• Nenhum resultado encontrado

Conforme mencionado, a ideia do monitoramento eletrônico como medida de controle para delinquentes e enfermos mentais surgiu na década de 1960 nos Estados Unidos com os estudos do professor de Harvard, Ralph Schwitzgebel. A primeira aplicação efetiva do monitoramento eletrônico de presos (tagging), porém, foi realizada em 1983 pelo juiz Jack Love, em Albuquerque, no Novo México.

Em 1984, alguns meses depois da experiência no Novo México, a Flórida (Palm Beach) apresentou um programa completo de prisão domiciliar (home

confinement)142 com monitoramento eletrônico como substitutivo da pena de prisão para delitos não graves. Esse programa caracterizou-se pelo curto prazo de monitoramento, informando Escobar Marulanda143 que, até os anos noventa, o tempo máximo de monitoramento foi de 311 dias e os períodos de imposição não excediam quatro meses. O programa estava ligado ao problema da violência doméstica, visando a impedir a aproximação do cônjuge agressor de sua vítima.

Além da Flórida, também Washington e Virgínia realizaram projetos pilotos de monitoramento eletrônico. Em 1985, treze estados americanos haviam adotado programas de monitoramento eletrônico, passando para 32 estados com 2.300 monitorados em 1988, principalmente em casos de delito de trânsito e delito patrimonial de pequeno potencial ofensivo.

Em 1992, segundo Martín Barberán,144 mais de 45.000 unidades de braceletes eletrônicos foram vendidas ou alugadas nos Estados Unidos. Assim, o monitoramento eletrônico logo se espalhou pelos Estados Unidos, mormente depois do

Federal Crime Bill de 1994. Entretanto diversos problemas técnicos foram verificados,

como a possibilidade de bloqueio das transmissões em razão de condições ambientais (proximidade com estação de rádio FM, tempestades de raios, papel de parede com metal

142 O termo genérico home confinement é utilizado para uma espécie de prisão domiciliar para determinados

períodos, mas abrange também outras formas de prisão domiciliar (home detention e home incarceration) um pouco mais rigorosas (PEREIRA, Luís de Miranda. Controlo electrónico de delinquentes: Orwell ou o futuro das penas? Revista Portuguesa de Ciência Criminal. Op. cit., p. 251).

143 ESCOBAR MARULANDA, Gonzalo. Los monitores electrónicos (¿puede ser el control electrónico una

alternativa a la cárcel?). In: CID MOLINÉ, José; LARRAURI PIJOAN, Elena (Coord.). Penas alternativas a

la prisión. Op. cit., p. 204.

144 MARTÍN BARBERÁN, Jaime. La aplicación de sanciones y medidas en la Comunidad en Europa y

em sua constituição e a má qualidade da linha telefônica). Além disso, a água também era um problema, pois os primeiros modelos davam choque durante o banho e o sinal poderia ser bloqueado se o usuário dormisse em um colchão de água.145

Alguns programas foram encerrados por motivos de má gestão e corrupção. No Estado de Washington, sete mil infratores monitorados desapareceram e uma investigação do FBI (Federal Bureau of Investigation) foi necessária. A corrupção também apareceu neste novo e competitivo cenário de interesses empresariais, produzindo a renúncia de funcionários que mantinham vínculos comerciais e, em Illinois, um funcionário que tinha iniciado a operação de um programa municipal de monitoramento acabou sendo monitorado depois de confessar quatro delitos.146

Os problemas, porém, não impediram a expansão dos programas na década de noventa, pois as dificuldades técnicas estavam sendo resolvidas e uma forte pressão por alternativas estava sendo sentida pelos políticos em razão do aumento da população carcerária e dos custos orçamentários correspondentes. Em Washtenaw County, Estado de Michigan, por exemplo, foi implantado um programa de monitoramento eletrônico após tentativas fracassadas de liberação antecipada de presos e construção de diversas penitenciárias, com gasto total de um bilhão de dólares. Com efeito, enquanto o custo de um infrator encarcerado estava acima de quinze mil dólares por ano ($ 15.866,00), um infrator sob monitoramento custava pouco mais que quatro mil dólares anuais ($ 4.390,00).147

O monitoramento eletrônico passou então a ser utilizado por diversos Estados americanos de diferentes formas, ou seja, como simples forma de punição ou como componente de programas de supervisão comunitária (probation). A diversidade de objetivos e de métodos refletia também a complexa natureza fragmentária da jurisdição criminal estadual nos Estados Unidos. Quanto aos infratores, de modo geral, os primeiros programas de monitoramento eletrônico foram utilizados para pessoas de baixo risco ou não violentas, o que gerava desconfiança sobre o potencial da medida como alternativa à prisão.

