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A cadeia produtiva da fruta no polo: origem, evolução e atual situação

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO SEMIÁRIDO: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO POLO

4 O CASO DO POLO PETROLINA-JUAZEIRO

4.2 A cadeia produtiva da fruta no polo: origem, evolução e atual situação

Como já descrito, o polo Petrolina-Juazeiro é considerado um dos mais impor- tantes produtores de frutas do país. Contudo, nem sempre esta foi uma realidade observada na microrregião. Só a partir de 1960, quando se iniciou a implantação de uma série de políticas públicas na microrregião, a atual estrutura produtiva focada na fruticultura passou a ser desenhada. Ainda assim, até meados da década de 1990 as culturas que predominaram no polo eram as anuais de menor valor agregado (tais como feijão, tomate, cana-de-açúcar, mandioca, algodão, cebola etc.) voltadas, em sua maior parte, ao atendimento do mercado doméstico in natura e, em menor proporção, ao suprimento de um projeto agroindustrial regional. Dentre as primeiras agroindústrias instaladas no polo, destacavam-se as processadoras de tomate, cana-de-açúcar e acerola (Silva, 1998).

Entretanto, a partir desta década, embalado pelo contexto descrito no item anterior – em que o Estado diminuíra o volume de intervenções diretas à localidade e o processo de abertura comercial intensifica-se no país – os produtores do polo iniciaram um processo de reorientação produtiva, voltando sua produção a culturas perenes29 de maior valor agregado e direcionado ao mercado externo, com ênfase

na fruticultura30 (ver gráfico 1).

GRÁFICO 1

Evolução da participação de explorações perenes e anuais no valor da produção agrícola do polo Petrolina-Juazeiro

(Em %) 0 20 40 60 80 100 1975 1980 1990 2000 2010 2015

Culturas perenes Culturas anuais

Fonte: IBGE (2017d). Elaboração dos autores.

29. De modo geral, a fruticultura constitui-se como culturas perenes, por ter certa longevidade, dando frutos sem a necessidade de replantio após concluir um ciclo reprodutivo (por exemplo, manga, uva e banana); diferentemente das culturas anuais, nas quais é preciso efetuar o replantio após a colheita (por exemplo, milho, arroz e trigo).

30. Segundo Melo (2000), foi no final dos anos 1980 que o polo iniciou o processo de substituição das plantações anuais tradicionais por culturas perenes mais nobres, principalmente uva e manga, mas esse processo só foi intensificado na década de 1990. Araújo e Silva (2013) acrescentam, destacando essa mudança como um marco que fez com que o polo evoluísse para um novo estágio, em que os esforços são direcionados para ações voltadas, sobretudo, à atividade de exportação.

A tabela 1 mostra que culturas que praticamente inexistiam até os anos 1980 – como uva, manga, goiaba, banana e coco – passaram a ser protagonistas da produção agrícola no polo, em detrimento de outras que perderam peso relativo – como feijão, mandioca, tomate e cebola (embora a cebola ainda se mantenha como a quarta atividade mais relevante). Para se ter ideia, enquanto, até os anos 1980, uva e manga não ultrapassavam 4,5% do valor de produção agrícola total do polo, em 2015, o peso relativo de ambas chegava a 63,8%. Por outro lado, cebola e tomate, que nos anos 1980 representavam 43,9% do valor total da produção agrícola do polo, viram esse peso cair para apenas 6,0% em 2015, comprovando o processo de reorientação produtiva direcionado, sobretudo, à fruticultura.

TABELA 1

Valor da produção das principais lavouras do polo Petrolina-Juazeiro (Em R$ milhões de dez./2016)

Lavoura 1975 1980 1990 2000 2010 2015 Uva 3,83 6,28 115,22 354,66 1.090,12 764,81 Manga 0,14 0,07 1,63 137,05 363,56 331,29 Goiaba - - 0,08 50,15 85,23 193,19 Cebola 13,40 48,64 37,11 63,66 188,56 96,14 Banana 0,97 0,64 2,73 80,52 156,36 94,82 Cana-de-açúcar 8,85 3,18 11,78 70,57 122,53 94,49 Coco-da-baía 0,15 0,15 0,09 4,81 69,04 34,59 Maracujá - - 0,39 4,96 55,28 27,27 Melão 3,48 14,15 9,99 21,02 33,90 24,36 Melancia 2,88 6,95 7,38 13,23 62,58 15,66 Mandioca 9,80 15,46 3,40 60,85 8,90 11,43 Limão 0,81 0,24 2,68 1,35 7,15 7,29 Tomate 13,78 12,62 82,16 32,18 56,20 6,69 Milho 4,45 0,59 1,30 6,70 0,79 5,83 Feijão 9,09 7,40 15,46 23,98 8,64 5,46 Mamão 0,12 - - 4,00 13,77 4,92 Outras 17,95 23,14 12,36 4,16 3,20 0,08 Total 89,70 139,51 303,77 933,86 2.325,82 1.718,32

Fontes: IBGE (2017d; 2017c) e Ipea (2017a). Elaboração dos autores.

Obs.: Valores a preços de dezembro de 2016, corrigidos pelo IPCA (de 1975 a 1980, valores corrigidos pelo IGP-DI).

