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Parte I: Delimitação Teórica

1.5. Cenário de criminalidade na cidade de Fortaleza

A presente investigação tem como foco espacial a cidade de Fortaleza, nesta seção será relatado sobre o contexto atual da cidade, buscando, essencialmente perceber as razões que configuram as elevadas taxas de homicídios. E partir disso entender os investimentos e a atuação das instituições implicadas nesta pesquisa, as quais serão abordadas logo a seguir.

Antes importa saber que, no Brasil ocorre diversos tipos de desigualdades sociais, além das desigualdades relacionadas a cor, raça, posição social e outras, ainda convivemos com as desigualdades regionais, as quais reporta às desigualdades entre as regiões, entre estados e entre cidades. Considerando as desigualdades regionais, vale destacar que o Nordeste é reconhecidamente a Região mais carente do País. Onde concentra a maior população vivendo com rendimento de até meio salário, isto é, a o Nordeste continua com a maior desigualdade social e maior número de pobres. Evento justificado pela ligação histórica da estrutura de poder local com uma estrutura de poder (Sobel, Gonçalves, Costa, 2010 & Cássia, 2015).

A Região do Nordeste possui clima predominantemente semiárido, por isso uma das questões de destaque nacional dessa zona é a seca, ou seja, a escassez de chuvas proporcionando pobreza, fome e o êxodo rural. Consequentemente, o período de longa estiagem provoca vários prejuízos aos agricultores, como perda de plantações e animais, e a

falta de produtividade e a fome nas áreas rurais contribui para o inchaço e o crescimento desordenados das áreas urbanas. Mesmo tendo a seca como vetor de diversos programas de políticas públicas, os dados e a literatura demonstram que, de forma geral, as políticas públicas no Brasil de bases territorial e econômica inseriram o Brasil no processo de reprodução do capital, subordina à globalização financeira e comercial, causando a destruição de setores e regiões inteiras, facilitando e assegurando a abertura cada vez maior do mercado brasileiro ao capital internacional, fato esse que também é responsável pelas desigualdades socioespaciais (Sobel, Gonçalves, Costa, 2010 & Cássia, 2015). Diante disso, ao longo da história surgiram vários projetos políticos com base no fenômeno da seca, com promessas de solucionar a problemática. Porém as primeiras iniciativas foram registradas como resultante de mais atraso regional, conforme a reflexão abaixo:

Para descortinar a trajetória de atuação do Estado brasileiro na região do Nordeste, inclusive sob a perspectiva da seca, o ponto de partida foi o período imperial. Nesse período, as secas já se apresentaram como um fenômeno devastador e provocador de problemas sociais. Daí, o surgimento da política das águas, vista como pouco eficaz, já que, na realidade, a sua maior contribuição, em especial, nos primeiros anos após a sua criação, foi o favorecimento e a reprodução dos coronéis, que implantaram, sob a sua ordem, formas de domínios que até hoje perduram na política regional, mesmo que se apresentem sob nova aparência e tenham uma escala de abrangência menor. Foram essas formas de domínios, associadas a outras práticas sociais, como o paternalismo e a estrutura oligarca, responsáveis pelo atraso ao qual foi submetida a região Nordeste em toda a sua história (Cássia, 2015, p. s/n).

Fortaleza, é a capital do Estado do Ceará (Figura 3), Nordeste do Brasil10 - localizada no

litoral atlântico, com 34 km de praias, sendo a capital de maior densidade demográfica do país. Oficialmente, o município tem 293 anos, tomando como referência a ocupação holandesa, as margens do Riacho Pajeú. Embora o aniversário oficial seja comemorado no dia 13 de abril de 1726, o território já era conhecido por europeus, segundo registros,

10 O Brasil é uma República Federativa formada por 26 estados e pelo Distrito Federal (figura 2), onde está situada a

capital do país, Brasília. Desses 26 Estados, 17 são litorâneos e 9 são interioranos, e estão divididos em municípios que têm como sede a cidade, e os municípios estão divididos em distritos que têm como sede as vilas. A área territorial brasileira corresponde uma extensa de 8.510.820,623 km², que compreende quase a metade do continente sul- americano. O território está dividido em cinco regiões constituídas por extensos blocos territoriais, conforme apresenta a figura 1.

