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Parte I: Delimitação Teórica

1.8. Laboratório DNA/PEFOCE

O Laboratório da PEFOCE com especificidade para lidar o material de DNA oriundo de cenas de crimes do Estado do Ceará, iniciou as atividades no ano de 2007. O Núcleo opera, atualmente, com uma equipe multidisciplinar formada por sete peritos, graduados nas áreas biológicas e da saúde, com especialização e mestrado em genética forense. Esse equipamento agrega os laboratórios aptos à fomentar o Banco de Dados de Perfis Genéticos do País. A equipe desenvolve o trabalho por meio da tecnologia do Combined DNA Index System (Codis), em português, o sistema de Gerenciamento de Bancos de Perfis Genéticos. Esse dispositivo é utilizado pelo Federal Bureau of Investigation (FBI), agência federal norte-americana, e foi introduzido no Brasil em 2010. No momento o Núcleo tem 1.199 perfis genéticos cadastrados correspondes ao Estado do Ceará.

De acordo com o coordenador do Laboratório (Júlio Torres, 2018), a quantidade de

31 Código de Processo Penal (CPP). Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-

perfis genéticos cadastrados resulta de vestígios coletados em locais de crimes, em vítimas de crimes sexuais, restos mortais, parentes voluntários de vítimas desaparecidas e infratores condenados previstos em lei. As informações arquivadas constituem parte de uma rede de dados que é integrada e compartilhada entre todos os órgãos de perícia do Brasil. A incorporação das informações ao banco de dados nacional, de acordo justificativa do perito, ocorre com o objetivo de facilitar a troca dos dados entre os Estados do país e gerar uma colaboração contínua e recíproca.

Com o advento da Lei 12.654 no ano de 2012, a qual regula a utilização dos bancos de perfis genéticos para fins de investigação criminal, teve início a mobilização, criação e fomento dos laboratórios forenses com fins de armazenamento das informações biológicas procedentes de local de crime e de indivíduos ingressos no sistema prisional. Os laboratórios precisam obter uma certificação para incluir os dados no Codis, esse certificado corresponde a um controle de qualidade. No caso do Ceará, o Núcleo de Perícia em DNA Forense da PEFOCE é certificado anualmente pelo controle de qualidade externo do Grupo Iberoamericano de Trabalho em Análise de DNA (Gitad) desde 2007. O certificado assegura e avalia os quesitos relacionados aos equipamentos modernos, peritos qualificados, e estrutura adequada. Desta forma, os laboratórios que obtêm essa certificação são capacitados para nutrir o Banco de Dados de Perfis Genéticos do País (PEFOCE, 2018).

O laboratório de DNA da PEFOCE atende toda a demanda referente ao Estado do Ceará. O trabalho é desenvolvido catalogando os exames em três vertentes, a primeira: os casos de crimes contra a dignidade sexual (estupro), com vista a identificar o material genético deixado nas vítimas e posteriormente possibilitar a comparação desse material com dados genéticos de suspeitos envolvidos no caso. Segunda linha de análise opera na identificação humana de corpos carbonizados, em decomposição, mutilados ou de peças ósseas e órgãos humanos, com o propósito de confrontar com exames realizados em parentes de primeiro grau. E a terceira vertente trabalha com o reconhecimento de perfis de material genético recuperados a partir dos indícios de natureza biológica presente em diferentes materiais oriundos de locais de crimes (manchas de sangue, manchas de esperma, manchas de saliva, fios de cabelos, objetos e outros). Após a conclusão de cada análise é gerado um laudo que será encaminhado para a autoridade competente, esse documento servirá como prova técnica e irá compor o inquérito policial. Além disso, as

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amostras encontradas nas cenas de crimes são incluídas no banco de dados e podem ser aferidas com outras amostras originárias de crimes ocorridos no Ceará ou em todo o Brasil (PEFOCE,2018).

Em âmbito nacional existe a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), implantada pelo Decreto nº 7950/2013-MJ, de 12 de março de 2013, visando o objetivo central de manter, compartilhar e confrontar perfis genéticos com finalidade de contribuir na apuração criminal e/ou na instrução processual. A criação da Rede resulta de uma articulação entre as Secretarias de Segurança Pública (ou órgão equivalente), Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e Polícia Federal (PF) para o compartilhamento de perfis genéticos obtidos em laboratórios de genética forense, e, atualmente, é composta por 20 (vinte) unidades laboratoriais oficiais (RIBPG, 2018).

Considerando o regulamento da RIBPG, os perfis genéticos inseridos nos bancos de dados são comparados em busca de coincidências que propiciem relacionar suspeitos a locais de crime ou diversos locais de crime entre si. Os perfis genéticos elaborados pelos laboratórios da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG) e que atendem aos critérios de admissibilidade estabelecido no Manual de Procedimentos Operacionais são enviados rotineiramente ao Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), onde são realizados comparações de forma nacional com perfis gerados pelos 20 laboratórios de genética forense que compõe a RIBPG, também são encaminhados perfis de outros países por meio da Interpol.

