Neste momento, intensificavam-se as indenizações e a Comissão parecia estar voltada a minimizar ao máximo os gastos da

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a empresa a economizar dinheiro”167

.

O descontentamento com as indenizações e a desconfiança quanto às atividades da Comissão fortificaram o poder do MAB, que passou a questionar a própria legitimidade de seus membros. Numa assembléia entre atingidos das Barragens de Barra Grande e Campos Novos, realizada em 2003, decidiu-se pela elaboração de um abaixo-assinado, pedindo a extinção da comissão. Buscando minimizar os efeitos do baixo-assinado, a comissão passou a agir de forma mais branda, facilitando o pagamento de indenizações que até então estavam sendo questionadas, a um grupo de atingidos. Em maio de 2003, a Igreja Católica, com o apoio do MAB, organizou, na cidade de Campos Novos, a Romaria da Água, que contou com celebrações religiosas e debates sobre a utilização da água. O evento teve duração de dois dias e ao seu término, os atingidos, aproximadamente 1.000 pessoas, ocuparam o escritório da empresa que estava sediada nessa cidade. Segundo O.M.R (líder local) a idéia era forçar uma negociação com a empresa e dar um primeiro recado a mesma, qual seja, de que estaria se iniciando um novo tempo na relação entre atingidos e ENERCAN. Como resultado da ocupação foi feita a promessa de que, em pouco tempo, seria convocada uma reunião para debater a questão das indenizações. Como a reunião não foi convocada, em julho de 2003 é organizada uma primeira ocupação da barragem, com o objetivo de forçar uma reunião com representantes da empresa para discutir as indenizações. Num primeiro momento, os atingidos conseguem ocupar o canteiro de obras; porém, devido à ação de seguranças particulares e do policiamento que foi rapidamente acionado, aqueles tiveram que se retirar e ficaram acampados na estrada que dá acesso ao canteira de obras por dois dias, quando, então, conseguiram definir uma reunião com a empresa.

Na reunião entre representantes da ENERCAN e MAB, decidiu-se pela formação de uma equipe de negociação entre empresa e Movimento para avaliar os casos de indenizações negados. Neste momento, a ENERCAN reconhecia 466 famílias atingidas, enquanto o MAB apresentava uma relação com 1.000 famílias. Os casos negados seriam analisados pela equipe mista – ENERCAN/MAB -, com a presença da família atingida. O MAB montou sua equipe de negociação e, pensando no reassentamento de muitas famílias até então excluídas, formou uma equipe para averiguação de terras e organização para os futuros reassentamentos.

Como a empresa não cumpriu sua parte no acordo, não indicando representantes para a equipe de negociação, em outubro de 2003 voltou-se a fazer ocupação do canteiro de obras; os atingidos entraram no escritório da empresa, onde permaneceram por 4 dias. Neste

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Em conversas informais com atingidos, muitos insinuavam que os membros da comissão recebiam pagamento da empresa, para forçarem indenizações de menor custo.

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momento, a reivindicação, além de estar voltada à questão de indenização e reassentamentos, incluía uma ajuda de custo de 2.500 reais, a fundo pedido, para as famílias atingidas com o objetivo de cobrir perdas que tiveram, por não poderem mais realizar determinados investimentos nas propriedades, bem como para minimizar perdas devidas a dois anos de seca seguidos que se abateram sobre a produção.

Durante os dias de ocupação, principalmente durante as noites, a tensão era grande, pois

os policiais faziam uma “tortura psicológica”. Dizia O.M.R (liderança local): “Toda noite no

acampamento a polícia soltava uma bomba em cima do acampamento, aonde a gente tava acampado, dava tiro com aquelas bombas de efeito moral próximo dos acampamentos, então

não deixava ninguém dormir”. O avanço nas negociações, que determinou a liberação de R$

1.080,00 para cada uma das 576 famílias atingidas que se localizavam na beira do futuro reservatório168, e a pressão da polícia contribuíram para a desocupação da barragem, mas não sem antes todos serem revistados pela polícia. O MAB acompanhou os moradores das bordas do reservatório em seus projetos para utilizar o valor recebido e, desta forma, fortificou sua relação com estes atingidos:

A gente comprou uma vaca, teria que apresentar a nota da vaca, comprou palanque, apresentava a nota dos palanque, comprou uma máquina de triturar milho, pra moer milho, apresentava a nota da máquina, arame, apresentava as nota de arame... Então teria que apresentar nota, e gente organizou isso em grupos, os grupos nas comunidades. O Movimento foi organizar a comunidade em grupos, os grupos de base, grupos de discussão,

de amigos, de vizinhos, por proximidade, 9 a 10 famílias, ou até 15 famílias”

(O.M.R. – líder local).

Em outras negociações, foram liberados R$ 1.000,00 para cada família que se encontrava na área a ser inundada pelas águas da barragem. Nestas negociações, a empresa se relacionou diretamente com os atingidos para fazer a liberação da verba, utilizando-se disto para tentar desmobilizá-los; por meio da Comissão, cooptou também várias lideranças comunitárias que estavam entre os casos negados, garantindo indenização aos mesmos, desde que não se envolvessem mais com os debates na suas comunidades. Esta ofensiva da empresa levou a uma grande desmobilização do MAB Campos Novos.

Por outro lado, aproximadamente a 20 km dali, estava sendo construída a barragem de Barra Grande, e os atingidos estavam organizados e em constante mobilização. Entre os atingidos das duas barragens existia certa aproximação, principalmente entre lideranças que tinham feito cursos de formação juntos e, alguns, até mesmo o colégio técnico, em escolas dos

168 Seriam famílias que estavam ficando isoladas pelo fato de muitos dos membros das comunidades terem que

migrar, levando à desagregação da comunidade, fechamento de escolas, igrejas, encobrimento das estradas pelas águas etc.

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Movimentos. Buscando garantir seus direitos, também impulsionados pela ação do MAB Barra Grande, 11 famílias de atingidos de Campos Novos, dentre elas lideranças locais do MAB, resolveram fazer um acampamento permanente no trevo da BR 470, próximo à cidade de Campos Novos, na estrada que dava acesso à barragem. Neste momento, a empresa dizia que já tinha feito todas as indenizações, e os poucos casos pendentes haviam sido encaminhados para a justiça.

Em dezembro já eram 59 famílias acampadas e, numa tentativa de acordo com a empresa, apenas foi reconhecido o direito de uma senhora, como caso especial, que recebeu 11 mil reais de indenização. Já em 2005, os acampados receberam uma ordem judicial ordenando-lhes que desocupassem a área da BR, o que levou os atingidos a mudarem o acampamento para uma propriedade particular próxima à barragem. Com o passar do tempo, novas famílias foram chegando ao acampamento, perfazendo o total de 200. Com novos levantamentos feitos pelo MAB, estimou-se que existiam ainda 264 famílias com direito à indenização, enquanto a empresa dizia já ter encerrado os trabalhos envolvendo esta questão.

Como alternativa para forçar negociação com a empresa, o MAB buscou envolver o órgão ambiental do estado de Santa Catarina, pois o mesmo tinha liberado para a construção da obra. Na avaliação feita pelo órgão ambiental dos 264 casos apresentados pelo MAB, 160 foram considerados com direito à indenização, 94 precisariam apresentar novos documentos comprobatórios e 10 foram negados. Com a apresentação de novos documentos, 181 famílias, no total, foram consideradas aptas ao direito de indenização. Posteriormente, com a participação da Procuradoria da República e o órgão ambiental do estado de SC, identificaram-se como atingidos, mais 72 famílias de três pequenas vilas, que tiravam seu sustento trabalhando como diaristas nas propriedades que seriam alagadas. No momento em que foram realizados os cadastros das propriedades para desapropriação, os proprietários eram orientados a revogar os contratos com estes trabalhadores.

