• Nenhum resultado encontrado

A reflexão aqui realizada, sobre os campos de recepção e produção cultural de um contexto específico, constitui um importante ponto de partida para um olhar transversal sobre a importância de programas educativos no desenvolvimento de novas formas de relacionamento com os públicos.

Este trabalho partiu de uma reflexão teórica sobre os públicos da cultura. Nesta reflexão caracterizaram-se algumas premissas essenciais ao desenvolvimento desta pesquisa. A ideia de que públicos da cultura pressupõem uma realidade heterogénea, mesmo quando se está perante universos mais restritos, ficou subjacente neste estudo. Os públicos da cultura detêm variadas formas de se relacionar com as obras de arte e com as instituições que os acolhem. Aqui, foi defendida uma abordagem multidisciplinar e simultaneamente subjectiva e objectiva, no encontro do indivíduo com a obra de arte. Serão os factores psicológicos, individuais, sociais, culturais, históricos, físicos e semânticos, entre outros, que influenciam a comunicação com o objecto artístico. Na visita às instituições culturais e artísticas, os indivíduos carregam uma série de interesses e motivações prévias, baseadas na sua experiência de vida, nos seus conhecimentos, na sua posição social, económica e cultural, que irão, necessariamente, condicionar a sua experiência e naturalmente as suas aprendizagens.

Partindo destas linhas orientadoras, ocorreu a necessidade de olhar uma realidade específica. Realidade esta caracterizada pelos públicos das galerias de arte da Rua de Miguel Bombarda. Perante os resultados das entrevistas realizadas, tanto aos públicos como às galerias de arte analisadas, foi possível tecer algumas considerações.

Verificaram-se, assim, públicos constituídos por uma camada jovem, altamente qualificados e potenciais conhecedores das formas artísticas apresentadas. Também se analisou que esta especificidade dilui-se nos momentos das inaugurações em simultâneo, onde aqui terá lugar um público mais abrangente.

Os resultados demonstraram que serão muitos os indivíduos que ainda se mantêm distantes das manifestações culturais analisadas. Mesmo aqueles que parecem próximos, podem esconder dificuldades em se relacionar com os produtos artísticos, pois, como já foi referido, ter acesso à informação não é necessariamente sinónimo de aprendizagem.

Os fenómenos contemporâneos que assentam na democratização do acesso aos bens culturais, sugerem que a figura do mediador se torne urgente. Parece ser fundamental tecer, em torno da obra, um contexto favorável à sua recepção. Partindo do princípio que a obra de arte é um instrumento de enriquecimento individual bastante poderoso, a preocupação em aproximar os públicos a esta revela-se crescente.

Aqui defende-se que as instituições culturais e artísticas, tal como as políticas culturais, poderão desvelar-se elementos importantes, no provimento de programas de mediação cultural, que respeitem a diversidade, que propiciem uma educação permanente e uma participação activa. Desta forma, as estratégias de intervenção cultural para o alargamento dos públicos têm que saber lidar com os vários níveis de recepção cultural.

O presente trabalho, pretende constituir-se como uma ferramenta útil no desenvolvimento de um conhecimento mais profundo sobre uma realidade que necessita de delinear novos paradigmas de actuação, nomeadamente, no âmbito de programas e acções que proporcionem uma maior mediação e diálogo entre os campos estudados.

Como João Teixeira Lopes afirma: “O grande contributo do estudo dos usos da cultura e das formas de recepção é, precisamente, o de restituir a um objecto a sua multiplicidade, o seu cariz plurívoco e conflitual, a sua íntima associação às novas formas mediadoras de pensar e dizer o social.” (Lopes, 2000: 329)

No entanto, este trabalho não se encontra completo, no sentido que futuramente, gostaria de incluir um desenvolvimento de uma proposta educativa para a Rua de Miguel Bombarda. Depois de ter sido realizada uma breve investigação sobre as dinâmicas da Rua, estudo este que poderá ainda ser alargado, poderemos estar mais perto de reunir as condições necessárias para desenvolver um programa estratégico de alargamento dos públicos, e aproximação destes, aos espaços culturais e artísticos analisados.

Bibliografia

AXELSEN, Megan (2006). “Using special events to motivate visitors to attend art galleries”. Museum Management and Curatorship, 21, 205-221.

AZEVEDO, N. (1997). “Políticas culturais na área metropolitana do Porto”. Actas dos

ateliers do V Congresso Português de Sociologia: Sociedades Contemporâneas, Reflexividade e Acção, Porto

AZEVEDO, Natália (2003). “Políticas Culturais na Área Metropolitana do Porto: Dos Equipamentos locais à formação de públicos da cultura”. In Actas do Encontro do

ISCTE - Públicos da Cultura. Definições, abordagens e cenários, Lisboa: Observatório

das Actividades Culturais.