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desde antes da chegada oficial dos portugueses ao Brasil. Por volta de 150 anos antes da data oficial, há registro descrevendo detalhadamente o litoral de onde corresponde o território da cidade. Inicialmente, a Capitania do Siará não havia sido explorada pelos europeus até o ano de 1603, tendo sido a partir de 1604 inaugurado Fortim de Santiago no bairro denominado Barra do Ceará – este lugar posteriormente foi conhecido como Forte São Sebastião11 (Xavier, 2009).

Figura 2: Divisão do Brasil em regiões com destaque para os Estados. Fonte: www.mapas-brasil.com

Figura 3: Localização de Fortaleza e alguns municípios do Ceará. Fonte: www.mapas-brasil.com

11 (O Povo online – disponível: https://www20.opovo.com.br/app/opovo/dom/2015/04/04/a-historia-de-fortaleza- antes-

Atualmente Fortaleza possui uma população estimada em 2,6 milhões de habitantes (IBGE, 2018). O município cearense se destacou como a 6ª Região Metropolitana mais populosa do Brasil, com 4.074.730 milhões de habitantes, sendo a maior Região Metropolitana do Norte e Nordeste do país. (Fortaleza-PMF, 2018). Administrativamente Fortaleza é distribuída em sete Secretarias Executivas Regionais (SER), onde os 119 bairros são divididos da seguinte forma: SER I (15 bairros); SER II (20 bairros); SER III (17 bairros); SER IV (19 bairros); SER V (18 bairros); SER VI (29 bairros); e SERCEFOR, essa última corresponde a Secretaria Executiva do Centro da cidade (PMF, 2017). Embora, a cidade dispõe planos diretores desde o início do séc. XX, isso não resultou em uma maneira eficiente em tornar o espaço urbano socialmente menos desigual (Brasil, Cavalcante & Capasso, 2017).

No setor turístico, por conta da localização geográfica estratégica em relação às rotas aéreas internacionais, pelo clima agradável e sol o ano inteiro, além da beleza e fama do litoral do estado, em 2010, foi a capital do Nordeste mais procurada por viajantes nacionais e no cenário geral do país ocupou a 4ª colocação. Contraditoriamente, cerca de 13,9% da população cearense vivem na extrema pobreza, no caso, com menos de US$ 1,90 por dia (menos de R$ 140/mês). O Estado é o terceiro no ranking da desigualdade no Nordeste e o sétimo no País, até o ano de 2016 era o oitavo, mas em 2017 a desigualdade agravou-se e passou para a posição sétima no ranking (IBGE, 2018). Esse modelo de crescimento gerando polarizações e desigualdades nos remete as reflexões de Bauman12. A capital

cearense há décadas sofre uma explosão populacional de maneira insustentável, tornando essa cidade a de maior densidade demográfica do país. Um modelo de crescimento sedimentado na desigualdade social, inclusive, Fortaleza é considerada uma das metrópoles mais desiguais do mundo. Barreira (2018) ressalta que, por ser o índice de criminalidade maior na periferia demonstra a importância da desigualdade social como fator esclarecedor da manutenção e ampliação dos números da violência e criminalidade. E afirma que essa informação precisa ser conferida para articular políticas de segurança com políticas de educação e saúde. Pois somente com a redução das desigualdades sociais, serão reduzidos os números da violência. Assim frisa (Cavalcante, 2011; Freitas, Brasil &

12 Os efeitos da crescente polarização inter e intra-societária de riqueza, renda e chances de vida - sem dúvida é a

mais preocupante das tendências contemporâneas - têm sido amplamente estudados e discutidos, embora pouco tenha sido feito para reverter esses efeitos, e menos ainda para deter a marcha da tendência (Bauman, 2001: 149).

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Almeida,2016), a importância de examinar o contexto de violência e criminalidade nas áreas de pobreza difundidas nas periferias das cidades. Ele caracteriza a expansão de Fortaleza, conforme citação:

É uma cidade em crescimento expressivo, configurando-se no campo urbano como metrópole em franco desenvolvimento. Todavia, tanto o crescimento populacional da cidade quanto a dinâmica do seu desenvolvimento não se deram de forma sustentada. Expressão disto é a expansão urbana desordenada e elevada concentração de renda que marcam o espaço urbano de Fortaleza ou a desigualdade social que apartam ricos e pobres na quinta maior capital do Brasil (Freitas, Brasil & Almeida, 2016: 03). Os estudiosos revelam ainda um crescimento da cidade marcado por ampliações de empreendimentos públicos e privados, condomínios fechados de alto padrão, situados, em sua maioria, na parte leste da cidade, enquanto a parte oeste uma ocupação desordenada e alta concentração populacional, sem planejamento e intervenções prévias por parte dos poderes públicos.

