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ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA PIEDADE

No documento Origem Umbanda (páginas 67-70)

Trabalho de Desobsessão (Descarrego) na Mesa de Trabalho da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade – 1973 (arquivo de Diamantino F. Trindade)

No ano de 1971, um dia após a fundamentação da Umbanda completar 63 anos, reuniram-se, na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, médiuns e assistidos para ouvir a palestra proferida por Zélio de Moraes, e pelo Senhor Caboclo das Sete Encruzilhadas. Eis a palestra:

“Chegou, chegou, chegou com Deus,Chegou, chegou, o Caboclo das Sete Encruzilhadas”.

Ao meu lado está o Caboclo das Sete Encruzilhadas, para dizer a vocês que esta Umbanda, tão querida de todos nós, fez ontem 63 anos. Na Federação Espírita do Estado do Rio, presidida por José de Souza, conhecido por Zeca, rodeada por gente velha, homens de cabelos grisalhos, um enviado de Santo Agostinho me chamou para sentar à sua cabeceira. Havia uma ordem; ele fora jesuíta até aquele momento, chamava-se Gabriel Malagrida, e, naquele instante iria anunciar a Lei de Umbanda, onde Negros e Caboclos pudessem se manifestar, porque ele não estava de acordo com a Federação, que não recebia Negros, nem Caboclos. Pois, se o que existia no Brasil eram Caboclos, eram nativos, se quem veio explorar o Brasil trouxe para trabalhar e engrandecer esse país, os negros da costa da África; como uma Federação Espírita não recebia Caboclos e Negros? Então disse o Espírito: “Amanhã, na casa de meu aparelho, na Rua Floriano Peixoto, número 30, será

inaugurada uma Tenda Espírita com o nome de Nossa Senhora da Piedade, que se chamará Tenda de Umbanda, onde o Negro e o Caboclo possam trabalhar”. Houve balbúrdia, embora eles reconhecessem a

minha mediunidade; mas eu era muito moço, havia completado 17 anos e por doença havia sido levado à Federação por que os médicos não me davam jeito.

Esse Espírito, que nós chamamos de Chefe, Caboclo das Sete Encruzilhadas, se manifestou na Federação, chamando aqueles senhores, todos de cabelos grisalhos, para assistir à primeira Sessão de Umbanda em minha casa. E o presidente perguntou: “E o meu irmão acredita que irá ter alguém lá amanhã? A resposta do Caboclo das Sete Encruzilhadas: “colocarei no cume de cada montanha que circunda Neves, uma trombeta

tocando, anunciando a existência de uma Tenda Espírita onde o Negro e o Caboclo possam trabalhar”. Isso

aconteceu no dia 15 de novembro de 1908. No dia 16 de novembro, a nossa casa ficou cheia, e posso dizer aos meus irmãos: só o fiz levado por esse Espírito que é o nosso Guia, porque eu não queria aceitar, estava sem saber, achando uma coisa extraordinária.

Eu iria assumir a responsabilidade de ter uma Tenda Espírita, de receber um Guia para fazer com que os doutores fossem lá buscar a cura para seus entes queridos.

(nota do autor: Agora, incorporado, o Caboclo das Sete Encruzilhadas continua):

“Meus irmãos, tudo isso se deu. O meu anunciar da Tenda, foi tomar o meu aparelho e começar a curar aqueles que estavam lá, fosse por isso, ou fosse por aquilo. Mas Deus, que é sumamente misericordioso, levou um cego e outras pessoas, como também paralíticos, na Tenda da Piedade, na minha frente. E eu disse: caminhem, e quando chegarem perto de mim estavam curados. Passaram-se os anos, e tudo aquilo que eu disse, apelando para quem está presente e que há muitos anos me acompanha, falando, seguindo e trazendo exemplos de Jesus quando esteve na Terra, que foram ao seu encalço pedir harmonia para sua casa, a resposta foi esta: “vocês fechem a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; pensem em Deus, que a paz entrará suas casas”. Tomaram as minhas palavras como ensinamento, e a Tenda começou a seguir o seu ritmo como eu desejava. Na década de 1920, com o fim da guerra, eu anunciava que as camadas negras baixariam ao Planeta Terra, e que em 1968, 1969, esses Espíritos já estariam encarnados em outros portos e viriam trazer a perturbação a este Planeta. A mulher perderia a honra e o homem o caráter.

