• Nenhum resultado encontrado

A Inglaterra foi pioneira na Europa em relação ao uso do monitoramento eletrônico de presos (tagging). Segundo Ramón Parés i Gallés,190 a opção pelo uso da tecnologia também foi influenciada pelo problema da superpopulação carcerária e as primeiras experiências foram realizadas com a finalidade de liberar as penitenciárias através da liberdade provisória.

A Câmara dos Comuns em 1987, após a visita do Ministro do Interior britânico John Patten aos Estados Unidos,191 recomendou o estabelecimento de programas de tratamento na área da vigilância eletrônica, o que foi colocado em prática dois anos depois (agosto de 1989) através de um programa experimental de controle telemático de presos provisórios.

Essa não foi a primeira vez que se cogitou de vigilância eletrônica na Inglaterra. O romancista e cineasta Tom Stacey, que havia sido preso anteriormente quando trabalhava como jornalista do Sunday Times, chegou a levar a ideia ao Ministério do Interior (Home Office) em 1981. Entretanto as suas propostas de um estudo conjunto com os laboratórios eletrônicos da Universidade de Kent foram recusadas, mesmo diante de sua condição de membro fundador da Associação de Monitoramento de Infratores (Offender Tag Association)192 em 1982 e da árdua campanha realizada. Interessante observar que havia oposição da maioria dos setores da justiça criminal, bem como por parte de grupos reformistas, porém, os leitores do jornal Sun manifestaram-se favoravelmente. Com efeito, em pesquisa realizada pelo diário inglês em 02 de maio de 1988, apenas 15% dos entrevistados foram a favor de mais prisões, mas uma significativa maioria foi a favor do monitoramento eletrônico.193

A primeira experiência foi realizada em Nottingham no ano de 1989 sob a denominação de Sistema de Vigilância de Arrestos Domiciliares. Juntamente com Nottingham, foram realizados testes em Newcastle e Londres, com duração de seis meses,

190 PARÉS I GALLÉS, Ramón. Ejecución penal mediante control electrónico: presente y futuro. Revista del

Poder Judicial. Op. cit., p. 262.

191 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 24.

192 Segundo Craig Paterson, a Offender Tag Association é uma organização com conexões íntimas ao Partido

Conservador britânico e tem defendido o uso do monitoramento eletrônico desde 1982 (PATERSON, Craig. A privatização do controle do crime e o monitoramento eletrônico de criminosos na Inglaterra e no País de Gales. Tradução de José de Jesus Filho. Revisão de André Adriano Nascimento Silva. Revista Brasileira de

Ciências Criminais. Op. cit., p. 285).

193 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 25;

PEREIRA, Luís de Miranda. Controlo electrónico de delinquentes: Orwell ou o futuro das penas? Revista

aplicando-se a vigilância eletrônica para processados maiores de 17 anos como substituta da prisão provisória e também como modalidade de execução para penas curtas de prisão.194 Os objetivos do programa foram claramente definidos: avaliar a utilidade do monitoramento eletrônico para infratores sob fiança (liberdade provisória), incluindo a tecnologia, o custo-benefício e o uso do setor privado em tais esquemas, além de informações sobre a expansão do monitoramento eletrônico para condenados que, do contrário, teriam recebido ordem de prisão.195

As primeiras experiências, porém, não tiveram resultados encorajadores. Apenas cinquenta ordens foram pronunciadas antes que a decisão de suspender o programa fosse tomada em janeiro de 1990 e, destes, onze tinham praticado novo delito durante o monitoramento e dezoito tinham violado as condições da fiança. O fracasso foi de 58% e o custo de aproximadamente 14.000 libras esterlinas por infrator monitorado.196

Dick Whitfield197 relata que as experiências produziram também diversas estórias que despertaram o interesse da mídia. O primeiro infrator monitorado, por exemplo, era um mendigo sem-teto que recebeu quinze visitas no primeiro mês de monitoramento, pois seu equipamento acusava afastamento da residência. Na verdade, cada vez que isso acontecia, ele estava “apenas embaixo do edredom tendo uma noite sem descanso”, conforme noticiou a imprensa. O terceiro monitorado removeu o equipamento e saiu de casa, retornando após dez minutos; depois de outra fuga, foi descoberto, acusado de assassinato e condenado à prisão perpétua. Da mesma forma, Pares i Gallés198 criticou o sistema utilizado em razão de sua pouca evolução e por ter causado, em mais de uma ocasião, o falso desaparecimento do monitorado da área de controle, enquanto o mesmo dormia tranquilamente em sua residência.