Este processo culmina com a precarização desses espaços em relação à moradia e investimentos em infraestrutura, transporte público, entre outros serviços essenciais, afetando, deste modo, amplas camadas populares da Capital, fato indistinto do quadro social das demais metrópoles brasileiras (Freitas, Brasil & Almeida, 2016: 03).

As reflexões abordadas acerca deste modelo de desenvolvimento de cidade com alta concentração de renda e desigualdades sociais, demonstram que essa desigualdade também ocorre na concentração da criminalidade e violência13 distribuída pelas áreas da

cidade. No caso da urbe investigada, por exemplo, os maiores números de homicídios concentram-se em alguns bairros nas zonas periféricas, áreas normalmente menos servidas

13 O fenômeno da violência abordado partilha do pensamento de (Freitas, Brasil & Almeida (2016), isto é, um fato

elaborado social e culturalmente. Portanto, um episódio que se modifica no tempo, no espaço, de sociedade para sociedade e de cultura para cultura. Ainda como elencam os estudiosos: “Em princípio, a violência pode ser definida como todo ato de coação, envolvendo um ou vários atores que produz efeitos sobre a integridade física ou moral de pessoas. Em um primeiro momento, é possível distinguirmos duas expressões de violência. A que se revela por meio da coação física implicando, no limite, em eliminação física (homicídio); e violência simbólica, que se manifesta em diferentes formas de discriminação que nem sempre é percebida como tal. Trata-se de ações e classificações morais associadas a preconceitos de etnia, gênero, orientação sexual e religião, entre outros, podendo também transformar- se em violência física” (Brasil, Almeida, Barreira e Freitas, 2010: 32).

de infraestrutura e serviços urbanos (Barreira, 2010; Cavalcante, 2011; Freitas, Brasil & Almeida, 2016).

A pesquisa definida como Cartografia da Criminalidade e Violência na Cidade de Fortaleza14 (2010), foi um dos primeiros diagnósticos que buscou de forma mais

abrangente possível traçar um saber acerca da criminalidade e violência no município de Fortaleza. Por meio dessa pesquisa foi possível localizar as regiões da cidade com maior concentração de homicídio, o perfil das vítimas e os instrumentos utilizados na ação do crime. Classificando da seguinte forma: Maior número de homicídio registrado nas zonas periféricas, principalmente, as estigmatizadas como violentas e marginalizadas, o perfil predominante das vítimas foi jovens de 15 a 29 anos, do sexo masculino, solteiro e com baixa escolaridade, e a arma de fogo foi apontada como principal instrumento utilizado na ação criminosa (Brasil, Almeida, Barreira & Freitas, 2010; Cavalcante, 2011).

Aspectos semelhantes também são observados na investigação de (Cavalcante, 2011), o estudo ratifica as regiões mais desfavorecidas de infraestrutura e localizadas distantes de zonas com maior poder aquisitivo registrando os maiores índices de homicídios. Isto é, as regiões periféricas da cidade são os principais locais da demanda de assassinatos, especificamente, os bairros em que estão no perímetro da grande Messejana, do grande Bom Jardim e do grande Jangurussu. Entretanto, esse estudo apresentou detalhou dados específico sobre o grande Jangurussu – uma das áreas de Fortaleza com grande registro de violência, localizada na periferia sul da cidade, também um lugar com estigma de marginalização e criminalidade. O referido trabalho constatou questões apontadas em pesquisa anteriores, como, por exemplo, um inchaço populacional do município imerso em desequilíbrios sociais, “esse crescimento populacional, contudo, não se deu de forma sustentada. O resultado pode ser observado por sua expansão urbana desordenada e por sua aguda concentração de renda, uma das maiores do Brasil” (Cavalcante, 2011: 45).

