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Capítulo II: Galerias e Públicos da Arte

1. Estratégias de pesquisa

Ao longo da pesquisa procurou-se integrar e articular dois vectores de análise: a dimensão da oferta cultural (as suas lógicas de produção e programação) e a dimensão da procura e da recepção cultural de um contexto específico.

Procurou-se conhecer em primeiro lugar as dinâmicas da Rua de Miguel Bombarda, para depois olhar mais de perto a realidade das galerias de arte, bem como o seu público e toda a vivência cultural.

No terreno adoptou-se uma análise “sócio-etnográfica” (Pinto, 2003) na conciliação de procedimentos observacionais, ditos “etnográficos”, e a realização de entrevistas. Deste modo, aplicaram-se múltiplas formas de abordagem do objecto de estudo. Aliaram-se técnicas de análise documental, observação directa, conversas informais e a aplicação de entrevistas semi-directivas.

Figura 1: Método de análise

A opção da conjugação de procedimentos metodológicos diversos tem que ver com a defesa de um ecletismo metodológico importante no desenvolvimento de qualquer pesquisa. Defende-se aqui uma abordagem múltipla que concilie vários métodos, de forma a integrar melhor o contexto particular em análise. Experienciar o contexto em análise no seu quotidiano, para além de permitir articular formas de sentir e pensar as suas práticas, os seus usuários, a contestação de identidades sociais e as imagens socio-espaciais, através de uma participação fenomenológica, também terá sido um confronto com a bagagem teórica adquirida ao longo deste trabalho.

Foram realizadas 8 entrevistas semi-directivas, correspondentes a 9 galerias de arte, aos responsáveis das galerias (directores) e também a alguns assistentes das galerias (ver apêndice 1), entrevistas estas, cujo guião se mostrou muito flexível.

Públicos Galeristas Método de Análise Entrevistas Semi-directivas Observação participante Conversas informais

A entrevista realizada é composta essencialmente por três partes:

1) As características gerais da galeria: pretendeu-se conhecer as informações relativas à data de inauguração da galeria; características do espaço da galeria; como as galerias se situam no binómio comercial / cultural; os critérios utilizados na escolha das exposições e dos artistas; o tipo de relação que a galeria estabelece com o artista; a realização de actividades extra exposições.

2) As características locais e institucionais da galeria: solicitaram-se informações relativas à relação que a galeria estabelece com outras galerias e com os espaços comerciais da Rua; o desenvolvimento da rede de galerias na Rua; o tipo de parcerias que possam existir com as organizações institucionais, os museus, as galerias nacionais e internacionais e as escolas; a opinião relativa ao papel da Câmara Municipal do Porto no apoio às galerias de arte da cidade.

3) As características dos públicos da galeria: pretendeu-se conhecer o perfil do coleccionador / comprador; quais os critérios utilizados por este na compra de uma obra de arte; o perfil do público habitual da galeria; a frequência do público à galeria; a participação no evento das inaugurações simultâneas; a frequência e tipo de público nessas ocasiões; o interesse em atrair todo o tipo de público à galeria; quais as estratégias usadas de forma a atrair o público à galeria; qual a relação que o público estabelece com a galeria e com as obras de arte expostas; o interesse em envolver um serviço educativo na Rua ou na galeria.

O objectivo final desta entrevista, para além de todas as outras informações pertinentes, foi o de conhecer quais os públicos que frequentam estes espaços. Desta forma, procurou-se analisar a visão da galeria de arte como um espaço importante na difusão da cultura e educação de públicos na cidade do Porto.

O critério de escolha das galerias de arte analisadas neste estudo passou pela tentativa de investigar todas as galerias de arte da Rua de Miguel Bombarda. No entanto, naturalmente nem todas as galerias de arte se demonstraram disponíveis para realizar a entrevista (algumas galerias encontravam-se em momentos de muito trabalho na participação em feiras internacionais e na organização de novas

exposições). Por esta razão, as entrevistas não se remetem a todas as galerias de arte existentes na Rua.

Foram igualmente realizadas 50 entrevistas semi-directivas aos públicos das galerias (ver apêndice 2). A entrevista direccionada aos públicos foi construída de um modo breve para que fosse mais fácil aceder às respostas dos transeuntes da Rua. As entrevistas foram realizadas na Rua de Miguel Bombarda, tanto no espaço público da Rua, como em algumas galerias de arte e em alguns estabelecimentos comerciais. Todas as entrevistas foram presenciais, sendo que, desta forma, foi possível realizar 50 entrevistas. Estas entrevistas foram realizadas no ano de 2009 em diferentes momentos, mas principalmente durante os fins-de-semana, altura em que se verificam mais visitantes na Rua.

A entrevista pretendeu essencialmente saber se o entrevistado costuma visitar as galerias de arte na Rua. Da mesma forma, tentou-se captar a frequência das visitas às galerias de arte da Rua. Também houve a preocupação de saber qual a razão principal pela qual os indivíduos visitam as galerias e qual a opinião relativa ao espaço e ambiente que as galerias da Rua oferecem. Por fim, perguntou-se a frequência em outros espaços culturais da cidade.

A entrevista também incluiu uma parte dedicada às características individuais, como idade, sexo, características profissionais e nível de instrução.

Estes últimos dados referidos foram importantes no sentido de traçar um perfil tipo dos públicos das galerias da Rua. No entanto, sempre com a atenção de que os públicos da cultura obedecem a uma lógica de heterogeneidade.

Fez-se ainda incursões etnográficas no quotidiano da Rua de Miguel Bombarda. Frequentou-se a Rua em diversos momentos durante 12 meses: a Rua no seu quotidiano semanal, a Rua aos fins de semana e a Rua nos seus momentos festivos, as inaugurações das galerias de arte e dos estabelecimentos comerciais.

Nestas incursões foi possível conversar informalmente com muitas pessoas, conversas estas, muito importantes para um conhecimento mais aprofundado da Rua e das vivências da mesma.

Será objectivo futuro realizar um trabalho que abranja todas as galerias do espaço em análise, bem como todas as galerias de arte do quarteirão da Miguel Bombarda. Também será objectivo alargar o número de entrevistas aos públicos, mas, para já, aqui fica uma amostra.

Apresentado em traços muito gerais o motor da pesquisa, elencamos em seguida alguns dos resultados alcançados, os quais não ambicionam ser conclusões estáticas e definitivas, mas antes pistas para reflexão sobre as modalidades de fruição cultural.