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393 LEAL, César Barros. Vigilância eletrônica à distância: instrumento de controle e alternativa à prisão na

América Latina. Op. cit., p. 106.

394 Ibid, p. 107.

395 PATERSON, Craig. A privatização do controle do crime e o monitoramento eletrônico de criminosos na

Inglaterra e no País de Gales. Tradução de José de Jesus Filho. Revisão de André Adriano Nascimento Silva.

Revista Brasileira de Ciências Criminais. Op. cit., p. 282.

396 POZA CISNEROS, María. Las nuevas tecnologías en el ámbito penal. Revista del Poder Judicial. Op.

cit., p. 83; GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática:

¿el fin de los muros en las prisiones?: Un análisis desde la perspectiva del Derecho comparado. Op. cit., p.

115.

397 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 27; JAPIASSÚ, Carlos

Eduardo Adriano; MACEDO, Celina Maria. O Brasil e o monitoramento eletrônico. In: CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça). Monitoramento

Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil. Op. cit., p. 24.

398 LEAL, César Barros. Vigilância eletrônica à distância: instrumento de controle e alternativa à prisão na

América Latina. Op. cit., p. 100.

No plano legislativo federal, o monitoramento eletrônico surgiu no Brasil com a Lei nº 12.258/2010, publicada no Diário Oficial da União em 16 de junho de 2010, seguida pela Lei nº 12.403/2011 que alterou o Código de Processo Penal no que diz respeito às medidas cautelares.

Entretanto, algumas unidades federativas realizaram experiências com a vigilância eletrônica muito antes da regulamentação legal. O Estado pioneiro foi Paraíba, que implantou um programa experimental no ano de 2007, sob o comando do juiz Bruno Azevedo da Vara de Execuções Penais da Comarca de Guarabira-PB. Cinco condenados cumprindo pena privativa de liberdade em regime simiaberto participaram voluntariamente do projeto, usando tornozeleiras transmissoras para localização via satélite (GPS), sob a supervisão do Instituto de Metrologia da Paraíba.400

No Estado de São Paulo foi aprovada a Lei Estadual nº 12.906/2008 que estabeleceu a possibilidade da vigilância eletrônica em determinados casos, com a anuência do condenado e sob o controle da Secretaria Estadual da Administração Penitenciária de São Paulo (SAP). Entre as obrigações estabelecidas está a de receber visitas do funcionário responsável, além de responder aos contatos e seguir as orientações apresentadas.

De acordo com a lei paulista, a vigilância eletrônica seria possível em caso de condenação por delitos de tortura, tráfico de drogas, terrorismo, crimes resultantes de ações praticadas por quadrilha, bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo ou por algum dos seguintes crimes (tentados ou consumados): homicídio, quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado; latrocínio; extorsão qualificada pela morte; extorsão mediante sequestro e na forma qualificada; estupro; atentado violento ao pudor; falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais; e genocídio. A questão da hipótese de incidência, porém, parece ser de competência federal e, com o advento da Lei nº 12.258/2010, as normas estaduais devem ser compatibilizadas com esse diploma legal federal.

A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) realizou testes de monitoramento eletrônico por mais de dois anos, envolvendo trinta presos voluntários com

400 LEAL, César Barros. Vigilância eletrônica à distância: instrumento de controle e alternativa à prisão na

América Latina. Op. cit., p. 101; JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano; MACEDO, Celina Maria. O Brasil e o monitoramento eletrônico. In: CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça). Monitoramento Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil. Op. cit., p. 29.

bom comportamento em três regiões do Estado. A tecnologia testada foi a mesma utilizada por empresas de monitoramento eletrônico de presos nos Estados Unidos e na Argentina e, no ano de 2009, a Secretaria (SAP) realizou licitação que foi vencida pelo consórcio SDS, composto por três empresas. De acordo com o noticiado na imprensa, o contrato assinado com o consórcio vencedor da licitação seria de 50,14 milhões de reais, válido até 2013, representando um custo mensal de 348 reais por preso.401

No final do ano de 2010, já com base na legislação federal, uma grande quantidade de condenados paulistas cumprindo pena em regime semiaberto deixou o cárcere em saída temporária portando o equipamento de monitoramento eletrônico. Segundo dados da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), 23.639 presos foram beneficiados e 1.686 não retornaram à unidade prisional (7,1% do total). Entretanto, entre os detentos que estavam monitorados, o índice de retorno foi sensivelmente menor, ou seja, dos 3.944 presos beneficiados com a saída temporária sob monitoramento eletrônico apenas 226 não retornaram (5,7% do total).402

