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Dados genéticos em investigação de crimes de homicídio na cidade de Fortaleza, Brasil

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Academic year: 2020

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DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição CC BY

https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

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Agradecimentos

E é tempo de agradecer a todo amor, força e inspiração que me foram ESSENCIAIS para a concretização deste sonho pessoal e coletivo. Profundamente agradeço:

A todas as deusas, espíritos iluminados, “santos, encantos e axés” que abriram os caminhos, me protegeram e me guiaram nesta jornada;

A meu amado Ceará/Brasil, que “me deu régua e compasso”, e que em sua caótica e bela dinâmica fortaleceu meu coro para que eu pudesse encarar as adversidades, as novidades, as surpresas de viver em uma nova terra;

A Portugal, por ter abertos todas as portas para que eu entrasse! Terra que me acolheu para eu realizar este projeto tão sonhado, e com belos cenários me proporcionou valiosos aprendizados; À Professora Helena Machado, minha orientadora, pelo apoio e a inspiração para trilhar novas áreas de conhecimento;

Ao Professor Gil, meu Coorientador, pela motivação, atenção e a maravilhosa acolhida ao universo acadêmico depois de longos anos afastada;

A todos os entrevistados que, além do seu tempo e disponibilidade, acolheram meu projeto com carinho e atenção, transformando as entrevistas em ricos momentos de troca e aprendizados, e a todos os servidores da Polícia Civil, SSPDS, DHPP e PEFOCE, o qual o auxílio de cada um foi primordial para a realização deste projeto;

A todos os meus amigos, flores preciosas neste trajeto, D. Valdíria, Eunice, Glau, Jana e Ricardo, Lidiane, Lígia, Mariazinha e Arthur, Zé, Zênia e todas as novas amizades criadas, muito obrigada pela luz e por partilharem este momento comigo;

A memória da minha querida mãe, e a meu pai, meu eterno amor e gratidão por todos os ensinamentos, pela liberdade que me possibilitou imensa riqueza interior para enfrentar a vida; E por fim, com toda a profundidade e serenidade, agradeço eterna e amorosamente ao meu Pedro, meu filho, meu chão, minha raiz, a pessoa mais importante da minha vida, por e com você cheguei até aqui hoje. Amo incondicionalmente por estar comigo, pelo incentivo, pela melhor amizade do mundo e por compreender todas as minhas ausências, muito obrigada!

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DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho acadêmico e confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração. Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

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Título: Dados genéticos em investigação de crimes de homicídio na cidade de Fortaleza, Brasil

Resumo

O desenvolvimento e difusão do uso de material genético para fins criminais é uma realidade crescente em cenário mundial, ancorado na justificativa central de promover o combate eficaz da criminalidade. E o Brasil foi um dos países recentemente incluído nessa jornada, consciente da complexidade inerente ao território brasileiro, e certa do campo fértil a ser investigado. Importa saber de que modo vem ocorrendo a introdução das novas tecnologias DNA no universo da investigação criminal. Assim, o objetivo norteador deste trabalho é compreender o uso da tecnologia genética no âmbito das investigações criminais referentes aos crimes de homicídios na cidade Fortaleza – Ceará

– Brasil. A metodologia é qualitativa, alicerçada na observação participante e análises de entrevistas com os agentes investigativos. Com base na Teoria Ator-Rede, os principais resultados alcançados podem descrever um quadro concernente à visão dos agentes investigativos relacionado as novas tecnologias nas investigações criminais, as circunstâncias das cenas de crimes na referida cidade, a instrução específica para procedimentos em local de crime, e um foco ampliado a cadeia de custódia dos vestígios coletados desde a cena do crime ao processamento laboratorial.

Palavras-chave: Cadeira de custódia;Fortaleza; homicídio; investigação criminal; tecnologia DNA.

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Title: Genetic data in the investigation of homicide crimes in the city of Fortaleza, Brazil

Abstract

The development and diffusion of the use of genetic material for criminal purposes is a growing reality worldwide, anchored in the central justification of promoting the effective fight against crime. And Brazil was one of the countries recently included in this quest, aware of the existing complexity in the Brazilian territory as well as of the fertile field to be investigated. It is important to know how the introduction of new DNA technologies has been taking place in the field of criminal investigation. Thus, the guiding objective of this work is to understand the use of genetic technology in the context of criminal investigations regarding homicide crimes in the city Fortaleza - Ceará - Brazil. The methodology is qualitative, based on participant observation and analysis of interviews with investigative agents. Based on the Actor-Network Theory, the main results achieved may describe a context concerning the investigative agents' view regarding new technologies in criminal investigations, the circumstances of crime scenes in that city, the specific instruction for crime scene procedures, and an expanded focus on the chain of custody of traces collected from the crime scene to laboratory processing.

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Índice Geral

Introdução... 13

Parte I: Delimitação Teórica ... 17

1.1. Bases de dados de perfil genético forense ... 18

1.2. Ciências forenses & material DNA ... 23

1.3. Investigação criminal & Cena de crime ... 26

1.4. Tecnologia DNA forense em contexto de Brasil ... 34

1.5. Cenário de criminalidade na cidade de Fortaleza ... 38

1.6. Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) ... 54

1.7. Departamento de Perícia do Estado do Ceará (PEFOCE) ... 58

1.8. Laboratório DNA/PEFOCE ... 62

Parte II: Referencial teórico & Metodologia ... 67

2.1. Referencial teórico ... 68

2.2. Conexão da TAR com a investigação. ... 71

2.3. Percursos Metodológicos ... 72

2.4. Pesquisa qualitativa…... 74

2.5. Observação Participante ... 79

2.6. Entrevista semiestruturada… ... 81

Parte III: Resultados e debate ... 86

3.1. Confiabilidade dos agentes investigativos em dados genéticos como prova criminal 87 3.2. Cena de crime em Fortaleza…... 91

3.3. Cadeia de custódia dos vestígios... 101

3.4. Formação específica para levantamento em cena de crime ... 111

Considerações Finais ... 117

Referências ... 120

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Índice de Figuras

Figura 1: Representação espacial do local de crime Figura 2: Divisão do Brasil em regiões estaduais Figura 3: Localização de Fortaleza

Figura 4: Índice de homicídio na adolescência

Figura 5: Gráfico dos homicídios de mulheres e adolescentes do sexo feminino Figura 6: Mapa das áreas integradas de segurança de Fortaleza

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Lista de Siglas

AIS – Áreas Integradas de Segurança ANT – Actor-Network Theory

BNPG – Banco Nacional de Perfis Genéticos

BPRAIO – Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivass e Ostensivas CCPHA – Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência CODIS – Combined DNA Index System

CIOPAER – Coordenadoria Integrada de Operaçõess Aéreas CIOPS – Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança COPEL – Coordenadoria de Perícia Criminal

CPCOM RONDA – Comando de Policiamento Comunitário CPLAG – Planejamento e Gestão

CSI – Centre de Sociologie de I’Innovation CSI – Crime scene investigator

CTI – Coordenadoriass de Tecnologia de Informação CVLI – Crimes Violentos Letais e Intencionais

DHPP – Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa DNA – deoxyribonucleic acid

DPE – Departamento de Polícia Especializada DPF – Departamento da Polícia Federal FBI – Federal Buereau of Investigations

GITAD – Grupo Iberoamericano de Trabalho em Análise de DNA GNR – Guarda Nacional Republicana

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IC – Instituto de Criminalística

IHA – Índice de Homicídio na Adolescência IML – Instituto Médico Legal

MJ – Ministério da Justiça MP – Ministério Público

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x MPCE – Ministério Público Estadual

NDNAD – National DNA Database NUPEX – Núcleo de Perícia Externa PC – Polícia Civil do Estado do Ceará

PEFOCE – Departamento Perícia do Estado do Ceará PF – Polícia Federal

PLIDCE – Programa de Identificação e Localização de Desaparecidos no Estado do Ceará POP – Procedimento Operacional Padrão Perícia Criminal

