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2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E MÚSICA

2.7 Segurança de informações musicais

2.7.2 Uma alternativa de legislação para controle de direitos autorais

A abertura e a liberdade de acesso a todo e qualquer tipo de informação propi- ciada pela Internet – seja o compartilhamento de músicas, seja o compartilhamento de outros tipos de documentos – tornou-se um bem público e as leis vigentes estão sendo questionadas para garantirem esse direito adquirido, de acordo com a visão de Levering (2000, p. 2):

“[...] para alcançar objetivos conflitantes e servir o interesse público é reque- rido um delicado balanço entre os direitos exclusivos dos autores e as neces- sidades de longo prazo da sociedade conhecida”.

De fato, a lei do copyright é rígida demais e em algumas situações o princípio do uso justo é vago demais para garantir o acesso a informações musicais, ainda que essa iniciativa não tenha a intenção primeira de dar prejuízos a quem quer que seja. Da forma como está estabelecida, a lei de direitos autorais afeta até mesmo obras que já caíram no domínio público. Por exemplo, apesar das obras de Beethoven esta- rem no domínio público, uma determinada gravação de uma de suas músicas pode 90 Recording Industry Association of America, disponível em www.riaa.com.

91 Tais mecanismos ou controles são conhecidos como DRMs – Digital Rights Management – e atualmente estão instalados em diversos equipamentos como aparelhos de som, celulares, i-Pods e programas de audição de uso comum.

estar protegida, se contiver revisões editoriais, variações sonoras ou modificações de melodia ou letra. Da mesma forma, um arranjo de coral, executado numa igreja e do- ado para um editor pode gerar processos contra a igreja, se o editor se sentir lesado (BYRD, 2007-d).

Numa visão contrária ao copyright, existem movimentos que defendem total li- berdade de acesso a qualquer tipo de informação, e lutam para torná-la de domínio público sem considerar quaisquer direitos autorais. Como essa liberdade de acesso vai de encontro à rigidez estabelecida pela lei vigente, muitos movimentos argumen- tam que obras intelectuais de qualquer ordem são um bem da sociedade (LEVERING, 2000, p. 1) e, portanto, interesses comerciais não podem prevalecer92. Dentre os re- presentantes dessa corrente estão os provedores de conteúdo piratas, os desenvol- vedores de software que burlam regras e as redes de distribuição de músicas MP3 que o fazem sem pagar direitos autorais a ninguém.

Em 2002 surgiu uma alternativa para proteção de direitos autorais conhecida como creative commons, considerada como um meio termo entre a visão “anárquica” do domínio público e a rigidez estabelecida na legislação atual. Na Figura 2.28, o símbolo do copyright está mais à esquerda, o símbolo do domínio público está à direi- ta e o símbolo do creative commons está na parte central da figura.

Figura 2.28: Relação de símbolos usados para direitos autorais

Fonte: http://www.creativecommons.org

No modelo creative commons, as licenças são flexíveis e ajudam o criador a decidir sobre as proteções e usos desejados para suas obras e motiva certos usos dos trabalhos – uma proteção baseada em alguns direitos reservados (“some rights

reserved”) e não todos (“all rights reserved”), como é previsto no copyright. Portanto, é

possível para o detentor de conteúdo escolher o grau de proteção que deseja conferir à sua obra. Dessa forma, o artista pode optar entre autorizar o uso comercial ou não de seu trabalho, bem como optar se permite ou não a realização de obras derivadas

92

Questiona-se que a lei do copyright é mais voltada para interesses comerciais do que, efetivamente, para pre- servar e garantir o uso justo de obras intelectuais.

da sua.

Existem vários tipos de licença entre o copyright e o domínio público para ví- deos, áudios, imagens, textos, músicas e outros materiais interativos. Tais licenças são formadas sob quatro condições relacionadas às atribuições do usuário, ao uso comercial e à possibilidade de geração de trabalhos derivados, conforme está apre- sentado na Tabela 2.4.

Tabela 2.4: Condições aplicáveis em licenças Creative Commons

Símbolo Condição Significado

Atribuição Essa condição permite que outros copiem, distribuam, mostrem e executem a obra musical – e trabalhos derivados dela – mas devem dar os direitos de crédito para os criadores, se esses assim o requisitarem.

Não comercial

Essa condição permite que outros copiem, distribuam, mostrem e executem uma obra musical – e trabalhos derivados dela – desde que não seja para fins comerciais.

Não aceita derivações

Essa condição permite que outros copiem, distribuam, apresentem e executem apenas cópias literais da obra original, mas não os trabalhos derivados do original.

Aceita derivações

Essa condição permite que outros distribuam os trabalhos derivados desde que sigam os mesmos termos de licença que governam o trabalho original. Fonte: Adaptado do site www.creativecommons.org

Portanto, para licenciar uma obra, o autor precisa primeiro escolher uma ou mais das condições apresentadas e combiná-las, formando as licenças de uso creati-

ve commons. Na Tabela 2.5 estão apresentadas algumas das principais licenças de

uso definidas.

No Brasil, o creative commons é representado pela Fundação Getúlio Vargas e há vários compositores famosos que já disponibilizam suas obras musicais sob as condições e licenças listadas nas Tabelas 2.4 e 2.5. Por exemplo, o grupo musical Re:combo de Recife autorizou cópias de suas músicas e a criação de variações a par- tir dos arquivos originais; também o cantor Gilberto Gil disponibilizou algumas de suas músicas.

Tabela 2.5: Relação das principais licenças creative commons

Licença Significado

by

Essa licença permite que outros copiem, distribuam e gerem derivações a partir da obra original. Os interessados na obra podem até mesmo comercializá-la, desde que créditos sejam dados ao criador original e não há exigências sobre os termos de licença dos trabalhos derivados.

by-sa

Essa licença permite que outros façam remixagens e gerem derivações à partir da obra original, podendo comercializá-las, mas créditos devem ser dados ao criador original e devem ter os mesmos direitos do trabalho original. Portanto, se o trabalho original é comercial, os derivados também poderão herdar esse direito.

by-nd Permite redistribuição comercial ou não da obra original, mas a obra deve ser passada sem mudanças para adiante, dando créditos ao autor original.

by-nc Essa licença permite que outros possam remixar e gerar derivações do trabalho original sem fins comerciais, desde que referenciem o autor original. No entanto, os novos trabalhos não precisam ser licenciados nos mesmos termos.

by-nc-sa Essa licença permite que outros possam remixar e gerar derivações a partir da obra original, desde que créditos sejam dados ao autor, o uso seja não comercial e os trabalhos derivados tenham licença idêntica à que vigora no trabalho original.

by-nc-nd

É uma licença muito restritiva e permite apenas redistribuição. É, freqüentemente, chamada de anúncio livre, porque permite que outros copiem as obras e compartilhem entre si, desde que citem o dono da obra. Além disso, os interessados não podem alterar nada e nem usar a obra comercialmente.

Fonte: adaptado do site www.creativecommons.org

Apesar das evoluções e dos vários trabalhos já publicados no portal do creative

commons, algumas idéias estão ainda num nível conceitual e faltam tecnologias de

suporte para ajudar a divulgar esse novo modelo de propriedade intelectual. Por e- xemplo, tem sido sugerido o Ogg Vorbis como formato de áudio e a construção de

softwares para procurar obras musicais com base em direitos, o que ainda não é rea-

lidade do grande público. Nesse caso, uma solução seria utilizar o fingerprinting asso- ciado aos direitos autorizados para a obra, pois isso facilitaria a sua localização.