Os resultados negativos, porém, não impediram uma segunda tentativa posteriormente. Assim, em 1991 foi aprovado o Criminal Justice Act, que incorporou a vigilância eletrônica como pena principal aos delitos e pequenas infrações (furtos em meios de transporte, maus tratos e condução em estado de embriaguez).199

A reforma procedida pelo Criminal Justice and Public Order Act de 1994 possibilitou a imposição do monitoramento eletrônico como sentença judicial (sanção

194 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 24.

195 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 25. 196 Ibid, p. 25.

197 Ibid, p. 25-26.

198 PARÉS I GALLÉS, Ramón. Ejecución penal mediante control electrónico: presente y futuro. Revista del

Poder Judicial. Op. cit., p. 262.

199 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática: ¿el fin

comunitária autônoma ou acessória de uma sanção comunitária) e deu origem a programas pilotos em 1995 nas cidades de Manchester e Reading e no condado de Norfolk. A ideia era realizar experiências muito diferentes, ou seja, uma em área com alta densidade demográfica e com características internas de grande cidade (Manchester), outra em área de tamanho médio e com desenvolvimento de alta tecnologia - “silicon valley” (Reading) e ainda outra com características predominantemente rurais e com população esparsa (Norfolk).200 Em seguida, os programas foram estendidos para as regiões de Greater Manchester, Berkshire e Norfolk como modalidade de prisão domiciliar (curfew order) e, em 1997, também para Cambridgeshire, Middlesex, Suffolk e Yorkshire.201

Segundo Dick Whitfield,202 o clima da justiça criminal havia se alterado significativamente quando os novos programas começaram a partir de julho de 1995. Os dois principais partidos políticos disputavam a imagem de “duros contra o crime” e, portanto, o conceito de vigilância eletrônica como alternativa à prisão deu lugar à ideia de punição como objetivo principal. Assim, a vigilância seria uma dura e rápida punição para restringir a liberdade dos infratores, proporcionando um constante lembrete sobre as exigências judiciais e suprindo penas alternativas como probation e serviços comunitários que eram vistos como “muito leves”.

Esse contexto contrastava com o que se fazia na Suécia e na Holanda, cujos oficiais viajaram juntos com os ingleses aos Estados Unidos para examinar os esquemas de monitoramento eletrônico aplicados neste país. Nesses países, o monitoramento eletrônico foi inserido em programas intensivos de probation desenvolvidos para reduzir o uso da prisão.

Na Inglaterra e no país de Gales, os programas foram colocados em funcionamento nos locais referidos, verificando-se após quatro meses a duplicação da área de experiência, mas apenas 83 ordens emitidas após um ano e, depois de dois anos, apenas 110 sentenças supervisionadas através de monitoramento eletrônico. Os critérios eram amplos, admitindo a aplicação do monitoramento a qualquer infração cuja pena não estivesse expressa na lei, para todos os infratores maiores de dezesseis anos e para

200 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 27. 201 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 24.

infratores “periódicos” como os hooligans203 ou infratores mais persistentes (prisão domiciliar entre duas e doze horas por dia, por um período de até seis meses).204

Martín Barberán205 aponta que um dos programas mais importantes foi desenvolvido em Manchester, onde se pronunciavam 60% de todas as ordens de vigilância eletrônica. O programa foi aplicado apenas em determinadas áreas, seja como sanção única, seja como complemento de outras sanções comunitárias. Até 1998 havia 1.920 casos, com uma média de utilização diária de 350 casos. No ano 2000, pronunciavam-se em Manchester oitocentas ordens mensais de probation ou de serviços comunitários, das quais sessenta continham o controle eletrônico (curfew orders with electronic

monitoring).206

A vigilância eletrônica mantinha relação com a gravidade do delito, ou seja, em caso de pouca gravidade era combinada com multa e nos casos graves combinada com outras medidas como probation ou com as comunity service orders. Entretanto, nos casos mais graves, nos quais se aplicava pena privativa de liberdade, a vigilância era pouco aplicada. Exigia-se do monitorado o livre e expresso consentimento, além de provas de reinserção (ambiente social favorável e exercício de atividade profissional).207