PMCE – Polícia Militar do Ceará

RIBPG – Rede Integrada de Banco de Perfis Genéticos SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública SER – Secretarias Executivas Regionais

SERCEFOR – Secretaria Executiva do Centro da cidade

SINALID – Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos SSPDS – Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social

STR – Shot Tandem Repeat TAR – Teoria Ator-Rede

TJCE – Tribunal de Justiça do Ceará

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância UNISEGS – Unidades Integradas de Segurança

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MPCE – Ministério Público Estadual NDNAD – National DNA Database NUPEX – Núcleo de Perícia Externa PC – Polícia Civil do Estado do Ceará

PEFOCE – Departamento Perícia do Estado do Ceará PF – Polícia Federal

PLIDCE – Programa de Identificação e Localização de Desaparecidos no Estado do Ceará POP – Procedimento Operacional Padrão Perícia Criminal

PMCE – Polícia Militar do Ceará RIBPG – Rede Integrada de Banco de Perfis

Genéticos SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública SER – Secretarias Executivas Regionais

SERCEFOR – Secretaria Executiva do Centro da cidade SINALID – Sistema Nacional de Localização e Identificação de

Desaparecidos SSPDS – Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social

STR – Shot Tandem Repeat TAR – Teoria Ator-Rede

TJCE – Tribunal de Justiça do Ceará UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância UNISEGS – Unidades Integradas de Segurança

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Dedico este trabalho à memória da minha mãe, com todo meu amor e gratidão!

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Introdução

A presente investigação pretende contribuir para o debate contemporâneo levantado acerca das novas tecnologias DNA1 introduzidas no contexto das investigações criminais,

considerando o momento em que o trabalho policial alicerçado em tecnologias como a identificação de indivíduos por perfis genéticos tem assumido maior relevância. Nota-se uma sociedade moderna marcada por características muito específicas como o acelerado e contínuo avanço tecnológico e o processo de globalização. Fatores esses essenciais para entendermos a relevância do tema e o estudo aqui proposto, já que a tecnologia do DNA para fins de investigação criminal vem sendo amplamente utilizada pelo sistema de justiça em várias partes do mundo. Direcionando ações e grandes investimentos com fins de expansão e implementação de banco de dados genéticos2, as principais justificativas giram em torno da

colaboração com o desenvolvimento dos procedimentos investigativos para que ocorram de forma mais célere, objetiva e eficaz e, dessa forma, proporcionar uma articulação por meio do auxílio da ciência forense3 ao direito, para que a justiça tenha resultados mais rigorosos e

menos possibilidades de erros (Costa, 2001,2010, 2014; Machado, 2016).

No Brasil, as políticas criminais, geralmente, seguem os preceitos internacionais. Desse modo, qualquer iniciativa legislativa condizente ao Primeiro Mundo, que prometa controlar a criminalidade, é aceita sem maiores reflexões e avaliações acerca das especificidades e complexidade inerentes ao território brasileiro. Diante de uma população cada dia mais amedrontada com os altos índices de criminalidade, só interessa que o poder público adote medidas capazes de solucionar a problemática. O poder público, a

1 A sigla DNA refere-se a DeoxyriboNucleic Acid que, em língua portuguesa, normalmente aparece traduzida por ADN

(Ácido DesoxirriboNucleico). Apesar dos diplomas legais portugueses utilizarem a designação ADN, entende-se que a sigla não deverá ser traduzida em virtude da designação aprovada pela Sociedade Internacional de Bioquímica. O DNA é a molécula em que se encontram codificadas as características genéticas de cada indivíduo. Cada uma das nossas células possui exatamente, no seu núcleo, a mesma quantidade e a mesma sequência de DNA, permitindo que as características genéticas de cada pessoa possam potencialmente ser estudadas a partir de qualquer tipo de material biológico, de qualquer parte do seu corpo (Machado, Silva & Amorim, 2010; Machado & Costa, 2012).

2 Os bancos de dados genéticos: podem ser classificados de dois tipos, um de perfis genéticos referentes a amostras

coletadas em cena de crime e outro com os perfis genéticos de referências. As referências são variadas e podem ser incluídas diversas, dependendo da legislação vigente. Por exemplo, um país pode estabelecer que os condenados por crimes hediondos tenham amostras coletadas, outro país pode decidir outros critérios e assim sucessivamente (Peduzzi, 2008).

3 A Ciência Forense corresponde a um conjunto de área interdisciplinar envolvendo Física, Biologia, Química, Matemática,

Etomologia, Antropologia, Criminalística, Odontologia, Psiquiatria e Psicologia Forense, Toxicologia Forense. A expressão forensic Science é um termo empregado, no uso da ciência e da tecnologia para a reconstituição e obtenção de provas de

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par da ignorância e do distanciamento dos cidadãos quanto às decisões efetivadas, tem ciência que qualquer iniciativa com a promessa de controlar a criminalidade será bem aceita sem questionamentos e esclarecimentos capazes de demonstrar se realmente fará mudanças nos índices de criminalidade. Nessa perspectiva, a implementação da tecnologia de perfis genéticos para fins de investigação criminal no território brasileiro iniciou-se em junho de 2009. Nesse contexto, O Federal Bureau of Investigations (FBI) norte-americano assinou um acordo com o Departamento da Polícia Federal (DPF) em que consistia na licença de uso Combined DNA Index System (Sistema Indexado de DNA Combinado). Posteriormente, foi promulgada a Lei Federal nº 12.654/2012, a qual criou formalmente os laboratórios oficiais para armazenamento de perfis genéticos. Com isso, surge a constituição da Rede Integrada de Banco de Perfis Genéticos (RIBPG). Os bancos de dados de perfis genéticos encontram-se no âmbito Federal do Ministério da Justiça (MJ), na esfera Estadual das Secretarias de Segurança Pública, gerenciados pelas Unidades Oficiais de Perícia Criminal. Esse modelo de entrecruzamento de informações, atualmente, vincula 19 (dezenove) unidades laboratoriais e uma unidade sob a direção de peritos criminais da Polícia Federal (PF) (Schiocchet, 2012, Richter, 2015).

Importa compreender de que forma a introdução dessa moderna tecnologia, adquirida por vultuosos investimentos em prol de instalações e equipamentos nos laboratórios forenses, vem de fato contribuindo com a diminuição da criminalidade. Diante disso, essa investigação direciona a atenção, particularmente, para a cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, território pertencente ao Nordeste brasileiro, reconhecida por profundas desigualdades sociais e que, atualmente, compõe o quadro das cidades mais violentas do mundo (Barreira, 2004, 2013, 2016; Freitas, 2016). Desse modo, o objetivo central norteador desse estudo foi compreender e analisar o contexto em que os vestígios genéticos oriundos das cenas de crimes de homicídios vêm integrando as investigações criminais em Fortaleza – Ceará - Brasil. No intuito de concretizar esse propósito, emergiram algumas questões que transformaram-se em guias para o desenvolvimento do trabalho, além de completar e acrescentar a temática em estudo. Questões essas como, por exemplo, De que modo acontece a coleta das amostras de material genético nos locais de crimes de homicídios em Fortaleza? Como os vestígios4 genéticos coletados são

4 Vestígio: a palavra origina-se do Latim vestigium, “pegada, marca”, de origem anterior desconhecida. Juridicamente é

considerado todo objeto ou material bruto detectado e/ou recolhido no local do crime para análise posterior (Espíndula, 2006).

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armazenados, acondicionados e qual o itinerário percorrido desde o local do crime ao processamento laboratorial? Quais são as condições apresentadas das cenas de crimes de sangue na cidade de Fortaleza? Qual a visão dos agentes investigadores (Inspetores e Peritos criminais) acerca dos dados genéticos oriundos das cenas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) introduzidos na investigação criminal? Esses questionamentos surgiram da necessidade científica e do campo empírico em pesquisar sobre o tema. Tendo em vista a escassez desse conhecimento empírico em contexto de Brasil e, principalmente, no Estado do Ceará, constrói-se uma investigação exploratória realizada de maneira gradual e cumprindo cada etapa exigida. Para isso, foi utilizada a metodologia qualitativa com foco nas técnicas da observação participante e a entrevista semiestruturada.

