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C ONSTRUTO T EÓRICO -M ETODOLÓGICO PARA A A NÁLISE DE G ÊNERO

Tendo como foco de nosso trabalho não o gênero como objeto de ensino, mas vendo nele um instrumento mediador para o ensino de LE, elegemos as HIs, acreditando que estas podem contribuir significativamente no desenvolvimento das capacidades de linguagem (LOUSADA, 2002). Ou, nas palavras de Marcuschi (2002, p.29), “quando dominamos um gênero textual, dominamos a forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares”.

Por compartilharmos desta perspectiva, acreditamos também que os alunos precisam conhecer os gêneros textuais, a fim de que deles se apropriem e os utilizem como mediadores da linguagem; de igual modo, o professor deve dominar o instrumento que propõe a utilizar em sala de aula39.

Para tanto, passaremos à exposição da síntese do modelo de análise de texto proposto por Bronckart (2003), para dele nos servirmos na análise do gênero em questão neste estudo.

Análise dos contextos

Bronckart (2003) define como contexto de produção o conjunto dos parâmetros que pode influenciar a organização de um texto e acentua que os fatores primordiais a exercerem tal influência podem ser agrupados em dois conjuntos: o primeiro referindo-se ao mundo físico e o segundo ao mundo sócio-subjetivo.

No primeiro plano, ou seja, no mundo físico, o autor aponta para o fato de que todo texto é resultado de um comportamento verbal concreto, desenvolvido por um agente situado em um determinado tempo e espaço. O contexto físico pode ser definido por quatro parâmetros: o lugar de produção (o lugar físico em que o texto é produzido), o momento de produção (a extensão do tempo durante o qual o texto é produzido), o emissor (a pessoa que produz fisicamente o texto) e o receptor (as pessoas que podem perceber ou receber concretamente o texto).

O segundo plano de análise considera que a produção de todo texto situa-se no quadro das atividades de uma formação social (interação comunicativa) que implica o mundo social com suas regras, normas, etc, e o mundo subjetivo, ou seja, a imagem que o agente tem de si ao agir. O contexto sócio-subjetivo pode ser desmembrado em quatro parâmetros principais: o lugar social (formação social na qual o texto é consumido: escola, família, etc.), a posição social do emissor (o papel social que o emissor desempenha na interação em curso: papel de professor, pai, amigo, etc.), a posição social do receptor (papel de aluno, criança, filho, etc.) e o objetivo da interação (do ponto de vista do enunciador, o efeito a ser produzido no destinatário).

Considerando que tais representações constituem a situação de ação definida pelo agente, Cristovão (2002) salienta que as mesmas são identificadas pelo analista de forma hipotética, já que o acesso a essa situação não é diretamente acessível ao analista:

Busca-se formular hipóteses acerca dessas representações. Assim, essas hipóteses não retratam direta ou mecanicamente a relação entre a situação de linguagem e o texto. Contudo, o levantamento dessas representações é importante para revelar, mesmo que parcialmente, as decisões que o agente toma para a produção/leitura de um texto. Essas decisões dizem respeito à escolha do gênero mais adequado à situação [...] (CRISTOVÃO, 2002, p.59).

O folhado textual

O ISD concebe a organização de um texto como um folhado que é constituído por três camadas, as quais devem ser consideradas quando da análise textual: a Infraestrutura Geral, os Mecanismos de Textualização e os Mecanismos Enunciativos. O corpus é analisado a partir dos procedimentos descritos por Bronckart (2003) e tem como primeiro plano de análise:

a) A infraestrutura geral do texto. Objetiva proporcionar uma visão geral do mesmo e sua análise envolve:

* Identificação do plano geral do texto (ou plano textual global), a fim de se obter um resumo do mesmo;

* Identificação dos tipos de discurso predominantes, por meio do levantamento da ocorrência e da freqüência das unidades que indicam as relações de implicação ou autonomia do texto, tais como os dêiticos de pessoa, de espaço e de tempo, e as relações de conjunção ou disjunção, considerando os tempos verbais e os tipos de frase;

* Identificação dos tipos de seqüência predominantes e identificação da(s) fase(s) típica(s) da(s) seqüência(s). Para esse reconhecimento, Bronckart (2003) propõe que as seqüências tenham um estatuto discursivo e que são unidades estruturais relativamente autônomas que integram e organizam macro proposições as quais, por sua vez, combinam diversas proposições, podendo a organização linear de o texto ser concebida como o produto da combinação e da articulação de diferentes tipos de seqüências.