O Estado do Rio Grande do Sul também aprovou uma lei estadual em 2008 estabelecendo o monitoramento eletrônico de condenados em regime semiaberto e aberto, em prisão domiciliar e dos proibidos de frequentar determinados lugares. Assim como a paulista, a lei gaúcha fixa hipóteses de incidência, ou seja, a vigilância eletrônica pode ser fixada judicialmente em determinados casos (tráfico de drogas, terrorismo, homicídio, extorsão, estupro e outros).

O Estado de Minas Gerais aprovou a Lei Estadual nº 19.478/2011 regulamentando o monitoramento eletrônico de presos em situação de saída temporária e prisão domiciliar. O Estado de Minas também realizou testes antes mesmo da regulamentação legal da matéria, o que aconteceu em abril de 2008 quando dez detentos do regime semiaberto foram submetidos a monitoramento eletrônico por três meses.403

O Estado do Rio de Janeiro também aprovou lei própria, ou seja, a Lei Estadual nº 5.530/2009, que regulamenta o monitoramento eletrônico de presos no regime

401 SANTELLANO, Jony. A lei paulista e o monitoramento eletrônico de presos. JB Wiki - Jornal do Brasil,

São José dos Campos-SP, 14 set. 2010. Disponível em:

<http://www.brasilwiki.com.br/noticia.php?id_noticia=32506>. Acesso em: 22 de setembro de 2011.

402 GOMES, Luiz Flávio. Tornozeleiras reduzem índice de fuga. Site LFG, 12 jan. 2011. Disponível em:

<http://www.ipclfg.com.br/artigos-do-prof-lfg/tornozeleiras-reduzem-indice-de-fuga/>. Acesso em: 22 de setembro de 2011.

403 LEAL, César Barros. Vigilância eletrônica à distância: instrumento de controle e alternativa à prisão na

América Latina. Op. cit., p. 104; ARAÚJO, Glauco. Presos poderão ser monitorados por pulseiras, tornozeleiras e telefone. G1 – O Portal de Notícias da Globo, São Paulo, 19 jun. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/presos-poderao-ser-monitorados-por-pulseiras-tornozeleiras-e- telefone.html>. Acesso em: 22 de setembro de 2011.

aberto e no semiaberto. A lei carioca estabelece a possibilidade de monitoramento eletrônico através de bracelete ou tornozeleira, além de “chip subcutâneo” (art. 2º) que já foi testado em alguns países (Estados Unidos) e vedado em outros (França).

O Estado de Alagoas iniciou um programa de monitoramento de presos em regime semiaberto no ano de 2008, com tecnologia GPS, antes mesmo da regulamentação federal. O primeiro teste foi realizado com três reclusos e um agente penitenciário e o equipamento foi fornecido pela empresa Monitore Vigilância

Eletrônica.404

César Barros Leal405 informa que o Estado de Goiás realizou experiências com dez reclusos que cumpriam pena em regime semiaberto e aberto, egressos do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, os quais aceitaram usar braceletes (pulso e tornozelo) e unidades portáteis GPS. Segundo o autor, dados da Secretaria de Segurança Pública revelam que a economia é de 50% em relação ao custo de uma pessoa na prisão. O monitoramento eletrônico, portanto, será realizado em tempo real, 24 horas por dia, por servidores públicos treinados que utilizarão computadores instalados na Secretaria de Segurança e na Vara de Execuções Penais. Além disso, um grupo de servidores deverá fazer o acompanhamento externo do cumprimento das obrigações impostas.

Da mesma forma, o Estado de Pernambuco também realizou uma experiência piloto com cinco detidos da Penitenciária Agroindustrial São João, na Ilha de Itamaracá.406 Além disso, outros testes foram realizados em Pernambuco entre os anos de 2008 e 2010.407

404 LEAL, César Barros. Vigilância eletrônica à distância: instrumento de controle e alternativa à prisão na

América Latina. Op. cit., p. 104.

