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Indicadores de desenvolvimento e pobreza

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO SEMIÁRIDO: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO POLO

A MONTANTE ELO PRODUTIVO A JUSANTE

5 EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS: POLO PETROLINA-JUAZEIRO VERSUS SEMIÁRIDO

5.4 Indicadores de desenvolvimento e pobreza

Com o intuito de considerar medidas mais abrangentes de desenvolvimento, neste item são apresentados dados relacionados ao desenvolvimento humano, à educação, à saúde e à longevidade, à miséria e à pobreza, às políticas de combate à pobreza e à violência.

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Desenvolvimento Territorial no Semiárido: uma avaliação a partir da experiência do polo Petrolina-Juazeiro

Primeiramente, a tabela 17 apresenta dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)53 no polo, no semiárido e em municípios selecio-

nados, com base em Pnud (2017). Ressalta-se que, nas últimas décadas, a evolução do IDH no semiárido foi marcante: enquanto em 1991 todos os municípios do semiárido apresentavam índices de desenvolvimento considerados baixos ou muito baixos,54 em 2010 essa participação caiu para 60,1%.55 Considerando a média dos

índices no semiárido, ponderada pelas populações de cada município, seu IDH passou de 0,329 para 0,617, entre 1991 e 2010. Apesar de ter apresentado uma evolução mais intensa, desde 1991, no semiárido, este índice encontra-se abaixo do observado no polo, cujo IDH em 2010 foi de 0,661, sugerindo que sua popu- lação, de um modo geral, vive em melhores condições. Tal resultado, claramente, foi induzido pelos munícipios de Petrolina e Juazeiro, com índices de 0,697 e 0,677, respectivamente, em 2010.

TABELA 17

IDH no polo, no semiárido e em municípios selecionados

Local 1991 2000 2010 Crescimento (% a.a.)

1991-2000 2000-2010 Petrolina-PE 0,471 0,580 0,697 2,34 1,85 Juazeiro-BA 0,396 0,531 0,677 3,31 2,46 Restante do polo 0,313 0,434 0,589 3,72 3,09 Média no polo 0,398 0,520 0,661 3,02 2,41 Média no semiárido 0,329 0,456 0,617 3,69 3,06 Feira de Santana-BA 0,460 0,585 0,712 2,71 1,98 Campina Grande-PB 0,476 0,601 0,720 2,62 1,82 Caruaru-PE 0,481 0,558 0,677 1,66 1,95 Mossoró-RN 0,470 0,596 0,720 2,67 1,91

Fontes: Pnud (2017) e Datasus (Brasil, 2017b). Elaboração dos autores.

Obs.: 1. Taxas de crescimento referem-se à taxa equivalente anual de crescimento entre dois períodos (ex.: % a.a. entre 1991 e 2000 e entre 2000 e 2010).

2. Médias calculadas ponderando-se pelas populações dos municípios componentes de cada área.

53. O IDH é uma medida sintética do desenvolvimento humano de um local, que abrange três dimensões básicas: educação (IDH-E), longevidade (IDH-L) e renda (IDH-R). Cada uma dessas dimensões fornece um índice que, em conjunto, a partir de uma média aritmética simples, dá origem ao IDH. Embora possua algumas limitações, é o índice mais utilizado nos trabalhos que tratam do tema desenvolvimento, por incorporar medidas não apenas ligadas à dimensão econômica, como também à dimensão humana. Mais detalhes sobre a metodologia de cálculo do IDH podem ser encontrados em Pnud (2017).

54. Classificam-se de baixo desenvolvimento as localidades com IDH entre 0,5 e 0,6. Por sua vez, consideram-se de muito baixo desenvolvimento aquelas com IDH abaixo de 0,5 (Pnud, 2017).

55. Vale frisar, contudo, que essa evolução foi marcante para o Brasil como um todo. Segundo Pnud (2017), em 1991, 99,2% dos municípios brasileiros apresentavam IDH abaixo de 0,6, enquanto, em 2010, esse percentual passou para apenas 25,1%. Com efeito, o IDH do Brasil evoluiu de 0,493 para 0,727, entre 1991 e 2010. Ressalta-se que esse nível médio calculado para o país em 2010 (de 0,727) ainda se mostrou superior ao registrado pelos maiores índices encontrados no semiárido, referentes aos municípios de Campina Grande (Paraíba) e Mossoró (Rio Grande do Norte) (ambos com IDH de 0,720, como apresentado na tabela 18).

