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Modelo de Conteúdo Molecular no Hospital Educacional

8.5 BLENDED LEARNING

O termo blended learning ou simplesmente b-learning está sendo utilizado com maior freqüência nos meios acadêmicos e empresariais. Em 2003, a American

Society for Training and Development identificou blended learning como “uma das

tendências emergentes na gestão do conhecimento” (GRAHAM, 2004, p. 1, tradução nossa).

Segundo Graham, diversos autores propõem uma grande variedade de conceitos sobre blended learning, mas não tão precisos principalmente devido ao significado dado para o termo blended nos conceitos propostos. Ele lista algumas características mais comumente mencionadas nas definições (2004, p. 3, tradução nossa):

 Combinação de modalidades instrucionais [sic] (ou meios de entrega);  Combinação de métodos instrucionais [sic]; e

 Combinação de instrução [sic] on-line e face-a-face.

Graham descarta as duas primeiras por serem vagas e amplas, englobando todos os tipos de sistemas de aprendizagem. Ele aceita a terceira por refletir a evolução

histórica deste modelo de aprendizagem. Ele próprio conceitua blended learning como “a combinação entre a aprendizagem tradicional face-a-face e os ambientes de aprendizagem mediados (ou distribuídos) por computador” (2004, p. 6, tradução nossa).

Somente a conceituação pode não esclarecer os motivos de tanto interesse sobre este tema, pois a integração de aulas presenciais com os vários tipos de aulas mediados por diferentes tecnologias tem sido praticada dentro da academia por mais de quatro décadas. A diferença, contudo, está na forma como as tecnologias educacionais prévias como, por exemplo, a televisão e o rádio eram aplicados anteriormente em relação às novas Tecnologias da Informação e Comunicação aplicadas atualmente. Anteriormente, as tecnologias aplicadas na educação tinham a tendência de replicar o ambiente de sala de aula e seus métodos de ensino convencionais. Hoje, os ambientes educativos na Web convidam ou mesmo exigem a aplicação de novos modelos de ensino (DZIUBAN; HARTMAN; MOSKAL, 2004). Essa exigência é decorrente de uma das características de blended learning muito importante e valorizada no Hospital Educacional: a possibilidade de rompimento da educação tradicional, hierárquica, linear e vertical, de construção de conhecimentos.

Blended learning possibilita “aumento na interação entre aluno-professor, aluno-

aluno, aluno-conteúdo e aluno-recursos externos” (DZIUBAN; HARTMAN; MOSKAL, 2004, p. 3, tradução nossa).

Essa característica é também uma das críticas que pode ser lida na literatura sobre

b-learning, onde se lê que apenas se misturam as modalidades de ensino/

aprendizagem: face-a-face e on-line, com o intuito único de ampliar os canais de acesso ao conhecimento por parte do aluno. Na realidade, esta crítica tem fundamento quando não se percebe o que b-learning pode proporcionar:

A estratégia b-learning é muito mais do que uma multiplicação de canais, é uma combinação de métodos de ensino/aprendizagem. No ensino tradicional sempre se utilizou a combinação de múltiplas metodologias como, por exemplo, a leitura, os laboratórios, tarefas de resolução de problemas, pesquisas experimentais, entre outras. Com a disseminação das tecnologias de informação e comunicação (TIC), emergiu um novo conceito identificado pelo b-learning, onde a aprendizagem é um processo contínuo, deixando de estar constrangido a um só contexto, espaço ou a um dado momento. (MATEUS FILIPE; ORVALHO, 2004, p. 217, grifo nosso).

Pelo lado das instituições de ensino, elas percebem blended learning como uma abordagem pedagógica que combina a eficiência e oportunidades de socialização de uma sala de aula presencial com as possibilidades de aprendizagem ampliadas tecnologicamente do ambiente on-line. Em outras palavras, blended learning é uma nova proposta educacional (DZIUBAN; HARTMAN; MOSKAL, 2004).

Segundo Bartolomé (2001), b-learning surge devido a algumas dificuldades experimentadas no e-learning 100% virtual. Alguns especialistas em e-learning, descrevendo sobre esta realidade, não falam propriamente em um fracasso, mas nas expectativas que foram criadas em torno dela:

O e-learning também comporta algumas dificuldades e inconvenientes (a ausência de contato humano dificulta sentir-se parte de uma comunidade educativa, o elevado grau de motivação necessária para seguir um curso on-line, etc...) que devem ser superados (PASCUAL, 2003, p. 1, tradução nossa).

Sem focar nos aspectos negativos das outras modalidades, alguns autores indicam que há muitas razões positivas para utilizar blended learning como, por exemplo, enumera Graham (2004):

 Riqueza pedagógica;  Acesso ao conhecimento;  Interação social;

 Flexibilidade;

 Eficiência nos custos; e  Facilidade de revisão/ajustes.