BARRIGA, Sara; SILVA, Susana Gomes (2007). “Introdução”. In Sara Barriga e Susana Gomes da Silva (coord.), Serviços Educativos na Cultura, Porto: Colecção Públicos n.º2, Setepés.

BECKER, Howard (1982). Art Worlds. Berkeley, University of California Press.

BELFIORE, Eleonora and BENNETT, Oliver (2007). “Determinants of Impact: Towards a Better Understanding of Encounters with the Arts”. Cultural Trends, 16 (3), 225-275.

BENHAMOU, Françoise; MOUREAU, Nathalie and SAGOT-DUVAUROUX, Dominique (2002). “Opening the Black Box of the White Cube: a survey of French contemporary art galleries at the turn of the millennium”. Poetics, 30, 263-280.

BENNETT, Tony and FROW, J. (1991). Art Galleries: Who goes? The Summary, Australia Council.

BENNET, Tony and SAVAGE, Mike (2004). “Introduction: cultural capital and cultural policy”. Cultural Trends, (13)2, 7-14.

BENNET, Tony and SAVAGE, Mike (2005). “Editors introduction: cultural capital and social inequality”. The British Journal of Sociology, (56)1, 2-12.

BENNETT, Tony (2005). “The historical universal: the role of cultural value in the historical sociology of Pierre Bourdieu”. The British Journal of Sociology, 56 (1), 141- 164.

BOURDIEU, Pierre (1968). “Outline of a sociological theory of art perception”. In

International Social Science Journal, 20 (4).

BOURDIEU, Pierre (1984). Distinction: a social critique of the judgment of taste. Londres: Routledge and Kegan Paul.

BOURDIEU, Pierre; DARBEL, Alain (1991). The Love of Art: European Art Museums

and their Public. Cambridge: Polity Press.

COSTA, António Firmino da (2004). “ Dos públicos da cultura aos modos de relação com a cultura: algumas questões teóricas e metodológicas para uma agenda de investigação”. In AAVV – Públicos da Cultura. Lisboa: Observatório das Actividades Culturais.

CRUZ, Maria Teresa (1992). “Arte e experiência estética”. In Actas do Colóquio

Percepção estética e públicos da cultura, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

CSIKSENTMIHALYI, M. (1989). Notes on Art Museum Experiences (texto policopiado) 13 páginas.

DIMAGGIO, Paul (1996). “Are art-museum visitors different from other people? The relationship between attendance and social and political attitudes in the United States”.

Poetics, 24, 161 – 180.

DIMAGGIO, Paul and USEEM, Michael (1978). “Social Class and Arts Consumption: The origins and consequences of Class Differences in Exposure to the Arts in America”. Theory and Society, 5, 141-161.

FALK, John H.; DIERKING, Lynn D. (2000). Learning from Museums: Visitor

Experiences and the Making of Meaning. Altamira Press, Walnut Creek, CA.

FLORIDA, Richard (2002). The Rise of the Creative Class: and how it’s transforming

work, leisure, community, and everyday life, Nova Iorque: Basic Books.

FRANÇA, José-Augusto (1974). A Arte em Portugal no século XX. Livraria Bertrand, Lisboa.

FRÓIS, João Pedro; MARQUES, Elisa e GONÇALVES, Rui Mário (2000), In João Pedro Fróis (coord.). Educação Estética e Artística. Abordagens Transdisciplinares. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

HOOPER-GREENHILL, Eilean. and MOUSSOURI, T. (1999). “Researching Learning in museums and galleries: a bibliographic review”. Research Centre for Museums and

Galleries.

HOOPER-GREENHILL, Eilean (2000). Changing values in the art museum: rethinking communication and learning. International Journal of Heritage Studies, 6 (1), 9-31.

ILLERIS, H. (2006). “Museums and galleries as performative sites for lifelong learning: constructions, desconstructions and reconstructions of audience positions in museums and gallery education”. Museum and Society, 4 (1), 15-26.

LIMA DOS SANTOS, Maria de Lourdes; MELO, Alexandre e MARTINHO, Teresa Duarte (2001). Galerias de Arte em Lisboa, Lisboa: Observatório das Actividades Culturais.

LOPES, João Teixeira. A boa maneira de ser público. Universidade do Porto. Disponível em: www.bocc.ubi.pt, (acedido em Janeiro de 2009).

LOPES, João Teixeira (2000). A Cidade e a Cultura. Um estudo sobre práticas

LOPES, João Teixeira (2003). “Experiência estética e formação de públicos”. In Actas

do Encontro do ISCTE - Públicos da Cultura. Definições, abordagens e cenários,

Lisboa: Observatório das Actividades Culturais.