Por sua vez, a tabela 18 apresenta os dados referentes a cada uma das dimensões do IDH-M (educação, longevidade e renda). Apesar dos índices considerados baixos em 2010, sobretudo no que se refere ao IDH-E e ao IDH-R, observou-se uma significativa evolução para ambas localidades nas três dimensões, entre 1991 e 2010. Contudo, é possível destacar alguns pontos comuns nos dados expostos na tabela: i) a evolução do semiárido foi mais intensa em todas as dimensões e períodos; ii) o polo sempre manteve índices acima dos observados no semiárido; e iii) Juazeiro e, especialmente, Petrolina, sobressaem-se com indicadores superiores aos obtidos no polo, sendo, portanto, os principais responsáveis por alavancar seus índices de desenvolvimento.

TABELA 18

IDH-Renda, IDH-Longevidade e IDH-Educação no polo e no semiárido

Local 1991 2000 2010 Crescimento (% a.a.)

1991-2000 2000-2010 IDH-Renda Petrolina-PE 0,578 0,630 0,695 0,96 0,99 Juazeiro-BA 0,528 0,609 0,657 1,60 0,76 Restante do polo 0,490 0,518 0,570 0,62 0,96 Média no polo 0,535 0,589 0,649 1,08 0,96 Média no semiárido 0,457 0,513 0,591 1,31 1,42 IDH-Longevidade Petrolina-PE 0,676 0,756 0,799 1,25 0,55 Juazeiro-BA 0,556 0,668 0,796 2,06 1,77 Restante do polo 0,580 0,644 0,750 1,15 1,55 Média no polo 0,611 0,695 0,784 1,44 1,22 Média no semiárido 0,579 0,673 0,769 1,70 1,34 IDH-Educação Petrolina-PE 0,268 0,410 0,611 4,84 4,07 Juazeiro-BA 0,212 0,369 0,594 6,35 4,88 Restante do polo 0,111 0,251 0,479 9,47 6,66 Média no polo 0,201 0,349 0,569 6,30 5,01 Média no semiárido 0,143 0,281 0,519 7,79 6,31

Fontes: Pnud (2017) e Datasus (Brasil, 2017b). Elaboração dos autores.

Obs.: 1. Taxas de crescimento referem-se à taxa equivalente anual de crescimento entre dois períodos (ex.: % a.a. entre 1991 e 2000 e entre 2000 e 2010).

2. Médias calculadas ponderando-se pelas populações dos municípios componentes de cada área.

Por sua vez, na tabela 19 verifica-se que o polo possuía, em todo o período analisado, menores proporções de sua população vivendo em situação de indigên- cia e pobreza, comparativamente ao semiárido. Além disso, entre 1991 e 2010,

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constata-se um declínio mais brusco no polo para ambas as proporções. Por outro lado, considerando apenas os municípios do semiárido com mais 200 mil habitantes, em 2010 o polo aparecia em situação menos confortável, apresentando proporções de indigência e pobreza mais favoráveis apenas aos vistos no município de Arapiraca (Alagoas), este com 25,8% e 54,0%, respectivamente.56

TABELA 19

Proporção de indigentes e pobres no polo, no semiárido e em municípios selecionados (Em % com relação à população total)

Local 1991 2000 2010 Crescimento (% a.a.)

1991-2000 2000-2010 Proporção de indigentes Petrolina-PE 61,33 37,27 19,50 -5,38 -6,28 Juazeiro-BA 66,49 40,39 22,24 -5,39 -5,79 Restante do polo 75,94 54,49 37,22 -3,62 -3,74 Polo 67,46 43,46 25,32 -4,77 -5,26 Semiárido 78,90 56,20 34,33 -3,70 -4,81 Feira de Santana-BA 53,24 33,95 16,21 -4,88 -7,13 Aglomerado de Jua- zeiro do Norte-CE 69,75 46,23 22,46 -4,47 -6,97 Campina Grande-PB 56,65 31,62 15,90 -6,27 -6,64 Proporção de pobres Petrolina-PE 81,13 63,51 47,12 -2,68 -2,94 Juazeiro-BA 86,26 67,19 51,41 -2,74 -2,64 Restante do polo 91,81 80,26 67,14 -1,48 -1,77 Polo 86,00 69,73 54,04 -2,30 -2,52 Semiárido 91,89 79,61 62,09 -1,58 -2,45 Feira de Santana-BA 75,70 59,95 41,07 -2,56 -3,71 Aglomerado de Jua- zeiro do Norte-CE 86,32 73,34 53,19 -1,79 -3,16 Campina Grande-PB 78,45 59,99 41,84 -2,94 -3,54

Fonte: Datasus (Brasil, 2017b). Elaboração dos autores.