Este trabalho encontra-se estruturado e dividido em três partes. A primeira, com o título de delimitação teórica, apresenta de forma compacta uma série de estudos atuais a respeito das novas tecnologias DNA inseridas no campo da investigação criminal. Essa parte divide-se em subtópicos, nomeadamente: o primeiro retrata a expansão das bases de dados genéticos em contexto mundial, o segundo ponto trata de conhecer os principais conceitos e atuação relativo a Ciência Forense e material genético. O terceiro item aborda as questões relacionadas à investigação criminal e cena de crime, com foco tendencial ao crime de homicídio. A quarta unidade exibe, de forma resumida, o panorama da tecnologia DNA forense em contexto de Brasil, em seguida, o quinto ponto traça um retrato da criminalidade na cidade de Fortaleza/Ceará/Brasil. Posteriormente, uma breve explanação sobre os órgãos implicados nesta investigação, no caso, o Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), o Departamento de Perícia do Estado do Ceará (PEFOCE) e o Laboratório de DNA vinculado ao PEFOCE. Na segunda sessão do trabalho definida como referencial teórico & metodologia, será delineado a base teórica do estudo, notadamente, a Teoria Ator Rede e a conexão estabelecida da teoria e a pesquisa realizada. Logo depois, a descrição dos caminhos metodológicos percorridos, incluindo uma exposição da investigação qualitativa, bem como as técnicas utilizadas para a coleta dos dados empíricos. Finalizando, surge o terceiro capítulo designado por resultados e debate, neste compilado de ideias e descobertas estão organizados as principais categorias pertinentes aos levantamentos empíricos, a saber: a confiabilidade dos agentes investigativos no material genético como prova criminal; as circunstâncias da cena de

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dos vestígios desde o local do crime ao processamento laboratorial e a formação específica com fins a execução dos procedimentos em cena de crime. Por último, as considerações finais traçam um breve olhar acerca das limitações do estudo, as contribuições e possibilidades de novas pesquisas.

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Parte I

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18 Parte I: Delimitação Teórica

1.1 Bases de dados de perfil genético forense

Bauman (2007) apresenta reflexões pertinentes a temática tratada neste estudo ao fazer referências a sociedade moderna com relação a globalização. Retratando uma sociedade aberta, porém uma abertura na contramão dos própositos iniciais, em que ao invés de proporcionar evolução e progresso, essa abertura tem conduzido cada vez mais desorientação, levando os indivíduos a um grau de incapacidade nunca antes observado de definir seus próprios caminhos com firmeza e preservar o trajeto decidido. Uma sociedade em que se perdeu no atributo da “abertura”, termo inicialmente valioso, atualmente reflexo de efeitos não-planejados e impensados da “globalização negativa”, isto é, uma globalização exclusiva do crime e do terrorismo, da violência e das armas, da vigilância e da informação, do comércio e do capital. Deste modo uma sociedade “aberta” estar a resultar em uma sociedade encaminhada aos golpes da fatalidade. Como salienta o autor:

(...) se a idéia de 'sociedade aberta' era originalmente compatível com a autodeterminação de uma sociedade livre que cultivava essa abertura, ela agora traz à mente da maioria de nós a experiência aterrorizante de uma população heterônoma, infeliz e vulnerável, confrontada e possivelmente sobrepujada por forças que não controla nem entende totalmente(...) (Bauman, 2007: 13).

Exatamente diante deste cenário de terror, medo e busca incessante por “segurança”, que ocorre o processo de globalização e evolução da tecnologia genética, particularmente, a tecnologia para identificação criminal com a justificativa de garantir segurança. Conforme Maciel & Machado (2014), a crescente expansão dos dispositivos tecnológicos e o uso em larga escala das informações biogenéticas sobre os cidadãos ampara-se no combate à criminalidade. Com isso, fica claro que sob o pilar da globalização negativa não se pode obter segurança. É uma ilusão imaginar segurança e paz duradoura dentro de um único país ou de um determinado grupo de países com os seus próprios meios e separadamente do que acontece no resto do mundo. Assim: “A perversa ‘abertura’ das sociedades imposta pela globalização negativa é por si só a causa principal da injustiça e, desse modo, indiretamente, do conflito e da violência” (Bauman, 2007, p.

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14).

Neste contexto marcado pela complexidade da sociedade contemporânea, traçaremos neste item, resumidamente, o movimento implementação de banco de dados genético realizado por várias partes do mundo. Nota-se grandes investimentos conduzidos na difusão e efetivação da tecnologia DNA capaz de identificar e definir perfis de indivíduos por amostras cada vez menores. Um dos argumentos centrais para a consolidação desta tecnologia assenta no combate à criminalidade. Deste modo, políticos e cientistas forenses justificam como sendo um saber científico capaz de produzir a “verdade absoluta”. Em virtude disso, justificam também os benefícios à sociedade no sentido de resolver crimes rapidamente e com maiores certezas, além de atuar como instrumento de poder preventivo aos erros judiciários (Machado, 2016, p. 5).

O início da utilização formal desta tecnologia pode ser descrita a partir do surgimento da primeira base de dados genéticos oficial no ano de 1995 na Inglaterra, denominada UK National DNA Database (NDNAD). Atualmente essa base registra aproximadamente nove milhões de perfis armazenados, sendo considerada como o banco de dados de maior abrangência legislativa, isto é, a lei permiti que qualquer indivíduo detido seja coletado material genético e identificado na base de dados. Em seguida, surge a base de dados dos Estados Unidos da América sob a custódia do FBI5, intitulada base de dados

Combined DNA Index System (CODIS) com proporções semelhantes a base inglesa, porém interligada em rede com outras bases de dados em diversos países. O movimento de expansão para outras nações desta tecnologia é marcado pelo Tratado de Prüm6 no ano 2005.

Inicialmente, foi assinado entre Bélgica, Alemanha, Espanha, França, Luxemburgo, Holanda e Áustria, posteriormente, mais 20 países europeus também aderiram. O acordo visa o compartilhamento de informações entre os organismos de segurança europeu, como também o compartilhamento dos dados de perfis genéticos. Essa articulação despertou interesse em outras nações, resultando em um acelerado crescimento no número de bases de dados genéticos com fins a investigação criminal. Consta, atualmente, a ampliação

5 Agência Federal de Investigação. Revista de bioética y Derecho (www.bioticayderecho.ub.edu) ISSN: 1886-5887. 6 O Tratado de Prüm foi assinado em 2005 em Prüm (Alemanha) por sete Estados-Membros (Bélgica, Alemanha, França,

Luxemburgo, Países Baixos, Áustria e Espanha). Posteriormente, mais 20 países europeus aderiram ao acordo. A decisão do Tratado consiste na intensificação e na aceleração das trocas de informações entre organismos de segurança, possibilitando o compartilhamento e a comparação entre perfis genéticos registados em bases de dados existentes nos Estados-Membros. Bem como o intercâmbio de informações sobre registos de impressões digitais e de veículos (Machado,

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desta tecnologia em mais 60 países e outros 34 em fase de expansão e efetivação dos bancos de perfis genéticos, com maior concentração na Europa e América do Norte. (Richter, 2015; Santos, 2014; Machado, 2016).