Além disso, o levantamento confirma a crescente estatística envolvendo adolescentes como vítima do crime de homicídio, mantendo a mesma tendência,

14 Cartografia da Criminalidade e Violência na Cidade de Fortaleza configura um diagnóstico realizado no ano de 2010 por

meio da parceria entre a FUNECE - Fundação Universidade Estadual do Ceará- com interveniência do Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos-IEPRO e a Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza - GMF com recursos da Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP do Ministério da Justiça-MJ), elaborado por pesquisadores do Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética-LABVIDA e Laboratório de Estudos da Conflitualidade e Violência-COVIO, ambos da Universidade Estadual do Ceará, e do Laboratório de Estudos da Violência-LEV da Universidade Federal do Ceará, com apoio da Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza - GMF, contando com recursos da Secretaria Nacional de Segurança Pública-SENASP do

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apontadas em outros estudos, das zonas periféricas da cidade como lugar de maior incidência desse tipo de inflação, essa análise evidenciou o crescente número de mortes entre adolescentes, destacando-se a predominância das ocorrências com o perfil do sexo masculino, faixa etária de 15 a 18 anos, pobres, maioria negros e baixa escolaridade (Brasil, Almeida, Barreira & Freitas, 2010;Cavalcante, 2011; Cavalcante & Freitas, 2012).

O referido estudo observou a respeito dos adolescentes pobres, localizados em algumas regiões da periferia, situando esses indivíduos em um estado de exceção permanente, geralmente, considerados inimigos da ordem social pelos agentes públicos e pela própria comunidade. Ressaltando que os adolescentes são submetidos a uma zona de exceção construída socialmente onde a supressão de direitos básicos é contínua. E onde se permiti que esses jovens morram e seus óbitos nem sequer sejam investigados (Cavalcante, 2011). Tal circunstância assemelha-se a reflexão de Bauman, quando refere:

Hoje a exclusão não é percebida como resultado de uma momentânea e remediável má sorte, mas como algo que tem toda a aparência de definitivo. Além disso, nesse momento, a exclusão tende a ser uma via de mão única. É pouco provável que se reconstruam as pontes queimadas no passado. E são justamente a irrevogabilidade desse "despejo" e as escassas possibilidades de recorrer contra essa sentença que transformam os excluídos de hoje em "classes perigosas" (Bauman, 2009: 06).

Em análise dos anos seguinte, podemos observar os resultados do trabalho do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e parceiros analisando o contexto de violência e criminalidade em Fortaleza. UNICEF (2014), trata do cenário nacional acerca dos homicídios cometidos contra adolescentes no país, e esclarece sobre a criação do Índice de Homicídio na Adolescentes (IHA)15. Porém com fins desta

investigação, será abordado especificamente os dados referentes ao município de Fortaleza.

O levantamento constata que sete das 10 cidades mais violentas do Brasil estão na

15 O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) tem como objetivo estimar um retrato da vitimização letal contra

adolescentes no país entre os 12 e os 18 anos. O desenvolvimento deste índice está integrado no âmbito do Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens (PRVL), uma iniciativa coordenada pelo Observatório de Favelas e realizada em conjunto com a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, o Fundo das Nações Unidas para Infância e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-UERJ). O IHA constitui um instrumento para o monitoramento e a sensibilização dos gestores públicos e da sociedade em geral em relação ao fenômeno dos homicídios de adolescentes (UNICEF, 2014, p:16).

Região Nordeste. A capital cearense vem sendo denominada como a “capital do crime”, registra o maior índice de homicídios de adolescentes do País, com 10,94 para cada 1.000 adolescentes, o perfil das vítimas estimado pelo IHA também trata dos critérios de gênero, cor, idade e meio utilizado no homicídio. No caso de Fortaleza, (44%) das mortes aconteceram em 17 dos 119 bairros da cidade, a maioria das vítimas são do sexo masculino (97,95%), negros ou pardos (67,75%) e moradores das periferias. Os adolescentes assassinados eram, predominantemente, pobres (67,1%) viviam em lares com renda familiar entre um e dois salários mínimos, e (70%) estavam fora da escola há pelo menos seis meses. Além disso, dos casos registrados nesta cidade, metade dos adolescentes assassinados estavam em média a 500 metros de sua casa (UNICEF,2014). “Eu ouvi os tiros que matou meu neto” disse a avó de um adolescente assassinado em um dos locais de crimes acompanhado por esta investigação.

