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Violência e impunidade andam juntas Há muito tempo, es-

tudiosos, políticos e inte- lectuais brasileiros tentam buscar respostas para as causas da crescente e in-

terminável onda de violência que assusta nosso país. Por mais que soluções sejam discutidas, por mais que medidas sejam tomadas e por mais interesse que haja na população em mudar tal quadro, nada parece surtir efeito. A cada minuto somos “brindados” com uma nova notícia de es- tupro, homicídio ou sequestro. A principal cau- sadora desse estado de descontrole tem apenas um nome: impunidade.

O que realmente intimida um criminoso é a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato. O indivíduo pratica o crime pois sabe, de ante- mão, que a probabilidade de ser preso é peque- na. Logo, o nascimento de um crime reside na deficiência das autoridades que o deviam coibir. Uma polícia despreparada e corrupta é um in- centivo às mentes mal-intencionadas.

Some-se a isso a morosidade e a compla- cência com o crime de nosso sistema penal. Um réu, além de poder levar anos até ser julgado, en- contra atalhos e falhas em uma legislação confu- sa, de um ordenamento jurídico despadronizado

e complexo. Há sempre algum caminho obscu- ro na lei que justifica a impunidade de pessoas comprovadamente culpadas. Paulo Maluf passou apenas um mês na prisão, o juiz Nicolau passa os dias em sua mansão, os irmãos Cravinho e Suzane Richthofen estão de volta às ruas... Esta é a ima- gem que a justiça brasileira passa à população.

Radicalizar, porém, não é a solução. Muitos defendem a pena de morte e a prisão perpétua no Brasil. Não é o caminho. Enquanto não esti- ver presente uma estrutura confiável e eficiente, que dê garantias ao cidadão de bem do cumpri- mento correto de sua função, não será a maior ou menor rigidez de uma outra lei que intimidará a ação dos que sabem que não serão atingidos.

Crimes e criminosos existem e existirão em todas as partes do mundo. A resposta das so- ciedades às suas agressões é que dá a dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que pensam em agir de forma semelhante.

Esse texto, diferente do anterior, pode ser considerado predominantemente argumentati- vo, pois, por meio dele, o autor defende um posi- cionamento pessoal diante do tema discutido: a relação entre violência e impunidade.

Em um texto argumentativo, o autor visa a provar/negar determinado ponto de vista, cha- mado, em um contexto mais técnico, de tese. Assim, diferente da exposição, a argumentação pressupõe envolvimento do autor, que deve lan- çar mão de diferentes argumentos para susten- tar seu posicionamento. Isso faz com que o texto argumentativo seja sempre parcial, pois o autor visa a convencer o leitor acerca de algo.

Em “Violência e impunidade andam jun- tas”, o primeiro parágrafo do texto já apresenta a tese que será defendida, expressa na seguinte frase: “A principal causadora desse estado de descontrole tem apenas um nome: impunidade.” As frases que antecedem essa servem para situar a tese no contexto maior sobre o qual fala o texto: a violência. Desse modo, as primeiras frases do texto descrevem brevemente o panorama malsu- cedido das discussões anteriores sobre violência, enquanto o último período do parágrafo introdu- tório revela o ponto de vista do autor, segundo o qual a violência é resultado da impunidade.

Veja que, ao escrever seu texto argumen- tativo, você deve, logo de início, apresentar ao leitor que posicionamento defenderá ao longo da argumentação, de modo a tornar claro o seu objetivo ao redigir o texto. Isso é importante

para situar a pessoa que lerá seu texto e para que você mesmo não se perca ao longo da es- crita, evitando se desviar do tópico central ou mesmo cair em contradição.

Agora observe os argumentos emprega- dos pelo autor para defender seu ponto de vista. A primeira frase do segundo parágrafo sintetiza a argumentação nele contida: “O que realmente intimida um criminoso é a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato”. Veja que a fra- se apresenta o tópico do parágrafo, como uma pequena introdução. Assim, o autor do texto que estamos analisando desenvolve no segundo pa- rágrafo o argumento de que um criminoso só se sente intimidado pela certeza do castigo. Obser- ve que tal afirmação respalda a tese defendida pelo autor, de que a impunidade é a principal causa da violência no país.

O terceiro parágrafo, para apresentar outro argumento que justifique o ponto de vis- ta exposto no texto, inicia-se com a expressão “some-se a isso”. Tal construção expressa ideia de adição entre as informações de ambos os parágrafos, de modo que o argumento que o terceiro parágrafo apresenta auxilie o segundo para sustentar a tese. O tópico frasal novamente sintetiza o argumento desenvolvido no terceiro parágrafo: a morosidade e a complacência com o crime de nosso sistema penal. Tais fatores tam- bém reforçam o papel central da impunidade na manutenção da violência no Brasil.