A tecnologia genética utilizada em contexto de investigação criminal consta, inicialmente, na Inglaterra em 1995. A primeira vez em que um exame de DNA funcionou como prova criminal foi no caso de duas jovens inglesas, Lynda Mann e Dawn Ashworth. O fato ocorreu na década de 1980, ambas foram assaltadas, violentadas sexualmente e assassinadas. Como houve semelhanças nas características dos dois casos criminais, a polícia suspeitou trata-se dos mesmos indivíduos. Na tentativa de elucidar os delitos, foram solicitados a doação de sangue de todos os moradores residentes na região suspeita. Esse material coletado foi utilizado para confrontar com vestígios de sêmen retirado do corpo das vítimas. Mediante a análise do material a polícia prendeu o suspeito denunciado pelo exame de DNA, com isso a identificação por este método foi assim ampliando-se e sendo introduzido este conhecimento na identificação humano criminal (Soares apud Ferreira, 2017). Conforme Peduzzi (2008) pode-se classificar os bancos de dados em dois tipos: um de perfis genéticos colhidos de amostras coletadas em cena de crime e outro com os perfis genéticos de referências. Essas referências são variadas e podem ser incluídas diversas, dependendo da legislação vigente. Um país pode, por exemplo, estabelecer que os condenados por crimes hediondos tenham amostras coletadas, outro país pode decidir outros tipos de critérios para o armazenamento de dados genéticos nas bases, como em caso de condenados por qualquer tipologia criminal, ou mesmo, estipular que indivíduos detidos por qualquer tipo de infração penal sejam obrigatoriamente tipados.

Costa (2001) aponta ambiguidade na utilização da tecnologia DNA ao definir perfis, pois por um lado a aplicação deste suporte tecnológico garante uma identificação rigorosa de indivíduos criminosos, obviamente, se for aplicada seguindo as exigências necessárias nos métodos, assim contribuindo objetivamente para esclarecer determinados casos. Mas por outro lado, essa tecnologia submete-se a inúmeros problemas de ordem técnica e prática podendo levar a controversas, provocar abusos e gerar erros judiciais, e inclusive afetar princípios fundamentais da vida democrática e da cidadania, destaca:

(...) desde os erros provenientes de identificações na recolha do material e na execução da técnica, até à falta de preparação dos actores do meio judicial, advogados, juízes, jurados, etc, para analisar esses resultados, são numerosos os obstáculos ao

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cumprimento das promessas de uma técnica que, à primeira vista, poderia vir resolver muitos dos problemas que se colocam ao meio judicial (...) (Costa, 2001: 173).

Deste modo, o progresso da tecnologia DNA fundamentado na infalibilidade é questionável. Costa (2001) em análise do avanço desta tecnologia nos últimos vinte anos, e considerando que a promessa da identificação a partir de perfis genéticos fundamenta-se em reduzir a incerteza e promover qualidade da prova criminal e das decisões judiciais. Ressalta que, “uma das vantagens dessa técnica seria a sua aplicabilidade universal e sua replicabilidade, independentemente das características do sistema judicial” (Costa, 2001, p. 174). Entretanto, na prática a principal vantagem do uso desta tecnologia não vem ocorrendo, considerando que é necessário observar aspectos cruciais para a concretização desse benefício, tais como: condições técnicas adequadas, laboratório equipado e peritos com instrução compatível. Além disso, é essencial o respeito pelos métodos, obrigatório à salvaguarda da prova e da sua integridade, a começar do instante da recolha dos vestígios no local do crime à sua apresentação em tribunal.

Nesta perspectiva, desde que observado uma prática dentro dos parâmetros exigidos e atuando concernente aos objetivos propostos, uma base de dados de perfis genéticos forenses poderá representar uma potente ferramenta na administração do crime, pois o avanço desta técnica admite-se para além de identificar suspeitos e criminosos, absolver inocentes. Inclusive, Costa, Machado & Santos (2010) a partir das contribuições de Lynch salientam que em consequência do desenvolvimento da tecnologia DNA e o armazenamento de perfis genéticos em grandes proporções em alguns países têm resultado mudanças pertinentes nos sistemas de justiça criminal.

Corte-Real (2010) afirma que a identificação genética não começou com as bases de dados, justifica essa informação alegando que em Portugal há uma série de processos judiciais solucionados com base na prova genética forense. Quanto a recolha do material genético cita:

(...) a questão da colheita da amostra biológica é essencial. Constitui um passo crucial para o sucesso do resultado, porque os laboratórios já estão muito harmonizados: há normas específicas de atuação na fase prévia à própria colheita do material biológico e isso contribui para o sucesso desse resultado. Muitas vezes falha-se este procedimento inicial. Por muito bom que seja o laboratório, por muito bons que sejam os

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equipamentos, por muito boa que seja a técnica, não se consegue, muitas vezes, um resultado. Portanto, este é um passo crucial para o sucesso de todos estes procedimentos e de toda esta prova de genética forense (Corte-Real, 2010: 26).

A partir do recorte desse autor, percebe-se uma visão de progresso com relação ao crescimento da tecnologia genético forense, reconhecendo, basicamente, a importância da coleta do material atendendo os critérios estabelecidos, sem apresentar esclarecimentos objetivos acerca das vantagens da aplicação desta tecnologia com relação a investigação criminal.

Ressalta-se a importância colheita de uma legislação capaz de transmitir clareza e objetividade quanto aos parâmetros dos limites da ciência com fins a colheita de amostra DNA em contexto forense. Moniz (2010) refere que o legislador da Lei portuguesa nº 5/2008 buscou proteger os interesses da investigação, da vítima, dos suspeitos, indiciados e condenados. Mas a legislação não especificou de forma clara as restrições, favorecendo dúvidas na esfera da aplicabilidade, e independente dos perfis genéticos serem direcionados para a identificação civil ou utilizados na competência da investigação criminal, o direito estabeleceu as diversas normas. Porém no âmbito da investigação criminal, o uso da técnica pode acarretar vários problemas ao direito, como, por exemplo, que existe o risco com a coleta do material biológico e obtenção do perfil genético ocorrer atos violadores de direitos essenciais, como o direito à integridade física, o direito à autodeterminação informacional, o direito à privacidade, entre outros (Moniz, 2010; Santos, Machado, Fonseca & Costa, 2015).

(...) A colheita de material biológico e obtenção do perfil de ADN é apenas um entre muitos outros casos em que a ciência presta um relevante contributo à investigação criminal. Porém, muitos outros meios são utilizados. Mas também a análise sociológica do fenómeno da criminalidade no âmbito da sociedade, ou no âmbito de certos grupos de comunidades, constitui um contributo de uma outra ciência para o estudo do direito penal. O diálogo entre as diversas ciências sempre foi e será um meio de desenvolvimento do direito penal e de auxílio na investigação criminal no seio de uma sociedade complexa e multicultural como a da atualidade. (Moniz, 2010: 33).

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criminal, significa um momento oportuno para a sociedade levantar um debate crítico sobre várias questões ligadas a cidadania, direitos e discriminação. De modo que, são aspectos aparentemente neutros da ciência e da tecnologia em que acarretam rearranjos na forma da sociedade pensar e na maneira de lidar com questões relacionadas a justiça.

1.2 Ciências forense & material DNA

As bases de dados de perfis genéticos englobam a conjuntura das Ciências forense atuando com a tecnologia DNA para fins criminais. A Ciência Forense7 corresponde a um

conjunto de área interdisciplinar envolvendo Física, Biologia, Química, Matemática, Etomologia, Antropologia, Criminalística, Odontologia, Psiquiatria e Psicologia Forense, Toxicologia Forense. Para o geneticista Amorim (2010), parafraseando Anónimo, uma das características centrais da Ciência Forense, é a aplicação da genética a material humano e não-humano com fins de solucionar conflitos legais. A produção desse saber visa dar suporte às investigações relativas à justiça civil e criminal, assim, a Genética Forense procura definir da maneira mais clara possível a origem biológica de uma amostra (Machado, Silva & Santos, 2008).

