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2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E MÚSICA

2.8 Bibliotecas digitais de música

Bibliotecas digitais vêm ganhando destaque por serem capazes de agregar va- lor aos serviços providos pelas bibliotecas tradicionais (não virtuais). Mediante o uso de protocolos que garantem interoperabilidade (como o Z39.5093 e o OAI-PMH94) e de padrões para descrição de metadados estruturais, descritivos, administrativos e de

93 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Z39.50.

preservação (RODRIGUES, 2003), as bibliotecas digitais tornaram-se suporte essen- cial para armazenamento, indexação, recuperação e distribuição de objetos digitais pela Internet.

Embora o termo Biblioteca Digital de Música (BDM ou MDL – Music Digital Li-

brary) seja largamente utilizado para descrever sistemas de recuperação musical co-

mo os que foram listados na seção 2.5, essa é uma definição imprópria. Na verdade, tais sistemas são mais bem caracterizados por manipularem uma base de dados de músicas digitalizadas que podem ser recuperadas pela adoção de alguma estratégia de indexação. Essas bases podem ser formadas por cópias de partituras musicais como é o caso da coleção Lester Levy95, de arquivos de áudio e até de vídeos musi- cais. De acordo com a definição provida pela ARL96, uma biblioteca digital é uma en- tidade que possui as seguintes características: (i) serve a vários usuários; (ii) é dirigi- da à tecnologia; (iii) é interligada com outras bibliotecas; (iv) é universalmente acessí- vel; (v) não é limitada à digitalização de objetos impressos existentes; e (vi) pode ser provida de conteúdos multimídia que existam apenas em um ambiente digital.

Por sua vez, bibliotecas digitais de música não são apenas bibliotecas com conteúdo musical, mas entidades que têm uma variedade de propósitos e funções, dentre eles: (i) preservar objetos musicais; (ii) implantar melhorias na acessibilidade de materiais musicais; (iii) integrar vários formatos musicais numa única coleção; e

(iv) prover ferramentas de educação musical. Além disso, as bibliotecas digitais de

música têm um diferencial em relação a outros tipos de biblioteca, uma vez que não podem ser universalmente acessíveis por causa dos problemas de direitos autorais já citados na seção 2.7.

Os objetos comportados em bibliotecas digitais representam artefatos que po- dem ou não terem sido captados do mundo real. Existem modelos estabelecidos para a definição desses artefatos, como a proposição feita por Kuramoto (2007), e que está ilustrada na Figura 2.29.

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Disponível em http://levysheetmusic.mse.jhu.edu. 96

ARL ou Association of Research Libraries é uma organização composta por inúmeras instituições de pesquisa na área de Ciência da Informação – principalmente Estados Unidos e Canadá –, cujo objetivo é promover pes- quisas, recomendar padrões e integrar as instituições envolvidas. Mais informações podem ser encontradas no endereço http://www.arl.org/.

Figura 2.29: Componentes de um artefato digital

Fonte: Kuramoto (2007)

Artefato digital (AD)

Propriedades Metadados Conteúdos Assinatura* Identificação Transações Identificação única (Handle system) Lista de transações realizadas (Log) - Direitos de acesso - Métodos de acesso Descrição do AD

(Exemplos: título, au-

tor, descritor, data de

publicação, etc.) - Músicas; - Partituras;

- Softwares; - Filmes; - Mapas; - Textos; ou - Multimídia Assinatura digital * opcional

De acordo com a Figura 2.29, os artefatos digitais devem possuir: (i) uma assi- natura digital como forma de certificação do produto; (ii) uma identificação do tipo de conteúdo que possui; (iii) os metadados descritivos, estruturais e administrativos; (iv) os direitos de acesso; (v) um controle de acessos e, finalmente (vi) uma identificação única. Os métodos de acesso devem ser compatíveis com a forma de representação e devem atender a um público variado. Portanto, interfaces amigáveis (sistemas IHC – Interactive Human-Computer) para os diferentes tipos de usuário de música preci- sam ser contemplados.