Os primeiros programas tiveram seus resultados avaliados de acordo com dois critérios básicos: taxas de conclusão bem sucedida do programa e taxas de reincidência. De acordo com o primeiro critério, o período de monitoramento e o tipo de

145 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 11 146 Ibid, p. 11.

infrator submetido interferiram decisivamente nos resultados. Assim, a Flórida registrava taxas de 97% de sucesso na conclusão do programa pelos condenados por embriaguez ao volante, monitorados por 36 dias em média, enquanto apresentava uma taxa de apenas 30% de sucesso na conclusão do programa por infratores que já haviam violado as condições anteriormente impostas e estavam submetidos a um período de seis a oito meses de monitoramento. Por outro lado, o monitoramento eletrônico pouco interferia no comportamento criminal futuro (reincidência), salvo quando inserido em outros programas de acompanhamento.148

Em 1998, os Estados Unidos já mantinham 95.000 dispositivos de supervisão eletrônica em uso, o que significa um crescimento de 4.200% entre os anos 1988 e 1998.149 Do final da década de noventa para frente, porém, há uma redução no crescimento do monitoramento eletrônico nos Estados Unidos.150 Algumas das razões dessa desaceleração, bem como dos problemas enfrentados no início dos programas, podem ser encontradas na análise das experiências dos dois maiores Estados usuários do monitoramento: Flórida e Texas.

A Flórida destacou-se no desenvolvimento dos programas de monitoramento eletrônico. Em março de 2000, o Estado tinha mais de 14.000 infratores inseridos em várias formas de supervisão comunitária, 843 em monitoramento eletrônico comum e 344 sujeitos a seguimento por GPS (Global Positioning System).151

Os resultados da década de noventa tinham sido positivos e superavam as medidas comunitárias sem monitoramento eletrônico. Entretanto, o debate deslocava-se para o uso de equipamentos mais avançados em tecnologia (GPS) e o monitoramento de infratores de alto risco. A nova tecnologia, porém, demandava mais investimento (custo três vezes maior que o convencional) e maior capacidade de gestão das informações e dados produzidos em tempo real e de forma contínua (24 horas por dia).

Os responsáveis pelo programa estavam convencidos das vantagens do seguimento via satélite e assim o estado adquiriu 350 unidades de GPS que foram instalados em infratores considerados mais perigosos, em sua maioria delinquentes sexuais

148 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 13-14. 149 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática: ¿el fin

de los muros en las prisiones?: Un análisis desde la perspectiva del Derecho comparado. Op. cit., p. 93;

WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 10.

150 PATERSON, Craig. A privatização do controle do crime e o monitoramento eletrônico de criminosos na

Inglaterra e no País de Gales. Tradução de José de Jesus Filho. Revisão de André Adriano Nascimento Silva.

Revista Brasileira de Ciências Criminais. Op. cit., p. 289.

de alto risco e pessoas com registros de violência. A duração média de monitoramento com GPS era de oito meses.

Dick Whitfield152 informa que a Flórida pretendia aumentar sua disponibilidade de sistemas GPS, mas problemas orçamentários impediram essa expansão, o que preocupou empresas fabricantes. O autor menciona, ainda, que o custo de supervisão do sistema estava estimado em onze dólares por dia para cada infrator e que o estado gastou um milhão e meio de dólares com 180 novas unidades, sem computar os custos com treinamento das equipes responsáveis. De qualquer forma, a tecnologia GPS parecia ser a chave do futuro para a Flórida, que chegou a pensar na possibilidade de redução do crime em 20% com o seguimento de infratores perigosos e técnicas de mapeamento do crime.

Por outro lado, o monitoramento eletrônico no Texas desempenhava um papel mais periférico. Em 1999, o Parole Service mantinha aproximadamente 3.200 casos de monitoramento eletrônico, ou seja, pouco menos de 10% do total de pessoas liberadas sob supervisão (probation e parole).