405 Ibid, p. 103. 406 Ibid, p. 105.

407 ARAÚJO, Glauco. Presos poderão ser monitorados por pulseiras, tornozeleiras e telefone. G1 – O Portal

de Notícias da Globo. Op. cit. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/06/presos-poderao-

4 NATUREZA JURÍDICA

Segundo Poza Cisneros,408 o monitoramento (ou vigilância) eletrônico deve ser entendido, em sentido amplo, como o método utilizado para controlar a presença, o afastamento ou a aproximação a um lugar determinado, de uma pessoa ou coisa, com a possibilidade de obter determinada informação suplementar.

Em um sentido mais específico, o monitoramento eletrônico é o método utilizado para controlar a localização de uma pessoa envolvida em uma investigação criminal (investigado) ou em um processo penal (acusado ou condenado), ou ainda, de um adolescente infrator submetido a procedimento judicial. Essa definição, porém, não é suficiente para esclarecer todas as possibilidades e diferenças encontradas no uso do monitoramento eletrônico, que pode ser contínuo ou descontínuo, permitir a exata localização ou apenas o afastamento ou a aproximação a lugares ou pessoas, oferecer informações sobre o comportamento da pessoa (ex. consumo de álcool), além de ser utilizado nas diferentes fases do processo.409

De fato, o estudo da legislação estrangeira revela que o monitoramento eletrônico foi e é utilizado de diversas formas, conforme as peculiaridades locais. Nesse sentido, Gudín Rodríguez-Magariños410 adverte que os diversos mecanismos de vigilância são distintos e heterogêneos, não existindo uma natureza objetiva homogênea na multiplicidade de mecanismos que dá vida ao monitoramento eletrônico, a não ser a finalidade de controle que se verifica em todos eles. Ressalte-se que o monitoramento eletrônico caracteriza-se mais como uma tecnologia a ser entendida e eventualmente utilizada, que como um instituto jurídico pronto e acabado que pode ser copiado da legislação estrangeira, embora seja possível aproveitar algumas experiências.

Com efeito, o monitoramento eletrônico foi previsto na Inglaterra (Criminal Justice Act de 1991) como pena principal para delitos de menor gravidade, porém sua aplicação foi condicionada ao consentimento do condenado, o que se revela

408 POZA CISNEROS, María. Las nuevas tecnologías en el ámbito penal. Revista del Poder Judicial. Op.

cit., p. 60-61.

409 Ibid, p. 61. Escobar Marulanda define os monitores eletrônicos utilizados no monitoramento eletrônico e

não a ação de monitorar. Segundo o autor, é possível chamar de monitor eletrônico qualquer sistema eletrônico que realize um controle sobre algo e, em seguida, as respectivas advertências (ESCOBAR MARULANDA, Gonzalo. Los monitores electrónicos (¿puede ser el control electrónico una alternativa a la cárcel?). In: CID MOLINÉ, José; LARRAURI PIJOAN, Elena (Coord.). Penas alternativas a la prisión. Op. cit., p. 201).

410 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Cárcel Electrónica: Bases para la creación del sistema

incompatível com a natureza de autêntica sanção penal. A Suécia, por sua vez, estabeleceu a vigilância eletrônica (1994) como alternativa à pena privativa de liberdade, possibilitando o cumprimento da pena em regime aberto através da vigilância.

Diante desses exemplos, o autor espanhol afirma que o monitoramento eletrônico na atualidade não pode ser considerado como uma pena sui generis, mas sim uma medida penitenciária que está intrinsecamente vinculada à pena privativa de liberdade. De acordo com o autor, trata-se de uma medida substitutiva da pena privativa de liberdade, que nenhum ordenamento jurídico no mundo tratou como pena autônoma, desvinculada da privativa de liberdade.411

Jean-Paul Céré412 lembra que, nos países em que é utilizado, o monitoramento eletrônico apresenta inteiramente as características de uma pena ou de um modo de execução de pena. Na França, por exemplo, a Lei de 1997 que instituiu a vigilância eletrônica não o fez como pena principal, mas sim como modalidade de execução da pena privativa de liberdade.413 Philippe Mary414 chega a apontar problemas metodológicos em estudos centrados na vigilância eletrônica, e não na pena propriamente dita, tendo em vista que a vigilância eletrônica se caracteriza apenas como modalidade de execução da pena ou dispositivo técnico de controle. No mesmo sentido, Otero González415 ressalta que o monitoramento eletrônico não é um fim em si mesmo, mas sim um instrumento que pode ajudar a executar de forma mais confortável, mais barata e mais eficaz o cumprimento de determinadas penas. Além disso, o monitoramento eletrônico foi pensado, em geral, no direito continental europeu, para reforçar o arresto domiciliar e, portanto, como modo de execução da pena, porém está sendo utilizado pouco a pouco como alternativa à pena de prisão de curta duração. Entre nós, Edmundo Oliveira também afirma que a vigilância eletrônica tornou-se “uma modalidade de execução da pena privativa de liberdade, e não uma pena à parte”.416

411 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Cárcel Electrónica: Bases para la creación del sistema

penitenciario del siglo XXI. Op. cit., p. 119-120.