Entretanto, eu sentia que os tempos se aproximavam e que os bispos seriam os primeiros a não querer ouvir as ordens emanadas do Vaticano. Atualmente, nós sabemos o que está se passando pelo mundo inteiro. Já não se respeita a palavra do Papa, infelizmente. Porque a religião, seja ela qual for, desde que tenha por base acreditar em Deus, acredito que seja uma religião boa. Desejar ao seu próximo aquilo que deseja pra si, cumprir os mandamentos da Lei de Deus, é ser perfeito, e, em qualquer religião, mas principalmente na religião Espírita, para que o médium seja um instrumento que possa ser tocado por qualquer Espírito que possa vir trabalhar.

Por isso meus irmãos, criei sete Tendas na capital da República, no Distrito Federal. A primeira foi criada e entregue à nossa irmã Gabriela. Mais tarde, dois ou três anos depois, passei para o José Meirelles, que era um deputado federal que havia ido à Tenda Nossa Senhora da Piedade em busca da cura de sua filha.

E a resposta do velho Pai Antonio: “vá à sua casa; no último canteiro, vai mexer a terra e achar umas raízes. Vai cozinhar as raízes, dar à sua filha e ela estará curada”. Eram batatas, porque naquela época ainda não haviam florido e ainda estavam embaixo da terra, cheia de raízes. Foi um esteio, foi um elo, um braço direito para me ajudar e fazer com que essa Umbanda chegasse ao ponto em que está chegando.

Criei a Tenda de Nossa Senhora da Guia, de Oxossi, criei a Tenda de Oxalá, a Tenda São Jorge, a Tenda de Xangô, a Tenda de Santa Bárbara... Finquei sete Tendas.

Depois de funcionarem, formadas essas Tendas, vamos criar a Federação de Umbanda no Brasil. Chamei Hidelfonso Monteiro, Maurício Marcos de Lisboa, major Alfredo Ramalho, hoje general, enfim, juntei cinco pessoas para fazermos a Federação de Umbanda no Brasil.

Mais tarde, a Tenda da Piedade continuou a trabalhar, contando com a assistência deste aparelho por quem falo; continuou a produzir, a curar, ajudando a uma casa de saúde, pois os médicos nos procuravam, iam à casa do meu aparelho para saber quais os loucos que tinham cura, dando os nomes e apontando. E aqueles que eram atuados por Espíritos, nós afastávamos esses Espíritos e a loucura passava,

Mais tarde, veio então a formação de um jornal, para a divulgação da nossa Umbanda, e para isso contamos com o secretário da Tenda, Luis Marinho da Cunha, com Leal de Souza e outros que eram fervorosamente espíritas, pelas coisas que sentiam e pelas coisas que recebiam pelas graças de Deus.

Meus irmãos, a Umbanda continua. Nasceu em 1908 na Federação Espírita de Niterói. Hoje a Umbanda está em todos os Estados; médiuns saíram daqui porque eu não pude levar meu aparelho até lá, mas levei-o ao Estado de São Paulo, onde criei mais de vinte Tendas, em Minas, no Espírito Santo... Porque curas foram realizadas e foi necessário criar Tendas Espíritas da nossa Umbanda querida nesses Estados.

A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.

O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacarem as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de Terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de Terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.

Umbanda é humildade, amor e caridade – esta é a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, que rodeiam diversos Espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão.

Meus irmãos sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos Espíritos superiores que venham a baixar entre vós.

É preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.

Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta Casa.

Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim, o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este Espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade.

Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou a Terra, sirva de exemplos, iluminando os vossos Espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas. Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares.

Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.

Eu, meus irmãos, como o menor Espírito que baixou a Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste Templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.

Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas”.

TRANSCRIÇÃO DE TRECHOS DA FITA CASSETE Nº 50, GRAVADA POR

No documento Origem Umbanda (páginas 67-70)

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