O monitoramento era complementado por uma escala de atividades diárias, que deveria ser aprovada pelo oficial supervisor, além de um mínimo de sete contatos pessoais no mês e programas especializados de que os infratores deveriam participar. Os resultados foram positivos e o índice de reincidência entre os participantes desses programas reduziu de 53% em 1992 para 35% em 1999.153

O investimento do Texas em tecnologia GPS foi inicialmente cauteloso (25 unidades em 2001) em razão do elevado custo dos equipamentos se comparados com aqueles utilizados no monitoramento comum em residência (GPS – 13 dólares por dia; comum - 2,70 dólares por dia). De qualquer forma, o número de pessoas monitoradas por GPS em todo o território americano cresceu de aproximadamente 40 infratores em 1998 para 635 em março de 2000, envolvendo principalmente: violência doméstica (pessoa vista como ameaça a alguém), pedófilos e outros infratores sexuais, liberados sob fiança antes do julgamento, liberados para trabalho em estágio final da sentença de prisão e submetidos a parole com histórico de violência.154

Segundo Martín Barberán,155 havia nos Estados Unidos em 2000 aproximadamente 70.000 internos submetidos a controle eletrônico, enquanto em toda a

152 WHITFIELD, Dick. The Magic Bracelet: Technology and offender supervision. Op. cit., p. 63. 153 Ibid, p. 64.

154 Ibid, p. 64.

155 MARTÍN BARBERÁN, Jaime. La aplicación de sanciones y medidas en la Comunidad en Europa y

Europa havia apenas 1.000 usando pulseiras eletrônicas. Entretanto, esse número cresceu também na Europa quando, em 2003, 9.200 participantes,156 aproximadamente, eram incluídos em programas de monitoramento eletrônico. Em obra publicada nessa mesma época (2003), Christophe Cardet aponta que os Estados Unidos já contavam com aproximadamente 100.000 pessoas submetidas à vigilância eletrônica, nos 46 estados em que a medida era adotada.157

No ano de 2008, 400.000 pessoas por ano eram colocadas sob monitoramento eletrônico, por um período médio de três ou quatro meses, o que gerava uma permanência de 100.000 pessoas por mês sob monitoramento, geralmente associado a um acompanhamento socioeducativo, excluídos os autores de crimes sexuais e violentos.158

Escobar Marulanda159 ressalta que o crescimento vertiginoso do monitoramento eletrônico nos Estados Unidos está ligado ao problema da superpopulação carcerária, pois enquanto em 1980 existiam 328.695 internos nas penitenciárias, esse número subiu para 1.053.738 em 1994 (aumento de 311,93%). A implantação da nova técnica, porém, não gerou grande diminuição do número de reclusos que, em maio de 2004, totalizava 2.085.620 e, em dezembro de 2009, 2.292.133 presos repartidos entre os regimes existentes (jails e prisons).160 Nesse sentido, María Poza Cisneros161 ressalta que o monitoramento eletrônico estadunidense difundiu-se sob cobertura da prestigiosa teoria das alternativas penais,162 sem ocultar a preocupação com o custo econômico da crescente

156 REIS, Fábio André Silva. Monitoramento eletrônico de prisioneiros (as): Breve análise comparativa entre

as experiências inglesa e sueca. Disponível em: <http://www.fasreis.blogspot.com/2004/08/artigo-mep- inglaterra-e-sucia.html>. Acesso em: 20 de outubro de 2008.

157 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 22.

158 JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano; MACEDO, Celina Maria. O Brasil e o monitoramento eletrônico.

In: CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (Ministério da Justiça).

Monitoramento Eletrônico: uma alternativa à prisão? Experiências internacionais e perspectivas no Brasil.

Op. cit., p. 18-19.

159 ESCOBAR MARULANDA, Gonzalo. Los monitores electrónicos (¿puede ser el control electrónico una

alternativa a la cárcel?). In: CID MOLINÉ, José; LARRAURI PIJOAN, Elena (Coord.). Penas alternativas a

la prisión. Op. cit., p. 205.

160 Os estabelecimentos denominados jails destinam-se aos presos preventivos que aguardam julgamento,

bem como presos com pena privativa de liberdade não superior a um ano. As prisons, federais e estaduais, destinam-se aos condenados a uma pena de prisão superior a um ano (GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática: ¿el fin de los muros en las prisiones?: Un análisis desde la perspectiva del Derecho comparado. Op. cit., p. 94). O número de presos em dezembro de 2009 foi extraído do site da universidade inglesa King’s College London. Cf. REINO UNIDO (Inglaterra). King’s

College London. World Prison Brief. Disponível em:

<http://www.kcl.ac.uk/depsta/law/research/icps/worldbrief/>. Acesso em: 06 de abril de 2011.

