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A entrevista semiestruturada é uma técnica de recolha de dados desenvolvida por meio de um diálogo entre o pesquisador e o entrevistado. Esse método destacou-se como um recurso central para o trabalho de campo e como técnica principal para coletar informações (Chizzotti, 2000; Silva, 2005; Seabra, 2010). Essa conversa é essencial para o estudo, pois revela com profundidade a maneira como os atores interpretam suas práticas e experiências, como enxergam determinada realidade e para que o pesquisador tenha os significados que determinados grupos atribuem a determinados fatos (Fraser & Gondim, 2004; Seabra, 2010).

Os objetivos traçados com a finalidade da técnica qualitativa da entrevista foram desenvolvidos em torno dos seguintes pressupostos: a) identificar a percepção dos agentes investigativos (peritos e inspetores) a respeito dos vestígios de material genéticos introduzidos no processo da investigação criminal; b) identificar como ocorre o itinerário das amostras de vestígios biológicos obtidas nas cenas de crimes e os encaminhamentos; c) entender o nível de confiabilidade atribuído a prova criminal originada a partir dos dados genéticos; d) compreender as limitações impostas ao desempenho das funções dos agentes investigativos; e) identificar falhas que possam existir nas condições do local de crime, na cadeia de custódia, nas condições em que o trabalho é executado; f) perceber a formação profissional em que as equipes direcionadas a levantamentos em cena de crime têm acesso, com vistas a prepará-los ao exercício específico da complexidade que envolve o trabalho em local de crime.

Antes de cada entrevista houve uma conversa sobre o objetivo e esclarecimentos a respeito do estudo, e todos aceitaram participar de livre e espontânea vontade. O conhecimento voluntário dos sujeitos da pesquisa é primordial, pois os sujeitos devem ter conhecimento e clareza suficientes do assunto investigado para tomar uma decisão informada e esclarecida (Luna, 2008; Minayo, 2010 & Bardi, 2011). Quando eu já estava em Portugal, antes de transcrever os depoimentos, enviei-os a cada participante um documento devidamente assinado confirmando minha responsabilidade e ética com as informações coletadas. Foram realizadas 12 (doze) entrevistas, somente uma pessoa não confirmou o recebimento da mensagem, e o conteúdo corresponde a pessoa em que não confirmou não entrou como informações da pesquisa.

autorização dos participantes inquiridos e, posteriormente, transcritas para o quadro de abordagem das categorias de análise de conteúdos. A transcrição das declarações foi feita na íntegra, com intuito de registrar todas as falas dos sujeitos entrevistados, tendo em vista subsidiar, da melhor maneira, a análise de conteúdo (Charmaz, 2009; Minayo, 2010; Henderson, 2013). A despeito da conciliação de diferentes instrumentos, a entrevista qualitativa semiestruturada destacou-se como recurso essencial para o trabalho de campo e como uma ferramenta central de coleta de informações. Isso em virtude da condição ontológica que concede apreender o pormenor e os pontos de vista particulares por meio das narrativas dos entrevistados. Deste modo, essa técnica assume-se como uma maneira de interação social e como uma “janela aberta à vida de uma pessoa”, proporcionando o acesso à linguagem, a eventualidades que aconteceram no passado e ao mundo vivenciado (Charmaz, 2009; Minayo, 2010; Henderson, 2013).

Essa etapa do trabalho empírico foi realizada nos meses de outubro e novembro de 2018. A inclusão deses entrevistados não foi aleatoriamente, de modo que foram selecionados de maneira intencional, assim a amostra refere-se a uma divisão de entrevistas equivalentemente igual junto a investigadores lotados no DHPP e investigadores periciais do PEFOCE, buscando mesclar entre idades diversas, sexos (gênero), tempo de experiência na área de investigação criminal, e equipes com funções diferenciadas no domínio investigativo. Nesse caso, as entrevistas englobaram 4 (quatros) investigadores do sexo feminino e 5 (cinco) do sexo masculino, contendo nesta amostra tempo de experiências profissionais variados, abrangendo entre 5 (cinco) meses e 25 (vinte e cinco) anos de experiência profissional na investigação criminal com atuação no Estado do Ceará. Desse modo, a seleção buscou abranger participantes com diferentes vivências e experiências acerca do fenômeno, proporcionando a exploração das múltiplas dimensões sociais em estudo (Minayo, 2010; Henderson, 2013).

O assunto concernente a dados genéticos relacionado a investigação criminal foi conduzido aos participantes através de um guião elaborado com ajuste da temática das novas tecnologias introduzidas a área da investigação criminal e, buscando entender de que forma as novidades tecnológicas têm impactado o trabalho policial cotidiano em Fortaleza, quais as condições do cenário habitual de trabalho, o qual promove a conexão com as inovações tecnológicas? Assim, o guião das entrevistas abordou os seguintes temas: a organização do trabalho investigativo em âmbito da Polícia Civil e Perícia Estadual; a

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complexidade que envolve o desempenho das ações investigativas atualmente, envolvendo as motivações, limitações e particularidades inerentes ao trabalho policial em contexto do município de Fortaleza; e opiniões e experiências relativas ao desenvolvimentos e a introdução das tecnologias de DNA relativas à identificação criminal. Em seguida foram levantadas questões a respeito da frequência e regularidade da coleta de informações genética em local de crime com fins investigativos, e ainda, as expectativas e o grau de confiança quanto ao potencial da tecnologia referente a introdução do DNA na investigação criminal. Buscando alcançar a compreensão das questões relacionadas à conjuntura de suporte material e humano, as circunstâncias atuais dos locais de crimes na cidade, como ocorre a abordagem da cadeia de custódia, questões relativas à formação profissional específicas para trabalhos em cena de crime, e a confiabilidade depositada na prova técnica. Assim, buscou-se as representações sociais dos agentes investigativos com relação a introdução de novas tecnologias envolvendo a análise de vestígios genéticos com fins a construção de prova criminal para entender a visão dos participantes (Cardoso, 2000; Luna, 2008; Minayo, 2010 & Bardi, 2011).

Ao concluir, busquei relacionar as informações e as conclusões obtidas da análise das entrevistas com os resultados oriundos da observação participante em uso no levantamento da investigação, assim procura-se identificar o entendimento dos atores investigativos humano e a interação com os atores não-humanos, no caso as amostras de material genético inseridas na investigação criminal (Latour, 1994). Assim, o entrevistar é um recurso interativo de caráter reflexivo e simbólico, permeado de sentimentos e afetos, configurando-se como recortes da experiência vivida, geradora de conhecimentos e elaborações. Rech (2008, p. 78) ressalta que “a entrevista aplicada na investigação social dispensa regras fixas e técnicas sofisticadas, exigindo procedimentos criativos, recursos verbais, manejos dos bloqueis emocionais e na eficiência da comunicação interpessoal”.

A seguir serão apresentados os resultados e o debate relativo ao estudo por meio da categorização das respostas dadas pelos agentes investigadores entrevistados sobre os aspectos das amostras de informações genéticas inseridas no contexto das investigações criminais pertencentes aos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) em Fortaleza. Quanto a identificação dos entrevistados no decorrer do texto, serão referenciados neste estudo pela letra “A” referente a agente e a letra “I” alusiva a

investigadores e os números de 01 a 11 que corresponde a quantidade e a ordem das entrevistas utilizadas na investigação (Luna, 2008; Minayo, 2010 & Bardi, 2011).

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