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DOS ASSISTENTES

No documento Origem Umbanda (páginas 193-197)

Art. 16° - A entrada na Tenda só é vedada: a) às pessoas alcoolizadas ou embriagadas: b) às pessoas portadoras de armas ou animais;

c) às pessoas manifestamente mal intencionadas ou a desordeiros conhecidos.

Sem querer mexer com ninguém, mas, fazendo uma observação em vista de certas permissividades hoje existentes, será que alguém diria que a não permissão de entrada, nesses casos, seria falta de caridade?

§ 1° - São deveres dos assistentes:

a) Munir-se, logo após à sua chegada, do cartão numerado para a respectiva consulta;

b) Procurar acomodação na parte reservada a assistência, onde deverá se conservar até a hora de sair, com o respeito e dignidade devidos a um Templo Religioso;

c) Acatar as ordens gerais da Tenda e as que lhes forem transmitidas pelos cambonos;

d) Manter-se em elevação, se souber, o curimba (ponto cantado que estiver sendo puxado), para possibilitar uma perfeita e harmônica corrente fluídica, desde o início do defumador até o encerramento da sessão;

e) Atender prontamente, sob pena de perder a vez, ao chamado do cambono para a consulta.

§ 2° - É vedado terminantemente aos assistentes, consultarem a mais de um Guia na mesma sessão.

Ops! Já existia isso naquela época. Já existiam os “corre giras” e os “corre guias”.

§ 3° - O assistente que tiver necessidade de qualquer natureza deverá dirigir-se ao cambono mais próximo, de preferência de seu sexo e expor o que deseja, para que este providencie como se fizer necessário.

§ 4° - Na ocasião da abertura da porta às 21:10 horas para saída das pessoas atendidas e retardatários, deverá ser observado o mais completo silêncio.

Respeito aos médiuns, entidades e à egrégora que deve ser mantida sem desvios de pensamento ou comportamento.

CAPITULO V

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 17 - Por princípio doutrinário e em se tratando de reuniões de caridade puramente cristã, as pessoas que vierem à Tenda, devem se abster de pensamentos e propósitos que contrariem as virtudes exemplificadas por Jesus.

Assim sendo, as consultas não poderão versar sobre assuntos que fujam aos princípios capitulados nas Dez Mandamentos, constantes do Evangelho.

§ 1° - São deveres de todos os freqüentadores:

Procurar conhecer o Espiritismo Cristão pela leitura de obras doutrinárias tais como: O Evangelho, segundo o Espiritismo;

O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda.

Esse Capítulo é importantíssimo para que se deixem, de vez, de dizer coisas como: “Umbanda tem que largar o cristianismo e voltar às raízes africanas”, ou então, “Umbanda é um Culto Afro”, ou mesmo que “Umbanda com orações e leitura de livros espíritas é Kardecumbanda”, comentários esses muito observados na Internet por conta de pessoas que, claramente, não conhecem em que princípios a Umbanda do Brasil se formou.. Lendo o acima exposto e observando certos posicionamentos, percebemo-los totalmente inadequados em relação a todos os que agem por esta cartilha, seguindo o que já determinava o Caboclo das Sete Encruzilhadas há quase 100 anos atrás.

Será que são eles os “errados”, se é que existem erros de ritualística nesse sentido?

O caso é que a Umbanda é fundamentalmente cristã e, de acordo com outros princípios e ritualísticas que cada Terreiro achou por bem adotar, pode ter seus rituais mais africanizados, mais puxados para as práticas chamadas de orientais, esotéricas, ocultista, etc. Mas o “miolo”, o fundamento maior é o de ter os ensinamentos do Cristo como base para todas as outras aplicações. E que ensinamentos do Cristo são esses: Amor ao próximo – Caridade (ajuda ao próximo), sem o que, não pode ser Umbanda.