A partir de então, tinha-se um número definido de atingidos com direito de indenização, que estava sustentado pelo órgão ambiental do estado de SC e pela Procuradoria da República, restando ao Movimento buscar negociação com a ENERCAN para que estes fossem incluídos na lista dos indenizáveis. Para forçar a negociação com a empresa trancou-se a estrada que dá acesso à barragem por algumas vezes. A resposta da empresa foi a solicitação de prisão preventiva de 10 lideranças do MAB, no dia 12 de março de 2005, para evitar que organizassem manifestações no dia 14 do mesmo mês, considerado o Dia Internacional da

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Luta Contra as Barragens. A solicitação foi acatada, e 6 prisões169 foram efetuadas; 4 pessoas que estavam em uma reunião fora do município, foram avisadas e ficaram ausentes por 62 dias até se apresentarem novamente. Os primeiros ficaram presos 24 dias em presídio regional e os demais ficaram presos por 16 dias na cadeia pública de Campos Novos. Posteriormente, foram presos o dono do sítio onde os atingido tinham o acampamento e um homem que morava de caseiro neste sítio. As prisões foram sustentadas em afirmações que dizim que os mesmos não eram atingidos por barragens, não tinham residência fixa e apresentavam antecedentes criminais. A soltura dos mesmos se deu por justificativas inversas, baseada em documentos do órgão ambiental do estado de SC, que dizia que os mesmos eram atingidos e tinham residência fixa, bem como com a comprovação que não tinham antecedentes

criminais. Essa situação é bem representada na fala de J. (liderança local): “Então você vê o que a justiça faz também, né, ela inverte a situação, desdiz o que diz”.

Como ações em busca da indenização precisavam ser feitas, em junho de 2005, optou-se por refazer o acampamento pelo outro lado do rio, agora no município de Celso Ramos. Neste momento, a empresa já havia anunciado algumas propostas de indenizações, que, partindo de R$ 600,00 para cada família, já tinha chegado a R$ 8.000,00. Em outubro, organizou-se outra ocupação do canteiro de obras, quando foi possível controlar a central de britagem, e, nas negociações posteriores, a empresa ofereceu R$ 12.000,00 por família.

A desocupação ocorreu sem aceitação da proposta e partiu-se, então, para uma denúncia junto à entidades de direitos humanos sobre a perseguição política que vinha ocorrendo com lideranças do MAB, dentre elas lideranças do MAB Campos Novos. Foram feitas denuncias junto à OEA e à ONU, o que resultou na vinda de uma representante da ONU, ao local, em novembro de 2005, para averiguações. A passagem da representante da ONU serviu de motivação para que, no início de novembro, fosse realizada uma nova ocupação da barragem, apesar das barreiras170 colocadas pela empresa e pela forte repressão da polícia, que utilizava balas de borracha, bombas de efeito moral e até Pistola Ponto 40171. Porém o reforço policial obrigou os atingidos a recuarem depois de algumas horas de ocupação. Alguns dias depois foi impetrado mandato de prisão para uma liderança local, que permaneceu quatro meses ausente para que a prisão não fosse concretizada.

Outro tema, envolvendo a barragem de Campos Novos, que gerou discussão foi a

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Nesta ação foram apreendidos também 16 veículos, que poderiam vir a serem utilizados caso a manifestação chegasse a ocorrer, segundo entendimento do Promotor de Justiça responsável pelas prisões.

170 Dois portões foram rodeados de pedras e arame farpado e, mais adiante, sobre a barragem, foi construído

um escudo de aço, reforçado com barras de ferro de 15 polegadas, para impedir a entrada dos atingidos.

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O enfrentamento durou aproximadamente 25 minutos, deixando 19 atingidos feridos. Os atingidos recolheram cápsulas da arma de fogo (MAB/FASE, 2005)

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percepção de algumas famílias que moravam na proximidade da barragem de que a mesma apresentava uma pequena rachadura por onde vazava água, fato, que era negado pela empresa. Por precaução, temendo um incidente social e ambiental, o MAB fez um alerta público destacando os riscos no caso de um acidente. Também foram feitos comunicados para o IBAMA, MME, BID e BNDES, solicitando informações e alertando-os sobre a situação, mas não houve resposta de nenhuma instituição. Em 20 de junho de 2006, muitos ribeirinhos, que se encontravam à jusante da barragem, assustaram-se com a quantidade de água que passava a correr pelo rio; ficaram sabendo, depois, que estava sendo esvaziado o reservatório para reparação de rachaduras no muro da terceira hidrelétrica mais alta do mundo (202 metros). A água liberada acabou servindo para aumentar a cota dos reservatórios das hidrelétricas de Machadinho e Itá, pois devido às poucas chuvas na região, encontravam-se abaixo de suas capacidades de armazenamento.

