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Parte III: Resultados e debate

3.3. Cadeia de custódia dos vestígios

De acordo com a Portaria nº 82/2014 do Ministério da Justiça (MJ)/Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), a cadeia de custódia significa a reunião de todos os procedimentos aplicados, de forma interligada, com o objetivo de manter e documentar a história cronológica do vestígio, localizando sua posse e identificando todos os manuseios desde o primeiro reconhecimento até o descarte. Visando a segurança e a confiabilidade do processo em que os vestígios estão submetidos, todas as ações devem ser anotadas com os nomes dos profissionais que preservaram o local e os que manusearam os vestígios, desde sua fixação, busca, coleta, transporte, envio, recebimento pelos órgãos de Perícia Oficial e armazenamento. Toda história pode ser registrada situando todo processo de produção no tempo e no espaço (Costa, 2001, 2010 & Marinho, 2014), ou seja, o processo de acompanhar o passo a passo de todos os movimentos de um elemento de prova, desde o primeiro instante de coleta no local do crime até a presença como prova em tribunal. A cadeia de custódia divide-se em externa e interna: a etapa externa corresponde ao transporte do local de coleta até a chegada ao laboratório. E a interna, refere-se a fase dos procedimentos interno no laboratório até o descarte das amostras. Resumidamente, a cadeia de custódia é um conjunto de métodos empregados para garantir a rastreabilidade e confiança de um vestígio (Costa, 2001, 2014 & Chasin, 2008). No Brasil, a cadeia de custódia ainda é considerada incipiente quando comparada com outros países até mesmo da América do Sul. Países como Chile, Colômbia, Equador e Peru possuem manuais específicos com fins a orientar todo o processo da cadeia de custódia, onde podem ser observados todo o itinerário e providências aplicadas, desde a coleta, registro, posse, acondicionamento, individualização, transporte e guarda pericial (Marinho, 2014 & Machado, 2017). Ainda que não esteja delimitado de forma clara no Código de Processo Penal brasileiro a expressão “Cadeia de Custódia”, o artigo 6º prevê que “logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos Peritos Criminais”. O artigo 11 ainda prediz que “os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito”, o que confere à autoridade policial competente a responsabilidade da custódia das provas materiais.

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Em virtude da alteração do parágrafo 6º do artigo 159 do Código de Processo Penal “§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação” (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008), surge outro aspecto importante, é a necessidade de uma matriz de custódia atribuída à preservação e ao controle dos vestígios de modo a assegurar a integridade e a credibilidade do material que serviu de base para o exame realizado pelo perito oficial (Brasil, 2008; Marinho, 2014). Com fundamento na legislação, o Ministério da Justiça (MJ)/Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), no ano de 2014, publicou a portaria nº 82 com vigência nacional que estabelece as diretrizes sobre os procedimentos a serem observados no tocante à cadeia de custódia e visando a padronização das ações direcionadas às amostras recolhidas em cena de crime. Mediante o entendimento da cadeia de custódia como etapa fundamental para garantir a legalidade, integridade dos vestígios coletados e a obtenção de uma prova confiável. Faz-se necessário o cumprimento das técnicas padronizadas a partir da preservação do local de crime, e ampliando-se por todas as etapas desde a coleta, transporte e recebimento do vestígio (Chasin, 2008, Costa, 2012, 2015, Giovanelli & Garrido, 2011). Pois, uma vez que seja detectado qualquer falha, a perícia oficial pode ser invalidada parcialmente ou total.

A decisão desse estudo em centrar maior atenção no itinerário percorrido pela amostra de material genético implica em considerar três fatores centrais: o primeiro são as barreiras enfrentadas pela investigação criminal no contexto de Fortaleza no sentido de obter provas capazes de esclarecer a autoria dos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI). A segunda em razão de um avanço tecnológico em que pressiona a elaboração de provas criminais originadas a partir de material genético, e por esse motivo existe o laboratório de DNA com instalações de modernas tecnologias, conforme foi descrito anteriormente. E por último, por se tratar de uma das amostras mais delicadas em todo o percurso da cadeia de custódia, ou seja, um tipo de amostra em que exige inovação nas práticas cotidianas, exige uma ação sincronizada e integrada desde o primeiro agente que comparece à cena do crime até o último que toca esse material para examinar, exige boa integração e articulação dos órgãos envolvidos, das diferentes equipes de atuação, estruturas adequadas, recursos materiais apropriado e suficiente, formações específicas a todos os indivíduos inseridos no processo (Costa, 2001, 2010, 2014, 2017, Marinho, 2014 & Machado, 2017). Enfim, trata-se de um vestígio criminal que representa um desafio para o cenário