§ 2° - Durante as sessões ou trabalhos de Terreiro é expressamente proibido: a) Palestrar ou tratar assuntos estranhos à doutrina;

b) Fazer comentários maldosos sobre os irmãos da Tenda;

c) Proferir palavras de gírias ou de interpretações duvidosas, obscenas ou provocadoras de risos; d) Fazer gestos ofensivos à moral ou aos bons costumes;

e) Lançar suspeitas, provocar ódios, difamar ou fazer comentários desabonadores sobre a vida privada de qualquer pessoa;

f) Desrespeitar ou incitar ao desrespeito, os artigos, parágrafos e alíneas do presente Regimento e ordens em vigor na Tenda;

g) Ingressar ou permanecer no recinto onde estão instaladas a Tesouraria e a Secretária da Tenda, com exceção dos componentes da Diretoria e pessoas encarregadas de serviços especiais.

CAPÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 18 - A Tenda tem como “Chefe Espiritual” o Caboclo das Sete Encruzilhadas, também chamado simplesmente - o “Chefe”- criador de Umbanda no Brasil no ano de 1908.

“Orixá Malllet” é o trabalhador da Linha de “Ogum” (São Jorge), Chefe de Falange, encarregado dos trabalhos de demanda.

“Pai Antonio” é a entidade que serve de intérprete a “Orixá Mallet” e que comumente transmite as ordens do “Chefe”.

“Guias e Chefes de Terreiro” são as entidades designadas pelo “Chefe” para dirigir e se responsabilizar pela parte espiritual das sessões.

Art. 19 - O presente Regimento entrará em vigor na data em que for ratificado pelo “Chefe”, em sessão especial, para isso convocada.

Toda pessoa que se tornar associada da Tenda o faz espontaneamente, para cooperar na sua manutenção e progresso, motivo pelo qual deverá cumprir a risca, todos os seus deveres e principalmente manter em dia o pagamento de sua mensalidade.

COMENTÁRIOS FINAIS: Ao descobrir esse documento colocado em pdf para que se baixe em http://ebooks.brasilpodcast.net/ebook.php?id=762 pude perceber o quanto ele nos mostra, independente de outros textos que já “rolam” na Internet, do que seria e como funcionaria a Umbanda segundo a concepção do Caboclo das Sete Encruzilhadas e Zélio Fernandino de Moraes já que um Regimento Interno é documento escrito ou ditado diretamente pelas pessoas (encarnado e/ou desencarnado, no caso) envolvidas na questão e não apenas fruto de possíveis interpretações de terceiros (sem querer tirar o valor dos mesmos).

E o que pudemos observar de importante nesse documento?

1- Que não havia, na Umbanda original, trabalhos com as falanges de Exu e nem se firmava tronqueira para

eles. Qualquer depoimento em contrário poderá ser tomado como duvidoso em vista deste documento.

2- Que as Sessões (hoje Giras ou Engiras) eram determinadas para as Falanges de Trabalho (Caboclos e/ou

Pretos Velhos) e não para as Linhas de Trabalho ou “Orixás” para os que entendem melhor assim (Ex: Xangô hoje, Oxossi dia tal, Ogum mais adiante...). Isso é importante porque em um mesmo dia de Sessão poderiam estar presentes, tanto Caboclos(as) de Xangô, quanto de Ogum, quanto de Oxossi, e até Pretos Velhos, como podemos observar em relação às Sessões de Terças-Feiras, tudo de acordo com as necessidades:

3- Que O Caboclo das Sete Encruzilhadas determinou realmente Linhas de Trabalho e não de Orixás,

utilizando-se de alguns nomes africanos, todos devidamente ancorados as Linhas de Santos Católicos, talvez apenas Linhas de Trabalho em que os Caboclos e Pretos-Velhos (e suas contrapartes femininas) poderiam trabalhar.

Perceba como ele trata a entidade que se auto-intitula Orixá Malê: “Orixá Mallet” é o trabalhador da Linha de “Ogum” (São Jorge). Percebeu? Um trabalhador. E mesmo se auto-intitulando Orixá Mallet, não uma divindade da Linha de Ogum ou, como costuma-se falar também, “um Capangueiro do Orixá Ogum”.

Existe uma sutil diferença em se colocar as entidades como da Linha de Ogum (São Jorge) e não como Falangeiro de Ogum (Orixá), ainda que se lhes dê o mesmo nome (Ogum, no caso). No entanto, essa sutil diferença já nos mostra que a Umbanda de Caboclo das Sete Encruzilhadas não era Umbanda de Orixás (divindades) e sim de Linhas de Trabalhos através das quais apresentavam-se entidades espirituais – Caboclos – Pretos-Velhos e mais raramente Crianças.

