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Caboclo das Sete Encruzilhadas – 70 anos de incorporação em seu médium: Zélio de Moraes

No documento Origem Umbanda (páginas 118-122)

A 15 de novembro celebra-se o septuagésimo aniversário de incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas. O seu médium, Zélio de Moraes, contava, 17 anos. Pertence a uma família católica de tradição, composta quase exclusivamente de militares e sacerdotes. O jovem médium surpreendeu a todos, com a manifestação espontânea de uma entidade que, dando o nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas – porque não haveria caminhos fechados para sua trajetória – anunciou a sua missão de estabelecer um culto, no qual os Espíritos, que se apresentavam como de índios e pretos escravos, pudessem cumprir a missão que o astral lhes determinara: purificar o culto, originário no Oriente, mas trazido ao Brasil pelos escravos, que se deturpara nas ultimas décadas do século passado, tornando-se instrumento de interesses pessoais.

Aproveitando a magia milenar dos velhos africanos, homens interesseiros usavam esse poder oculto apenas em detrimento de terceiros, semeando malefícios e obsessões e usufruindo o lucro financeiro tanto para causar mal como para libertar as suas vítimas.

UMBANDA – palavra de origem sânscrita, segundo os estudiosos, conhecida entre nós do vocabulário africano, mas que não caracteriza culto religioso – foi a denominação que a entidade deu a esse movimento cristão, que tinha por base a mensagem do Cristo e se difundiu extraordinariamente, transformando-se na verdadeira Religião Nacional, originária, com a nossa raça, do branco, do negro e do índio.

A fundação dos sete templos que deviam formar o alicerce desta religião foi concretizada ao termo de mais de 20 anos de trabalho construtivo, ininterrupto. Provas extraordinárias de um poder superior, milhares de curas de enfermos que a medicina terrena desenganara, esclarecimentos doutrinários em aulas semanais na residência do médium, em Neves, Niterói, através das quais a entidade preparava moral e espiritualmente os seus auxiliares, foram os pontos principais para efetuar a primeira parte da missão do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Desses sete templos, que nasceram na casa por ele fundado em 16 de novembro de 1908 – a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade – (a denominação espírita era devida ao fato de não ser a Umbanda reconhecida como culto religioso, não se permitindo legalizar sociedades com esse nome) – centenas de outras surgiram, visando a disseminação da doutrina de amor e fraternidade que, embora muito conhecida através do Evangelho, raramente era praticada.

Nesse crescimento religioso, que a partir de 1930 tomou vulto extraordinário, nem todos os dirigentes souberam manter a função de missionários da espiritualidade.

A vaidade, a ignorância, as tentações que a “vil moeda”, como dizia o Caboclo, exerce sobre o homem, são as principais responsáveis pelo grande número de Centros, Tendas ou Cabanas que usam o nome de Umbanda pela vibratória intensa do termo – sem, contudo, seguirem as normas estabelecidas pela entidade, desvirtuando a verdadeira codificação elaborada em longos meses de estudos e trabalho prático.

Nem todos souberam manter o “slogan”: “Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade”. E então, o modesto uniforme branco de algodão deu lugar, nalgumas casas que se diziam umbandistas, a vestimentas coloridas, luxuosas, onde a renda e o lamê de alto custo deslumbram o assistente, dando-lhe uma impressão de luxo e estabelecendo, indevidamente, a diferença de situação econômica entre os membros de uma comunidade religiosa.

O ritmo seguro dos cânticos teve o complemento dos instrumentos de percussão, atraindo o Guia não mais pela concentração da mente, mas, principalmente, pelo ritmo de música nativa.

A presença dos Caboclos, nos Terreiros, deixou de objetivar exclusivamente a prática da caridade, para constituir uma reunião festiva, na qual os médiuns, incorporados ou não, dançam – não a dança sagrada que constituía parte dos cultos da antiguidade, mas a dança profana, sem significação nenhuma de religiosidade. E, com o correr dos tempos, o conceito “daí de graça o que de graça recebestes”, foi esquecido naqueles locais, sendo substituído pelos cartazes que estipulam preço para “consultas” de Pretos-Velhos, de Exu e das “Ciganas”.

A magia que o Caboclo das Sete encruzilhadas e os seus auxiliares praticavam, incorporados em médiuns cônscios de suas responsabilidades, para curar, retirar obsessores, encaminhar os desviados da trilha do amor fraterno e da caridade, deu lugar à magia terra-a-terra, regada de sangue e motivada pela ambição de maior lucro financeiro.

UMBANDA cresceu e difundiu-se. Milhares de Templos cumprem sua missão de caridade e de esclarecimento. Centenas de casas que, sob o nome de Centros Espíritas ou Templos de Umbanda, nada mais são do que locais de comércio ilegal da mediunidade, aos quais, por vezes, falta até mesmo a mediunidade mais elementar; desvirtuaram os objetivos elevados da doutrina, obrigando-nos a dizer que nem tudo o que traz o nome de Umbanda, é realmente, Umbanda.

Neste mês de novembro, quando celebramos 66 anos da primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, quando prestamos nossa homenagem, com respeito e gratidão, a Zélio de Moraes, que até os últimos dias de sua vida, com 84 anos, dedicando as horas, quase todas, do seu dia ao cumprimento da missão que lhe foi delegada – julgamos oportuno lembrar a necessidade de congregar todos os templos umbandistas que seguem, nos conceitos e na prática, o Evangelho de Cristo, a doutrina do Caboclo das Sete Encruzilhadas, para que a Umbanda continue crescendo e se difundindo cada vez mais, sem permitir que sejam deturpados os seus propósitos.

Existem, é justo dizer, numerosos templos que, embora adotando vestimentas coloridas, atabaques e rituais complexos, dirigem os seus trabalhos apenas para o bem, seguindo os conceitos evangélicos, objetivando a melhora íntima dos seus componentes.

Isto nos leva a sugerir o retorno à antiga denominação de Umbanda, “Linha Branca”, para as Tendas que seguem o ritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas, determinando como “Linha de Nação” os que se enquadram na descrição acima.

Feita, assim, a distinção apenas dos rituais, permanecendo os conceitos do bem, do amor e da fraternidade, seriam mais facilmente afastados da comunidade umbandista os falsos sacerdotes que utilizam o sagrado nome da Umbanda em benefício de suas aspirações pessoais de vaidade e de enriquecimento ilícito.

A TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade), como descendente de um dos sete Templos fundados, nas primeiras décadas deste século, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, conserva o ritual preconizado pela entidade: uniforme branco, sem adornos, sem os vistosos penachos que nada significam, pois, na realidade, a denominação Caboclo caracteriza apenas uma classe no plano astral – sem atabaques, sem palmas ritmadas, sem sacrifícios de sangue, sem admitir preço para o atendimento espiritual, pois os nossos médiuns não aceitam, nem esperam, retribuição material pelos benefícios prestados, através de sua mediunidade, aos irmãos que vêm a esta Casa em busca de uma palavra de conforto, de um lenitivo para as dificuldades da vida terrena ou de um simples esclarecimento doutrinário.

“Os conceitos emitidos através da mediunidade de Zélio de Moraes determinaram

uma Linha de Trabalho que será, mais hoje, mais amanhã, aquela que definirá os

rumos verdadeiros da Umbanda”.

(Floriano Manoel da Fonseca, Presidente da União Espiritista do Brasil, em época de Zélio de Moraes).

E ASSIM NASCEU O PRIMEIRO TERREIRO DE UMBANDA – LILIA

No documento Origem Umbanda (páginas 118-122)

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