De acordo com as estatísticas da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social _SSPDS, o ano de 2014 configura como o período em que as taxas de crimes violentos letais e intencionais atingiram os números mais elevados desde o ano de 2005 (SSPDS, 2015). Segundo UNICEF (2014), o valor do IHA para os 300 municípios com mais de 100 mil habitantes em 2014 é 3, 65. Ou seja, para cada 1.000 adolescentes que completam 12 anos, 3,65 são assassinados antes de completar 19 anos. Esta estatística é considerada alarmante, tendo em vista que, uma sociedade não violenta precisaria apresentar números próximos de 0 e, seguramente, valores inferiores a 1. Diante disso, a situação de Fortaleza demonstra gravidade porque apresentou um IHA quase três vezes maior com relação ao conjunto do país. Conforme dados da tabela (figura 4) abaixo.

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Figura 4: Índice de Homicídio na Adolescentes (IHA) segundo as Capitais, 2014 Fonte: Relatório da UNICEF, 2014.

Conforme Freitas & Cavalcante (2016), a falta de políticas públicas direcionadas à população jovem e o efetivo policial, essencialmente, a polícia investigativa estadual, a qual é defasada, estão entre as justificativas para o elevado número de jovens assassinados no Ceará. E “em contrapartida, o mercado de drogas ilícitas e a circulação de armas de fogo tornaram-se onipresentes. A soma de todos esses fatores levou a uma “tempestade perfeita” no que diz respeito às taxas de homicídios em Fortaleza nos últimos dez anos” (Freitas e Cavalcante, 2016: 01). Além disso, os estudiosos ressaltam a necessidade de um olhar complexo com relação aos elevados índices de homicídios contra jovens na cidade, esclarecem que, apontar como único responsável por essa realidade de violência o tráfico de drogas é demasiadamente reducionista.

O Governo do Estado do Ceará justifica que vêm desenvolvendo várias ações no intuito de reduzir as elevadas taxas de homicídio. Um dos programas mais referenciado é o “Pacto por um Ceará Pacífico”16. Essa iniciativa teve início no ano de 2015 e abrange

todo o Ceará, é coordenado pela vice-governadora do Estado e congrega parcerias com prefeituras, secretarias estaduais e municipais, demais poderes públicos, organizações não-governamentais e sociedade civil. Os dois pilares centrais da filosofia do Programa

16 O programa foi instituído pelo Decreto estadual nº 31.787/2015, visando a construção da Cultura de Paz no Estado, por

meio da definição, da implantação, do monitoramento e da avaliação contínua de políticas públicas interinstitucionais de prevenção social e segurança pública, para a melhoria do contexto urbano, acolhimento às populações mais vulneráveis e enfrentamento à violência, com atuação articulada, integrada e compartilhada dos órgãos e entidades públicas estaduais, municipais e federais, e da sociedade civil. FONTE: https://www.ceara.gov.br/wp- content/uploads/2017/12/CP_Livro3_Ceara%CC%81-Paci%CC%81fico-em-Ac%CC%A7a%CC%83o.pdf, Consultado: Julho/2019.

Ceará Pacífico fundamentam-se primeiro no tripé: aproximação com a população, uso intensivo de dados e aprimoramento da inteligência e da investigação, e articulação e integração das agências de segurança pública e justiça. E segundo encontra-se a articulação do desenho das ações de segurança estrito senso com a realidade do sistema prisional no planejamento estratégico e tático de operações e de metas. Justificando a necessidade de sensibilizar todo o sistema de segurança pública e justiça criminal para uma abordagem diferente em termos de política criminal e que priorize homicidas.

A partir do Programa Ceará Pacífico surgiram vários projetos, dentre esses ações como “o Tempo de Justiça”, o qual consiste em uma espécie de monitoramento junto ao Tribunal de Justiça do Ceará, com o propósito de articulação e o acompanhamento do passo a passo do processo criminal, visando maior rapidez nos julgamentos de crimes de homicídios (TJCE, 2019). Recentemente, também o Estado passa a contar com o Programa de Identificação e Localização de Desaparecidos no Estado do Ceará (PLID-CE) e a integrar o Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid). A ação é resultado de um convênio firmado entre o Governo do Ceará e o Ministério Público Estadual (MPCE) e integra as medidas de Segurança Pública do Estado (TJCE17, 2019).

Dentre outras ações são apontados ainda o aumento do efetivo policial, principalmente polícia ostensiva, a restruturação e ampliação do Departamento de Perícia do Ceará – PEFOCE, a alteração da Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa que passou para a condição de Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa, esses Departamentos serão descritos posteriormente porque constitui essa investigação. Ainda de acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social - SSPDS, houve a ampliação do