Conforme Ferreira (2006), o termo Genética Forense tem sua origem na língua inglesa, originária da palavra Forensic Science, esse é um termo empregado, no uso da ciência e da tecnologia para a reconstituição e obtenção de provas de crimes, tal ramo da ciência teve sua consolidação com o trabalho desenvolvido por Jeffreys, no ano de 1985, o qual possibilitou a individualização do DNA. No tocante às investigações criminais, o foco central da Ciência Forense é confirmar a autoria ou descartar o envolvimento do(s) suspeito(s). Contudo, ocorre, atualmente, uma composição da ciência forense com o direito. É importante observar que a ciência forense possibilita que os objetos impuros encontrados, por exemplo, em cenas de crimes tornem-se artefatos. Assim, concedendo que estes objetos, elementos associados a investigação jurídica e científica, sejam apreciados em tribunal como prova forense. Costa (2017) nos termos de Kruse, Prainsack & Toom – expressa que a prova forense agrega a um aparato onde se uni vestígios, corpos, tecnologias, práticas legais e

7 Ciência Forense – a palavra ciência vem do Latim scientia, “conhecimento”, de scire, “conhecer, saber”. E forense é do

Latim forum, “mercado, local aberto, área pública”, aparentemente relacionada a foris, “fora”, porque muitas vezes ele se situava no exterior do recinto amuralhado de uma cidade. Ali muitas vezes eram feitos julgamentos, de onde a aplicação de foro como “relativo aos tribunais e à Justiça” (Dicionário origem da palavra) disponível em:

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entendimentos culturais, a união desses elementos constitui uma versão sobre determinado fato (Machado, 2010; Garrido & Pessoa, 2012; Machado, Fonseca & Costa, 2015; Costa, 2017).

Na concepção de Farinha (2010), a impressão digital, em particular, nos conduziu ao entendimento de que cada indivíduo possui algo que torna ele único, a partir disso há o desafio de encontrar em uma cena de crime algo que identifique o autor do crime. Mas a impressão digital genética não permite uma afirmação absoluta, e sim uma referência à recolha de vestígios relacionado ao conhecimento científico, é possível uma afirmação relativa, tendencialmente certa. O que configura uma boa contribuição na perspectiva de esclarecer um fato.

Quanto a análise do material genético com fins a definir um perfil estabelecido pelo método do software Combined DNA Index System (CODIS), ocorre com informações inseridas no banco de dados disponibilizado pelo software, sequências do DNA designada microssatélite Short Tandem Repeat (STR). Estas repetições de arranjos curtos no genoma humano são bastante polimórficas, ou seja, apresentam uma multiplicidade de tamanhos na população e, com isso, o exame permite discriminar pessoas ou linhagens de pessoas. A análise de STR é feita por meio da amplifi (PCR) do material genético extraído das amostras de interesse com iniciadores (primers) específicos. O material ampliado é examinado em sequenciadores automáticos que, através de uma eletroforese capilar, separa as diferentes configurações (alelos) destes locais de STR amplificados. Deste modo, é estabelecido o perfil genético. (Garrido, 2012) Como esses alelos são transmitidos por herança genética mendeliana, podem ser realizadas vinculações genéticas ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero. Ainda cabe destacar, o fato de ainda é incalculável o que se pode descobrir sobre as regiões não codificantes do DNA, a maior parte do material genético (Garrido, 2009, 2010; Garrido & Pessoa, 2012).

Deste modo, após a decorrência de sucessivas mutações do material genético original é, por fim, convertido num conteúdo em forma de relatório. As consequências desse exercício, junto com a acareação entre provas construídas a partir dos vestígios encontrados na cena do crime ou na vítima e amostras de DNA do suspeito são analisados pelo juiz no âmbito do processo motivado contra o suspeito, desta maneira, a prova é conduzida para o tribunal (Costa, 2001). Constatando o laboratório forense como um lugar privilegiado, cita:

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(...) É aí que se concentram as contingências da investigação policial inscritas nos vestígios recolhidos nos locais onde foram cometidos crimes, os problemas de processamento desses vestígios e de produção de provas admissíveis tanto científica como juridicamente e as imposições formais do sistema judicial, traduzidas, nomeadamente, na preparação dos relatórios forenses a incluir nos processos (...) (Costa, 2001: 176).

O material genético em contexto forense está diretamente conectado com os objetos oriundos do local do crime, isto é, os objetos ocupam lugar significativo porque são eles que, por meio das sucessivas mutações submetidos que irão construir a cadeia que liga os indícios à prova forense aceitável em tribunal. Assim, é exatamente por isso que são considerados de fundamental importância saber quem são os responsáveis em recolher, avaliar, interpretar e acompanhar o modo como são coletados, armazenados e conservados. Costa (2001) certifica, em análise referente ao laboratório forense em Portugal, que existe uma significativa distância entre as recomendações de entidades internacionais e o modo como se realiza os métodos de coleta e preservação dos materiais para fins de investigação forense, especificamente com relação ao material para identificação por perfis genéticos. Por exemplo, as situações das amostras encaminhadas ao Instituto Médico Legal (IML) em Portugal, em alguns casos, podem ser descritas:

(...) o descaso com as embalagens, diversos objetos distintos misturados em um mesmo caixote (várias peças de roupas, relógios, carteiras etc), sendo que nem todos tem o mesmo grau de interesse enquanto vestígios ou fontes de informação sobre o crime. “Além disso, essa não discriminação dos objetos pode resultar em dano, contaminação ou enviesamento do material de interesse para a investigação” (Costa, 2001, p. 179).

Do ponto de vista de Williams & Weetman (2012), decorre algumas vulnerabilidades no uso da ciência forense nas principais investigações de crimes no Reino Unido, justificadas por parte dos atores comerciais e estatais promoverem uma incessante valorização na capacidade da ciência forense em contribuir com a elucidação bem sucedida de crimes, além do grande interesse do público nos procedimentos da Ciência Forense. No entanto, embora haja grande entusiasmo em torno dos resultados procedentes das investigações forenses, tem sido difícil captar e mensurar de maneira confiável, os resultados efetivos das contribuições da Ciência Forense no âmbito da investigação criminal. Em analogia a 22 casos relacionados a crime de homicídio verificados no Reino Unido, utilizados com o objetivo de

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mapear as questões mais latentes, Williams & Weetman (2012), a partir das contribuições de Fraser, justificam a necessidade de unir a ciência, os dilemas do policiamento e as questões relacionadas a influência que a ciência pode ter sobre a justiça criminal. Ainda revelam a importância crucial em compreender as formas pelas as quais os diversos formatos organizacionais viabilizam e ordenam o trabalho prático e epistêmico na utilização do aparato forense às contingências em desenvolvimento das investigações. Além disso, não se conhece socialmente a real contribuição da ciência forense junto à justiça criminal.

1.3 Investigação criminal & Cena de crime

Podemos afirmar, resumidamente, que a investigação criminal (ou policial) é essencialmente a procura de levantar as provas relativas a um ato criminoso sob investigação. Observa-se que a inserção das novas tecnologias vem impactando a implementação de mecanismos com maior celeridade na investigação criminal, exigindo maior objetividade e eficácia. Neste processo de introdução de cientificidade ao trabalho policial é pertinente entender os arranjos que vêm ocorrendo entre a introdução científica e os saberes e práticas relativos ao cotidiano do trabalho policial, nomeadamente, as influências causadas na investigação criminal pela inserção da tecnologia DNA (Costa, 2010; Garrido & Pessoa, 2012). Assim:

(...) O trabalho de investigação criminal, em particular o trabalho desenvolvido pelas entidades policiais, tem vindo ao longo dos últimos anos a ganhar cada vez mais importância devido às novas tecnologias ao seu dispor que parecem vir dar um contributo decisivo no auxílio à compreensão do cenário do crime (...) (Costa, 2010: 71).

Ao considerar a natureza da investigação criminal, eminentemente, em suscitar provas diante de um ato delituoso, Santos (2010) defini o ofício do investigador criminal nos termos de seguir uma objetividade habitual, buscando juntar todos os elementos disponíveis para cumprir a apuração do crime, conseguir a prova necessária e concluir o trabalho identificando autores junto ao Tribunal. Fonseca (2010) afirma, ao analisar a postura da Polícia Judiciária em Portugal, que houve uma espécie de aburguesamento da polícia investigativa, ou seja, os investigadores ao invés de estarem trabalhando nas ruas estão mais nas secretarias, gabinetes e ambientes fechados. Este fato é prejudicial às investigações

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criminais pois as chances significativas de provas para desvendar ações criminosas, normalmente, estão fora das secretarias, principalmente com relação ao crime de homicídio.