investigativo do Ceará. Desse modo, os recortes das entrevistas abaixo traçam as condições da cadeia de custódia relativas aos crimes de homicídios em Fortaleza e apresentam fatores limitantes semelhantes aos constatados em outros estudos realizados no Brasil, tais como estrutura básica e critérios claros para acontecer a cadeia de custódia com o grau de cientificidade exigido (Brasil/SENASP, 2013; Marinho, 2014 & Machado, 2017).

“(...) a cadeia de custódia na polícia cearense é extremamente amadora, totalmente amadora. Não existe um critério, não existe uma padronização na forma de coletar vestígios em local de crime, muitas vezes, o perito não tem nenhum recipiente para fazer a apreensão dos objetos, por exemplo, nem um saco plástico. Então, é totalmente amadora, o que é feito aqui no nosso Estado, eu acredito que é mais amador do que em outros Estados (...) as vezes não se tem como guardar e muitas vezes temos de guardar de maneira errada, por exemplo, o ideal para guardar alguns objetos seria saco de papel porque o plástico adere aos objetos apreendidos, então quando tiramos o objeto de dento do saco plástico ele leva as informações que estavam no objeto e o saco de papel não gruda nos objetos (...) Mas não recebemos saco de papel para guardar os objetos e muito menos um espaço para armazenar os objetos enquanto leva para a perícia (AI03).

“(...) Mas tem outro problema, aqui tem a dificuldade do itinerário da apreensão, a cadeia de custódia tem essa dificuldade também porque eu acho que não é bem preservada ainda” (...) só quem pega nos objetos é o perito, e próprio local do crime ele entrega para gente lacrado, agora tem perito que tem um saquinho, outros não têm, ele também anota tudo que está entregando, tira foto etc” (AI04).

Os dois extratos das entrevistas retratam situações de práticas investigativas cotidianas em que pode comprometer a legitimidade e credibilidade dessa prova criminal em contexto judicial. No relato do agente (AI03) podemos observar as circunstâncias incipientes em que acontece a cadeia de custódia, sem critérios norteadores das ações, sem recursos materiais mínimos etc. Enquanto isso, a fala de (AI04) aponta para a falta de preservação durante o itinerário das amostras. A problemática apresentada na percepção dos agentes (AI03) e (AI04) são aspectos presentes em outros estudos desenvolvidos no Brasil e em Portugal. Marinho (2014) reforça que, de modo geral, no Brasil os procedimentos técnicos e científicos ligados à cadeia de custódia ainda não estão introduzidos na cultura de trabalho, em virtude da falta de hábito em cumprir fielmente os preceitos estipulados, esclarecendo que se trata da cultura organizacional das instituições, evidenciando, dessa forma, a necessidade dos equipamentos de Perícia Oficial inovar com a implantação de programas direcionados a sensibilizar acerca da importância de cumprir todas as etapas da cadeia de custódia e não somente focado na educação tecnológica. Ao mesmo

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tempo o estudo de Costa (2017, p.89) atesta que “a investigação sociológica tem demonstrado que o processo de recolha e armazenamento de vestígios é regulado, sobretudo, por práticas improvisadas, assentes no conhecimento tácito, mais do que no conhecimento técnico e em procedimentos legais”. Entretanto Giovanelli & Garido (2011) e Marinho (2014), asseguram que alguns aspectos dificultam a implantação dos procedimentos relativos à cadeia de custódia, como falhas na preservação e isolamento do local de crime, falta de material adequado na execução dos procedimentos, formação específica para levantamento de vestígios, ausência/descumprimento dos procedimentos, inexistência ou precariedade das centrais de custódia. Esses aspectos são abordados nas exposições de Costa (2001, 2010, 2014, 2015, 2017) considerando a escassez dos recursos materiais grande limitação para a realização de uma boa intervenção em cena de crime.

