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A investigação será desenvolvida com suporte na abordagem qualitativa, por entendermos que ela possibilita maior interação dos pesquisados com a pesquisadora. Nessa perspectiva, Minayo (2010) pondera que o método qualitativo, além de permitir desvelar processos sociais ainda poucos conhecidos referentes a grupos particulares, proporciona a elaboração de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante o estudo.

O estudo qualitativo atende a questões muito peculiares, ocupando-se, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade fora das possibilidades quantificadas ou que deveria ser, isto é, alcança o universo dos significados, dos motivos, das aspirações das crenças dos valores e das atitudes (Chizzotti ,2000 & Minayo, 2010). Desse modo, a metodologia qualitativa busca, eminentemente, interpretar o que os dados revelam. Assim, manifesta como pertinente para evidenciar as questões relacionadas à atmosfera social. Conforme cita,

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. [...] ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir,

mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (Minayo, 2010, p. 21).

Com o intuito de observar a problemática e os objetivos proposto para o estudo, no caso, compreender como ocorre a coleta e o percurso do material genético da cena de crime de homicídio ao processamento laboratorial, assim como, certificar as condições da cadeia de custódia quanto à coleta, armazenamento e transporte das amostras biológicas em contexto da cidade de Fortaleza. Com vistas aos objetivos específicos de observar a coleta do material genético em cena de crime, além de buscar compreender a percepção dos agentes investigativos acerca do uso dessas amostras de dados biológicos oriundas dos locais de crimes na investigação criminal. Como recursos metodológicos foram adotadas as técnicas da observação participante com elaboração de um diário de campo e entrevistas semi-estruturada com os agentes investigativos concernente a prova criminal material e científica. Tais recursos estão inseridos no método de pesquisa qualitativa. Ademais, a abordagem da metodologia qualitativa consiste em apreender fenômenos sociais, segundo as perspectivas dos participantes, apresenta métodos e processos flexíveis, podendo ser modificadas as decisões no decorrer da investigação. Esse método admite ainda a presença de subjetividade tanto na coleta de dados quanto na interpretação dessas informações, as ações são fortemente influenciadas pelos contextos em que ocorrem; são generalizações conceituais. Os estudos qualitativos não coletam informações para confirmar ou eliminar hipóteses construídas previamente, as amostras das pesquisas são pequenas, numericamente não representativas. As técnicas mais utilizadas são a observação participante, análise documental e entrevista aberta (semi-estruturada, conversa informal, não-estruturada) (Chizzotti, 2000; Silva, 2005 & Minayo, 2010). Partindo dessas informaçoes, podemos destacar, dentre os aspectos centrais da abordagem qualitativa, a definição e formulação da problemática.

Considerando que uma questão a ser investigada não deve ser reduzida a uma suposição antecipada, ou algumas variáveis que serão analisadas por um paradigma teórico idealizado, ou seja, o problema resulta, sobretudo, de um processo indutivo que vai apontando e delimitando na exploração dos contextos ambiental e social em que se efetiva o estudo, da observação contínua e participante do objeto investigado, e das articulações com informantes que conhecem esse objeto e emitem juízos sobre ele (Chizzotti, 2000). Deste modo:

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A identificação do problema e sua delimitação pressupõem uma imersão do pesquisador na vida e no contexto, no passado e nas circunstâncias presentes que condicionam o problema. Pressupõem, também, uma partilha prática nas experiências e percepções que os sujeitos possuem desses problemas, para descobrir os fenômenos além de suas aparências imediatas. A delimitação é feita, pois, em campo onde a questão inicial é explicitada, revista e reorientada a partir do contexto e das informações das pessoas ou grupos envolvidos na pesquisa” (Chizzotti, 2000: 81).