Quanto a tipologia criminal referente a homicídio, Fonseca (2010) afirma que esse tipo de crime é historicamente considerado o crime por excelência. Visto que a denominação crime era usada especificamente para se referir ao homicídio, o “roubo ou assalto” era definido como um “roubo ou assalto”, porém, a referência de delito estava relacionado aquele em que provocava a morte de outro indivíduo. Diante disto, o autor justifica que o crime de homicídio é o tipo de investigação mais instigante para a ação investigativa policial, e reconhece que o avanço da investigação criminal se desenvolveu em decorrência do crime letal e intencional contra outro indivíduo por se tratar de um tipo criminal bastante significativo socialmente no que concerne ao sentimento de (in)segurança. Assim, o autor destaca:

(...) Desta circunstância resulta uma maior experiência neste tipo de crime, já que as metodologias de investigação foram mais testadas e estão mais buriladas para melhor o combater. Depois, pelo reflexo negativo que a disseminação do facto criminoso pode causar numa comunidade humana, por estar em causa o bem mais valioso, sempre lhe foi dada prioridade pelas cúpulas políticas e hierárquicas das várias instituições competentes para o seu combate (...) (Fonseca, 2010, p. 49).

Teoricamente “local de crime” pode ser compreendido pela área do espaço em que ocorreu um evento delituosos. Segundo Kehdy (1968), local de crime corresponde a todo espaço onde tenha ocorrido qualquer fato que exija os procedimentos policiais. Nesta perspectiva, o local de crime significa a porção espacial alcançada em um raio que tem por origem o ponto em que é constatado o evento. Este local abrange todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumivelmente, tenham sido praticados pelo criminoso os atos materiais, preliminares ou posteriores, à consumação do delito e com este diretamente relacionados. Assim, no prisma da investigação criminal reporta-se basicamente ao local onde sucedeu um crime ou o local onde começou um episódio criminoso, se concluiu, ou onde permanece a maior concentração da evidência física do fato (Rabello, 1996; Malmith, 2007; Del-Campo, 2008; Costa, 2010). O termo “local de crime”, embora possa admitir outros sinônimos, tais como “sítio da ocorrência”, “cena do crime”, “sede da ocorrência” e “local da ocorrência”, dentre outras denominações, tornou-se atualmente, na visão particular da

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Criminalística, um termo técnico em que deve ser interpretado (Malmith, 2007).

Conforme Kehdy (1963), há vários critérios para classificação de local de crime, destacaremos os conceitos mais referenciados neste estudo por parte dos agentes investigativos:

- Internos são regiões situadas em qualquer ambiente fechado, por exemplo, o interior de domicílios (ocupados ou não), estabelecimentos comerciais, galpões industriais, estacionamentos fechados, barracas, containers, etc.

- Externos são os lugares a céu aberto, os quais os indícios e vestígios podem desaparecer com maior rapidez e facilidade por conta de exposição às intempéries, como terrenos baldios, quintais, pátios de estacionamento aberto, praças, vias públicas e outros. Esses locais exigem maior atenção da autoridade policial em relação à preservação, como também do perito no sentido de processar o exame o mais breve possível. Esses locais externos requerem um trabalho mais articulado das equipes de trabalho porque são locais com livre afluência de populares. Lembrando que não devemos confundir local externo com local público ou aberto, pois esses podem ser públicos ou privados. A mesma lógica se aplica aos locais internos que também podem ser privados ou não.

- Relacionados são locais que, apesar de fisicamente afastados da cena do crime, exibem vestígios e indícios que registram relação de interesse com o fato ocorrido, por exemplo a arma utilizada em um homicídio abandonada pelo autor a quilômetros do local; ou partes do corpo de uma vítima deixados em um terreno distante do local onde aconteceu o crime etc.

Com relação a esfera da perícia, os locais podem ser definidos com três caracterização: a primeira por imediatos, equivale ao lugar onde aconteceu o fato; o segundo por mediatos em que compreende as adjacências ou as regiões intermediárias entre o local onde ocorreu o evento e o grande ambiente exterior; e o terceiro é descrito como distantes que corresponde aquele relacionado, o qual, embora separado registra relação probatória (Kehdy, 1963).

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Figura nº 1: representa em termos espacial como se dividi o local de crime8

Independente de qual tipo seja o local de crime, existe, dentre outros, dois aspectos que merecem destaque: o corpo de delito e os vestígios. O primeiro pode ser entendido como o elemento central de uma cena de crime, em torno do qual giram os vestígios e para o qual convergem as evidências (Mallmith, 2007). Conforme Trufini (2017), é o delito em sua congregação física, isto é, a peça que retirada do local do crime, desconfigura completamente o evento, e que em algumas situações pode tornar o fato inexistente. Trata-se do “conjunto dos elementos materiais e sensíveis de fato delituoso” (Zarzuela apud Espindula, 2001, p.28). Quanto ao segundo item, pode-se considerar vestígios toda marca, sinal, rastro, traço, mancha ou outra evidência material classificada de forma imprecisa, ou seja, tudo que pode ser encontrado em um local de crime que possa ou não ter relação com o evento ou vir a ser utilizado como meio de prova (Del-campo, 2008).

O cenário de um crime é considerado a fase inicial da apuração criminal, pelo que se deve realizar uma averiguação minuciosa à cena do crime no intuito de buscar prova física e testemunhal. Em metáfora de Rabelo (1996) o significado de local de crime é comparável a um livro extremamente frágil, cujas páginas por terem a consistência de poeira, vão desfazendo-se ao simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se para perdendo-sempre os dados preciosos ocultados à espera da argúcia dos peritos. Neste sentido, o autor argumenta:

(...) perante um crime de cenário, e a partir de uma noção mais ou menos vaga do tipo de crime que se apresenta, são invocados os repertórios de saberes e práticas profissionais que irão atuar como

8 Mallmith, Décio de Moura (2007) – Local de Crime – Secretaria da Segura Pública, Instituto Geral de Perícia do Rio

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uma espécie de guião que se começa a ler na última página e que irá ajudar à reconstrução da situação inicial do local, dos atores presentes e ausentes, das motivações e ações que se desenvolveram até ao desfecho criminal (...) (Santos, 2014: 47).

Visto a importância da cena de crime para a investigação criminal, faz-se necessário a complementação de Farinha (2010, p. 21) nos termos de Locard, ao esclarecer sobre o princípio da troca. Este preceito baseia-se na ideia que “sempre haverá uma troca entre a cena de um crime e o respetivo autor”. Assim, o princípio da troca ganha maior notoriedade com o avanço da ciência relacionado ao fato de obter mais informações a partir de cada vez menos. Cada vez mais a ciência vem contribuindo nas descobertas e confirmações por meio de pequenos e minúsculos fragmentos, vestígios e detalhes quase imperceptíveis.

(...) Portanto, a evolução da ciência tem-se acentuado, mas mantendo atual esse princípio da troca em que também poderíamos falar de outras disciplinas: da balística, da toxicologia, da química, da física, de várias ciências que têm contribuído para sublinhar este princípio (...) (Farinha, 2010: 21).