Compreende-se com maior clareza a percepção do investigador (AI03) ao considerar principiante a cadeia de custódia, e a dificuldade do itinerário apontada por (AI04) quando verificamos a falta de padronização dos procedimentos expressos nos recortes das entrevistas abaixo:

Através das declarações citadas abaixo, depreende-se a falta de padronização dos métodos quanto ao itinerário das amostras do local de crime até a chegada ao processamento laboratorial. O agente (AI01), o qual compõe a equipe investigativa da DHPP, revela que as amostras são transportadas pelo perito e não fica na delegacia.

“(...) o material genético não fica com a gente, quem leva é o perito, porque inclusive, se vier aqui para a delegacia não temos como armazenar” (AI01).

Enquanto (AI04), agente, também lotado na DHPP, mas em formato diferente de equipe, faz parte do regime de plantões específico para levantamentos em local de crime, refere que dependendo do regime de plantão do perito, este entrega todos os objetos da cena do crime, inclusive, o material genético para a equipe da DHPP e posteriormente a delegacia encaminhar para a perícia.

“(...) quando o perito não é plantonista da DHPP, ele entrega o material apreendido, mesmo material genético para a gente trazer, ele envia o ofício para depois a DHPP encaminhar para o exame na PEFOCE. Porque o perito não sendo específico para local de homicídio, ele vai atender várias outras ocorrências a partir daquele local de crime. Agora se o local de crime for com o perito plantonista da DHPP, ele armazena o material genético e ele mesmo leva para PEFOCE” (AI04).

departamento, é possível deduzir a existência de um caráter discricionário nos procedimentos relativos à posse e o encaminhamento das amostras apreendidas. O (AI06) investigador lotado no departamento de perícia confirma a entrega do material para o delegado (DHPP) e ressalta a falta de garantias no percurso do material.

“(...) o perito que fica na DHPP entrega todo o material recolhido no local de crime ao delegado na mesma hora, e o delegado envia por ofício para a PEFOCE. A cadeia de custódia tá na mão do delegado. Já os peritos de plantão na PEFOCE coletam o material e eles mesmo levam para os laboratórios correspondentes, não entregam para delegados (...) eu já solicitei exame de DNA que chegou para ser examinado não tinha nada, devido às condições inadequadas de armazenamento. Mas eu coletei a saliva com o suabe bem direitinho, coloquei na caixinha bem acondicionado, aí qual a garantia que eu vou ter? Se o restante do caminho não for bem feito? (...)” (AI06).

Entretanto, o (AI08) também do departamento de perícia alega que às vezes é o perito, e em outras vezes é a equipe da Polícia Civil que encaminha.

“(...) Às vezes, é o perito e às vezes é a Polícia Civil. A Polícia Civil coleta o material e vai selecionar o que, realmente, tem interesse para investigar e eles mesmos manda para o laboratório. A Polícia Civil pode entregar ao perito no local ou eles mesmos coleta, levam para DHPP e depois manda para os laboratórios. Eu

procuro não trazer para cá, procuro sempre entregar a Polícia Civil, delegado ou inspetor porque começa acumular objetos aqui e nós não temos local apropriado para guardar ( )” (AI08).

E os dois agentes (AI07) e (AI09), também investigadores do departamento de perícia, explanam que são eles quem transportam as amostras até o cartório da PEFOCE, mesmo assim, cada um cita um trajeto diferente do material dentro do próprio departamento de perícia. Enquanto o (AI07) afirma que a partir do cartório irá para a coordenadoria de análise da PEFOCE e somente depois para o laboratório, o (AI09) diz que do cartório será encaminhado para o laboratório.