O Crime (Sentences) Act de 1997 ampliou a utilização do monitoramento eletrônico na tentativa de fortalecer a imposição e a cobrança de multas, possibilitando a decretação da prisão domiciliar monitorada em caso de não pagamento de multa. As áreas escolhidas para teste foram Norfolk e Greater Manchester e o ponto de partida foi uma série de infrações de trânsito que levaram à aplicação de multas. O período médio de prisão domiciliar era de 50 dias e o infrator livrava-se dela pagando a multa originalmente imposta, porém verificou-se que muitos preferiram cumprir a prisão a efetuar o pagamento.208

Dick Whitfield209 noticia a realização de um estudo envolvendo 443 sentenças de prisão domiciliar, cujos dados revelam as circunstâncias das experiências

203 A palavra hooligan é utilizada para designar pessoas que praticam atos de violência ou desordem

(hooliganismo) e geralmente é associada aos torcedores de futebol na Inglaterra que apresentam tal comportamento.

204 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 28.

205 MARTÍN BARBERÁN, Jaime. La aplicación de sanciones y medidas en la Comunidad en Europa y

Estados Unidos. Revista del Poder Judicial. Op. cit., p. 255-256.

206 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática: ¿el fin

de los muros en las prisiones?: Un análisis desde la perspectiva del Derecho comparado. Op. cit., p. 108.

207 Ibid, p. 106-107.

208 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 40-41; POZA

CISNEROS, María. Las nuevas tecnologías en el ámbito penal. Revista del Poder Judicial. Op. cit., p. 68.

efetuadas neste período. Com efeito, 313 sentenças foram completadas com sucesso e sem violações; 81 foram revogadas por violações às condições impostas e três revogadas por outros motivos. Além disso, Manchester apresentou uma taxa de sucesso de 79%, enquanto Norfolk teve uma taxa de 91%, mas isso foi explicado pelas diferenças nas sentenças proferidas. Com efeito, Greater Manchester teve mais sentenças do juizado de menores, cuja tendência é ser mais volátil, com uma taxa de sucesso de 68%.

As taxas de sucesso também variavam de acordo com a infração praticada. Entre as infrações com maior taxa de conclusão da prisão domiciliar monitorada estavam: improbidade (100%), dano criminal (100%), direção sob efeito de álcool (95%), drogas (92%) e direção com habilitação cassada judicialmente (91%). Por outro lado, as infrações com menor índice de conclusão eram: violência (78%), roubo (74%) e furto (77%).210

Mesmo reconhecendo a dificuldade de classificar infratores, Dick Whitfield211 apresenta uma tentativa de selecionar infratores com características favoráveis ao sucesso do monitoramento eletrônico: a) pessoas que precisam de ajuda para lidar com a figura da autoridade (autoridade do monitoramento é impessoal e sua aceitação não implica em conflito de personalidade); b) pessoas que precisam de ajuda para resistir à pressão dos colegas do grupo (jovens adultos homens, como o twoccer,212 costumam praticar delitos que não praticariam sozinhos e a tornozeleira é uma boa desculpa para se afastar da ação em grupo); c) pessoas que precisam de uma razão para mudar (aqueles cuja vontade de parar de delinquir precisa de algum suporte prático com o passar do tempo); d) pessoas que precisam de um sucesso a ser construído (cada período de sucesso da prisão domiciliar cumprido com êxito é um pequeno modelo de sucesso que alguns infratores precisam para reforço da confiança); e) pessoas que descumpriram uma sentença comunitária, mas que chegaram a atingir sucesso considerável (uma graduação na punição das violações pode demonstrar seriedade sem comprometer o longo período de conquistas relativas ao comportamento do infrator).