161 POZA CISNEROS, María. Las nuevas tecnologías en el ámbito penal. Revista del Poder Judicial. Op.

cit., p. 66 e 117.

162 Segundo Martín Barberán, as medidas penais alternativas nos Estados Unidos são chamadas de

community corrections e incluem diversas medidas como probation, parole, prisão domiciliar e

monitoramento eletrônico. As sanções intermediárias (intermediate sanctions) são aquelas que se colocam entre a privação de liberdade e a probation para cobrir o espaço entre elas (MARTÍN BARBERÁN, Jaime.

população carcerária, mas consolidou-se em diversos estados como uma alternativa às demais alternativas penais (probation, liberdade condicional ou arresto domiciliar) e não como verdadeira alternativa à prisão.

As primeiras experiências de monitoramento eletrônico nos Estados Unidos estavam vinculadas à prisão domiciliar (home confinement), utilizando-o para condenados de baixo risco e como verdadeiro substitutivo da prisão. Posteriormente, porém, o uso do monitoramento ampliou-se, aplicando-se também como substitutivo da

probation ou da liberdade condicional, como condição para concessão destas e também

como condição para autorização de trabalho ou controle de cumprimento de horários determinados. Destarte, enquanto a legislação federal estabelece o monitoramento eletrônico como uma alternativa à probation e à liberdade condicional, a legislação dos estados, de modo geral, continua prevendo sua utilização para a prisão domiciliar e como substituto da prisão.163 Os programas de monitoramento, portanto, podem estar ligados atualmente à probation, à parole, às prisões domiciliares (provisórias ou definitivas), sendo aplicados aos maiores ou menores de idade, aos reincidentes, aos infratores de trânsito e viciados em drogas.

O controle eletrônico pode ser aplicado como medida judicial ou pela própria Administração como método de execução da sentença. De modo geral, portanto, existem dois sistemas de monitoramento eletrônico: o front door, como alternativa às penas curtas de prisão, e o back door, como forma de liberação antecipada de presos. O primeiro sistema geralmente se aplica aos condenados em regime de prova (probation) e o segundo, aos presos liberados sob condições antes do término da pena (parole).164

Em linhas gerais, o monitoramento eletrônico implantado nos Estados Unidos pode ser caracterizado pela voluntariedade, curta duração (em torno de quatro meses, com períodos diários de poucas horas até o dia todo), repercussão do custo sobre a pessoa ou a família do condenado (no todo ou em parte) e uso combinado com outros tratamentos, como psicológicos e de desintoxicação de álcool ou drogas. A combinação do monitoramento eletrônico com acompanhamento socioeducativo impede que se considere

La aplicación de sanciones y medidas en la Comunidad en Europa y Estados Unidos. Revista del Poder

Judicial. Op. cit., p. 246-247 e 251). Entretanto, as expressões “sanção intermediária” ou “pena

intermediária” podem também significar pena alternativa ou medida alternativa à prisão (OLIVEIRA, Edmundo. Política criminal e alternativas à prisão. Op. cit., p. 142-143 e 145).

163 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 22.

164 OTERO GONZÁLEZ, Pilar. Control telemático de penados: análisis jurídico, económico y social. Op.

o programa de monitoramento norte-americano como simples instrumento de controle.165 Ressalte-se que o custo do equipamento, assim como da instalação e da utilização da linha telefônica é repassado ao condenado, que o financia de acordo com uma escala proporcional às suas capacidades econômicas.

Escobar Marulanda,166 avaliando os programas americanos de monitoramento, apresentou conclusões em relação aos seguintes itens: a) segurança: os índices de cumprimento situam-se entre 70% e 94%, com percentual maior de fracasso entre indivíduos não condenados; b) efeito preventivo: os índices de reincidência oscilam entre 25% e 30%, similar a outras medidas comunitárias, mas favorecido pelo rigoroso esquema de seleção dos candidatos; c) ressocialização: o efeito é similar a outras medidas comunitárias que também não retiram o indivíduo do meio social; d) retribuição: reduzido efeito em face do uso restrito a casos não graves e a pessoas de baixo risco; e) redução da população carcerária: não se verificou efeito significativo; f) humanização: gera menor restrição da liberdade e afastamento social, mas afeta outros direitos individuais; g) custo econômico: o argumento principal desses programas é obscurecido pela prática de transferir o custo ou parte dele ao próprio condenado.