“( ) Eu coleto o material no local de crime, trago aqui para a PEFOCE, faço um comunicado interno solicitando o exame, nós protocolamos no cartório e do cartório vai para o laboratório. Nós mesmos trazemos do local de crime até aqui e a outra forma também é no local de crime repassar para a autoridade policial, e o delegado vai solicitar mediante ofício. Nesse caso, o material via para delegacia, depois para o cartório e em seguida para o laboratório ( )” (AI09);

“( ) bem o procedimento é coletar o material genético no local de crime, armazena o material o mais rápido possível, leva para o cartório da PEFOCE que encaminha para coordenadoria de análise forense e depois será encaminhado para os laboratórios

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vestígio, obtido em local de crime, durante todo o percurso é registrado através de uma comunicação interna (C.I), a partir do cartório o material segue o percurso lacrado ( )” (AI07).

Os estudos de Costa ( 2001, 2010), Santos ( 2014) & Machado (2017) afirmam a importância da padronização durante o processo da cadeia de custódia para determinar a forma correta de executar um exame e com fins de permitir que diferentes profissionais alcancem os mesmos resultados. E também como meio de assegurar a legitimidade, integridade e confiança no resultado das análises a partir das amostras de material biológico oriundos dos locais de crimes. Por fim, os dois investigadores periciais (AI10) e (AI11), lotados no laboratório de DNA e responsáveis pelo processamento das amostras que se transformarão em laudos, nomeadamente na fala do (AI10) percebe a quebra na cadeia de custódia quando o investigador menciona as amostras que chegam ao laboratório sem o preenchimento devido de protocolo. Sobre o assunto, a já mencionada portaria do Ministério da Justiça (Brasil, 2014/ Portaria nº 82) estipula que após a coleta dos vestígios, deve-se elaborar um formulário onde constarão informações mínimas como: especificação do vestígio; quantidade; identificação numérica individualizada do recipiente; local e data da coleta; identificação do agente coletor e do recebedor; número do procedimento e respectiva unidade de polícia judiciária a que o vestígio estiver vinculado. Além disso, (Costa, 2001) ressalta que a descrição detalhada do material que chega ao laboratório é evidente considerando a necessidade de assegurar a credibilidade e admissibilidade das provas forenses com base nesse material. O (AI11) ratifica que as amostras chegam ao laboratório por diferentes meios.

“(...) às vezes recebemos aqui no laboratório amostras enviadas pelo delegado, mas não informa quem coletou, ele envia a amostra para cá e não sabemos quem coletou (...) tanto vem amostras pela delegacia que faz apreensões nos locais de crimes, como vem também da PEFOCE enviada pelo perito de local de crime que coleta e encaminha para cá diretamente (...)” (AI10);

“(...) chega material encaminhado pela delegacia, encaminhado pelo perito, às vezes é um inspetor que vem entregar (...) o nosso papel é receber o material, procuramos salvar o máximo que dá. Mas muitas vezes é um material totalmente sem condições de análise, visivelmente contaminado (...)” (AI11).

Quanto ao transporte desse material, a Portaria nº 82/2014, prever que esse deslocamento deverá ser feito utilizando as condições adequadas (embalagens, armazenamento, veículos, temperatura, etc), garantindo a conservação das características

originais, além do controle da sua posse. Na perspectiva de Costa (2001, p. 174) uma das maiores justificativas no uso da prova técnica assenta em sua condição de “aplicabilidade universal e a sua replicabilidade”, independente da forma organizacional do sistema judicial, contanto que haja capacidade de garantir as condições técnicas

(laboratório com os equipamentos apropriados e peritos com as formações exigidas), além de respeitar e cumprir os métodos imprescindíveis à salvaguarda da prova e da sua integridade, desde o momento da coleta dos vestígios na cena do crime à sua apresentação em tribunal. Desse modo, observamos a necessária reflexão com relação a ajustes na cadeia de custódia cearense para galgar a padronização dos procedimentos exigidos. Por este ângulo Costa (2010, 2014, 2015) e Marinho (2014) completam informando que a qualidade e a cientificidade da prova pericial acarretam em garantir o cumprimento de padrões normatizadores na intenção dos requisitos exigidos pela ciência a serem verificados em tribunal e para garantir que e a idoneidade ocorra em todo o itinerário da cadeia de custódia. Machado (2017), por sua vez, acrescenta que a cadeia de custódia do material genético deve ser a mais curta possível no intuito de impedir a degradação do material. Outro ponto em que se apresenta como obstáculo na visão dos investigadores é a dificuldade dos trâmites burocráticos. De acordo com extratos abaixo, os dois entrevistados (AI06) e (AI03) relembram a falta de padronização referente ao manuseio das amostras. Mas também analisam o formato burocrático como um mecanismo que inviabiliza uma cadeia de custódia célere.