Wyatt (2014) ressalta que os postulados de Locard ainda estão bastante presentes na literatura acadêmica e em manuais de treinamento para investigação em local de crime. Segundo o autor, o princípio da troca na concepção é representado pela frase “todo contato deixa rastro”. Ancorado neste saber, cabe salientar o potencial de informações obtidas a partir do rastreamento identificado e coletado corretamente em uma cena de crime. Com base nisto, Wyatt (2014) dissertou inúmeros trabalhos abordando sobre a presença de certos tipos de poeira em determinados cenários de crime. Por exemplo, poeira associada a determinadas ocupações de trabalho, declara que a probabilidade da poeira ser significativa em uma investigação criminal está relacionada a três fatores: a raridade da poeira; a localização do pó e a relação entre a poeira e os outros conhecimentos mantidos pela polícia. Ao certificar essas questões mais amplas, o cientista nos mostra que cada item de poeira é igualmente significativo, e contribui com a busca de habilidade e a elaboração de sentidos necessários para identificar fontes potencialmente significativas de poeira dentro de contextos específicos de cena de crime. O autor ainda enfatiza a importância de identificar com competência o traço relevante de todos os traços presentes no local de crimes. Complementando Costa (2010), o autor explica que a cena de crime, além de

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existir as “testemunhas silenciosas” ou “testemunhas mudas” deixadas involuntariamente pelo autor da ação delituosa (por meio das pegadas, dedadas, fio de cabelo, fibras de roupas, vidros ou outros objetos quebrados por ele, marca de ferramenta, tinta que ele tenha arranhado, o sangue ou sémen), também, inadvertidamente, a equipe que fizer a intervenção no local pode igualmente deixar suas marcas.

Depreende-se que as cautelas envolvendo uma cena de crime visa preservar todos os vestígios para possibilitar a construção da prova criminal, esta pode ser muito imperceptível e presente em um local muito vulnerável, capaz de desaparecer facilmente. Fonseca (2010) reforça o cuidado e atenção nestes cenários, pois, é primordial que toda a equipe tenha consciência da cena de crime como o elo mais forte da investigação em que inicia. Asssim, é extremamente relevante a boa gestão desse espaço, como afirma o autor:

(...) esta forma de sentir tem de ser comum a todos quantos intervêm no local (sistema integrado de emergência médica, polícia de proximidade e investigação criminal) desde o início, ou seja, desde a chegada do primeiro interveniente, ainda que não se trate de um agente policial(...) (Fonseca, 2010: 59).

As exigências incorporadas, em contexto da introdução do material genético de forma mais comum na rotina do trabalho de investigação criminal, obrigaram uma nova postura por parte da equipe investigativa na cena de crime, em virtude da fragilidade inerente aos vestígios biológicos e o olhar de peso significativo para a verdade implícita neste tipo de prova. Deste modo, verifica-se a pertinência atribuída aos procedimentos iniciais, tendo em vista que a partir da cena do crime começa a montagem da prova9, com a definição dos

objetos, a interpretação dos policiais, a narrativa que constará nos relatórios da cena do crime, dentre outros itens que compõem o protocolo (Costa, 2017: 89; Costa, 2001, 2010, 2015, 2017; Fonseca, 2010, Santos, 2014; Schicchet, 2012).

A prova é definida juridicamente como a verdade de um acontecimento, representando o vetor de combate ao crime mais diretamente interligado com a ciência e a tecnologia. Para Santos (2010) o trabalho da investigação criminal, alinhado ao avanço das tecnologias, visa obter a prova do crime para indicar o autor criminal e o

9 O termo prova origina-se do latim – probatio –, que significa ensaio, verificação, inspeção, exame, argumento, razão,

aprovação ou confirmação. Dele deriva o verbo provar – probare –, significando ensaiar, verificar, examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar satisfeito com algo, persuadir alguém a alguma coisa ou demonstrar(...) (Nucci;Souza, 2014:

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Tribunal estabelecer a lei fundamentada na prova. Esta prova, normalmente é originária dos vestígios encontrados na cena do crime, com isso “os vestígios permitem transportar o investigador criminal para um passado próximo, sendo para isso fundamental a qualidade dos vestígios encontrados” (Costa 2017, p. 93). É importante lembrar que a detenção da prova implica a integridade do vestígio:

(...) Como já vimos, quando se fala em custódia da prova, fala-se também em integridade do vestígio, sendo que está apenas se consegue garantir com o isolamento atempado do local, o uso de equipamento adequado por todos os membros da equipa e a aplicação correta dos procedimentos estipulados, a que não podem escapar a separação dos vestígios, a inviolabilidade dos recetáculos e a etiquetagem adequada (...) (Fonseca, 2010: 59). Para melhor esclarecimento a respeito do termo prova, podemos classificar em três significados: o primeiro consiste em o ato de provar, o qual é intrínseco ao processo em que se verifica a verdade do fato alegado; o segundo consiste o meio para provar, no caso o instrumento pelo qual se demonstra a verdade de algo; e o terceiro é figurado pelo resultado da ação de provar, que trata do objeto extraído da análise dos instrumentos de prova oferecidos. Nessa conformidade, juridicamente a prova é estipulada pela confirmação da verdade dos fatos, ou seja, diretamente associado a compreensão tradicional da ciência a respeito da verdade e da objetividade, de maneira que a persecução criminal referente a prova consiste em alcançar o conhecimento congruente relacionado aos fatos e alcançado através de métodos precisos. Desta forma, os resultados obtidos por meio destes métodos são quase inquestionáveis quando justificados por obtenção de experimentação, medidas exatas, observações, matematização e afins (Costa, 2010, 2015; Santos, 2010; Nucci, 2014).

Costa (2017), entende que a construção da prova de um crime na perspectiva forense agrega vários elementos, ou seja, os vestígios encontrados no local do crime, corpos, tecnologias, práticas legais e o entendimento sociocultural de cada agente responsável pela composição dessa prova. Logo, percebemos que a ciência forense não age de forma isolada na definição da prova de um crime. Neste sentido, o autor analisa:

(...) o trabalho das polícias na cena do crime é hoje fortemente marcado pela criação de novos artefactos forenses (como a recolha de vestígios biológicos para identificação de um perfil de ADN) que permitem dar credibilidade ao seu trabalho em contexto

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judicial. No entanto, estando o seu trabalho dependente da conjugação de elementos técnico-científicos com os seus entendimentos socioculturais, pode contribuir para um entusiasmo tecnológico dos elementos policiais com consequências na robustez da prova em contexto judicial e nos direitos dos cidadãos (...) (Costa, 2017: 88).

Wyatt (2014) realizou um estudo acompanhando o cotidiano de trabalho investigativo de um The crime scene investigator (CSI) na Inglaterra, configurando com destaque o perfil diferenciado deste agente policial investigativo, e demonstrou que as ramificações geradas pela atuação do agente policial com o material forense tem valiosa colaboração no processo investigativo, bem como sua análise laboratorial e admissibilidade no tribunal. Basicamente, o trabalho desse agente é rastrear traços nos locais de crimes com o objetivo de comunicar junto as investigações policiais. Esse rastreamento pode ser utilizado para revelar diferentes tipos de materiais, incluindo fragmentos de vidro, fibras, manchas de sangue e impressões digitais. Os traços referentes a impressão digital e amostras de DNA são considerados importantes como evidência, são os dois tipos de traços mais significativo para o CSI, sendo vista como o jeito mais preciso de identificar um determinado indivíduo ou suspeito potencial. O traço nesta concepção, normalmente, tem utilidade no tribunal, mas também pode apontar os rumos para uma investigação ao contribuir para definir um grupo de potenciais suspeitos. Esta pesquisa, ainda detectou a participação ativa dos agentes de investigação na interpretação dos artefatos forenses coletados na cena do crime. Com base nisso, o estudo reforça maior grau de atenção a leitura interpretativa dada aos processos complexos estabelecidos na rotina de um CSI.