Arms (2000, p. 143) ressalta que uma biblioteca digital é tão boa quanto assim for a sua interface, pois ela melhora a comunicação e reduz o esforço necessário para compreender a organização estrutural e espacial dos conteúdos, localizar objetos digi- tais específicos no sistema e nas telas, além de proporcionar uma navegação fácil.

De acordo com o que está apresentado na Figura 2.30, o projeto de interface é parte integrante do modelo conceitual do sistema, juntamente com o projeto funcional que especifica as funções a serem oferecidas aos usuários e ao projeto dos metada- dos associados aos dados que especificam a estrutura e a organização e descrição do conteúdo (ARMS, 2000, p. 143-145; SOARES, 2006, p.190).

Projeto de interface Projeto funcional Dados e metadados Modelo concei tual

Sistemas e recursos de rede

Figura 2.30: Modelo conceitual para projeto de bibliotecas digitais

Fonte: Arms (2000, p. 144)

Para o caso da música, esse modelo também pode ser usado como referência, dada a variedade de possibilidades de acesso, tipos de usuários e formas de repre- sentação dos artefatos digitais musicais. Tais possibilidades impactam diretamente na construção das interfaces de acesso, dando origem a paradigmas como o QBH97 Query by Humming – e o QBE98 – Query by Example, dentre outros –, que permitem expressões de busca diferenciadas em relação aos sistemas textuais convencionais.

Particularmente interessante no modelo da Figura 2.30 é a preocupação com os recursos de rede, já que músicas exigem determinados requisitos de qualidade de serviço que outros tipos de informação – como o textual por exemplo –, não exigem. Da mesma forma, os equipamentos disponíveis para os usuários devem ser dotados de recursos compatíveis com a utilização, tais como: placas de som, microfones e outras interfaces que permitam uma interação com sistemas musicais. Nesse sentido, algumas linhas de pesquisa têm sido seguidas, dentre elas as que procuram facilitar a busca em sistemas de música portátil, como os i-pods (PAWNS e VIGNOLI, 2005), e as que facilitam a navegação entre capas de discos (BAINBRIDGE, CUNNINGHAM e DOWNIE, 2004) pelo uso de técnicas de visualização e colagem99.

Existem diversos grupos de pesquisa envolvidos com a criação de bibliotecas digitais de música, mas, se forem consideradas as definições da ARL, é possível afir- mar que elas, efetivamente, ainda não existem (LESAFFRE, 2006, p. 13). Em relação aos sistemas disponíveis, segundo Byrd (2007-c), o i-Tunes (sistema comercial) pos- sui algumas características de uma biblioteca digital de música, e, dos sistemas aca-

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Nesse caso, a interface do usuário permite que o mesmo possa cantarolar uma melodia, como ocorre no Musi- pedia (http://www.musipedia.org/).

98 No QBE, a interface do usuário é projetada para permitir que o mesmo insira uma determinada música, geral- mente em formato de áudio, como parâmetro de uma consulta musical.

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São técnicas em que as capas dos discos e outros objetos gráficos se sobrepõem de uma forma organizada e fácil de visualizar.

dêmicos conhecidos, o Variations2100, está mais próximo das definições da ARL, mas trata-se ainda de um projeto de pesquisa em andamento.

Para ampliar a criação e uso de bibliotecas digitais de música, várias iniciativas de ordem técnica como as que foram comentadas nas seções anteriores, estão sendo discutidas por pesquisadores envolvidos com este tema. Além disso, estão ocorrendo movimentos de ordem legal, como as alterações na legislação de copyright americana de 1998 que autorizam o tratamento de artefatos digitais por bibliotecários para pro- moverem captação, indexação e armazenamento, sem serem considerados infratores de direitos autorais. Nessa revisão sobre a legislação, também constam recomenda- ções e sugestões sobre preservação de artefatos digitais visando uma sobrevida mai- or, e beneficiando não só documentos musicais, mas todo e qualquer tipo de informa- ção multimídia.