Desse modo, em circunstância de apuração criminal, perfis genéticos originários de vestígios de locais de crimes são comparados entre si, assim como com perfis genéticos de indivíduos cadastrados criminalmente. Estes são inseridos em bancos de perfis genéticos obrigatoriamente, nos casos de condenados por crimes hediondos (art. 1º da Lei nº 8.072/1990) ou por crime doloso e violento contra a pessoa, como também através de autorização judicial, seja de ofício ou mediante solicitação da autoridade policial ou do Ministério Público (MP) (art. 5º da Lei 12.037/2009).

A (RIBPG, 2018) argumenta que o efetivo cadastramento é essencial para que os vestígios sejam identificados e a Rede possa contribuir na elucidação de crimes, constatação de reincidências, diminuição no sentimento de impunidade e ainda impedir condenações equivocadas. A RIBPG defende que o foco principal de utilização dos bancos de perfis genéticos é a identificação de pessoas desaparecidas. E assegura que a legislação em vigor

referente a comparação de amostras e perfis genéticos doados voluntariamente por parentes de pessoas desaparecidas terão uso exclusivamente para a finalidade adquirida, no caso de identificar a pessoa desaparecida, sendo proibido seu uso para outros fins.

Segundo A lei nº 12654/2012, as informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero. A RIBPG garante que os perfis genéticos armazenados nos bancos em que compõe a rede é obtido a partir de regiões não-codificantes do DNA, sendo incapaz de revelar qualquer característica física ou de saúde. A lei determina que os bancos de dados de perfis genéticos sejam de caráter sigiloso, com acesso restrito e controlado, respondendo civil, penal e administrativamente aquele que autorizar ou favorecer a utilização para outros fins fora da previsão legal ou em decisão judicial (Brasil, 2012).

Conforme o relatório da RIBPG com resultados correspondentes até o mês de maio de 2018, as informações adicionadas a respeito da investigação auxiliada (método de investigação criminal em que o banco de perfis genéticos soma valor ao processo investigativo) e o número de coincidências confirmadas (consiste em dados observados entre vestígios ou entre vestígio e indivíduo identificado criminalmente), o Núcleo de DNA do Ceará apresenta um resultado de coincidência entre vestígio correlato a um mesmo perfil genético encontrado em Estados e cenas de crimes diferentes, presentes em uma camisa e uma garrafa de água. A camiseta coletada em um local de crime (um furto a uma agência do Banco do Brasil no Município de Cariús interior do Ceará em fevereiro de 2016) e a garrafa de água em outro local de furto em outra agência bancária (Banco Santander no Município de Itú interior do Estado de São Paulo em março de 2018). Outro resultado mencionado refere a um caso de investigação auxiliada, relativo a uma coincidência entre perfil genético de um condenado por crime de extorsão mediante sequestro inserido em 2018, e um perfil genético gerado de vestígio coletado em exame de local de crime após o furto do Banco Central do Brasil, em Fortaleza, em agosto de 2005. O documento mostra ainda que os perfis genético presentes no laboratório forense de Fortaleza, são, em sua maioria, gerados a partir de vestígios coletados em crimes sexuais e crimes cometidos contra o patrimônio e vida (RIBPG, 2018).

Segundo avaliação da RIBPG (2018), a funcionalidade dos bancos de perfis genéticos no país como ferramenta eficaz na contribuição de investigação criminal e auxílio ao judiciário,

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é subutilizada pelo setor da Segurança Pública brasileira. Ressaltam a elaboração de um projeto em análise no Ministério da Segurança Pública visando reduzir homicídios dolosos, feminicídios e violência contra a mulher. E em virtude disso, foi introduzido o programa estratégico de fortalecimento da RIBPG, tendo como uma das metas registrar nos bancos de perfis genéticos dos estados, Distrito Federal e Polícia Federal 50% do número de condenados, conforme previsto na Lei 12.654/2012, até o final de 2019. Consiste em um plano em âmbito nacional com a distribuição, pela SENASP, de equipamentos e insumos para os laboratórios de genética forense; a elaboração de instrumentos para formação e procedimentos operacionais, buscando padronizar as coletas de amostra biológicas de condenados, por grupo de trabalho instituído pela Portaria nº 4/2018-RIBPG. Em contrapartida, a solicitação para cada unidade da federação efetivar as coletas de material genético dos condenados pela prática de crime hediondo (art. 1º da Lei nº 8.072/1990) ou doloso de natureza grave contra a pessoa (RIBPG, 2018).