Já para um nível intermediário de análise, propõe-se:

b) A análise dos mecanismos de textualização. Consiste na identificação das unidades que asseguram a coerência global de um texto, nas quais se incluem os mecanismos de conexão, coesão nominal e coesão verbal.

Por fim, busca-se identificar no corpus a ser analisado:

c) Itens que operalizam os mecanismos enunciativos (vozes e modalizações).

a) A infraestrutura textual O Plano Textual Global

Conforme concebido por Bronckart (2003), refere-se à organização do conteúdo temático – o conjunto de informações apresentadas no texto - mostra-se visível no processo de leitura e pode mostra-ser codificado em um resumo possível da leitura do mesmo.

Considera-se que todo texto empírico é objeto de uma leitura inicial rápida a fim de se buscar informações que incidem sobre três conjuntos observáveis: 1) Observáveis de Ordem Semântica: O texto, incluindo seu contexto

imediato, principalmente a capa e a contracapa40, produzem um efeito global de significação para seu leitor, principalmente na identificação do tema a ser tratado; 2) Observáveis de ordem léxico-semântica: Uma leitura mais atenta mostra as escolhas feitas nos paradigmas lexicais disponíveis em língua; 3) Ordem Paralingüística: Nos textos escritos, a leitura inicial possibilita a identificação de unidades não-verbais – quadros, imagens, esquemas- denominadas por Bronckart (2003, p. 80) de unidades paratextuais. Além destas unidades, a leitura permite observar os procedimentos supratextuais de formatação da página (títulos, subtítulos, paragrafação) e de relevo (sublinhados, relevo, negrito).

O autor considera ainda que, para os textos orais, a leitura permite observar procedimentos supratextuais que parecem equivaler aos de formatação e ênfase dos textos escritos, como, por exemplo, silêncios e acentos prosódicos.

Tipos de discurso principal

Os tipos de discurso são idealizados pelo ISD como formas lingüísticas identificáveis nos textos e que traduzem a criação de mundos discursivos específicos, sendo esses tipos articulados entre si.

Ao falar de mundos Bronckart (2003, p.151) considera que a atividade de linguagem baseia-se na criação de “mundos virtuais”, isto é, mundos criados no momento da atividade de linguagem, denominados, segundo a proposta do ISD, mundos discursivos, enquanto que os mundos representados pelos agentes humanos são denominados mundo ordinário (mundo objetivo, social e subjetivo).

Dois conjuntos de operações se realizam na constituição dos mundos discursivos: o primeiro se refere à relação entre a organização do conteúdo

40 Neste estudo adotaremos o termo “quarta capa”, conforme denominado por Cristovão (2002, p.95) para o que é mais conhecido como contracapa de um livro e traz um resumo da obra com o objetivo de incentivá-la e produzir no leitor a motivação de ler a história.

temático com as coordenadas do mundo ordinário em que a ação de linguagem se desenvolve. O segundo está vinculado à relação entre o agente produtor e sua inscrição espaço-temporal no texto, bem como à relação com os parâmetros físicos da ação da linguagem, conforme descrito por Bronckart (2003). Caso tais unidades remetam a tais dados, temos aí uma relação de conjunção ao mundo ordinário (eixo do expor). Caso contrário, uma relação de disjunção ao mundo ordinário (eixo do narrar).

O autor considera ainda que há quatro tipos de discurso básicos:

interativo, teórico, relato interativo e narração. São caracterizados como segmentos de texto ou até mesmo um texto inteiro, que apresentam características próprias em diferentes níveis, sistematizados por Machado (prelo) da seguinte forma: a) no nível semântico-pragmático, b) morfossintático, c) psicológico, d) no nível da planificação e e) no nível do texto.