Em avaliação, a inclusão da tecnologia DNA ao universo da investigação criminal Santos (2014) pautou ângulos importantes do uso desta tecnologia em casos criminais ocorridos em Portugal, os quais tiveram grande repercussão social e no momento da análise já tinham sido arquivados. Nos quatro casos apresentados no estudo, em apenas um processo criminal, a tecnologia DNA contribuiu de forma fundamental traçando provas objetivas para elucidar o crime, foi o caso conhecido como “o serial Killer de Santa Comba Dão”. Resumidamente, refere-se a três homicídios executados por um mesmo indivíduo, a principal suspeita recaiu sobre um policial aposentado da Guarda Nacional Republicana (GNR), que durante a reconstituição do último homicídio as investigações conduziu um trajeto próximo da residência do sujeito supracitado. Como foram encontrados vestígios de

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material biológico e depois analisados, foi possível comparar com os dados genéticos do suspeito, havendo a confirmação e proporcionando a elucidação do caso. Uma situação que revela a capacidade da tecnologia DNA contribuir de maneira eficaz para o esclarecimento de ação criminosa. Acrescenta “(...) Não obstante os esforços para cientifização do trabalho policial, no decurso do inquérito criminal, observa-se a possibilidade de recurso a narrativas de enquadramento assentes na experiência e

saberes profissionais que são suscetíveis de enviesar a interpretação e contextualização da prova de DNA” (Santos, 2014, p. 62).

Deste modo, cabe realçar a respeito do conceito de “objetividade mecânica” anunciado por Costa (2017) a partir das contribuições de Porter – a concepção versa sobre o papel da ciência em autorizar a execução do documentar, ver e gravar imagens do crime por meio de protocolos rígidos, com ajuste e padronização de métodos. Assim, essa objetividade mecânica propicia enxergar uma cena de crime sem distorções nos resultados finais, gerando conhecimento objetivo com fins de cooperar na promoção da justiça. Todavia, diante de algumas análises empíricas no campo da investigação criminal, o autor afirma que “a investigação sociológica tem demonstrado que o processo de recolha e armazenamento de vestígios é regulado, sobretudo, por práticas improvisadas, assentes no conhecimento tácito, mais do que no conhecimento técnico e em procedimentos legais” (Costa, 2017, p. 89).

1.4 Tecnologia DNA forense em contexto de Brasil

Conforme o debate apresentado anteriormente vimos que nas últimas décadas houve grande avanço das tecnologias DNA por diversos países, e o Brasil não ficou fora da súplica do desenvolvimento científico emoldurado pelo cariz de produzir certezas. Ou seja, a constituição do banco de dados no território brasileiro não se trata de um assunto que possa ser isolado de todo um contexto multifacetado (Santos, Costa & Richter, 2017). De modo que o Brasil foi um dos países que mais recentemente aderiu ao projeto de criação de um banco de dados genéticos, através da promulgação da Lei 12.654/12, a qual alterou a Lei 12.037/09, especificamente, sobre a identificação criminal do civilmente identificado, isto é, incluiu a possibilidade da coleta de material biológico enquanto parte do procedimento de identificação (BRASIL, 2012).

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genética com finalidade criminal antes da criação de bancos de dados, na década de 1990 os órgãos de perícia brasileiros iniciaram a utilização deste método por via de parceria com os laboratórios das universidades. E no final da década de 1990 e início do século XX foram sendo criados os laboratórios forenses das polícias, propiciando o uso do DNA lentamente e expandindo-se. A princípio, a utilização da genética forense no Brasil era solicitada a colaborar nos “casos fechados”, este tipo de caso configura-se nos perfis elaborados desde vestígios biológicos encontrados em cenas de crime ou corpos de vítimas, normalmente sêmen e sangue, e perfis produzidos a partir de amostras de suspeitos já conhecidos pelos investigadores e coletadas em laboratório sob mandato judicial ou sob a concordância do suspeito (Santos, Costa & Richter, 2017).

Conforme (Santos, Costa & Richter, 2017), entre a segunda metade da década de 2000 e início da década de 2010, apareceram algumas notícias informando que institutos de perícia estavam realizando experimentos com o armazenamento de informações genéticas. De acordo com citação:

Em São Paulo foi anunciado, em 2010, com a ressalva que ainda dependiam de algumas decisões judiciais, a criação de um banco de perfis genéticos de vítimas e de corpos não identificados (FOLHA DE S. PAULO, 2010). Em Brasília, havia um banco informal de condenados. O banco do DF conta com mais 400 perfis genéticos fruto do recolhimento sistemático de evidências em cenas de crime e junto às vítimas de violência sexual. Em 2010, a perita da Polícia Civil Flávia Seixas Maia, durante mestrado na área de ciências genômicas e biotecnologia, inseriu no 'banco informal' o material genético colhido em 143 vítimas de crimes sexuais sem suspeitos que ocorreram entre 2004 e 2009 (Santos, Costa & Richter, 2017, p. s/n apud CÉO, 2012, s./p.).

O Estado de Minas Gerais também configura como pioneiro no armazenamento de amostras genéticas, no mesmo período citado acima, esse Estado mantinha há uma década armazenada amostras coletadas em vítimas de violência sexual. Entretanto, o material armazenado nessa época, mesmo com a identificação dos suspeitos, não havia cobertura legislativa para o uso na persecução criminal, assim não poderiam ser utilizadas para esse fim (Santos, Costa & Richter, 2017).

Neste sentido, surge as primeiras tentativas legislativas para o DNA compor as técnicas de identificação criminal. Com o envio de projeto de lei (PL 417/03) ao Congresso

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Nacional no ano de 2003, esse propunha a inclusão do DNA, sem esclarecimentos quanto a critérios ou definições sobre procedimentos adotados, entre as técnicas já existente como fotografia e datiloscopia. Porém não houve nenhuma tramitação desse projeto na Câmara dos Deputados e nem mesmo chegou a votação. Assim, a nova investida de inclusão do DNA no campo criminal aconteceu no ano de 2011 com um projeto de lei em que regulamenta o uso de material genético com fins de identificação criminal, desta vez conta com a fundamentação do uso da tecnologia pela Polícia Federal (Richter, 2015; Santos, Costa & Richter, 2017).

Com isso, a implementação da tecnologia de perfis genéticos para fins de investigação criminal no território brasileiro, iniciou-se em junho de 2009, o Federal Bureau of Investigations (FBI) norte-americano assinou um acordo com o Departamento da Polícia Federal (DPF) em que consistia na licença de uso Combined DNA Index System (Sistema Indexado de DNA Combinado), a maior instalação do sistema CODIS fora dos Estados Unidos. Posteriormente, foi promulgada a Lei Federal nº 12.654/2012, a qual, criou formalmente os laboratórios oficiais para armazenamento de perfis genéticos. Com isso, surge a constituição da Rede Integrada de Banco de Perfis Genéticos (RIBPG), os bancos de dados de perfis genéticos encontram-se no âmbito Federal do Ministério da Justiça (MJ), na esfera Estadual das Secretarias de Segurança Pública, gerenciados pelos Unidades Oficiais de Perícia Criminal. Esse modelo de entrecruzamento de informações, atualmente, vincula entre 19 (dezenove) unidades laboratoriais e uma unidade sob a direção de peritos criminais da Polícia Federal (PF) (Schiocchet, 2012, Richter, 2015).

Deste modo, a partir do ano de 2012 a coleta de material biológico de suspeitos para fins de cadastro no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) é prevista com decisão judicial. Porém, a lei ainda prevê que os condenados por crime doloso, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por crime hediondo, sejam submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA. A constituição da estrutura tecnológica instaladas nos laboratórios forenses brasileiros versa sobre o combate à criminalidade, conforme (RIBPG, 2019), até o mês de maio de 2019 o compartilhamento de informações armazenadas nos bancos de DNA brasileiros auxiliaram nas investigações criminais de 825 casos, incluindo crimes contra a vida, crimes sexuais e crime organizado, e foram processados no BNPG mais de nove mil vestígios de local de crime. (Richter, 2015, Brasil, 2019).

Imagem

Figura nº 1: representa em termos espacial como se dividi o local de crime 8
Figura 2: Divisão do Brasil em regiões com destaque para os  Estados. Fonte: www.mapas-brasil.com
Figura 4: Índice de Homicídio na Adolescentes (IHA) segundo as Capitais, 2014  Fonte: Relatório da UNICEF, 2014
Figura 5: Gráfico dos Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) de mulheres e adolescentes  do sexo feminino no Ceará, no período de 2014-2017
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