Obs.: 1. O aglomerado de Juazeiro do Norte (Ceará) é formado pelos municípios de Juazeiro do Norte (Ceará), Crato (Ceará) e Barbalha (Ceará) (IBGE, 2017e).

2. Por indigência considera-se a população com renda abaixo de um quarto do salário mínimo do último ano da série (um quarto de R$ 510,00), corrigindo-se esse valor para os demais anos de acordo com o INPC.

3. Por pobreza considera-se a população com renda abaixo de meio salário mínimo do último ano da série (metade de R$ 510,00), corrigindo-se esse valor para os demais anos de acordo com o INPC.

4. Taxas de crescimento referem-se à taxa equivalente anual de crescimento entre dois períodos (ex.: % a.a. entre 1991 e 2000 e entre 2000 e 2010).

56. Dentre os municípios com mais de 200 mil habitantes com proporção de indigência e pobreza abaixo do polo apareciam Sobral (Ceará), com 24,1% e 53,1%, respectivamente, para indigência e pobreza; Caucaia (Ceará), 22,5% e 53,3%; aglomerado de Juazeiro do Norte (Ceará), 22,5% e 53,2%; Vitória da Conquista (Bahia), 17,5% e 42,5%; Caruaru (Pernambuco), 16,7% e 40,8%; Feira de Santana (Bahia), 16,2% e 41,1%; Campina Grande (Paraíba), 15,9% e 41,8%; e Mossoró (Rio Grande do Norte), 12,6% e 36,6%.

De modo geral, ao apresentar, frente ao semiárido, um desempenho mais favorável quanto aos indicadores de pobreza, é de se supor que o polo possua uma menor necessidade relativa em receber políticas assistencialistas destinadas ao combate da pobreza. Com o intuito de apurar essa hipótese, buscou-se analisar dados referentes ao número de beneficiários do Programa Bolsa Família. Na tabela 20, ainda que se constate que, ao longo da série examinada, o polo tenha apresentado uma menor proporção de sua população recebendo o benefício – chegando em 2016 a 12,4%, contra 14,6% no semiárido –, nota-se também que este mesmo índice apresentou uma evolução maior no polo comparativamente ao semiárido. Por sua vez, corroborando com o cenário descrito na tabela 19, em referência aos demais municípios que se destacam no semiárido, o polo apresenta-se em uma posição desfavorável, possuindo uma quantidade superior (e ascendente) de beneficiários do programa – enquanto Feira de Santana (Bahia), Campina Grande (Paraíba), Caruaru (Pernambuco) e Mossoró (Rio Grande do Norte) apresentaram uma trajetória decrescente entre 2005 e 2016. Tal cenário resulta, possivelmente, do fato de o polo ter visto seu ritmo de crescimento reduzir-se frente ao semiárido, a partir dos anos 2000 (como aponta a tabela 8), concomitantemente a uma maior evolução do setor agropecuário (tabela 9), cujo salário é relativamente mais baixo (tabela 16), atrelado à existência de um amplo contingente de produtores que possui baixa capacidade de se inserir no mercado de maneira competitiva (como detalhado no item 4.2).

De qualquer modo, frente ao semiárido, o conjunto de dados apresentados nas tabelas 19 e 20 indica que o polo apresenta-se em uma situação favorável, possivelmente por possuir uma maior capacidade de geração de renda e oportu- nidades à sua população.

TABELA 20

Beneficiários do Programa Bolsa-Família no polo, no semiárido e em municípios selecionados

(Em no de pessoas)

Município 2005 2010 2016 Crescimento (% a.a.)

2005-2010 2010-2016

Petrolina-PE 17.818 29.791 10.507 10,83 -15,94

Juazeiro-BA 9.965 22.851 25.055 18,06 1,55

Restante do polo 18.208 29.667 60.277 10,26 12,54

Polo 45.991 82.309 95.839 12,35 2,57

Semiárido (mil pessoas) 2.304 3.119 3.518 6,25 2,03

Feira de Santana-BA 33.185 46.873 34.045 7,15 -5,19

Campina Grande-PB 25.445 34.698 1.078 6,40 -43,93

Caruaru-PE 22.773 28.839 2.156 4,84 -35,10

Mossoró-RN 12.567 17.887 3.040 7,32 -25,57

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Município 2005 2010 2016 Crescimento (% a.a.)