Por sua vez, Martín Barberán167 informa que os estudos realizados pelo

National Institute of Justice e pela American Probation & Parole Association sugerem que

o controle eletrônico pode ser positivo quando aplicado por períodos curtos de tempo (60 a 90 dias), pois o nível de cumprimento decresce a partir dos três meses. Além disso, os resultados satisfatórios são obtidos quando se utiliza o controle eletrônico combinado com outros programas de tratamento.

Em relação ao custo geral do sistema, é importante assinalar também que boa parte da fiscalização dos programas norte-americanos são realizados por empresas privadas.

Gudín Rodriguez-Magariños168 relata que o interesse privado surge com clareza no panorama penitenciário dos Estados Unidos em 1983, quando dois advogados e empresários de Nashville, Thomas R. Beasley e R. Crants fundam a empresa CCA -

Corrections Corporation of America (que se funde no final de 1998 com outra empresa

165 CARDET, Christophe. Le placement sous surveillance électronique. Op. cit., p. 22.

166 ESCOBAR MARULANDA, Gonzalo. Los monitores electrónicos (¿puede ser el control electrónico una

alternativa a la cárcel?). In: CID MOLINÉ, José; LARRAURI PIJOAN, Elena (Coord.). Penas alternativas a

la prisión. Op. cit., p. 208-211.

167 MARTÍN BARBERÁN, Jaime. La aplicación de sanciones y medidas en la Comunidad en Europa y

Estados Unidos. Revista del Poder Judicial. Op. cit., p. 255.

168 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática: ¿el fin

formando a CCA Prision Ralty Trust). Segundo o autor, os empresários se aperceberam do imenso negócio que implicava o panorama penitenciário norte-americano, no qual o Estado gastava anualmente 35 bilhões de dólares, entendendo que se podia converter em uma mina de ouro para seus interesses e conscientes de que a opinião pública e os políticos reclamavam maior dureza contra o crime, o que traria um incremento seguro da população penitenciária.

O principal argumento utilizado pelas empresas para justificar a participação do setor privado no monitoramento eletrônico é exatamente a diminuição dos custos estatais com a prisão. Além disso, as empresas utilizam também a ideia sedutora da humanização da prisão para fazer propaganda positiva do monitoramento eletrônico. Nesse sentido, informa Gudín Rodriguez-Magariños169 que a empresa Justice Electronic

Monitoring Systems Inc. emprega um lema de nítido caráter humanitário, endossando o uso

mercantilista dessas tecnologias, ou seja: “Não o enviem ao cárcere. Enviem-no para casa”. Da mesma forma, a empresa CSD Home Escort Electronic Monitoring Sistem faz propaganda enfocando o caráter humanitário do monitoramento: “Uma resposta do século XX a um problema do século XX; proteção pública similar à do encarceramento, com menor custo; contribui para aliviar a superlotação carcerária; é humano e não atravanca; alivia o funcionário de seguimento da liberdade condicional de funções de vigilância que consomem todo seu tempo; fácil de instalar, simples de operar; proporciona um controle preciso da presença do condenado no lugar designado; não pode ser forçado; de uso seguro e confiável [...]”.

O interesse econômico despertado pelo setor gera também desenvolvimento da tecnologia empregada. A empresa Applied Digital Solution, por exemplo, mantém contatos regulares com as Administrações penitenciárias de alguns Estados americanos (Flórida e Texas) e desenvolveu a tecnologia necessária para implantar microchips de identificação em seres humanos. O microchip (VeryChip), que contém dados criptografados com tecnologia SSL (protocolo criptográfico usado na Internet), pode ser implantado debaixo da pele e ser lido por equipamentos de scanners externos de radiofrequência.170

169 GUDÍN RODRÍGUEZ-MAGARIÑOS, Faustino. Sistema penitenciario y revolución telemática: ¿el fin

de los muros en las prisiones?: Un análisis desde la perspectiva del Derecho comparado. Op. cit., p. 96

(tradução nossa).

Escobar Marulanda,171 porém, adverte que a privatização incrementa o risco de mercantilização do controle e gera uma difícil simbiose entre as agências de controle do sistema penal e as empresas destinadas à sua invenção e fabricação, sobretudo no caso norte-americano em que as decisões sobre sua aquisição e implantação estão descentralizadas.

Importante ressaltar que a tecnologia no campo da vigilância eletrônica está muito desenvolvida nos Estados Unidos, o que tem gerado experiências diversas,