LOPES, João Teixeira (2005). “Reflexões sobre o arbitrário cultural e a violência simbólica – os novos manuais de civilidade no campo cultural”. Sociologia, Problemas

e Práticas, 49, 43-51.

LOPES, João Teixeira (2007). “Prefácio”. In Sara Barriga e Susana Gomes da Silva (coord.), Serviços Educativos na Cultura, Porto: Colecção Públicos n.º2, Setepés.

MACRAE, Christina (2007). “Using sense to make sense of art: young children in art galleries. Early Years, 27 (2), 159-170.

MARTINHO, Teresa Duarte (2007). Apresentar a Arte. Estudo sobre monitores de

visitas a exposições. Lisboa: Observatório das Actividades Culturais.

MASON, David D.M. and MCCARTHY, Conal (2006). “The feeling of exclusion: young peoples perceptions of art galleries”. Museum Management and Curatorship, 21, 20- 31.

McCLELLAN, Andrew (2003). “A Brief History of the Art Museum Public”. In Andrew McClellan (ed.), Art and its Publics – Museum Studies at the Millennium, USA: Blackwell Publishing Ltd, 1-51.

MELO, Alexandre (1999). Arte e Mercado em Portugal: Inquérito às Galerias e uma

Carreira de Artista, Lisboa: Observatório das Actividades Culturais.

MONTGOMERY, John (2003). “Cultural Quarters as Mechanisms for Urban Regeneration. Part 1: Conceptualising Cultural Quarters”. Planning, Practice &

MONTGOMERY, John (2004). “Cultural Quarters as Mechanisms for Urban Regeneration. Part 2: A Review of four cultural quarters in the UK, Irleland and Australia.” Planning, Practice & Research, 19 (1), 3-31.

MOREIRA, Martins Isabel (1985). Galerias de Arte e o seu Público. Lisboa: Centro de Estudos de História e Cultura Portuguesa, Instituto Português de ensino a distância.

O’DOHERTY, Brian (1986). Inside the White Cube. The Ideology of the Gallery Space, L.A., Berkeley e London: University of California Press.

PADRÓ, Carla (2006). “Educación en museus: representaciones y discursos”. In Alice Semedo e João Teixeira Lopes (coord.) Museus, Discursos e Representações. Porto: Edições Afrontamento.

PASCOAES, Teixeira (1998). Aforismos. Lisboa: Assírio Alvim.

PINTO, José Madureira (2003). “Para Uma análise sócio-etnográfica da relação com as obras culturais”. In Actas do Encontro do ISCTE - Públicos da Cultura. Definições,

abordagens e cenários, Lisboa: Observatório das Actividades Culturais.

PRIOR, Nick (2005). “A question of perception: Bourdieu, art and the postmodern”. The

British Journal of Sociology, 56 (1), 123-139.

RENNIE, Léonie; FEHER, Elsa; DIERKING, Lynn and FALK, John (2003). “Toward an Agenda for Advancing Research on Science Learning in Out-of-School Settings”.

Journal of Research in Science Teaching, 40 (2), 112-120.

SEMEDO, Alice e LOPES, João Teixeira (2006). “Introdução”. In Alice Semedo e João Teixeira Lopes (coord.) Museus, Discursos e Representações. Porto: Edições Afrontamento.

SLATER, Alix (2006). “Escaping to the gallery: understanding the motivations of visitors to galleries”. International Journal of Nonprofit and Voluntary Sector Marketing, 12, 149-162.

SILVA, Augusto Santos; BABO, Elisa; SANTOS, Helena; GUERRA, Paula (1998). “Agentes culturais e públicos para a cultura: alguns casos ilustrativos de uma difícil relação”. Cadernos de Ciências Sociais, 18.

SILVA, Elizabeth B. (2006). “Distinction Through Visual Art”. Cultural Trends, 15 (2/3), 141-158.

SMITH, Ralph A. (1995). Excellence II: the continuing quest in art education. Reston, VA: National Art Education Association.

STYLIANOU-LAMBERT, Theopisti (2009). “Perceiving the art museum”. Museum

Management and Curatorship, 24 (2), 139-158.

XANTHOUDAKI, Maria (1998). “Educational Provision for young people as independent visitors to art museums and galleries: issues of learning and training”.

Museum Management and Curatorship, (17) 2, 159-172.

XANTHOUDAKI, M., TICKLE, L., SEKULES, V. (edit.), (2003). Researching Visual arts

education in museums and galleries. An International Reader. Kluwer Academic

Publishers.

ZOLBERG, Vera L. (1984). “American Art Museums: Sanctuary or Free-For-All?”.

Social Forces, 63 (2), 377-392.

ZOLBERG, Vera L. (1994). “An Elite experience for everyone: art museums, the public and cultural literacy”. In Daniel Sherman and Irit Rogoff (ed.), Museum Culture.