Por outro lado, houve concordância sobre os casos em que o monitoramento seria incompatível: casos com riscos para a família ou ao público (ex. violência doméstica); casos envolvendo questões de proteção à criança; casos com infratores deficientes físicos ou mentais. Os casos envolvendo usuários de drogas ou

210 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 29-30. 211 Ibid, p. 30-31.

212 Twoccer ou joyrider é o nome que se dá ao jovem que furta um veículo ou “pega” o veículo sem o

pessoas com estilo de vida desregrada geraram alguma discussão sobre a compatibilidade do monitoramento eletrônico.

O referido estudo revelou também que a conclusão do programa com sucesso está ligada a um menor período de tempo de monitoramento (até dois meses: taxa de conclusão com sucesso acima de 90%; de cinco a seis meses: 64% de conclusão com sucesso). A despeito das altas taxas de conclusão com sucesso (80% em média), os números de reincidência continuavam inalterados e semelhantes aos números de reincidência de condenados a outras penas comunitárias.213

O sucesso dessas experiências originou o Crime and Disorder Act de 1998, que autorizou a liberação antecipada de presos para um regime de prisão domiciliar sob vigilância eletrônica (home detention curfew). Assim, presos cumprindo penas de prisão de mais de três meses e menos de quatro anos poderiam ser liberados com até dois meses de antecedência em relação à data de liberação automática, que representava metade da sentença. A vigilância foi autorizada, porém, por curto período de tempo (máximo seis meses, depois vigilância convencional), durante prisão domiciliar ou trabalho comunitário, nos casos de pessoas com mais de dez anos processadas ou condenadas como reincidentes em pequenos delitos ou de pessoas que não pagam multas impostas.214 Inicialmente, a vigilância podia ser aplicada apenas aos maiores de dezesseis anos, porém, isso mudou a partir de 1998 quando a categoria das pessoas suscetíveis de vigilância foi ampliada, incluindo maiores de dez anos.

Assim, o programa de prisão domiciliar monitorada denominado Home

Detention Curfew foi aplicado na Inglaterra e no País de Gales a partir de janeiro de 1999,

com a finalidade de facilitar a transição dos presos para a comunidade, excluídos os condenados por delitos sexuais e condenados estrangeiros aguardando repatriamento. A liberação antecipada era decidida pela própria Administração penitenciária, através do diretor do estabelecimento.215 O programa referido foi um dos maiores planos de monitoramento eletrônico do mundo, com participação de 16.000 presos durante o primeiro ano de operação216 e mais de 175.000 pessoas colocadas sob vigilância eletrônica até setembro de 2004.217

213 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 35. 214 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 25.

215 RICHARDSON, Françoise. La surveillance électronique des délinquants en Angleterre: 1989-2004. In:

FROMENT, Jean-Charles; KALUSZYNSKI, Martine (Coord.). Justice et technologies: Surveillance électronique en Europe. Grenoble: Presses universitaires de Grenoble, 2006, p. 65.

216 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 24;

Entretanto, as ordens de prisão domiciliar monitorada tornaram-se disponíveis em todas as Cortes da Inglaterra e do País de Gales apenas em dezembro de 1999, e mais de 3.000 ordens foram expedidas nos quatro anos seguintes.218 Interessante registrar que, segundo Dick Whitfield,219 as estimativas de liberação de presos do Ministério do Interior (50% do total) não se consumaram também porque os administradores dos presídios sentiram o peso de ter que decidir a liberação antecipada dos presos, conforme palavras ditas por um deles e transcritas pelo autor: “Eles (políticos) inventaram isso. Mas é minha cabeça na guilhotina. Em caso de dúvida, não libere”.

De qualquer modo, entre 2000 e 2008, 20% dos 50.000 internos que tiveram acesso a programas de liberação antecipada (liberdade condicional) se submeteram a vigilância eletrônica.220

