A 15 de novembro celebra-se o septuagésimo aniversário de incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas. O seu médium, Zélio de Moraes, contava, 17 anos. Pertence a uma família católica de tradição, composta quase exclusivamente de militares e sacerdotes. O jovem médium surpreendeu a todos, com a manifestação espontânea de uma entidade que, dando o nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas – porque não haveria caminhos fechados para sua trajetória – anunciou a sua missão de estabelecer um culto, no qual os Espíritos, que se apresentavam como de índios e pretos escravos, pudessem cumprir a missão que o astral lhes determinara: purificar o culto, originário no Oriente, mas trazido ao Brasil pelos escravos, que se deturpara nas ultimas décadas do século passado, tornando-se instrumento de interesses pessoais.
Aproveitando a magia milenar dos velhos africanos, homens interesseiros usavam esse poder oculto apenas em detrimento de terceiros, semeando malefícios e obsessões e usufruindo o lucro financeiro tanto para causar mal como para libertar as suas vítimas.
UMBANDA – palavra de origem sânscrita, segundo os estudiosos, conhecida entre nós do vocabulário africano, mas que não caracteriza culto religioso – foi a denominação que a entidade deu a esse movimento cristão, que tinha por base a mensagem do Cristo e se difundiu extraordinariamente, transformando-se na verdadeira Religião Nacional, originária, com a nossa raça, do branco, do negro e do índio.
A fundação dos sete templos que deviam formar o alicerce desta religião foi concretizada ao termo de mais de 20 anos de trabalho construtivo, ininterrupto. Provas extraordinárias de um poder superior, milhares de curas de enfermos que a medicina terrena desenganara, esclarecimentos doutrinários em aulas semanais na residência do médium, em Neves, Niterói, através das quais a entidade preparava moral e espiritualmente os seus auxiliares, foram os pontos principais para efetuar a primeira parte da missão do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Desses sete templos, que nasceram na casa por ele fundado em 16 de novembro de 1908 – a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade – (a denominação espírita era devida ao fato de não ser a Umbanda reconhecida como culto religioso, não se permitindo legalizar sociedades com esse nome) – centenas de outras surgiram, visando a disseminação da doutrina de amor e fraternidade que, embora muito conhecida através do Evangelho, raramente era praticada.
Nesse crescimento religioso, que a partir de 1930 tomou vulto extraordinário, nem todos os dirigentes souberam manter a função de missionários da espiritualidade.
A vaidade, a ignorância, as tentações que a “vil moeda”, como dizia o Caboclo, exerce sobre o homem, são as principais responsáveis pelo grande número de Centros, Tendas ou Cabanas que usam o nome de Umbanda pela vibratória intensa do termo – sem, contudo, seguirem as normas estabelecidas pela entidade, desvirtuando a verdadeira codificação elaborada em longos meses de estudos e trabalho prático.
Nem todos souberam manter o “slogan”: “Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade”. E então, o modesto uniforme branco de algodão deu lugar, nalgumas casas que se diziam umbandistas, a vestimentas coloridas, luxuosas, onde a renda e o lamê de alto custo deslumbram o assistente, dando-lhe uma impressão de luxo e estabelecendo, indevidamente, a diferença de situação econômica entre os membros de uma comunidade religiosa.
O ritmo seguro dos cânticos teve o complemento dos instrumentos de percussão, atraindo o Guia não mais pela concentração da mente, mas, principalmente, pelo ritmo de música nativa.
A presença dos Caboclos, nos Terreiros, deixou de objetivar exclusivamente a prática da caridade, para constituir uma reunião festiva, na qual os médiuns, incorporados ou não, dançam – não a dança sagrada que constituía parte dos cultos da antiguidade, mas a dança profana, sem significação nenhuma de religiosidade. E, com o correr dos tempos, o conceito “daí de graça o que de graça recebestes”, foi esquecido naqueles locais, sendo substituído pelos cartazes que estipulam preço para “consultas” de Pretos-Velhos, de Exu e das “Ciganas”.
A magia que o Caboclo das Sete encruzilhadas e os seus auxiliares praticavam, incorporados em médiuns cônscios de suas responsabilidades, para curar, retirar obsessores, encaminhar os desviados da trilha do amor fraterno e da caridade, deu lugar à magia terra-a-terra, regada de sangue e motivada pela ambição de maior lucro financeiro.
UMBANDA cresceu e difundiu-se. Milhares de Templos cumprem sua missão de caridade e de esclarecimento. Centenas de casas que, sob o nome de Centros Espíritas ou Templos de Umbanda, nada mais são do que locais de comércio ilegal da mediunidade, aos quais, por vezes, falta até mesmo a mediunidade mais elementar; desvirtuaram os objetivos elevados da doutrina, obrigando-nos a dizer que nem tudo o que traz o nome de Umbanda, é realmente, Umbanda.
Neste mês de novembro, quando celebramos 66 anos da primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, quando prestamos nossa homenagem, com respeito e gratidão, a Zélio de Moraes, que até os últimos dias de sua vida, com 84 anos, dedicando as horas, quase todas, do seu dia ao cumprimento da missão que lhe foi delegada – julgamos oportuno lembrar a necessidade de congregar todos os templos umbandistas que seguem, nos conceitos e na prática, o Evangelho de Cristo, a doutrina do Caboclo das Sete Encruzilhadas, para que a Umbanda continue crescendo e se difundindo cada vez mais, sem permitir que sejam deturpados os seus propósitos.
Existem, é justo dizer, numerosos templos que, embora adotando vestimentas coloridas, atabaques e rituais complexos, dirigem os seus trabalhos apenas para o bem, seguindo os conceitos evangélicos, objetivando a melhora íntima dos seus componentes.
Isto nos leva a sugerir o retorno à antiga denominação de Umbanda, “Linha Branca”, para as Tendas que seguem o ritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas, determinando como “Linha de Nação” os que se enquadram na descrição acima.
Feita, assim, a distinção apenas dos rituais, permanecendo os conceitos do bem, do amor e da fraternidade, seriam mais facilmente afastados da comunidade umbandista os falsos sacerdotes que utilizam o sagrado nome da Umbanda em benefício de suas aspirações pessoais de vaidade e de enriquecimento ilícito.
A TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade), como descendente de um dos sete Templos fundados, nas primeiras décadas deste século, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, conserva o ritual preconizado pela entidade: uniforme branco, sem adornos, sem os vistosos penachos que nada significam, pois, na realidade, a denominação Caboclo caracteriza apenas uma classe no plano astral – sem atabaques, sem palmas ritmadas, sem sacrifícios de sangue, sem admitir preço para o atendimento espiritual, pois os nossos médiuns não aceitam, nem esperam, retribuição material pelos benefícios prestados, através de sua mediunidade, aos irmãos que vêm a esta Casa em busca de uma palavra de conforto, de um lenitivo para as dificuldades da vida terrena ou de um simples esclarecimento doutrinário.