“(...) um objeto recolhido em local de crime, se houvesse uma padronização de técnica, um melhor controle no itinerário, menos burocracia e maior prontidão na análise da amostra eu penso que seria melhor (...) mas existe uma burocracia tão grande que deixa todo mundo confuso. Principalmente no meio dessa enorme demanda de homicídios (...) aquele caso que falei do exame de DNA me ligaram

seis meses depois, tudo demora muito” (AI06);

“(...) se houvesse padronização dos procedimentos e maior controle, o delegado podia no próprio local de crime entregar os objetos ao perito para levar e examinar. Mas não pode porque precisa de um ofício para ficar cadastrado no sistema, solicitando os exames que o delegado quer. Não é possível o perito coletar o objeto e de lá encaminhar direto para o laboratório, não pode porque precisa passar pela mão do delegado (...) eu acho uma burocracia muito burra... só dificulta, só faz tudo demorar mais” (AI03).

Além da burocracia, a escassez de recursos materiais, e a falta de estrutura adequada é um dilema bastante recorrente como justificativa impeditiva de fluir as investigações, como podemos conferir nas abordagens abaixo. É possível visualizar na

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exposição mencionada pelo agente (AI01), que as delegacias não dispõem de espaços para armazenar as amostras oriundas dos locais de crimes, não oferecem ambiente adequado para o desempenho básico das funções, como por exemplo, um computador.

“(...) porque, inclusive, se vier aqui para a delegacia não temos como armazenar (...) aqui temos dificuldades com estrutura, estrutura física, faltam salas, falta computador para trabalhar, o acesso ao sistema é dificultado, até para conseguirmos uma sena ilimitada da internet é difícil, como é que investigarmos com acesso limitado? É muito complicado, a gente praticamente “tira leite de pedra” (AI01).

E na abordagem de (AI03) e (AI04) inferimos a precariedade estrutural relacionada ao armazenamento e ao acondicionamento adequados das amostras apreendidas no local de crime, além de comprovar a escassez ao acesso de materiais cruciais à execução dos procedimentos, no caso, não dispõem de luvas para manusear as apreensões.

“(...) nas delegacias não existe local para acondicionamento dos objetos, não dispomos de locais apropriados para acondicionamento de objetos colhidos em local de crime (...) , muitas vezes, nos deparamos com facas sujas de sangue dentro de um cartório, aí fica várias pessoas diferentes manuseando o objeto sujo de sangue sem luvas, porque não recebemos nem uma caixa de luvas, quem quiser usar tem que comprar do próprio bolso (...) (AI03);

“(...) outro ponto fraco é a falta de estruturas para trabalhar, falta do papel higiênico a caneta, falta tudo, não temos estrutura minimamente adequada para fazer um bom trabalho, para você ter uma ideia, falta luvas para pegar os objetos apreendidos, falta material de trabalho (EPI), falta tudo (...)” (AI04).

A situação é semelhante quando o agente (AI06) destaca a inexistência de alguns recursos materiais essenciais para as atividades periciais, lembrando que, muitas vezes, utiliza materiais com o prazo de validade ultrapassado e também diz não dispor de espaço adequado para armazenar as amostras dos locais de crimes. Por último, o (AI08) ainda reforça que evita conduzir objetos para setor dele na PEFOCE porque não tem lugar apropriado para armazenar.

“Também a falta de material de trabalho para o perito, falta vários materiais e, às vezes, trabalhamos com produtos vencidos. Quando usamos produtos vencidos não podemos ter certeza dos resultados (...) também como você sabe nas delegacias não existe material para os policiais fazer local de crime, nem luva básica, mesmo se o perito estiver todo equipado no local de crime, está lá do meu lado o inspetor ou delegado sem usar nem uma