Importa compreender como característica da pesquisa qualitativa a análise do comportamento humano do ponto de vista do ator, a observação naturalista, no caso, a observação não regulada, a subjetividade, a orientação para a descoberta e para o processo, o seu cunho exploratório, narrativo e indutivo, primando pela não generalizabilidade. Resultando em uma coleta de dados, através da qual, propocione uma relação direta do pesquisador com o objeto, considerando que, a imersão no cotidiano e a proximidade com as coisas tangíveis velam os acontecimentos. Neste sentido, o caminho metodológico por um estudo qualitativo é delimitado por um interesse na complexidade, descrição e compreensão de um processo, mais do que nos seus resultados ou produtos (Serapiori, 2000); Chizzotti, 2000; Silva, 2005 & Minayo, 2010).

Outro aspecto ponderado na investigação qualitativa é o pesquisador, tendo em vista que esse sujeito não configura como mero relator passivo, mas uma peça fundamental na engrenagem de todo o processo. Assim, é necessário que o pesquisador, inicialmente, despreenda-se dos preconceitos, julgamentos, valores pessoais etc. É primordial ir além das revelações imediatas para alcançar o sentido oculto das expressões imediatas, isto é, o pesquisador deve seguir a essência dos acontecimentos (Chizzotti, 2000; Cardoso, 2000; Silva, 2005 & Minayo, 2010).

Ainda podemos lembrar do enfoque dado aos pesquisados, entendendo que os sujeitos participantes da investigação são identificados como indivíduos produtores de conhecimentos e realizam práticas adequadas para intervir nos problemas identificados. Deste modo, podemos considerar a conexão entre esses dois sujeitos (pesquisador e pesquisado) uma interação viva e essencial para se compreender as associações entre as pessoas e os objetos, bem como os conceitos elaborados pelos sujeitos.

De maneira que, o fruto final da investigação é conseguência de uma ação coletiva, gerida mediante várias microdecisões. (Chizzotti, 2000; Coutinho, 2011).

Quanto aos dados, ocorrem em um ambiente fluente de relações, são fenônemos que se apresentam em uma complexidade de antagonismo, de demonstrações e de ocultamentos. Por fim, as técnicas empregadas no método qualitativo ajudam na revelação do fenômeno oculto, no caso, a observação participante, entrevista não-diretiva, história ou relatos de vida e análise de conteúdo (Chizzotti, 2000; Cardoso, 2000). É importante destacar que o uso das referidas técnicas não significa um padrão exclusivo e único, mas um mecanismo a fim de potencializar a perspicácia e capacidade artesanal do investigador para construir o método oportuno ao campo de estudo. Desse modo, o pesquisador utilizará as técnicas aplicadas como recurso para comprovar a cientificidade das informações coletadas e do saber elaborado (Chizzotti, 2000; Cardoso, 2000).

Na concepção de Martins (2004), existe um prisma relevante para se observar críticas direcionadas às pesquisas realizadas por cientistas sociais, as quais questionam a legitimidade da investigação ao afirmar que, constantemente, os cientistas sociais tomam como objeto de investigação grupos sociais com os quais têm alguma afinidade política. Nesse caso, temos que estar constantemente alertas, particularmente quando utilizamos a “metodologia qualitativa, para que, em vez de cientistas, não nos transformemos em militantes de uma causa ou de um movimento em que olhamos e procuramos entender a realidade não como ela é, mas como gostaríamos que ela fosse” (Martins, 2004: 296). Nesse sentido, essa espécie de saber significa uma expressão ideológica e não científica.

Pelo exposto, independente do formato de relação com o outro que também é sujeito constituído de saber, devemos ter atenção para não marcar a relação pela intenção de oferecer uma direção conforme nosso projeto político particular. Ou seja, ter o cuidado de não olhar para o objeto de investigação com base na nossa visão de mundo, mas , antes disso, consentir um exame objetivo, o mais claro possível do que se apresenta diante dos nossos olhos, tendo consciência do saber que é próprio do pesquisador e do saber em que o outro está revelando (Cardoso, 2000; Martins, 2004). Cabe ainda destacar a importância no papel dos produtores de conhecimentos em proporcionar um saber que vise fortalecer a autonomia dos indivíduos, resultando em liberdade no uso da razão. Para ela “não cabe ao

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cientista reforçar ideologias existentes, mas fornecer instrumentos para desvendá- las e superá-las” (Martins, 2004: 296).