2005-2010 2010-2016 Participação na população (%) Polo 7,11 11,99 12,43 11,01 0,61 Semiárido 10,53 13,81 14,61 5,58 0,94 Feira de Santana-BA 6,29 8,42 5,47 6,01 -6,94 Campina Grande-PB 6,76 9,01 0,26 5,89 -44,46 Caruaru-PE 8,17 9,16 0,61 2,30 -36,28 Mossoró-RN 5,53 6,88 1,04 4,48 -27,00

Fontes: Ipea (2017e) e Datasus (Brasil, 2017b). Elaboração dos autores.

Obs.: 1. Números de cadastros ativos em dezembro de cada ano.

2. Taxas de crescimento referem-se à taxa equivalente anual de crescimento entre dois períodos (ex.: % a.a. entre 2005 e 2010 e entre 2010 e 2016).

De mais a mais, como destacado no item 4.2, alguns trabalhos apontam ter havido no polo um ambiente propício para o aumento da criminalidade, mediante um forte crescimento demográfico sem que existisse uma contra- partida em termos estruturais para atender às crescentes demandas sociais. Nesse sentido, visando analisar a evolução da criminalidade no polo frente ao semiárido, a tabela 21 traz dados de homicídios como causa de mortalidade entre 1980 e 2015. Nesse segmento, a despeito das citadas melhorias relativas nas condições socioeconômicas do polo, até 2000 observou-se um forte cres- cimento nas suas taxas de homicídios frente ao semiárido, chegando o polo a ser responsável por substantivos 9,53% dos homicídios da região. Porém, entre 2000 e 2010, houve significativa queda neste indicador, fazendo com que o polo, no fim das contas, tenha tido uma queda em sua participação nos homicídios do semiárido, considerando toda a série. Não obstante, em 2015 o polo ainda apresentava um índice de homicídios superior ao semiárido, sendo o principal causador das mortes por arma de fogo da região (responsável por 4,45% delas). Contudo, considerando apenas os municípios do semiárido com mais 200 mil habitantes, em 2015 havia outras localidades com taxas maiores que as computadas no polo, que alcançou a taxa de 42,8 homicídios por 100 mil habitantes.57

57. Referente apenas aos municípios do semiárido com mais 200 mil habitantes, em 2015 as localidades que possuíam taxa de mortalidade maior que o polo eram Arapiraca (Alagoas), com taxa de 75,7; Sobral (Ceará), 75,3; Caruaru (Pernambuco), 67,4; Mossoró (Rio Grande do Norte), 62,5; Vitória da Conquista (Bahia), 53,6; Campina Grande (Paraíba), 51,6; aglomerado de Juazeiro do Norte (Ceará), 47,4; e Caucaia (Ceará), 46,6. Nesse tocante, o polo apenas fica em situação pior do que Feira de Santana (Bahia), com 36,4.

TABELA 21

Taxa de homicídios no polo, no semiárido e em municípios selecionados (Em no de homicídios por 100 mil habitantes)

Local 1980 1990 2000 2010 2015 Crescimento 1980-2015 (% a.a.) Petrolina-PE 11,51 35,03 65,43 27,89 50,01 4,29 Juazeiro-BA 16,92 44,66 40,10 46,98 51,76 3,25 Restante do polo 8,80 12,62 29,52 30,34 22,23 2,68 Polo 12,76 30,47 46,65 34,09 42,80 3,52 Semiárido 4,75 8,21 13,27 24,11 30,57 5,46

Crescimento com relação ao período anterior (% a.a.)

Polo - 9,09 4,35 -3,09 4,65 -

Semiárido - 5,62 4,91 6,16 4,86 -

Participação no total dos homicídios do semiárido (%)

Polo 5,04 8,54 9,53 4,30 4,45 -0,35 Feira de Santana-BA 0,38 0,26 3,03 6,28 3,07 6,17 Aglomerado de Jua- zeiro do Norte-CE 1,51 2,37 2,53 2,83 2,94 1,91 Campina Grande-PB 6,68 4,88 4,51 4,00 2,85 -2,40 Total 13,60 16,05 19,60 17,41 13,31 -0,06

Fontes: Ipea (2017b) e Datasus (Brasil, 2017b). Elaboração dos autores.

Obs.: 1. O aglomerado de Juazeiro do Norte (Ceará) é formado pelos municípios de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, ambos no Ceará (IBGE, 2017e).