4- Que o Caboclo das Sete Encruzilhadas determinou Sete Linhas de Trabalho sendo elas, pelo que se pode

observar nas festas anuais: Yemanjá, Oxossi, Ogum, Xangô, Inhaçã, e segundo alguns, Oxalá e Exu que, no entanto, não são citadas, nem nos dias de trabalho e nem nas festas comemorativas. Encontramos sim, bem citadas, as Linhas de Pretos-Velhos (Almas) e Crianças – as demais eram comemorativas dos Guias Chefes, da Umbanda em si e da Tenda Nossa Senhora da Piedade.

Por que ele determinou Sete? Está aí uma outra boa pergunta que deveriam ter feito a ele.

5- Que não vemos aqui a inserção de Oxum, Nanã, Obaluaê, Omulú, Oxalá, Oiá, Obá ou qualquer outro

considerado Orixá nas Nações afro. Se a Umbanda Original fosse de Orixás, seria pelo menos razoável que, já em seu início, considerasse os 16 escolhidos pelo Candomblé dentre tantos outros africanos, não acha?

6- Vemos, por um outro lado, que Santo Antonio, também Santo Católico mas não considerado Linha de

Trabalho então, também era festejado em seu dia, já por influência de Pai Antonio – ambos eram festejados em 13 de junho.

7- Que a Doutrina básica da Umbanda do Caboclo das Sete Encruzilhadas baseava-se em livros Kardecistas

e num outro que talvez fosse o único escrito na ocasião: O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda – do senhor Leal de Souza que veio a ser médium da Tenda Nossa Senhora da Piedade recebendo, posteriormente, a incumbência de abrir a Tenda de Nossa Senhora da Conceição (veja bem: não é de Yemanjá ou Oxum).

Aliás, sobre o senhor Leal de Souza, consta na história que ele divulgava ter sido o Caboclo Curugussú aquele que preparara o terreno para que o CDSE viesse, após, anunciar a Umbanda Branca.

Dizia-nos ele numa entrevista publicada no Jornal de Umbanda de outubro de 1952, com o título de “Umbanda – Uma Religião Típica do Brasil: “ A Linha Branca de Umbanda é realmente a religião nacional do Brasil, pois que, através dos seus ritos, os espíritos dos ancestrais, os pais da raça, orientam e conduzem a sua descendência. O precursor da Linha Branca foi o Caboclo Curugussú, que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas que a organizou, isto é, que foi incumbido pelos Guias Superiores, que regem o nosso

ciclo psíquico de realizar na Terra a concepção do espaço”...

Infelizmente o médium Leal de Souza, que inclusive ensaiou uma codificação das Linhas de Umbanda (que cito abaixo) não deixou claro quem teria sido o médium do Caboclo Curugussú e nem onde ele teria se manifestado. Segundo ainda Leal de Souza, em 1925, seriam as Linhas de Umbanda como se seguem: Oxalá (Nosso Senhor do Bonfim), Ogum (São Jorge), Euxossi/Oxossi (São Sebastião), Shangô/Xangô (São Jerônimo), Nhan-Shan /Yansã (Santa Bárbara), Yemanjá (Nossa Senhora da Conceição) e Almas – utilizei a grafia como a encontrei e a que agora vemos.

Perceba que mesmo aqui não há menção a Exus na Umbanda e, para conhecimento de todos, essas linhas de trabalho foram ratificadas no 1º Congresso Brasileiro de Espiritismo e Umbanda realizado em 1941, no Rio de Janeiro. O que isso quer dizer? Que para que fosse realmente reconhecido como Umbanda, todo e qualquer grupamento deveria seguir estas determinações, assumindo estas Linhas de Trabalho. Quer dizer também que, na ocasião, todos os que se auto-rotularam Umbanda e não seguiam estas determinações, já estavam se valendo de um nome ritualístico do qual não deveriam lançar mão. E também nos posiciona melhor sobre os porquês de hoje em dia existirem tantas diversidades. O fato é este: O Congresso não teve a força que deveria ter ou, por outro lado, suas determinações não foram reconhecidas por uma grande parte que queria “fazer Umbanda”... mesmo não fazendo.