412 CÉRÉ, Jean-Paul. As novas tecnologias a serviço do direito penal: monitoramento eletrônico estático e

móvel. In: CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça). Monitoramento Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil. Op. cit., p. 92.

413 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 50.

414 MARY, Philippe. Localização sob vigilância eletrônica e rede penal. In: FROMENT, Jean-Charles;

KALUSZYNSKI, Martine (Coord.). Justice et technologies: Surveillance électronique en Europe. Op. cit., p. 139 e 142.

415 OTERO GONZÁLEZ, Pilar. Control telemático de penados: análisis jurídico, económico y social. Op.

cit., p. 11-12 e 77.

Poza Cisneros417 adverte que, do ponto de vista dogmático, o estudo da vigilância eletrônica é colocado normalmente no âmbito do discurso das alternativas à pena privativa de liberdade. Assim, a vigilância eletrônica tem se revestido de legitimação, prestígio e atração com base no discurso das alternativas à prisão, porém seu uso se insere com frequência no desejo de obter maior controle sobre condutas punidas até então com as tradicionais alternativas penais.

Pierpaolo Cruz Bottini418 afirma, por sua vez, que o monitoramento eletrônico “reduz a autonomia do individuo, afetando seu direito fundamental à intimidade e à privacidade (art. 5º, X da CF)” e, portanto, sua “aplicação deve ser direcionada apenas a situações necessárias, como último patamar da intervenção estatal para obtenção do controle social”. Acrescenta o autor que o monitoramento eletrônico pode ser pena ou medida assecuratória, mas sempre terá natureza penal de restrição de direitos, o que justifica sua aplicação apenas em caso de ilícito penal, ou seja, no curso de investigação, processo ou execução penal.

Além disso, aponta que a natureza penal do monitoramento exige observância dos princípios constitucionais que limitam a intervenção penal do Estado. Segundo o autor, portanto, o monitoramento eletrônico não pode ser caracterizado como um instituto exclusivo do direito penitenciário, mas sim de direito penal tanto quanto as penas restritivas de direitos, motivo pelo qual a matéria é de competência privativa da União (art. 22, I c/c art. 24, I da CF), sendo inconstitucionais as leis estaduais sobre o assunto.419

Diante das opiniões expostas e das diferentes formas de utilização no direito estrangeiro, resta indagar se a natureza jurídica do monitoramento eletrônico é revelada por sua configuração legal ou independe desta. Em outras palavras, se o monitoramento eletrônico será sempre uma medida penal a ser imposta de forma independente, como espécie de punição autônoma, ou se esta característica dependerá de sua previsão legal. Ao que parece, a resposta se aproxima da segunda hipótese, mormente pela diversidade de usos possíveis, bem como pelas diferentes características tecnológicas disponíveis e que podem ou não ser adotadas (algumas mais invasivas que outras).

417 POZA CISNEROS, María. Las nuevas tecnologías en el ámbito penal. Revista del Poder Judicial. Op.

cit., p. 63.

418 BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Aspectos pragmáticos e dogmáticos do monitoramento eletrônico. In:

CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça).

Monitoramento Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil.

Brasília: Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, 2. sem. 2008, p. 170.

O monitoramento eletrônico estabelecido na maioria dos países que adotaram esta tecnologia destina-se à localização do infrator, ou seja, é usado para controle da restrição imposta à liberdade de locomoção, caracterizando um modo ou modalidade de execução da pena privativa de liberdade, e não uma pena autônoma. O objetivo principal do monitoramento eletrônico não é recair sobre a intimidade e a privacidade, ou seja, não é utilizado para restringir esses bens jurídicos da pessoa (objetivo não é a “perda da intimidade” por determinado período), mas sim para fiscalizar e controlar o cumprimento da restrição imposta à liberdade de locomoção. Trata-se, nesse caso, de método tecnológico ou instrumento material utilizado para restringir a liberdade de locomoção que, indireta e secundariamente, afeta e restringe outros direitos fundamentais da pessoa submetida à vigilância (intimidade e privacidade).