De acordo com a autora, no nível semântico-pragmático, os segmentos mostram uma determinada relação com o contexto físico de produção:

de implicação desse contexto ou de autonomia em relação a ele. De implicação, no caso dos tipos de discurso interativo e de relato interativo; de autonomia, no caso do discurso teórico e da narração. Ainda neste nível, eles exibem uma determinada forma de apresentação dos conteúdos em relação ao tempo-espaço da produção: de conjunção, no caso do discurso interativo dialogado e do discurso teórico, e de disjunção, no caso do relato interativo e da narração. No nível morfossintático, cada um dos segmentos apresenta um conjunto de unidades lingüísticas discriminativas que marcam qual é a relação estabelecida com o contexto e qual é a forma de apresentação dos conteúdos em relação ao tempo-espaço da produção.

No nível psicológico, eles são o resultado de operações discursivas de estabelecimento de relações entre o mundo discursivo e o mundo da interação, consideradas obrigatórias para a produção de qualquer enunciado.

No nível da planificação, os conteúdos dos diferentes tipos de discurso podem se apresentar organizados em seqüências textuais ou em scripts e planificações.

No nível do texto, os tipos de discurso podem ser definidos como segmentos constitutivos dos textos, mas de forma variável. Assim, um texto pode ser constituído por um único tipo de discurso, como um verbete de enciclopédia, normalmente constituído por um único segmento de discurso teórico; mas um só texto pode ser também constituído por vários tipos de discurso41, conforme explicitado a seguir.

Discursos encaixantes de discursos principais

Bronckart (2003) denomina discurso encaixante uma situação em que temos, por exemplo, segmentos de discurso direto, identificados no quadro de gêneros escritos, encaixados nos segmentos de relato interativo ou de narração.

Dentro desta perspectiva, o discurso direto, por exemplo, depende da construção de um mundo específico, sendo esse mundo relacionado não com as interações que ocorrem no mundo ordinário, mas sim, ao mundo posto em cena no discurso principal.

Machado (prelo) exemplifica da seguinte forma: um romance construído na forma mais tradicional pode apresentar o tipo de discurso narração como seu tipo principal, mas contendo também segmentos de outros tipos, como,

41 Não nos remeteremos em detalhes em todas as variantes, fronteiras e fusões dos tipos de discurso, por termos como objetivo de pesquisa apenas o uso do gênero textual HI.

por exemplo, o tipo interativo quando os personagens dialogam entre si, o relato interativo, se um personagem relata suas experiências passadas e, caso contenha reflexões generalizantes do autor ou de um personagem, tem-se o discurso teórico.

Antes de passarmos adiante, enfatizamos que o modelo de análise de texto aqui adotado não toma como sendo um determinado gênero composto por um único tipo de discurso. Fala-se em tipo de discursos dominantes. Portanto, ao analisarmos um determinado gênero textual, as unidades lingüísticas correspondentes são identificadas e verifica-se a predominância ou não de um determinado tipo de discurso que o compõem.

Esta pesquisa toma como instrumento de ensino/aprendizagem o gênero textual História Infantil que, conforme apontaremos na apresentação do resultado de nossas análises, pertence ao eixo do Narrar. Deste modo, daqui para frente, seremos mais detalhistas na explicitação dos aspectos teóricos relacionados ao Narrar, por serem mais relevantes para a realização de nosso trabalho.

Tipos de seqüência

Conforme relatamos, Bronckart (2003, p.217) considera que “os tipos de discurso constituem os elementos fundamentais da infraestrutura geral do texto”; daí a importância de se considerar os mundos discursivos a que se articulam e as configurações das unidades lingüísticas que os realizam em uma determinada língua. No entanto, para tal abordagem, a infraestrutura geral do texto também se caracteriza pela organização seqüencial ou linear do conteúdo temático.

De acordo com Bronckart (2003, p.97), o agente-produtor do texto dispõe de conhecimentos ou representações a respeito de um dado tema, reorganizados a cada produção verbal humana de maneira linear e expostos por

meio de planos, esquemas, seqüências, etc; e as formas de planificação e os esquemas são categorizados por estruturas específicas de cada gênero.

