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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.2 Definições para Necessidades de Informação (NIs)

A falta de um entendimento comum sobre o termo “Necessidade de Informa- ção” ou NI é um tema recorrente na literatura da Ciência da Informação (BETTIOL, 1988, p. 18-44; KRIKELAS, 1983; MIRANDA, 2007, p. 39; VARLEJS, 1987).

Segundo Shenton e Dixon (2004), as definições que têm sido oferecidas tipi- camente estão relacionadas a uma ou mais das seguintes dimensões: (i) os fatores cognitivos que fazem as NIs surgirem; (ii) NIs como provocadoras de desejos para busca de informações; (iii) tipos de NIs que podem existir; (iv) a natureza da informa- ção que é requerida; e, (v) como uma necessidade difere de um desejo e/ou deman- da. Acrescentam-se nessa relação os fatores externos, que também foram identifica- dos como componentes de definição por vários autores.

3.2.1 Fatores cognitivos como provocadores das NIs

As necessidades de informação, dentro do paradigma alternativo, podem ser vistas como geradas a partir de fatores externos e internos ao indivíduo. Apesar de existirem muitas definições para o termo, uma grande quantidade de pesquisadores, como Wilson (1981) e Nicholas (2000), aceitam que as NIs são o resultado de neces- sidades humanas mais básicas como as cognitivas, as fisiológicas e as psicológi- cas/afetivas. Esses pesquisadores concordam que as NIs estão relacionadas com o reconhecimento do indivíduo sobre alguma insatisfação relativa à situação existente e a conseqüente busca por um estado mais aprimorado no qual a pessoa almeja estar para resolver uma tarefa (SHENTON e DIXON, 2004). Nesse sentido, Atkin (1973, p. 206) diz o seguinte:

Necessidade de Informação é função de uma incerteza extrínseca produzida por uma discrepância percebida entre o nível corrente de incerteza do indiví- duo sobre objetos importantes do ambiente e um estado criterioso que ele procura alcançar.

alternativos) como uma anomalia no estado de conhecimento e o conseqüente desejo

de resolvê-la. Portanto o estado de conhecimento estaria abaixo do necessário, num nível insuficiente para lidar com incerteza, conflito e lacunas (gaps cognitivos) em uma área de estudo ou trabalho105. Essa posição é corroborada por Burnkrant (1976), Kri- kelas (1983) e Kari (1998), que também fazem uma relação direta entre incerteza (as- pecto não claro da situação) e NI colocando a primeira como essencial para definir a segunda.

3.2.2 NIs relacionadas a comportamentos de busca

Na literatura, renomados pesquisadores, como Itoga (1992) e Le Coadic (2004), têm procurado definir NI como um fenômeno que desencadeia um processo de busca de informação nas pessoas. Por exemplo, Le Coadic (2004, p. 4 e p. 8-9) diz o seguinte:

A informação é um conhecimento inscrito (registrado) sob forma escrita (im- pressa ou numérica) oral ou audiovisual, comportando um elemento de senti- do. O conhecimento das necessidades de informação permite compreender porque as pessoas se engajam em processos de busca de informação. A e- xistência de um problema, um objetivo a atender, a constatação de um estado anormal de conhecimento (insuficiente ou inadequado) leva à busca de infor- mações e à sua produção com o propósito de resolver problemas, atender objetivos e normalizar os estados de conhecimento.

Solomon (1997) e Brown (1991) seguem a mesma linha e, para eles, necessi- dades de informação são decorrentes da formulação de sentido realizada durante uma busca por informação.

Por outro lado, Derr (1983) argumenta que a tentação em associar NIs com a ação ou desejo de melhorar um estado de conhecimento pode ser errônea, porque a informação que falta nem sempre exige uma busca, já que pode estar presente na memória cognitiva do indivíduo. Na prática, ao assumir o constructo de Dervin (1977) que diz que a informação “é essencialmente aquilo que é valorável e útil para as pes- soas nos seus embates com a vida”, assume-se que nem toda informação que se ne-

105

Alguns autores como Choo (1999, p. 2) e Kari (1998) afirmam que o termo “gap cognitivo” da abordagem pro- posta por Dervin (1983) pode também ser interpretado como “necessidade de informação”.

cessita envolve mecanismos de busca.

3.2.3 Tipos de NIs

As definições de “necessidade de informação” oferecidas por Atkin (1973), Burnkrant (1976), Choo (1999) e Krikelas (1983) pressupõem que um indivíduo é consciente de suas necessidades informacionais, as quais podem ser consideradas na forma de necessidades sentidas (SHENTON e DIXON, 2004, p. 299). Numa outra linha de pensamento estão Faibisoff e Ely (1976) que destacam que o conceito de NI deve envolver também as necessidades não sentidas, ou seja, aquelas que o indiví- duo precisa apesar de não estar consciente (ou seja, a sua ausência resultará em algum prejuízo para a pessoa). Derr (1983) e Green (1990) também destacam a exis- tência de necessidades inconscientes e relacionam termos como “necessidade dor- mente” e “necessidade não reconhecida” para rotulá-las.

Por sua vez, necessidades conscientes podem ser categorizadas em expres- sas (quando a pessoa interage com um sistema de informação, por exemplo) e não expressas (idéias ou parâmetros desprezados num momento de consulta, por exem- plo). Dentre os pesquisadores que se preocupam em conceituar NIs distinguindo en- tre o que é ou não expresso estão Faibisoff e Ely (1976) e Nicholas (2000).

