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2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E MÚSICA

2.4 Catalogação de documentos musicais

2.4.2 Tendências e padrões de catalogação musical

A primeira iniciativa de padronização de catálogos musicais foi feita em 1991 pela IFLA – International Federation of Library Associations and Institutions ou Fede- ração Internacional de Bibliotecas e Instituições Associadas – num documento conhe- cido como ISBD(PM)41, que é, portanto, uma norma internacional de catalogação para música impressa, mais especificamente de partituras e manuscritos musicais. As

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O código de Parsons tem sido usado como uma alternativa de pesquisa em enciclopédias na web, como no caso da Musipedia, disponível em www.musipedia.org.

38 Informações adicionais sobre o RISM podem ser encontradas em http://hcl.harvard.edu/libraries/loebmusic/ isham/rism.html. 39 Disponível em http://www.oclc.org/. 40 Disponível em www.silverplatter.com. 41

Essa sigla significa International Standard Bibliographic Description for Printed Music, ou Padrão Internacional para Descrição Bibliográfica de Música Impressa.

normas de catalogação ISBD(PM), apesar de serem mais centradas no registro cata- lográfico do que na estrutura da obra catalogada, descrevem algumas peculiaridades de documentos musicais: registros musicais podem incorporar obras, expressões mu- sicais, manifestações e itens cuja conceituação está relacionada ao fato de que uma determinada obra musical pode ser instanciada em diferentes versões. Nesse caso, as informações do ISBD(PM) são distribuídas em oito zonas, cada uma delas com um grupo de elementos relacionados entre si.

Mesmo sendo usado como referência de catalogação em muitas bibliotecas, o ISBD(PM) tem sido questionado em função de não conseguir atender a todas as ex- pressões musicais possíveis, como, as que envolvem outras formas de representa- ção, por exemplo, o áudio de músicas eletrônicas.

O formato UNIMARC é uma outra alternativa muito usada na catalogação mu- sical, e, apesar de não existir uma padronização consolidada, a IFLA (2005) faz algu- mas recomendações para a análise catalográfica de obras musicais de qualquer natu- reza, incluindo o uso de marcadores (tags), as fontes de informação a serem pesqui- sadas e a ordem de pesquisa dessas fontes. Por exemplo, na descrição bibliográfica deve-se procurar primeiro as fontes internas do recurso musical (o título da página ou seu substituto, o colofão42 ou o título do cabeçalho, as páginas introdutórias, dedicató- rias e assim por diante); em seguida, as fontes derivadas da análise do conteúdo mu- sical (característica da performance, forma musical, tonalidade, textos e incipts musi- cais); depois as informações derivadas de fontes externas, como catálogos temáticos, repertórios e assim por diante. Na prática, esse documento é uma tentativa de apro- ximar o UNIMARC das recomendações e normas do ISBD(PM).

O UNIMARC é um formato de catalogação muito completo e possui elementos para especificação, descrição e identificação de música em formato impresso e ma- nuscrito, registros sonoros e até libretos e textos musicais com detalhes sobre auto- res, intérpretes, etc. Apesar das recomendações de descrição bibliográfica e da sua grande utilização, o problema maior desse formato é que a sua capacidade de descri-

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Em livros impressos até o séc. XVI, fórmula indicativa, no rosto, do nome do impressor, título da obra, lugar da impressão, dia, mês e ano em que a impressão foi acabada, e seguida, por vezes, da marca do impressor, ge- ralmente estampada no final da última página (descrição colhida do dicionário Aurélio Século XXI da Língua Portuguesa).

ção bibliográfica de música é baseada no item. Desse modo, um registro para docu- mentos musicais não difere da estrutura geral de um registro aplicado a outros mate- riais.

Mesmo não tendo sido criado com esse propósito, o RISM pode ser colocado como um padrão normativo para catalogação musical. Atualmente é uma importante ferramenta para musicólogos, já que permite registrar informações detalhadas sobre a música em si que são interessantes para a compreensão e análise musical. Por outro lado, Assunção (2005, p. 69) argumenta que o RISM possui inconvenientes como, por exemplo, o fato de não distinguir entre entrada principal e entradas secundárias e re- missivas. Além disso, a informação descritiva está organizada de forma não hierarqui- zada (ou seja, campo a campo) e não por zonas como ocorre no ISBD(PM). Da mes- ma forma, não há distinção clara entre dados da obra e dados do documento (mani- festação) e não estão previstos quaisquer dados de natureza arquivística.

