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O papel da mediação na aproximação à arte

Capítulo III: Perfis dos Públicos e Mediações Culturais

2. O papel da mediação na aproximação à arte

Como foi referido no capítulo I, o contacto precoce com diferentes manifestações culturais e artísticas influencia positivamente os moldes da recepção cultural. A competência artística parece revelar-se mais elevada nos sujeitos que foram iniciados mais cedo no mundo da arte, seja através de uma educação formal, como informal. O capítulo I debruçou-se na reflexão sobre as estratégias de alargamento dos públicos da cultura. Nesta concepção defende-se que as estratégias de intervenção cultural para o alargamento dos públicos têm que saber lidar com os vários níveis de recepção cultural.

As estratégias de alargamento de públicos têm sido uma preocupação crescente por parte de algumas instituições culturais, como os museus. Hoje em dia, encontramos nestes espaços, programas e serviços educativos, que proporcionam diversas experiências de aprendizagem. No entanto, como já foi referido, estes programas poderão não ter em atenção as várias dimensões que fazem parte da recepção cultural e, consequentemente, as formas desiguais de aceder à arte continuam a persistir.

Neste estudo, verifica-se que as galerias de arte entrevistadas referem a sua importância na difusão e divulgação da cultura e na educação dos públicos na cidade. Verificou-se que algumas escolas, por livre iniciativa, visitam estes espaços esporadicamente. Estas visitas processam-se de um modo nada programado. Não se averiguam nos espaços das galerias de arte programas e serviços educativos de forma a alargar e educar os visitantes. Os entrevistados alegam que estas acções não existem, porque não têm condições de o fazer, quando estão permanentemente preocupados em pagar as contas no final do mês. Os constrangimentos económicos constituem efectivamente a maior dificuldade, da qual emergem uma série de outros obstáculos. Dizem, portanto, que não parecem haver condições, e por parte de alguns falta de interesse, em albergar programas pedagógicos de forma a alargarem os seus públicos.

Também serão as políticas culturais a ter em conta esta questão do alargamento dos públicos da cultura numa cidade. Como foi referido no capítulo I, as políticas culturais deverão propiciar a segmentos populacionais vastos o contacto com as formas culturais mais exigentes, e não pensar na cultura unicamente numa perspectiva economicista.

Neste estudo, verifica-se que a Câmara Municipal do Porto tem um papel activo no apoio à divulgação das galerias de arte no evento das inaugurações em simultâneo. No entanto, este apoio não parece ser suficiente, pois verifica-se que nem todas as camadas da população têm acesso a estes espaços culturais. Esta será uma questão muito delicada, pois as galerias são espaços privados, com um carácter comercial. Um apoio considerável por parte das instituições públicas a serviços privados poderá ser bastante questionável. Embora, as galerias de arte da Rua conferem uma visibilidade à cidade muito forte.

As opiniões por parte das galerias de arte dividem-se sobre este assunto. Alguns afirmam que a Câmara Municipal do Porto deveria ter um papel fundamental no apoio das galerias de arte, outros consideram que não faz qualquer sentido, visto estes espaços serem de índole privada.

Neste sentido, foi perguntado às galerias a vontade de incluírem uma espécie de serviço educativo na Rua de Miguel Bombarda, ou mesmo nas galerias. As respostas, à excepção de duas, foram todas positivas. Embora, alertem para a falta de condições que detêm, e a importância de apoios institucionais neste sentido.

Verifica-se, nos resultados deste trabalho, que muitos serão aqueles que ainda se mantêm de fora do circuito das galerias de arte da Rua de Miguel Bombarda. Mesmo naqueles que se incluem neste circuito, nas visitas às galerias, poderá residir uma distância com as obras de arte e com os espaços culturais que as acolhem. Porque ter acesso à informação não significa necessariamente sinónimo de aprendizagem.

Verifica-se que a oferta cultural nos contextos em que habitamos é cada vez maior. No entanto, as desigualdades nas formas e no acesso às manifestações culturais continuam a persistir. A educação e a mediação têm, de facto, uma importância única na aproximação das obras de arte.

Que passos poderão ser tomados de forma a democratizar ainda mais as audiências destes espaços culturais e artísticos?

Acredita-se que os públicos da cultura pressupõem uma relação – uma mediação – entre um conjunto de receptores mais ou menos activos e o campo de uma cultura objectivada e legitimada.

Uma das formas de aproximar as populações neste contexto da Rua, será o desenvolvimento de acções, envolvendo escolas, visitas, programas e o estudo e investigação de públicos. Acções estas, mediadoras dos dois universos em questão, a recepção e a produção cultural.

A mediação cultural refere-se ao processo de comunicação e divulgação cultural, na formação, qualificação e atracção dos públicos da cultura. Defende-se uma mediação cultural que tenha em conta a realidade heterogénea dos consumidores da cultura.

Nas palavras de João Teixeira Lopes, “Mais do que mero interface ou zona de fronteira, falamos, afinal, de uma mediação dialéctica, capaz de transformar os campos que coloca em interacção, ao mesmo tempo que a si mesma se modifica.” (Lopes, 2000: 11)

Os programas culturais e educativos, como elementos mediadores, têm um papel fundamental, enquanto instrumentos para a criação de espaços democráticos e inclusivos, na construção e debate do saber. Os serviços e projectos educativos têm vindo a assumir o papel de interfaces de comunicação entre os visitantes e os lugares que propiciam a construção e debate do conhecimento.

Os programas e serviços educativos, como elementos de mediação e diálogo das comunidades, são importantes, mas não dissociáveis de outros elementos. Os estudos de investigação sobre os públicos da cultura e sobre as instituições culturais que os acolhem são essenciais neste processo. É importante o reconhecimento da sua utilidade na constituição de uma reflexão, de forma a delinear novos paradigmas de actuação. De facto, a reflexão e investigação sobre estes campos, constitui um importante ponto de partida para o desenvolvimento de novas fórmulas de relacionamento com os públicos.

Neste sentido, este trabalho poderá ser visto como um mediador, pois, poderá proporcionar matéria de conhecimento para que, a partir deste, se estabeleçam objectivos e acções mais efectivas e inclusivas, para um alargamento dos públicos da cultura na cidade.