O autor define as seqüências como sendo unidades que, por sua vez, combinam diversas proposições, podendo a organização linear do texto ser concebida como produto da combinação e da articulação de diferentes tipos de seqüências:

Tal definição gira em torno de que as seqüências são unidades estruturais relativamente autônomas que integram e organizam macroposições, que, por sua vez, combinam diversas proposições, podendo a organização linear de o texto ser concebida como o produto da combinação e da articulação de diferentes tipos de seqüências (BRONCKART, 2003, p. 218).

As seqüências se materializam nos textos em cinco tipos básicos:

seqüência narrativa, descritiva, explicativa, dialogal e argumentativa. Contudo, estas podem aparecer combinadas em um texto, o que, de acordo com Bronckart (2003, p.219), “é da diversidade das seqüências e da diversidade de suas modalidades de articulação que decorre a heterogeneidade composicional da maioria dos textos”.

Importante salientar que a forma como estas são organizadas, tanto em um texto escrito quanto oral, é claramente motivada pelas representações que o agente produtor tem dos destinatários de seu texto e do efeito que neles deseja produzir. Ou seja, a organização das seqüências obedece a três critérios: as finalidades sociais do ensino, a fim de que se possam atender as necessidades para a expressão escrita e para expressão oral; as distinções tipológicas cristalizadas no ensino e as capacidades de linguagem que se pretende explorar. Ou seja, identificar o que está no texto e pode ser considerado objeto de ensino para um determinado grupo de alunos (destinatários).

. Seqüência narrativa

Segundo Bronckart (2003, p.219), “só se pode falar em seqüência narrativa quando essa organização é sustentada por um processo de intriga.” Tal processo consiste em selecionar e organizar os acontecimentos de modo a formar um todo, uma história ou uma ação completa com início, meio e fim. A situação coloca personagens em cena e, diante das tensões que vão ocorrendo, o leitor/ouvinte coloca em prática a capacidade interpretativa.

Considera-se como padrão para tal tipo de seqüência a identificação de cinco fases principais: situação inicial, complicação, fase de ações, de resolução e de situação final. Embora estas fases não devam necessariamente estar presentes na seqüência narrativa, esta ordem de sucessão é obrigatória. Podemos encontrar ainda outras duas fases: fase de avaliação e a fase de moral. Entretanto, “a posição destas últimas na seqüência é menos restrita, na medida em que dependem mais diretamente do posicionamento do narrador em relação à história contada”

(BRONCKART, 2003, p.221).

. Seqüência descritiva

Bronckart (2003) sistematiza um modelo de seqüência descritiva na qual se pode encontrar as seguintes fases: a fase de ancoragem, a fase de aspectualização e a fase de relacionamento que, tal como para a seqüência narrativa, não precisa conter todas as fases.

. Seqüência argumentativa

Consiste basicamente em considerar uma provável tese sobre um tema, a isto são adicionados novos dados, inicia-se um processo de inferência e uma conclusão ou uma nova tese.

Geralmente apresenta quatro fases: a fase de premissas (constatação de partida), apresentação de argumentos (elementos que direcionam

para uma possível conclusão), fase de apresentação dos contra-argumentos (elementos que apresentam restrições à orientação dada) e a fase de conclusão (interação dos efeitos dos argumentos e contra-argumentos).

. Seqüência explicativa

Após a constatação de um fenômeno, requer uma explicação das causas e/ou razões da afirmação inicial, o que reformulará a constatação inicial.

Formada por quatro fases: fase de constatação inicial (introdução de um fenômeno incontestável); problematização (questionamento relacionado uma aparente contradição), fase de resolução (introdução de elementos que respondam aos questionamentos) e fase de conclusão/avaliação (reformula e completa a constatação inicial).

. Seqüência dialogal

Apresenta a particularidade de concretizar-se apenas nos segmentos de discursos interativos dialogados. Considera-se que uma seqüência dialogal é composta por três fases possíveis (abertura, transacional, encerramento), dependendo do grau de aceitação ou em conformidade às regras sócio-comunicativas. Cada uma das fases gerais pode conter unidades dialogais ou trocas (por sua vez, compostas por intervenções ou mudanças de turnos de fala).