Depois de muitos debates e enfrentamentos, no dia 24 de agosto de 2006, foi assinado o Termo de Acordo entre MAB e ENERCAN172, no qual 109 famílias receberam R$ 14.000,00 cada, totalizando R$ 1.526.000,00 (um milhão e quinhentos e vinte e seis mil reais); as 72 famílias residentes nas vilas receberiam R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), aproximadamente R$ 13.888,00 cada uma delas, quantia que deveria ser utilizada na organização de reassentamentos173; outras 72 famílias, que teriam direito a um reassentamento padrão, com infraestrutura montada, receberam R$ 2.016.362,00 (dois milhões e dezesseis mil e trezentos e sessenta e dois reais), que, se fossem distribuídos de forma igual, representariam R$ 28.000,00 para cada uma delas, para organizarem o reassentamento e mais um recurso de R$ 3.100,00, totalizando R$ 223.200,00 (duzentos e vinte e três mil e duzentos reais), que seriam dados como contrapartida no programa do Governo Federal (PHS) para construção de casas (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2006). A energia elétrica seria instalada pelo programa Luz para Todos, do Governo Federal, e outras infraestruturas deveriam ser obtidas, também, junto ao poder público ou ser pago com parte do valor das indenizações recebidas. Também foi liberado um valor que seria para custeio da produção inicial. No total, os atingidos receberam R$ 5.999.000,00 (cinco milhões e novecentos e noventa e nove mil reais). Analisando-se apenas o valor em si, a cifra disponibilizada parece ser significativa; porém, levando-se em consideração o potencial de geração de energia da hidrelétrica, ele

172 O Termo de Acordo contou com a participação do MME, MPF, FATMA.

173 Durante levantamento de campo, participei de uma reunião para definir um grupo de 21 famílias que iriam

ocupar uma área de terra já em processo de compra. Ficou evidente a desorganização destas famílias e a dependência que as mesmas tinham das lideranças do MAB, tanto no encaminhamento das discussões da reunião, como para a organização do assentamento.

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representa menos de 7 dias de geração de energia. Ou seja, as prisões, enfrentamentos com a polícia, acampamentos, o desgaste psicológico e financeiro dos atingidos custaram menos que 7 dias de funcionamento da hidrelétrica, que será explorada por um pequeno grupo de empresas por 12.775 dias (35 anos), com possibilidades de renovação.

Segundo O.M.R (líder local), no momento da aula de campo, janeiro de 2007, já havia sido formada uma associação dos atingidos para gerenciar o valor da indenização a ser paga e indicada uma comissão para vistoriar e comprar terras para os reassentamentos. Foram, então, compradas três propriedades, para grupos de 11, 9, e 8 famílias, estando mais três áreas em processo de negociação, para 14, 21 e 31 famílias. Os reassentamentos estavam sendo organizados nos municípios atingidos ou vizinhos, o que contribuía para que as famílias não se distanciassem muito de seus locais de origem (Foto 6).

Apesar da luta dos atingidos e das conquistas acima descritas, é feita uma leitura negativa sobre a ação do MAB Campos Novos. Isto se dá pela dificuldade de sua organização inicial, deixando a Comissão ligada à empresa coordenar as negociações com os atingidos; depois, quando tiveram uma organização inicial, não foram capazes de superar as iniciativas da empresa de cooptar lideranças e diminuir o poder de força do MAB; e já no final do processo, com o acordo assinado, não foram obtidas boas indenizações, restando situações