3.2.4 Informação e sua natureza em NIs

A dificuldade de definição do termo “informação” já havia sido percebida por vá- rios autores, entre eles Morin (1999), que associa sua definição ao contexto onde vai ser usada, e Shannon (1948), que a definiu em termos quantificáveis, possibilitando a evolução de novos campos na Engenharia, na Comunicação e na Ciência da Compu- tação. Miranda e Simeão (2002) identificam o problema de definir informação em fun- ção da polissemia de seu conceito, decorrente de sua apropriação por diferentes á- reas do conhecimento.

Para Dervin e Nilan (1986) essa definição tem conotações distintas, conside- rando as duas perspectivas de estudos de usuários citadas no início deste Capítulo. No caso da pesquisa tradicional, a informação é definida como a propriedade da ma- téria, ou seja, uma mensagem, um documento ou um recurso informacional publica-

mente disponível. Por outro lado, na pesquisa alternativa, a informação é o que é ca- paz de transformar estruturas cognitivas do receptor.

Buckland (1991, p. 353) conceitua informação de três formas. Na primeira de- las a informação é (i) um processo – como uma referência à sua propriedade de in- formar ou comunicar; (ii) é um conhecimento – quando se refere ao que é passado na ação de informar ou comunicar; e (iii) é uma matéria, quando é vinculada aos dados e, conseqüentemente, ao suporte físico onde esses dados estão registrados.

Na literatura concernente há pesquisadores que definem explicitamente os ti- pos de informação que podem ser requeridos por indivíduos que experimentam ne- cessidades de informação. Nesse rol estão os que fazem definições vagas, como é o caso de Gratch (1978) e Chen e Hernon (1982), que fazem definições como “qualquer tipo de informação de qualquer fonte” ou “todo conhecimento, idéias, fatos, dados e trabalhos imaginativos os quais são comunicados formalmente e/ou informalmente em qualquer formato”.

Para Shenton e Dixon (2004, p. 300), a informação deve ser entendida como o material intelectual que uma pessoa necessita para facilitar, resolver ou mapear uma situação problemática que surgiu na sua vida. Esse material intelectual pode ser re- querido no mundo externo ou recuperado internamente, caso o indivíduo já o possua (ou seja, uma “informação verificacional”).

3.2.5 Diferenças entre NI e desejos/demandas de informação

A diferença entre necessidades e desejos de informação tem gerado muitas controvérsias entre os membros da comunidade científica. Shenton e Dixon (2004) sugerem que esses termos são confundidos em muitos trabalhos. Gratch (1978) a- credita não haver distinção entre eles, pois as necessidades cobrem tanto a informa- ção necessária, quanto a que é simplesmente desejada. Chatman e Pendleton (1995) associam a necessidade com um estado de dependência, argüindo que a ausência da informação requerida coloca o trabalho em risco. Enquanto que um desejo, simples- mente adiciona um benefício, sem necessariamente provocar prejuízos caso não seja atendido.

Ao definir necessidade como aquilo que “o indivíduo precisa para seu trabalho, sua pesquisa, sua recreação, etc.”, ele reconhece que a necessidade é algo vital para o indivíduo. Por outro lado, os desejos seriam coisas sem as quais as pessoas até po- deriam viver. O problema é que o julgamento entre necessidade e desejo varia entre as pessoas. Por exemplo, ao se tomar educação e recreação, poder-se-ia imaginar que o primeiro termo implica em uma necessidade e o segundo, em um desejo, mas essa separação não é razoável porque depende de um juízo de valor.

Na literatura nacional, Figueiredo (1983) revisou os conceitos de necessidade, demanda e uso da informação, concluindo que eram dependentes de valores da soci- edade, expectativa de satisfação, disponibilidade e acessibilidade. Além disso, a pes- quisadora propôs as seguintes definições: (i) necessidade, é o que o indivíduo precisa para o seu trabalho, pesquisa, edificação, recreação, etc. – ou seja, é uma demanda em potencial; (ii) demanda, é o que o indivíduo pede, o item de informação requisitado – um uso em potencial; (iii) uso, é aquilo que o indivíduo realmente utiliza, podendo ser indicador parcial de uma demanda e representar uma necessidade.

3.2.6 Contexto como componente de definição para NIs

O contexto foi compreendido como algo que realmente influencia o surgimento das necessidades de informação e muitos trabalhos passaram a considerá-lo um componente essencial para definição de NIs106. Nesse caso as necessidades infor- macionais são relacionadas a fatores como a profissão, a área de assunto, as ativida- des realizadas, o interesse e hábitos profissionais, o ambiente de trabalho, o conhe- cimento das fontes e dos serviços ou sistemas de informação disponíveis e o conteú- do temático neles existente. Ghinchat e Menou (1994), por exemplo, relacionaram NIs a fatores como a formação básica, treinamento na utilização dos produtos e serviços oferecidos, acessibilidade, condições de trabalho, tempo disponível, posição sociocul- tural, sociabilidade, grau de competição dentro de seu grupo, imagem da informação que cada um tem e experiências anteriores.

Em estudos sobre contextos sociais específicos, foram detectados “comporta-

106 Em função da relevância do tema, existe uma conferência específica sobre o assunto denominada “Information Needs, Seeking and Use in Different Contexts”, já na sua quarta edição, onde pesquisadores como Wilson (2000) e Bates (2002) têm feito publicações.

mentos informacionais normativos”, criados para estabelecer e manter “pequenos mundos” enquanto as pessoas constroem seus significados. Ambientes “fechados” e a existência de sistemas de informação (e outras estruturas) limitam a atenção e a ação das pessoas. Em determinados ambientes, passa-se a preferir informações in- ternas, seja por causa do tempo em conseguir a informação e/ou pelo excesso de informações. A preferência pode concentrar-se no uso de Intranets ou Internet, por exemplo, ou em confiar nos recursos mais acessíveis, como colegas, literatura interna e recursos Web. (BURNETT, BESANT, e CHATMAN, 2001).