Ao falarmos em seqüências dialogais, tomamos de Bronckart (2003, p.236) as razões que levam o agente produtor a inseri-las em uma seqüência narrativa: estabelecer uma interação social figurada em um mundo posto em cena por um tipo de discurso principal.

Interessa-nos neste estudo o que pontua Cristovão (2002, p.67): “o tipo de seqüência usada em um texto está diretamente relacionado à sua função em

um determinado gênero”. Daí considerarmos a significância da análise de gêneros textuais para quaisquer objetivos, conforme apresentamos no item 2.1..

b) Mecanismos de textualização

Os mecanismos de textualização, conforme sistematizado por Bronckart (2003, p.259), estão articulados à progressão do conteúdo temático, organizam os elementos constitutivos de um determinado conteúdo, explicitando ou marcando as relações de continuidade, de ruptura ou de contraste, contribuindo para o estabelecimento da coerência temática do texto.

Estes mecanismos, que funcionam no nível intermediário de composição do texto, consistem em criar séries isotópicas que contribuirão para o estabelecimento da coerência temática e podem ser agrupados, conforme proposto pelo mesmo autor, em três grandes conjuntos: a conexão, coesão nominal e a coesão verbal.

. Mecanismos de Conexão

Os Mecanismos de Conexão contribuem para marcar as grandes articulações da progressão temática e são realizados pelos organizadores textuais.

Podem assinalar as transições entre os tipos de discurso constitutivos de um texto, entre as fases de uma seqüência ou de outra forma de planificação.

Podem ainda assinalar articulações mais locais entre frases42. Se marcarem a articulação entre diferentes tipos de discurso, sua função é a de segmentação. Já se estes marcarem a articulação entre fases de uma seqüência (narrativa, argumentativa, descritiva, explicativa, injuntiva), sua função é denominada

42 Nesta perspectiva, Bronckart (2003, p.267) observa que os organizadores com valor temporal aparecem, de maneira privilegiada, nos textos que se encontram na ordem do Narrar, e os lógicos na ordem do Expor. Por outro lado, salienta que muitos organizadores podem ter seu valor transformado, de acordo com a sua inserção

demarcação ou balizamento. E se, ainda, marcarem a integração de partes sintáticas num nível inferior, sua função é de empacotamento (no caso de coordenação, terá função de empacotamento por ligação; no caso de subordinação, será empacotamento por encaixamento).

A marcação da conexão é realizada em quatro categorias principais - dependendo do cotexto, podem indicar outras formas de conexão: 1) Advérbios ou locuções adverbiais com caráter transfrástico, usados na função de segmentação ou balizamento, como, por exemplo,43 however, actually, finally; 2) Sintagmas preposicionais ou nominais com função de adjunto adverbial, encontrados comumente com a função de segmentação ou balizamento. Alguns exemplos são:

after three days, the next morning ou at two o’clock; 3) conjunções coordenativas com função de empacotamento e/ou ligação, tais como: and, nor, or, but; e 4) conjunções subordinativas, com função de encaixamento, nas quais se incluem, por exemplo, before, since, because.

Neste sentido, Bronckart (2003) observa que as marcas de conexão, embora tenham diferenças de estatuto sintático, ou seja, pertençam a diferentes classes gramaticais, podem ser agrupadas com base na função de conexão que assumem no nível textual, sendo também denominadas organizadores textuais.

. Mecanismos de Coesão Nominal

Estes mecanismos explicitam as relações de dependência existentes entre elementos que compartilham propriedades referenciais (em que existe uma relação de co-referência). São sintagmas nominais (o núcleo é um nome), ou sintagmas pronominais organizados em série, constituindo as cadeias

43 Os exemplos foram traduzidos por se tratar de uma pesquisa de ensino de LI.

anafóricas. A primeira dessas cadeias terá uma função de introdução da cadeia anafórica, enquanto que as demais terão função de retomada anafórica.

Geralmente, a função de introdução é realizada por um sintagma nominal indefinido e a de retomada ocorre por diversas anáforas pronominais assim como por sintagmas nominais cujos determinantes são definidos, definidos marcados ou possessivos.