Contudo, na literatura, a razão mais comum para a escolha deste modelo educacional é que b-learning combina o “melhor dos dois mundos”129. Para alguns autores, o b-learning aparece como uma solução intermediária que tenta tirar vantagem do melhor da formação presencial e da formação completamente a distância (MEIRINHOS, 2006). Todavia, b-learning pode também misturar os elementos menos efetivos dos dois mundos caso ela não seja devidamente

129

estabelecida, conforme alerta Graham (2004).

Outro bom motivo para a adoção do blended learning é que ela aparece como uma solução transitória ou um percurso que é necessário percorrer gradualmente em direção ao e-learning, à medida que os aprendizes desenvolvem competências tecnológicas e de autogestão da aprendizagem, que são requerimentos para um ensino 100% virtual.

Contudo, as vantagens do blended learning devem ser vistas muito mais na perspectiva do aluno e para o aluno, que é o real objetivo da educação, do que nas demais perspectivas (institucionais, financeiras,...). Como, por exemplo, Bartolomé (2004) lista habilidades (competências) que o aluno deve desenvolver, ultrapassando as suas necessidades de aprendizagem momentâneas, como ele afirma: para sua vida futura nesta sociedade. E, entre essas habilidades estão:

 Buscar e encontrar informação relevante na rede;

 Desenvolver critérios para valorar essa informação, possuir indicadores de

qualidade;

 Aplicar informação para a elaboração de nova informação relacionada a

situações reais;

 Trabalhar em equipe compartilhando e elaborando informação; e  Tomar decisões em grupo.

Bartolomé (2004, sp, grifo do autor) frisa que este modelo de aprendizagem “[...] no es para aprender más (lo que de hecho está ampliamente demostrado que no sucede) sino aprender diferente”.

O aluno não aprende apenas um conjunto de conteúdos, mas também um modelo de aprendizagem que pode torná-lo mais autônomo para a vida, para uma sociedade que exige um ser aprendente:

El alumno que escucha al profesor no desarrolla esas competencias o, mejor dicho, el modelo de enseñanza no ayuda al desarrollo de esas competencias, pues como hemos dicho anteriormente, cada alumno crea su propio estilo de aprendizaje. El modelo de enseñanza semipresencial

fomenta en el estudiante el desarrollo de estas competencias como parte de su aprendizaje (BARTOLOMÉ, 2004, p. 11, grifo nosso).

Coelho e Amaral (2008, p. 81) concordam com essa premissa, afirmando que “A educação passa da lógica do ensino para a lógica da aquisição de competências, configurando-se em uma nova relação com o saber”. Ganham os alunos e ganha também a sociedade, com cidadãos mais preparados para ela e para suplantar os novos desafios que ela carrega.

Meirinhos (2006) afirma que para quem não está familiarizado com os recursos digitais da aprendizagem on-line, o envolvimento nas atividades pode acarretar mais uma sobrecarga cognitiva. O blended learning, segundo ele, pode auxiliar na transição do presencial para modalidades completamente a distância, à medida que se desenvolvem capacidades de formação, se dominam as tecnologias digitais e os processos de comunicação a distância.

Especificamente no Hospital Educacional, não são experimentados problemas cognitivos de utilização do ambiente, pois os alunos matriculados nas disciplinas relacionadas com o ambiente freqüentam previamente uma disciplina de introdução à informática, obrigatória tanto no currículo do curso de Administração (UFBA)130 quanto no currículo da Biblioteconomia (UFES)131.

Da mesma forma como nos conceitos comentados anteriormente, o trabalho pedagógico conduzido no Hospital Educacional combina aulas presenciais, nas quais o material de estudo das disciplinas é apresentado pelo professor aos alunos e debatido com eles semanalmente, com a utilização dos recursos didáticos disponibilizados no ambiente virtual pelos alunos, configurando o blended learning. É importante dizer que a carga horária proposta para as disciplinas foi completamente ministrada de forma presencial pelo professor em todos os semestres letivos. As funcionalidades do ambiente são recursos que são utilizados pelos alunos nos seus momentos particulares e colaborativos de aprendizagem132. E, para o professor, as funcionalidades são aplicadas tanto em sala de aula, para resgatar conteúdos armazenados, quanto em momentos particulares a fim de

130

Informática Aplicada à Administração (ADM203)

131 Introdução à Informática (INF03926) 132

Para Mateus Filipe e Orvalho (2004), blended learning é muito associado na literatura ao desenvolvimento de comunidades de aprendizagem colaborativa on-line.

realizar suas observações e atualizações no ambiente.

Percebe-se no Hospital Educacional, então, a expansão do espaço de ensino- aprendizagem proporcionado pelo ambiente virtual, não sendo apenas restrito a sala de aula presencial.

A fundamentação teórica, apresentada aqui, fornece as condições necessárias para uma boa execução deste trabalho. O próximo capítulo descreve o processo de desenvolvimento deste trabalho.