Portanto, ao longo dos anos 1990, a fruticultura foi se consolidando, fazendo com que os produtores do polo passassem a despender maior atenção aos mercados mais exigentes, conseguindo competir em boas condições no mercado internacional, o que acabou influenciando positivamente as exportações e a balança comercial dos municípios do polo. Como é possível visualizar na tabela 2, entre 2000 e 2016, as expor- tações do polo evoluíram 363,6% – de US$ 56,7 milhões para US$ 263,1 milhões –,

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Desenvolvimento Territorial no Semiárido: uma avaliação a partir da experiência do polo Petrolina-Juazeiro

fazendo com que o superávit da balança comercial desse um salto de 350,9% – passando de US$ 51,9 milhões para US$ 233,8 milhões.

TABELA 2

Valor das exportações e do saldo da balança comercial no polo Petrolina-Juazeiro (Em US$ mil FOB)

Local Discriminação 2000 2016 Variação (%)

Juazeiro Exportação 30.970 58.156 87,8 Balança comercial 28.727 44.646 55,4 Petrolina Exportação 22.554 147.253 552,9 Balança comercial 20.044 133.104 564,1 Polo1 Exportação 56.754 263.092 363,6 Balança comercial 51.860 233.834 350,9 Fonte: MDIC (2017c).

Nota: 1 Inclui não só Juazeiro e Petrolina, mas também Casa Nova (Bahia) e Lagoa Grande (Pernambuco), municípios também

relevantes para o comércio exterior da área.

Por sua vez, como é possível visualizar na tabela 3, dentre os produtos exportados pelo polo, destacam-se as culturas da manga e da uva, responsáveis, em 2016, por 70,1% das exportações totais do polo – respectivamente, 45,7% e 24,4%. Consequentemente, hoje não é difícil encontrar nas prateleiras dos mercados da Europa e dos Estados Unidos frutas com o selo San Francisco Valley, embora enfocado quase que exclusivamente na venda de manga e uvas frescas.31

Como apontam dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Brasil, 2017c), em 2016, o polo foi responsável por 99% das exportações nacionais de uvas de mesa e 85% das exportações da manga, das quais a maior parte destinada aos mercados europeu e norte-americano.32

TABELA 3

Principais itens exportados pelo Polo Petrolina-Juazeiro (Em US$ milhões FOB)

Código NCM-4 e item 2000 2010 2016 Crescimento (% a.a.)

2000-2010 2010-2016 0804. Mangas (...) 24,23 74,85 120,22 11,94 8,22 0806. Uvas (...) 10,62 134,33 64,22 28,88 -11,57 1507. Óleos de soja (...) - - 16,57 - - 2009. Sucos de uva (...) 1,56 18,35 14,17 27,94 -4,21 0805. Limões (...) - 7,62 13,44 - 9,92

31. Como destaca Sousa (2014), em 2009, o polo obteve um selo de indicação geográfica – indicação de procedência –, garantindo uma identidade para suas frutas exportadas e, como consequência, um instrumento adicional de competitividade nos mercados do exterior.

32. Segundo o MDIC (Brasil, 2017c), em 2016, 50,3% das vendas externas de uvas do polo seguiam para os Países Baixos, 25,6% para o Reino Unido e 8,0% para a Alemanha; enquanto, no caso da manga, 36,8% seguiam para os Países Baixos, 21,9% para os Estados Unidos e 12,6% para a Espanha.

Código NCM-4 e item 2000 2010 2016 Crescimento (% a.a.) 2000-2010 2010-2016

4104. Couros (...) 13,06 15,16 10,17 1,51 -6,44

1201. Soja - - 9,60 - -

2304. Resíduos da extração de óleo de soja - 0,24 6,98 - 75,23

Outros 8,09 8,73 7,73 0,77 -2,02

Total 57,57 259,29 263,09 16,24 0,24

Fonte: MDIC (Brasil, 2017c). Elaboração dos autores.

Obs.: 1. Itens classificados segundo a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), sob códigos de quatro dígitos.

2. Taxas de crescimento referem-se à taxa equivalente anual de crescimento entre dois períodos (% a.a. entre 2000 e 2010 e entre 2010 e 2016).

Todos esses fatores favoráveis acabaram atraindo ao polo uma série de agentes especializados na distribuição das frutas, além de grupos empresariais variados, tanto envolvidos propriamente com a fase produtiva, quanto a montante (tais como empresas fornecedoras de insumos e equipamentos) e a jusante (tais como agroindústrias processadoras, voltadas à produção de vinhos, sucos, polpas, doces etc.) do processo produtivo da fruticultura. Na figura 3, apresenta-se um fluxograma simplificado com os principais macrossegmentos que atuam na cadeia produtiva do polo, destacando seus principais agentes e respectivos fluxos de comercialização, chegando até o consumidor final.

FIGURA 3

Estrutura geral da cadeia produtiva da fruta no polo

Fornecedores de máquinas e implementos Fornecedores de defensivos e fertilizantes Produtores de muda Atravessadores individuais Empresas Atravessadoras Firmas de processamento Cooperativas Outros Produtos Consumidor Doméstico Externo

Canais de Comercialização Consumo

Beneficiadores