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Capítulo II: Galerias e Públicos da Arte

2. Galerias de arte

2.1. Breve dimensão histórica

Uma galeria de arte, segundo Isabel Martins Moreira (1985), é um espaço de exposição e, simultaneamente, de venda de obras de arte. São espaços que apresentam regularmente exposições que podem ser temporárias, individuais e / ou colectivas. São lugares que, por vezes, não se limitam ao acto de expor, mas podem agendar actividades paralelas, como visitas guiadas, cursos de formação, lançamento de publicações, performances, concertos, etc.

As galerias de arte são uma marca da vitalidade da diversidade cultural que se tem processado nos últimos tempos. Estes espaços caracterizam as transformações e dinamismo permanente das sociedades em transformação. Neste sentido, é pertinente uma caracterização destes espaços ao longo dos tempos, na sociedade portuguesa.

Segundo José-Augusto França (1974) a comercialização da obra de arte em locais especializados tem uma aparição recente. Excluindo a Sociedade Nacional de Belas Artes (S.N.B.A.), a primeira galeria de arte em Portugal data de 1933.13 Teve uma duração efémera, apenas três anos, por falta de vendas, facto que se deveu à

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Embora, Segundo Gonçalo Pena (in Lima dos Santos et. al, 2001: 114), a primeira galeria comercial em Portugal data de 1932. A galeria em questão seria a U.P., um pequeno espaço aberto na Rua Serpa Pinto e seria independente do Estado. Esta primeira experiência foi até ao final de 1938.

inexistência de um espírito de investimento público (Moreira, 1985). Esta falta de interesse arrasta-se pelas décadas de 40 e 50, ficando as aquisições apenas ao alcance das classes abastadas, do Estado e de certas instituições particulares. Gonçalo Pena (in Lima dos Santos, et. al, 2001: 114) constatou que em 1947-48 existiria no Chiado uma outra galeria, a Stop, mas que deteve um carácter muito efémero. Nos anos 40, segundo o mesmo autor, existiria igualmente uma livraria alemã e uma loja de artigos fotográficos que pontualmente fizeram funcionar salas de exposição. Nas palavras de Maria de Lourdes Lima dos Santos et. al (2001), “os anos 50 correspondem à cada vez mais clara instauração de uma clivagem política e estética entre o meio artístico e o regime, e ao abandono de quaisquer veleidades modernistas da política cultural”.

Segundo Isabel Moreira (1985), devido ao carácter fortuito das galerias de arte, torna- se uma tarefa difícil inventariar a existência destes espaços. No entanto, segundo a autora, terá sido a partir da década de 60 que se desenvolve um verdadeiro mercado da arte contemporânea em Portugal. Nessa altura surgem em Lisboa três galerias de arte que possibilitaram o surgimento de um mercado da arte no contexto nacional.

Com estes novos espaços surgem os “marchands”, os responsáveis pelas galerias de arte. Foi devido à sua actividade organizada, à sua consciência profissional, que estes influenciaram compradores, criando o que começava a ser, nesta década, um mercado.

Nos anos 70, o desenvolvimento das galerias de arte foi relevante, e algumas dessas galerias ainda persistem nos dias de hoje. Segundo José-Augusto França existiram em Portugal, em 1973, 15 galerias em Lisboa, 11 no Porto e cerca de 5 no resto do País. Como Isabel Moreira (1985) afirma a zona de implantação das galerias é marcadamente urbana. De facto, visualiza-se uma concentração de galerias de arte e outros espaços de exposição em grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto.

Entre 1974 e 1977 dá-se a grande ruptura que implica o fecho de grande parte das galerias de arte existentes em Lisboa. Mas foi depois de 1977 que se verificou uma recuperação lenta que vem firmar-se nos últimos anos com a implantação de um número elevado de novas galerias: umas mais viradas para o aspecto comercial do objecto artístico, outras preocupadas sobretudo com o apoio e divulgação das artes plásticas.

Segundo Maria de Lourdes Lima dos Santos et. al (2001), a década de 80 corresponde à estabilização económica e política da democracia. Nesta década surge a abertura de 30 galerias e o surgimento de uma nova gama de artistas e agentes culturais que vinham alterar radicalmente o panorama artístico nacional.

Maria de Lourdes Lima dos Santos et. al (2001) alega que os anos 90 foram marcados por uma crise económica violenta que determinou o encerramento de muitas galerias de arte em Portugal. No entanto, segundo os autores, a década de 90 marcou a tendência para uma diversificação dos modos de inserção cultural, económica e geográfica das galerias.

Hoje em dia, defrontamo-nos com uma multiplicidade de galerias com características muito diversificadas.

Na Região Norte o número de galerias de arte entre 1994 e 2005 passam de 61 para 205 e, em Portugal, de 292 para 773. Na Região Norte as galerias comerciais aumentam 80%, enquanto os espaços sem fins lucrativos (onde se incluem cooperativas artísticas) crescem 238%. Os espaços sem fins lucrativos ultrapassam largamente os espaços de vocação comercial. A maior concentração destes equipamentos situa-se na cidade do Porto, com particular destaque para a Rua Miguel Bombarda. (Desenvolvimento de um Cluster de Indústrias Criativas na Região Norte, 2008).

Maria de Lourdes Lima dos Santos et. al (2001) ao analisar a situação actual das galerias salienta uma debilidade estrutural do mercado de arte em Portugal. Esta debilidade corresponde à curta duração média de vida das galerias.

As galerias de arte são espaços susceptíveis às acções económicas e políticas do contexto onde se localizam. São, por esta razão, espaços de extrema fragilidade, muito susceptíveis aos factores externos.

Um estudo conduzido em 1998 pelo Ministério da Cultura em França (Benhamou et.

al, 2002) sobre as galerias de arte, que estariam localizadas sobretudo em Paris, veio

demonstrar exactamente este aspecto. Os autores referem que as galerias de arte estão particularmente vulneráveis às mudanças do mercado e geralmente dependem de um número pequeno de compradores. Acreditam que a capacidade de sucesso de

uma galeria está estritamente dependente da reputação e da boa execução do seu director.

No contexto nacional verificámos “…défices culturais estruturais, historicamente acumulados, e a consequente ausência de tradições artísticas relevantes, seja no plano institucional, seja no plano criativo.” (Lima dos Santos et. al, 2001: 185)

Este factor, a ligação dependente da galeria aos factores externos, explica os sobressaltos históricos que as galerias de arte portuguesas experienciaram.

“O que se pretende aqui sublinhar é a hipersensibilidade a factores extra-culturais que, no caso português, faz com que a própria existência de um mercado de arte, ou de uma rede mínima de galerias em funcionamento, seja posta em causa sempre que há mudanças significativas da conjuntura económica ou política.” (Lima dos Santos et. al, 2001: 186)

A melhoria do panorama institucional e a preocupação crescente por parte dos políticos na questão da cultura trouxe um contributo muito positivo para as galerias de arte dos dias de hoje. O surgimento de instituições culturais como Museu de Serralves, Centro Cultural de Belém, Gulbenkian, etc, veio influenciar positivamente as políticas locais e por sua vez as galerias de arte.