O quarto parágrafo, por outro lado, apre- senta uma ressalva, modalizando o discurso. Ao afirmar que “radicalizar, porém, não é a so- lução”, o autor expressa seu posicionamento de que, apesar de a impunidade ser nociva, não adianta radicalizar as medidas punitivas. Veja que, para introduzir tal ressalva ao que foi dito ao longo do texto, foi utilizado o conectivo po- rém, de valor opositivo.

Por fim, no último parágrafo do texto, o autor concluiu seu posicionamento perante o tema, reafirmando a tese ao dizer que “a respos- ta das sociedades às suas agressões é que dá a dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que pensam em agir de forma semelhante”. Quando você escrever seus textos argumentativos, não deixe de, na conclusão, reafirmar o posiciona- mento defendido ao longo do texto. Assim, intro- dução e conclusão apresentam um paralelo, que garante ao texto unidade e progressão.

O modo de organização textual argumen-

tativo está presente na maior parte das situa- ções cotidianas de comunicação, mas, no meio acadêmico, ele se concentra primordialmente nos gêneros texto de opinião e ensaio.

Texto de opinião é um termo bem gené- rico que abrange produções textuais voltadas à defesa de um ponto de vista. Geralmente es- ses textos não empregam a primeira pessoa do singular, preferindo-se formas mais impessoais. Assim, em vez de “defendo”, dá-se preferência a construções como “defendemos”, “defende-se” ou “é defendido”. A extensão do texto é variá- vel, mas o aprofundamento da argumentação é bem menor do que em um ensaio, podendo ca- ber as reflexões em uma ou duas laudas. Grosso modo, pode-se dizer que um texto de opinião tem estrutura parecida com suas redações disserta- tivo-argumentativas do Ensino Médio, embora se espere maior capacidade de argumentação e abstração de um aluno universitário.

O ensaio é um texto de mais fôlego, exigin- do reflexões mais maduras, profundas e pesquisa sobre determinado tema, para que a argumenta- ção leve em consideração estudos e posiciona- mentos de especialistas a cerca da questão dis- cutida. Dessa forma, o ensaio é um texto longo, podendo ser inclusive dividido em subseções para facilitar a organização das ideias.

Basicamente, o ensaio deve conter ele- mentos pré-textuais (resumo/abstract), pelo me- nos três seções na parte textual, a serem nomea- das com subtítulo (introdução, desenvolvimento e conclusão) e elementos pós-textuais (referên- cias bibliográficas e, caso necessário, anexos).

Exercitando

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1

Observe o texto a seguir, retirado do jor- nal O Globo, de 5/11/08. Como editorial, trata-se de um texto predominantemente argumentativo, apresentando as características gerais que estu- damos até agora nesta lição. Identifique, no tex- to: a) o tema; b) a tese defendida pelo autor; e c) os argumentos que ele emprega para justificar

seu posicionamento. Proceda da mesma forma que na análise do texto “Violência e impunidade andam juntas”:

Dificilmente a Câmara dos Deputados conseguirá aprovar a curto prazo a Lei de Biossegurança que precisa votar por ter sido modificada no Senado. É muito longa a pauta de projetos à espera de apreciação: além de outras importantes leis, há projetos de emendas constitucionais e uma série de medidas provisórias, que trancam a pauta.

Mas, com tudo isso, é importante que os deputados tenham consciência da necessidade de conceder aos cientistas brasileiros, o mais rapidamente possível, a liberdade de que eles necessitam para desenvolver pesquisas na área das células-tronco embrionárias.

Embora seja este um novo campo de in- vestigação, já está fazendo surgir aplicações prá- ticas concretas, que demonstram seu potencial curativo fantasticamente promissor.

Não é por outro motivo que os eleitores da Califórnia aprovaram a emenda 71, que destina US$ 3 bilhões às pesquisas com células-tronco, causa defendida com veemência por seu go- vernador, o mais do que conservador Arnold Schwarzenegger.

O caso chama a atenção porque o ex-ator, ao contrário de outros republicanos (como Ron Reagan, cujo pai sofria do mal de Alzheimer), não tem interesse pessoal no desenvolvimento de tratamentos médicos para doenças degenera- tivas hoje incuráveis.

Apenas o convívio com pessoas como o recentemente falecido Christopher Reeve, que ficou tetraplégico após um acidente, ou Michael J. Fox, que sofre do mal de Parkinson, parece ter sido suficiente para convencer Schwarzenegger de que é fundamental apoiar a pesquisa.

O projeto que retornou do Senado ainda inclui graves restrições à ciência, como a limita- ção das pesquisas às células de embriões con- gelados há pelo menos três anos nas clínicas de fertilização — embriões descartados que, com qualquer tempo de congelamento, vão acabar no lixo.

Também algum dia será preciso admitir a clonagem com fins terapêuticos, hoje vedada, e que é particularmente promissora.

Ainda assim, comparado com o projeto proibitivo que veio originalmente da Câmara, o novo texto da Lei de Biossegurança é um impor- tante passo à frente. Merece ser apreciado com

rapidez e aprovado pelos de- putados.

Conhecendo os méto-