O programa foi alvo de crítica por parte da oposição política, que apontava a liberação irregular de criminosos sexuais e outros de alto risco, e também pela imprensa, que noticiava a fuga de infratores liberados e incidentes infelizes como o caso de um rapaz que teve a tornozeleira colocada em sua perna falsa. Relatórios do Ministério do Interior (Home Office), porém, apresentavam resultados positivos. Nesse sentido, Dick Whitfield221 aponta algumas características verificadas em estudo realizado após o primeiro ano do programa: apenas 30% dos infratores classificados estavam realmente liberados sob monitoramento; apenas 5% tinham retornado à prisão, sendo dois terços por descumprimento das condições e um terço por novas infrações; 29% dos classificados de sexo masculino foram liberados, enquanto 40% do feminino foram liberados (quanto mais idade mais provável a liberação); as liberações foram menores nas sentenças curtas pela falta de tempo para completar o programa; as liberações foram mais frequentes para algumas infrações (57% para infrações relacionadas a drogas e 60% para fraudes e falsificações) do que para outras (19% para assalto e 22% para furto e receptação); as taxas de liberação foram semelhantes para brancos e negros (taxas maiores para asiáticos).

CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça).

Monitoramento Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil.

Op. cit., p. 19.

217 RICHARDSON, Françoise. La surveillance électronique des délinquants en Angleterre: 1989-2004. In:

FROMENT, Jean-Charles; KALUSZYNSKI, Martine (Coord.). Justice et technologies: Surveillance électronique en Europe. Op. cit., p. 67.

218 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 33. 219 Ibid, p. 36-37.

220 OTERO GONZÁLEZ, Pilar. Control telemático de penados: análisis jurídico, económico y social. Op.

cit., p. 73.

Constatou-se também que 12% dos liberados relataram problemas que surgiram entre eles e os outros moradores da residência.

Quanto ao custo do programa, estimou-se o custo médio de 1.300 libras para 45 dias de prisão domiciliar monitorada e de 2.150 libras mensais para uma cela não lotada, o que produziria uma economia anual de aproximadamente 37 milhões de libras, em valores de 2001.222

Em seguida, o Criminal Justice and Police Act de 2001 autorizou a vigilância de jovens delinquentes de doze a dezesseis anos que pratiquem infrações graves, como infrações violentas ou de natureza sexual. Assim, começou a funcionar em julho de 2001 um programa de vigilância com supervisão intensiva para delinquentes juvenis reincidentes que tenham praticado ao menos quatro delitos nos últimos doze meses. Trata- se de vigilância com seguimento permanente e em todo lugar, complementado com o uso de câmeras colocadas no centro da cidade para registrar e identificar os rostos dos submetidos ao sistema, cujo controle é feito inteira e exclusivamente pelo setor privado.223 Da mesma forma, o Criminal Justice Act de 2003 colocou o monitoramento eletrônico em uma posição central no futuro das penas comunitárias, reafirmando a atenção do governo em ações voltadas para a ordem social.224

Entre setembro de 2004 e junho de 2006 foi colocado em funcionamento um programa de localização via satélite em três localidades: Greater Manchester, Hampshire e West Midlands. O programa envolvia condenados por crimes violentos, sexuais e domésticos, bem como condenados que possuíam extensa lista de antecedentes criminais (multirreincidentes). As tornozeleiras utilizadas continham tecnologia de segunda geração (GPS Tracking)225 e permitiam a localização do condenado em zonas de exclusão ou em qualquer outro local. De acordo com Carlos Eduardo Adriano Japiassú e Celina Maria Macedo,226 os magistrados que participaram da experiência foram favoráveis à ampliação da medida, não obstante o reduzido número de vinte casos de

222 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 40.

223 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 25; OLIVEIRA,

Edmundo. Direito penal do futuro: a prisão virtual. Op. cit., p. 40.

224 PATERSON, Craig. A privatização do controle do crime e o monitoramento eletrônico de criminosos na

Inglaterra e no País de Gales. Tradução de José de Jesus Filho. Revisão de André Adriano Nascimento Silva.

Revista Brasileira de Ciências Criminais. Op. cit., p. 290.

225 RICHARDSON, Françoise. La surveillance électronique des délinquants en Angleterre: 1989-2004. In:

FROMENT, Jean-Charles; KALUSZYNSKI, Martine (Coord.). Justice et technologies: Surveillance électronique en Europe. Op. cit., p. 70.

226 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano; MACEDO, Celina Maria. O Brasil e o monitoramento eletrônico.

In: CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça).

Monitoramento Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil.

monitoramento eletrônico impostos por sentença no período de setembro de 2004 a dezembro de 2005.