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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.4 Estudos sobre necessidades de informação musical

3.4.2 Universidade de Londres (Inglaterra)

Sob responsabilidade do Departamento de Ciência da Informação da Universi- dade de Londres, iniciaram-se, em 2004, alguns estudos sobre usabilidade de siste- mas P2P de distribuição de música, compreendidos como sistemas MIR/MDL volta- dos para atender o público de usuários leigos.

Taheri-Panah e MacFarlane (2004) relatam uma pesquisa sobre o comporta- mento de usuários de sistemas de recuperação/distribuição de músicas na Internet, usando o sistema de compartilhamento de músicas P2P conhecido como Kazaa (vide seção 2.6.2), considerado pelos autores como um dos mais populares do mercado. Na pesquisa está explicitado que o interesse era identificar como e por que as pesso- as usavam música e se suas necessidades estavam sendo bem atendidas pelos sis- temas de distribuição de música disponíveis. Além disso, os autores quiseram identifi- car como o estilo de vida das pessoas influenciava suas necessidades musicais e seus comportamentos de busca.

um questionário aplicado a um conjunto de 45 usuários nos meses de julho e agosto de 2003; e, (ii) a segunda fase envolveu um grupo de dez usuários (nesse mesmo período) que foram submetidos à utilização do Kazaa para serem, em seguida, entre- vistados. Para o grupo de entrevistados, houve uma separação por faixa etária (me- nores de 19 anos, entre 20 e 39 anos e acima de 40 anos) para facilitar a associação das respostas fornecidas com relação à idade e, conseqüentemente, ao estilo de vida das pessoas. Os resultados foram fornecidos sob três análises distintas.

Com relação aos questionários aplicados, foi constatado que há forte relação entre a idade dos indivíduos e o tempo livre para escutar músicas, que as atividades de interesse variam em função do estilo de vida e que, na Internet, dependendo da faixa etária, há mais ou menos interesse por música, conforme está apresentado na Tabela 3.13.

Tabela 3.13: Alguns dados sobre estilos de vida (idades) e interesse por música

Faixa etária

Menor que 20 Entre 20 e 40 Maior que 40

Tempo gasto para escutar

música Muito tempo (mais flexibilidade) Menos tempo (menos flexibilidade) Pouco tempo

Preferência de música ver-

sus outras atividades

1o Socialização 2o Assistir TV 3o Música 1o Assistir TV 2o Música 3o Socialização 1o Assistir TV 2o Socialização 3o Música Atividade mais realizada na

Internet 1o Comunicação com outros (música em 3o ou 4o lugar) 1o Compras e negó- cios (música em 3o ou 4o lugar) 1º Comunicação com outros (música em 3o ou 4o lugar) Nível de conhecimento em

informática Iniciante/médio Médio/avançado Iniciante Fonte: adaptado de Taheri-Panah e MacFarlane (2004)

A música é bastante utilizada por todas as faixas etárias e só perde para outras atividades (comunicação ou socialização) em função do nível de conhecimento em informática e do estilo de vida de cada grupo. Corroborando esses dados, a Tabela 3.14 aponta o grau de importância da música e seus atributos para o público de usuá- rios consultados.

Tabela 3.14: Grau de importância, atributos desejados e motivação para pesquisas musicais.

Faixa etária

Menor que 20 Entre 20 e 40 Maior que 40

Importância da música alta alta alta

Atributos importantes na

música Título, autor e letra Título, autor e letra Título, autor e letra

Uso da música sentir-se bem (mais enérgico) mascarar problemas

sentir-se bem (mais calmo)

mascarar problemas

sentir-se bem (mais calmo)

mascarar problemas O que motiva as buscas por

música Atividades sociais e músicas escutadas em programas de TV e rádio Fonte: adaptado de Taheri-Panah e MacFarlane (2004)

Apesar das tabelas serem apenas um resumo dos relatos do artigo (e por isso não mostrarem dados mais precisos como, por exemplo, quais outros atributos foram considerados pelos usuários), é possível perceber: (i) as relações entre preferências musicais e contatos sociais; (ii) entre músicas e eventos/lugares onde a mesma foi ouvida; e, (iii) entre música e estado de humor.

Com relação aos resultados dos experimentos com o Kazaa e das entrevistas realizadas, os autores apontam que houve reclamações sobre a qualidade do áudio e as velocidades de recuperação (download) das músicas. Há também uma ressalva dizendo que os usuários têm preferências por sistemas de busca musicais mais flexí- veis e que um sistema como o Kazaa atende perfeitamente às necessidades atuais dos usuários. Em contrapartida, os autores criticam os sistemas atuais porque não fazem a separação entre usuários leigos e usuários com conhecimento de informáti- ca. Além disso, alegam que há necessidade de um estudo cognitivo para compreen- der melhor o comportamento de pesquisa de usuários MIR/MDL.

Em 2007, Inskip, Butterworth e MacFarlane fizeram um outro estudo qualitativo sobre necessidades de informação de usuários de uma biblioteca setorial de música regional (folclórica) com o objetivo de obter subsídios para a construção de uma bibli- oteca digital de música. Diferente dos demais estudos, esses autores optaram por usar o modelo de Nicholas (2000) para ajudar no mapeamento das necessidades de informação dos usuários da biblioteca setorial.

cantores, dançarinos e outros que manipulam músicas), acadêmicos (professores e estudantes), profissionais (jornalistas, técnicos de gravadores de música e promotores de concertos), e entusiastas (usuários que compram música apenas por recreação e consumidores em geral). Como a quantidade de usuários da biblioteca é imensurável, foi solicitado ao bibliotecário que indicasse duas pessoas de cada classe citada. Por- tanto, foram entrevistadas dez pessoas, sendo dois performers, dois acadêmicos, dois profisionais, um bibliotecário e três usuários entusiastas.

As entrevistas semi-estruturadas duraram entre 30 e 45 minutos e procuraram cobrir três áreas: (i) como os respondentes definem e resolvem seus problemas; (ii) que palavras os respondentes usam para descrever as informações musicais que es- tão procurando; e, (iii) como eles avaliam a relevância das informações que eles re- cuperam. Em seguida, as respostas coletadas foram codificadas numa tabela relacio- nadas aos conceitos propostos por Nicholas (2000): assunto, função, natureza, nível intelectual, ponto de vista, quantidade, qualidade/autoridade, data, velocidade de libe- ração, local e processamento. Nesse modelo, o passo seguinte é analisar a tabela gerada a fim de identificar os temas centrais que emergem dessa análise. Além disso, os autores consideraram fatores demográficos como trabalho, cultura, personalidade, consciência de informação, gênero, idade, disponibilidade de tempo, acesso, recursos disponíveis, custos e sobrecarga de informação.

Para os autores, a aplicação do modelo de Nicholas (2000) se mostrou eficien- te para identificar necessidades de informação no caso específico dessa biblioteca setorial e recomendaram que os serviços providos serão melhor utilizados (i) se hou- ver consulta prévia ao usuário por meio de entrevistas, por exemplo; (ii) se houver formas variadas de navegação disponíveis; (iii) se houver links entre os recursos ou registros disponíveis; (iv) se houver acesso aos arquivos de som e, (v) se houver links para outras fontes de informação em outras bibliotecas, por exemplo.