Mas como não introduzirmos Oxum? E Exu? Vai ficar fora da Umbanda? Como diz o popular: “Tudo o que se repete de forma contumaz acaba virando verdade” e, como desde o início à Umbanda foram adicionadas Linhas outras e também outras formas de trabalho, desde que os Princípios Basilares da Umbanda sejam respeitados, cada grupamento espiritual tende a aceitar e adotar mais essas ou aquelas Linhas, esse ou aquele ritual, essa ou aquela liturgia ou mesmo técnica de trabalho como é hoje a Apometria que, mais rudemente, já era executada em diversos Centros de Umbanda, mormente os que eram (e ainda são) chamados de “Mesa Branca”. O que não vale mesmo é um grupamento querer “puxar a brasa pra sua sardinha” e dizer que Umbanda tem que voltar às raízes afro que nunca teve, ou que tem que deixar o Cristianismo (observe que não é Catolicismo) de lado, como se este não fosse um de seus pilares. Que outras Linhas agregadas não podem ser aceitas na Umbanda. Dentro de padrões, pelo menos racionais, podem sim, dependendo do Chefe Espiritual da Casa de Umbanda (o que manda mesmo) que obrigatoriamente tem que ser ou um Caboclo ou um Preto-Velho, esses sim, marcas registradas da Umbanda.

O que não pode é essas Linhas Agregadas tomarem conta da Banda e saírem, por exemplo, em louvação à Mãe Lua, à Mãe Terra, etc., ou criando giras e rituais somente seus a ponto de mudarem totalmente os objetivos maiores das Sessões ou Giras de Umbanda, ou fazerem como Chefe Espiritual do Terreiro: baianos, mineiros, exus, ciganos etc. e tal. Todos podem ser entidades de grande valor nos trabalhos, desde que a eles tenham sido ensinados os objetivos e formas de trabalho da Umbanda, mas, como são agregados auxiliares, não tem ordem de comando para dirigirem verdadeiros Terreiros de Umbanda, a não ser sob vigilância de um Verdadeiro Caboclo ou Preto Velho.

E como sei que alguns, ao lerem, vão logo querer defender as Falanges de Ciganos, deixo bem claro que não há ataque algum a qualquer tipo de falange neste texto e sim constatação de fatos. Vou adiantando aqui que, embora venham sendo aceitos em alguns Terreiros (não todos) e não há muito tempo, como querem fazer crer outros mais, essas falanges têm suas formas de ver e agir, bem assim como princípios religiosos e de louvação, bastante distintos do que sempre foi preconizado para a Umbanda e, até onde sei, há até mesmo indicações para que seus altares sejam diferenciados do altar mor dos Terreiros – o Congá. E pra reforçar ainda mais, vemos em muitos Terreiros Giras especialmente organizadas para o dia dos Ciganos e Ciganas, numa clara demonstração (só não percebe quem não quer) de que a ritualística deles tem que ser especial – sem Caboclos ou Pretos Velhos por perto – e, preferencialmente, com louvação a Santa Sara e não a Orixás ou Santos, embora já se veja, por parte de mais alguns, uma tentativa de adaptação dessas crenças para justificarem ciganos como povo de Umbanda.

Tenho nada contra quem faz assim e o que vou dizer não lhes tira o valor quando chegam para trabalhar pela Caridade verdadeiramente. Cada um chama e trabalha com as entidades que achar melhor e até muito positivamente, eu creio. Mas que são entidades fora do contexto de Umbanda, lá isso são.

Saudações fraternas a todos.

Faltava-nos ainda saber, com mais detalhes, como se processavam as sessões e os rituais na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade. As mesmas podem ser observadas no – REGIMENTO INTERNO DA TENDA ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA PIEDADE, acima. Iremos aqui, sucintamente enumerá-los a fim de nos inteirarmos superficialmente como eram efetuados.

SESSÕES E RITUAIS DA TENDA ESPÍRITA NOSSA SENHORA DA

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