A utilização do monitoramento eletrônico como método para executar a pena privativa de liberdade, em substituição ao estabelecimento penitenciário, não gera maior violação à intimidade e à privacidade que o cumprimento da prisão no cárcere, mormente no caso de aplicação do sistema passivo. O monitoramento, portanto, não será uma punição autônoma a ser somada à privação da liberdade, assim como o cumprimento da prisão na penitenciária não o é. Também não parece caracterizar punição autônoma o monitoramento eletrônico utilizado como método de fiscalização de incidentes liberatórios durante a execução da pena privativa de liberdade, pois a restrição da intimidade será menor que aquela suportada no cárcere, como é o caso da monitoração eletrônica prevista na Lei de Execução Penal que serve exclusivamente para fiscalização das condições impostas na saída temporária e na prisão domiciliar (art. 146-B, com redação pela Lei nº 12.258/2010).420

Em algumas penas restritivas de direitos, da mesma forma, o monitoramento pode apenas substituir os métodos de execução e controle anteriormente existentes, como a Casa de Albergado na limitação de fim de semana (art. 48 do CP e art.

420 Nesse sentido, ao decidir pela aplicabilidade da Lei nº 12.258/2010 aos crimes cometidos antes de sua

vigência, o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu que o diploma legal referido não estabelece uma punição autônoma, ou seja, que a lei não trata de crimes, penas, medidas de segurança ou efeitos da condenação, mas sim de uma forma de fiscalização das condições impostas ao beneficiário da saída temporária. Cf. SÃO PAULO (Estado). Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Habeas Corpus n. 0071338-54.2011.8.26.0000, da 14ª Câmara de Direito Criminal. Relator: Hermann Herschander. São Paulo, 14 abr. 2011. Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=5081390>. Acesso em: 22 de setembro de 2011; SÃO PAULO (Estado). Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Habeas Corpus n. 0066029-52.2011.8.26.0000, da 4ª Câmara de Direito Criminal. Relator: Salles Abreu. São Paulo, 12 abr.

2011. Disponível em:

<https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=5063018&vlCaptcha=VQEdM>. Acesso em: 22 de setembro de 2011.

93 da Lei nº 7.210/1984 - LEP) e o eventual controle policial na proibição de frequentar determinados lugares, os quais também violam, em certa medida, a intimidade e a privacidade do condenado.

Pierpaolo Cruz Bottini421 afirma que o monitoramento eletrônico não é um simples instrumento de fiscalização administrativa, pois atinge direitos fundamentais (intimidade) além daqueles cerceados pela restrição da liberdade. Segundo o autor, uma coisa é impor ao condenado a frequência a determinados lugares ou a prisão domiciliar, sem monitoramento, pois apenas a liberdade será restringida; outra coisa é a mesma determinação acrescida do monitoramento, pois além da liberdade, também a intimidade será atingida. De fato, o monitoramento eletrônico usado para fiscalizar uma pena alternativa que não depende de um sistema de controle pode caracterizar uma punição complementar, mormente pela intimidade atingida. Isso não ocorre, porém, se o monitoramento eletrônico é empregado em substituição de outro método de cumprimento ou de fiscalização da pena, cuja aplicação também gera restrição de direitos fundamentais, inclusive da intimidade, como o estabelecimento penitenciário na limitação de fim de semana (Casa de Albergado). Além disso, algumas sanções dependem essencialmente de fiscalização, sob pena de total ineficácia e descrédito da alternativa penal, como é o caso da proibição de frequentar determinados lugares.

Destarte, enquanto método tecnológico de localização para controle da restrição da liberdade, o monitoramento eletrônico pode ser estabelecido na legislação nacional como instrumento ou modalidade de execução de prisão cautelar, de algumas penas restritivas de direitos ou, ainda, da pena privativa de liberdade, em seus estágios, incidentes e regimes de cumprimento. Não será, nesse caso, uma sanção propriamente dita ou uma pena autônoma, mas sim um método tecnológico ou instrumento material equivalente a outros necessários para a realização da punição estatal que, portanto, passa a integrar a pena como um todo.