2. O número de homicídios considera os óbitos por ocorrência em cada município.

3. Até 1995, o número de homicídios considera os óbitos no grupo E55 da CID9 (homicídios e lesões provocadas inten- cionalmente por outras pessoas).

4. A partir de 1996, o número de homicídios considera os óbitos no grupo X85-Y09 da CID10 (agressões) – infelizmente, na CID10, não há correspondência idêntica ao grupo E55 da CID9.

5. Taxas de crescimento referem-se à taxa equivalente anual de crescimento entre dois períodos (ex.: % a.a. entre 1980 e 1990, 1990 e 2000 etc.).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo procurou captar a forma como ocorreu a atuação pública no polo Petrolina-Juazeiro e suas consequências sobre sua realidade, frente à dinâmica do semiárido, buscando lições que possam contribuir no debate cuja intenção é solucionar os problemas socioeconômicos dessa sub-região. Primeiramente, é preciso ponderar que a iniciativa de instituir os investimentos para a criação do polo no semiárido foi bastante plausível com os objetivos pretendidos, considerando não apenas a identificação de uma região com reconhecidas potencialidades para a atividade da agricultura irrigada, mas também um entorno com graves problemas sociais e econômicos, o qual seria bastante beneficiado com os resultados positivos que porventura o polo pudesse alcançar. Ficou claro também que o dinamismo

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econômico observado no polo deveu-se, inicialmente, a fatores exógenos à região, a partir de políticas baseadas em investimentos públicos em infraestrutura social e no segmento de irrigação, atreladas a ações complementares de incentivos à atração do capital privado, a uma inclusão competitiva dos pequenos produtores no mercado e, a partir dos anos 1990, a uma maior qualificação de seu capital social. Com isso, esperava-se gerar um polo de desenvolvimento capaz de alavancar os indicadores socioeconômicos locais, viabilizando, assim, reduzir o fluxo migratório de sertanejos às grandes regiões metropolitanas brasileiras, especialmente as do Sudeste. Como resultado, emergiu uma importante cadeia produtiva, que atualmente se destaca como o maior exportador de uva e manga do mundo. Tal cenário trouxe como consequência uma série de transformações no perfil socioeconômico do polo, frente à dinâmica observada no restante do semiárido.

Do ponto de vista econômico, observou-se um intensivo crescimento, em que os investimentos públicos constituíram-se como o principal indutor, sobretudo no setor agropecuário. Este, por sua vez, juntamente aos incentivos fiscais e financeiros oferecidos aos que ali pretendiam instalar suas firmas, apresentou um papel vital na atração da iniciativa privada, afetando, desse modo, todos os setores da economia da região. Nesse cenário, notou-se no polo, a partir de 1970, uma forte expansão dos dados alusivos à realidade econômica – PIB, PIB per capita, empregos formais, massa salarial e salário médio mensal –, fazendo com que, até 2014, o polo apresentasse uma dinâmica favorável frente ao semiárido. Inclusive, considerando as mesmas variáveis, o polo foi o único território do semiárido que apresentou destaque relativo em todos os setores econômicos analisados – setor público, agropecuário, industrial e de serviços –, embora a evolução do setor agropecuário constitua o principal retrato de sua peculiar reestruturação produtiva.

Tal desempenho, por sua vez, acabou induzindo favoravelmente outros indicadores sociais do polo – mais especificamente, o IDH, em todas as suas dimensões (educação, longevidade e renda), os índices de indigência e pobreza e a proporção dos habitantes locais recebendo o benefício do Programa Bolsa Família –, sugerindo, segundo esses critérios, que sua população vive em melhores condições relativamente ao semiárido. Diante desse cenário, houve intenso fluxo migratório ao polo, compreendendo, desde 1970, taxas de crescimento populacional acima das registradas pela média dos municípios do semiárido, bem como pelos principais aglomerados populacionais da região. Tal realidade fez com que o polo, em 2016, configurasse-se como a área mais populosa do semiárido e detentora da maior proporção de população rural e de “não naturais”.