Bronckart (2003) ressalta que o antecedente de uma cadeia anafórica não é necessariamente uma forma nominal, podendo ter como antecedente a totalidade de uma oração. Assim como o antecedente pode não estar explicitamente verbalizado no cotexto, sendo uma informação que não está disponível a não ser na memória discursiva do agente, mesmo que possa ser inferida.

Da mesma forma como para os mecanismos de conexão, o autor assinala que a correspondência entre funções e subcategorias pode ocorrer de formas variadas: uma unidade-fonte introduzida na forma de um nome próprio, de um sintagma nominal definido, de um pronome; os sintagmas nominais indefinidos podem igualmente assumir uma função de retomada.

Importante frisar que a opção por determinadas unidades anafóricas e de conexão pode estar relacionada ao tipo de discurso no qual estão inseridas.

Assim, como geralmente os tipos da ordem do Narrar colocam em cena séries de personagens, as anáforas pronominais de terceira pessoa são mais comuns.

. Mecanismos de Coesão Verbal

Conforme sistematizado pelo mesmo pesquisador belga, os mecanismos de coesão verbal contribuem para a explicitação das relações de continuidade, descontinuidade e/ou de oposição existentes entre os elementos de

significação expressos pelos sintagmas verbais. Aqui, incluímos as escolhas dos verbos auxiliares e flexões verbais que constituem os tempos verbais, o que implica as propriedades expressas pelos sintagmas verbais, como a noção de aspecto verbal - que expressa os tipos de processo e os graus de realização do processo; os processos se desenvolvem em certa duração formal ou psicológica, chamada de eixo de referência temporal de um tipo de discurso.

Fundamentalmente, a teoria de análise bronckartiana postula a necessidade de que a análise dos mecanismos de coesão verbal deva considerar as três categorias de parâmetros seguintes: 1) Os processos efetivamente verbalizados, com suas diversas propriedades aspectuais e sua propriedade eventual de situações temporais objetivas; 2) Os eixos de referência, quer estes se tratem do eixo global associado a um tipo de discurso, quer se tratem de eixos mais locais; e 3) A duração psicológica associada ao ato de produção .

Outro aspecto fundamental considerado é o valor temporal expresso pelos verbos: relações de simultaneidade entre dois momentos podem ser marcadas pelas formas do presente; de anterioridade do momento do processo em relação ao momento de produção pelas formas do passado; e de posterioridade do processo também em relação ao momento de produção pelas formas do futuro (BRONCKART, 2003, p.275).

Uma das funções da coesão verbal, apontada por este pesquisador, é a de organizador da atividade discursiva, principalmente, nos discursos da ordem do Narrar. Além disso, os verbos assumem claramente nesses discursos, o que o autor chama de função de contraste, ao marcarem a relação de interdependência com as seqüências narrativas.

c) Os Mecanismos Enunciativos

Bronckart (2003) afirma que a produção de linguagem concretiza-se em um texto empírico que, geralmente, combina vários tipos de discurso os quais, por sua vez, revelam a construção de mundos discursivos específicos, regidos ou pelo narrador (para os da ordem do Narrar) ou pelo expositor (para os tipos da ordem do Expor). Os Mecanismos Enunciativos contribuem para o estabelecimento da coerência pragmática do texto, explicitando as diversas avaliações (julgamentos e opiniões) e as próprias fontes de tais avaliações. Ou seja, instâncias enunciativas que respondem por tais avaliações.

Assim, o autor de um determinado texto transfere às instâncias enunciativas a responsabilidade pelo que é enunciado. Neste contexto, o narrador é tomado como aquele que gerencia os mundos discursivos da ordem do NARRAR e o expositor da ordem do EXPOR.

O pesquisador chama a atenção para o fato de que, todo texto, seja ele oral ou escrito, advém do ato de produção humana, em estreita interação com o acionamento de um conjunto de representações materializadas em forma de textos.

Por isso, analisaremos o que a teoria de análise de textos utilizada considera como sendo as vozes enunciativas que compõe tal unidade comunicativa de nível superior44.

. O Gerenciamento das Vozes

As vozes, na visão de Bronckart (2003, p.326), podem ser definidas como “as entidades que assumem a responsabilidade do que é enunciado”. Nesta