Uma característica comum dos padrões citados é o foco nas funções do catá- logo como produto final do processo e uma certa ligação com os suportes físicos que armazenam as informações, e não no conteúdo propriamente dito. Mais recentemente a IFLA (1998) publicou um documento conhecido como Functional Requirements for

Bibliographic Records (FRBR) no qual o processo de catalogação foi revisto, sendo

dado um enfoque maior para a natureza e conteúdo dos documentos.

No FRBR os documentos são descritos considerando a sua própria composi- ção e os possíveis relacionamentos, visando facilitar a interação do usuário com o objeto pesquisado. Por ser baseado no modelo ER (Entidades de Relacionamento) – largamente usado em sistemas gerenciadores de bancos de dados relacionais –, o conceito de obra como unidade de catalogação passou a ser associado a termos co- mo “expressão”, “manifestação” e “item”, num único grupo (grupo 1), como está apre- sentado na Figura 2.18.

Figura 2.18: Entidades do Grupo 1 do Modelo FRBR

Fonte: Tillet (2004, p. 2)

Além do grupo 1, o FRBR prevê ainda dois outros grupos que englobam con- ceitos muito apropriados para o registro catalográfico de documentos musicais. No caso do grupo 1, uma obra pode ter diversas expressões e cada expressão pode es- tar ligada a uma ou mais manifestações. Da mesma forma uma manifestação pode ser descrita por vários ítens, num esquema de relacionamento como está ilustrado na Figura 2.18. Um exemplo de aplicação do FRBR para catalogação de uma obra (w), suas expressões (e), manifestações (m) e itens (i) está apresentado na Figura 2.19.

w1 Variações Goldberg de J.S. Bach

e1 performance de Glenn Gould gravada em 1981

m1 gravação liberada em disco de 33 1/3 rpm em 1982 pela gravadora CBS i1 cópia mantida para SC

m2 gravação pré-lançada em CD em 1993 pela Sony i1 primeira cópia mantida em HC

i2 segunda cópia mantida em HC e2 performance de Ton Koopman gravada em 1987

m1 gravação lançada em CD em 1988 por Erato i1 cópia mantida em HC

e3 partitura para piano editada por Ralph Kirkpatrick m1 edição publicada em 1938 por G. Shirmer i1 cópia mantida em BMC

Figura 2.19: Exemplo do modelo FRBR aplicado a um registro musical

Fonte: Anderies (2004)

As discussões recentes da comunidade científica, mais concentradas a partir do ano 2000, são voltadas para a padronização de elementos para descrições biblio- gráficas de músicas, considerando suas várias dimensões e todas as relações possí- veis numa catalogação. Dentre as proposições de padronização, há uma no âmbito da Biblioteca do Congresso Americano (Library of Congress) que visa integrar o poder

informativo do RISM, com as características de marcação do MARC21 e a capacida- de descritiva do FRBR (ANDERIES, 2004).

À parte os padrões recomendados, já existem algumas iniciativas de utilização de modelos relacionais para a catalogação e descrição de músicas. Atualmente uma variação do FRBR é utilizada no projeto de bibliotecas digitais da Universidade da Indiana conhecido como Variations2.

Esse é um modelo particular para catalogação de obras musicais onde todas as expressões de uma obra são ligadas a um registro de obra, conforme está ilustra- do na Figura 2.20. Nessa figura, uma obra se manifesta como uma instância e essa instância em geral está contida num recipiente, que pode ser um CD ou um arquivo de áudio, por exemplo. Nesse caso, tanto a obra, quanto a instanciação e o recipiente podem ter seus autores responsáveis ou contribuidores como está descrito na Figura 2.20. Uma outra diferença em relação ao FRBR é que no modelo do Variations2 exis- tem apenas as cinco entidades descritas no desenho, enquanto o FRBR contém dez tipos distintos, espalhados entre os grupos que o compõe.

CONTRIBUIDOR OBRA OBJETO DE MIDIA INSTANCIAÇÃO RECIPIENTE é representado por contido em se manifesta como é criado por

Arquivo de som digita- lizado

CD “Piano Works”, de W. A. Mozart, Philips, 1984

Gravado ao vivo em Londres, outubro de 1983,

por Mitsuko Uchida Sonata para Piano K.332 De W. A. Mozart

Figura 2.20: Modelo de dados do Variations2 para informação musical

Fonte: Byrd e Sherle (2004)