Por seu turno, foi possível notar que o dinamismo econômico do polo distribuiu-se de maneira mais desigual entre sua população, em comparação ao semiárido, como revelaram os indicadores referentes ao nível salarial no setor

agrícola, cujo patamar médio esteve abaixo do observado no restante do semiá- rido; e à desigualdade de renda, medido pelo índice de Gini. Tal quadro pode ser explicado não apenas considerando o expressivo grau de heterogeneidade existente entre os produtores do polo, quanto aos tamanhos de propriedade e aos níveis de competitividade; como também pelo intenso fluxo migratório para a microrregião, sem que as oportunidades tenham avançado no mesmo ritmo, exceto no setor agrícola, em que os salários são mais baixos. Nesse cenário, como estratégia para redução das desigualdades locais, por um lado, fica claro que se deve priorizar o atendimento às demandas dos produtores tradicionais, viabilizando meios para que estes se insiram no mercado de maneira mais competitiva. Por outro lado, é também fundamental atentar para que haja uma evolução na infraestrutura social proporcional ao crescimento demográfico, possibilitando uma adequada capacidade em atender às demandas sociais, em especial das camadas mais pobres. Vale ainda destacar, a partir dos anos 2000, uma reversão na dinâmica relativa de desenvolvimento das variáveis socioeconômicas do polo, resultando em uma piora frente ao desempenho do semiárido, no que se refere a variáveis como PIB, PIB per capita, empregos formais, massa salarial, salário médio mensal, IDH e número de beneficiários do Programa Bolsa Família. Tal desaceleração reflete uma nova fase vivida pelo polo, em que a esfera pública perdeu sua notável capacidade de impulsionar o desempenho local, adentrando em uma fase mais autônoma, pautada por uma dinâmica impulsionada por aspectos endógenos, aliado a uma presumida saturação do modelo implantado no polo, dentro de seu estágio de desenvolvimento, sinalizando para a necessidade de um processo de reconversão dos esforços em busca de uma melhor adequação de sua estrutura produtiva às exigências mais recentes dos principais mercados consumidores de frutas, priorizando a atenção aos pequenos produtores. Contudo, nesse caso, há de se reconhecer a necessidade de um estudo mais aprofundado acerca dos principais problemas existentes na cadeia produtiva do polo, o que não foi alvo direto neste estudo.

Diante do exposto, de modo geral, é possível afirmar que os objetivos básicos pretendidos por meio das ações públicas no polo – dinamizar a sua economia e reduzir o fluxo migratório de sertanejos para outras regiões do país – foram atingidos, embora tais investimentos não tenham significado necessariamente melhoria na qualidade de vida para toda a população e, mais recentemente, tenha se observado certa letargia na dinâmica do polo, relativamente ao semiárido. Ainda assim, focando seus aspectos positivos, compreende-se o porquê de a atividade da irrigação ser vista por vários pesquisadores como um importante instrumento para auxiliar no fomento ao desenvolvimento socioeconômico do semiárido. Não obstante, em torno dessa eventual opção estratégica, além das proposições já apresentadas em referência às adversidades observadas no polo – relativas à agricultura familiar, à infraestrutura

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social, à necessidade de uma reestruturação produtiva etc. –, acredita-se que outras questões gerais devam também ser consideradas.

Uma primeira de ordem natural, referente à localização geográfica dos ter- ritórios, considerando sua proximidade a fontes de água que viabilizem este tipo de política, embora, mais recentemente, esta possibilidade tenha se ampliado em razão da transposição do rio São Francisco, proporcionando, potencialmente, melhores perspectivas aos municípios do semiárido assolados pela seca. Cabe, contudo, ressaltar que essa nova realidade deve ser melhor avaliada, não sendo alvo de análise pormenorizada neste trabalho. Em segundo lugar, deve ser consi- derada a questão da sustentabilidade, quanto à capacidade de suporte das fontes disponíveis de água na região, dada a necessidade em atender às suas demandas múltiplas – irrigação, abastecimento hídrico humano, geração de energia, transporte etc. Nesse caso, é importante que se estimule o emprego de técnicas e práticas de irrigação condizentes com um consumo racional da água, por exemplo, a partir de desincentivos a práticas de irrigação que desperdiçam água, como aquelas por inundação ou sulco, em prol de métodos mais eficientes, como por gotejamento e microaspersão, bem como por intermédio de treinamento dos profissionais para que operem os equipamentos de maneira adequada.

Além destas, não obstante a experiência do polo constituir-se como uma importante evidência quanto aos potenciais impactos que este tipo de intervenção pode causar na região, é fundamental que se tenha claro que os resultados obtidos no polo não necessariamente serão os mesmos que serão obtidos em outras zonas do semiárido, dado que as reações locais a uma determinada política dependem de uma série de características específicas daquela localidade, como condições edafoclimáticas, estruturais, socioeconômicas, produtivas, institucionais, dentre outras. Nesse sentido, é vital que as instâncias públicas considerem todas estas nuances, atrelando-as aos objetivos pretendidos. É também importante que haja