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2 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E MÚSICA

2.6 Fontes de informação musical

2.6.3 Coleções pessoais de música

Os amantes de música, em geral, possuem coleções pessoais em formato de áudio e costumam usá-las como uma importante fonte de informação de acesso fre- qüente. Essas coleções, que, alguns anos atrás, eram formadas por músicas analógi- cas em discos de vinil e fitas cassete, mais recentemente passaram a acolher outros tipos de mídias, como os CDs contendo álbuns com qualidade digital. Apesar de al- guns apaixonados desejarem manter suas coleções de vinil e cassetes intactas, mui- tos usuários conseguiram transferir os conteúdos musicais dessas mídias para outras mais modernas, como os CDs, com uso de técnicas de digitalização. Atualmente os aparelhos para o tratamento de fitas cassete e discos de vinil caíram de moda, e pra- ticamente toda a manipulação musical pessoal tem sido feita digitalmente, salvo pou- cas exceções. Em coleções pessoais, os registros musicais em CDs são encontrados dentro de casa, no carro e em todos os espaços de grande freqüência; podem ficar soltos na estante do quarto ou armazenados em maletas apropriadas, mas em geral estão ao alcance da vista e são de fácil acesso (CUNNINGHAM, JONES e JONES, 2004).

Mais recentemente, com a chegada dos arquivos MP376 – onde as músicas se desvinculam dos suportes físicos e passam a serem vistas isoladamente – o número de coleções pessoais cresceu, principalmente por causa da tecnologia P2P citada na seção 2.6.2. Nesse caso, as músicas são tocadas não em aparelhos comuns, mas em dispositivos capazes de compreender esse formato, por exemplo: nos aparelhos de som de carros, nos dispositivos portáteis – como celulares e i-pods77 – e em compu- tadores pessoais com uso de softwares como o i-Tunes78 e o Windows Media Pla- yer79.

O advento do MP3 trouxe consigo uma dificuldade a mais no processo de or- ganização e indexação das coleções pessoais. Enquanto as coleções não são exage-

76 Existem outros formatos similares ao MP3 que não são discutidos aqui por não serem tão populares.

77 i-pods são aparelhos portáteis para audição de músicas. Existem diversos fornecedores, dentre eles a Apple. Mais informações podem ser encontradas em http://www.apple.com/br/itunes/.

78

O i-Tunes é um software da fabricante Apple usado para audição de músicas. Mais informações sobre este produto podem ser encontradas no endereço http://www.apple.com/br/itunes/overview/.

79 Windows Media Player é o software da Microsoft para audição de músicas em computadores pessoais. Mais informações sobre esse produto podem ser encontradas no endereço: http://www.microsoft.com/ win- dows/windowsmedia/br/.

radamente grandes, as pessoas conseguem organizar as músicas MP3 em CDs, com indicações escritas nas capas, ou no computador, separadas em pastas cujos nomes tenham algum significado que permita recuperação posterior. No entanto, em função da explosão de músicas, o crescimento das coleções é imenso e elas ficam intratá- veis do ponto de vista de organização. Celma e Lamere (2007, p. 11) apresentam re- sultados de um estudo com coleções pessoais onde foi identificado que 80% das pes- soas entrevistadas ouvem menos de 25% das músicas, e que em torno de 64% das músicas das coleções pessoais nunca são ouvidas e um dos motivos é a falta de in- formações que ajudem a localizar as músicas.

De fato, as pessoas não possuem nenhum mecanismo formal de inserção de metadados e os únicos mais conhecidos são aqueles usados pelas lojas de discos relativos a autor, título, gênero e nome do álbum – os que vêm sendo utilizados desde os tempos em que as músicas eram vendidas em formato disco em vinil. No caso dos CDs, a evolução não foi acompanhada por iniciativas significativas de metadados descritivos sobre a obra, a não ser as informações constantes nas capas dos CDs e umas poucas indicações descritas na superfície da mídia desse suporte. Só mais re- centemente foi lançada uma proposta de padronização conhecida como CD-Text80, onde metadados com informações mais detalhadas sobre o álbum poderiam ser re- gistradas no próprio CD, mas esse ainda não é um padrão consolidado.

Com relacão às músicas em formato de áudio, em particular as que são dispo- niveis em formato MP3, também não há uma forma padronizada para inserção de me- tadados. Esse problema é percebido principalmente em redes P2P, onde essa inser- ção é feita aleatoriamente pelos usuários, o que acaba gerando confusões descritivas de títulos, de autores e de outros parcos metadados, comprometendo, portanto, a lo- calização e recuperação de músicas nesse ambiente.

Dentre os investimentos para melhorar a classificação e localização de músicas estão as pesquisas em interfaces gráficas mais amigáveis para a manipulação de músicas em dispositivos portáteis, como: a proposta de Pauws e Wijdeven (2005), o uso de técnicas de similaridade discutidas na seção 2.5 para agrupá-las, a aplicação de redes neurais para ajudar na localização (PAMPALK, RAUBER e MERKL, 2003) e

a criação de padrões de metadados para os arquivos de áudio MP3.

No caso de metadados de áudio, o padrão conhecido como ID3v281 tem sido amplamente aceito e ele permite inserir até 256 Mbytes de informações relevantes (tais como a letra da música, a capa do CD que contém a música, dados do composi- tor, do cantor, etc.) no início de arquivos MP3. Na Figura 2.27 é apresentado um e- xemplo da estrutura de um arquivo de áudio marcado com ID3, que possui algumas das informações citadas, inclusive com uma foto (capa do CD, provavelmente), de- monstrando a possibilidade de representação desse padrão.

Figura 2.27: Tags ou marcadores ID3v2 em arquivos MP3

Fonte: http://www.id3.org/ID3v2Easy

No padrão ID3v2 a inserção de metadados em arquivos de áudio envolve dois agentes. O primeiro deles refere-se às bases de metadados musicais previamente preparadas e disponibilizadas na Internet. O MusicBrainz82 e o FreeDB83 são exem- plos de bases conhecidas de metadados sobre milhares de músicas e são acessáveis por meio de um índice conhecido como fingerprinting, discutido na seção 2.5. O se- gundo agente refere-se aos programas de performance musical (i-Tunes, Windows Media Player, etc), que reconheçam o padrão ID3v2 e que sejam capazes de acessar as bases de dados citadas para corrigir e inserir informações em arquivos MP3 que, eventualmente, estejam sem informações descritivas.

81 Mais informações podem ser encontradas em www.id3.org. 82 Disponível em http://musicbrainz.org.

As técnicas de tratamento massivo de músicas em equipamentos portáteis es- tão evoluindo muito em função do uso das técnicas de recuperação baseadas em conteúdo (GULIK, VIGNOLI e WETERING, 2004; PAUWS e VIGNOLI, 2005; LI e O- GIHARA, 2003), provocando uma oferta enorme de dispositivos portáteis e equipa- mentos para manipulação de músicas cada vez mais sofisticados. Adicionalmente têm ocorrido alguns estudos de usuário para compreender melhor como esses usuários organizam suas coleções pessoais de música (CUNNINGHAM, JONES e JONES, 2004; VIGNOLI, 2004; CELMA, RAMIREZ e HERRERA, 2005).