Desse modo, com base nos métodos eminentemente de caráter qualitativo, o corrente estudo buscou como propósito central compreender o contexto em que vestígios genéticos, oriundos das cenas de crimes de homicídios, vêm compondo o processo de investigação criminal em Fortaleza/Ceará/Brasil. Os objetivos específicos constituem em: observar a coleta das amostras de material genético na cena do crime e traçar o itinerário dos vestígios, desde o local do crime ao processamento laboratorial e identificar a visão dos agentes investigadores acerca dos dados genéticos oriundos das cenas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) introduzidos na investigação, como esses atores observam as condições dos levantamentos nos locais de crimes. Além de procurar entender as teias de ligações e interações referentes à cadeia de custódia, a qual os vestígios biológicos percorrem desde o local do crime ao acolhimento desse material no laboratório de DNA/PEFOCE para proceder a análises e transformá-los em laudo. para isso, fez-se uso da técnica da entrevista e da observação participante (Fraser & Gondim, 2004; Rech,2008 & Seabra, 2010).

Visando alcançar os objetivos propostos, realizamos uma articulação de recolha de dados a partir de técnicas encaixadas na metodologia qualitativa. Por via da técnica da entrevista semiestruturada, realizamos entrevistas com os agentes investigadores da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) lotados no DHPP e do Departamento de Perícia do Estado do Ceará (PEFOCE). E através da observação participante, seguir juntamente à equipe do perito criminal o trabalho em cena de crime e registrar em diário de campo. Com empenho em detectar as condições dos locais de crimes, como é coletado os vestígios genéticos, quais os atores estão envolvidos no processo de levantamento dos referidos espaços e em quais circunstâncias é realizado o trabalho com relação aos vários aspectos relevantes para desempenhar tais funções, por exemplo, recursos materiais adequados, formação instrucional direcionada ao levantamento dos ambientes de crimes, bem como a conjuntura de coleta dos vestígios, armazenamento, acondicionamento e transporte, isto é, a configuração da cadeia de custódia desde o local do crime ao processamento proferido no laboratório DNA (Fraser & Gondim, 2004; Rech,2008 & Seabra, 2010).

ano de 2018, as primeiras incursões no território, durante o mês de setembro os esforços foram na catalogação de dados estatísticos e informações a respeito do contexto dos órgãos governamentais pertinente ao estudo, assim como articulações de caráter burocrático no sentido de oficializar minha presença nas instituições como pesquisadora acadêmica, além de prestar esclarecimentos acerca da realização da pesquisa junto aos gestores dos órgãos mencionados acima. A partir das primeiras investidas no campo empírico, tomei conhecimento de uma alteração na rotina de trabalho do perito criminal em que cumpria plantão na DHPP, assim, a partir do dia 01 de novembro de 2018 a equipe do perito criminal/PEFOCE não cumpriria expediente de trabalho nas instalações do DHPP, ou seja, não ficaria um perito criminal disponível, exclusivamente, para analisar cena de crime de homicídio. A partir do referido período, os peritos passam a ter como base de apoio a Coordenadoria de Perícia Criminal – COPEL nas instalações do PEFOCE. Com essa mudança o perito criminal durante seu plantão para atendimento externo realiza perícias em cenas de crimes variados.

Em seguida, no período dos meses de outubro e novembro desenvolvemos a parte empírica correspondente às entrevistas com os agentes investigativos (investigadores/peritos). E com fins a observação participante, realizei plantões de 12 horas compondo a equipe do perito criminal na execução das atividades em cena de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI), e a partir disso, alcançar o propósito de traçar o roteiro percorrido pelas amostras de material genético obtidas no local do crime aos encaminhamentos promovidos até o laboratório DNA, isto é, verificar como acontecem a cadeia de custódia. Minha presença para as observações pertinentes aos propósitos desta investigação aconteceu de forma muito discreta, de maneira a ser incorporada nas equipes mais no papel de policial do que como pesquisadora acadêmica. Assim procedendo o ritual ordinário como na função de inspetora, atendendo os critérios exigidos para compor as equipes em suas rotinas de trabalho (Cardoso, 2000; Latour, 1997).