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3 CARACTERIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO SEMIÁRIDO: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO POLO

3 CARACTERIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017a), o semiá- rido brasileiro abrange 1.189 municípios, onde, em 2016, distribuíam-se mais de 24 milhões de habitantes em uma área de 982,6 mil km2, compreendendo a maioria dos estados nordestinos (exceto Maranhão) e o norte de Minas Gerais – ver figura 2. Sua delimitação mais recente decorre da Portaria no 89, de 16 de março de 2005, do Ministério da Integração Nacional (Brasil, 2005b; 2005c), que enquadrou no semiárido aqueles municípios caracterizados por ao menos um dos seguintes critérios: i) precipitação pluviométrica média inferior a 800 mm/ano; ii) índice de aridez9 inferior a 0,5; e iii) risco de seca10 superior a 60%.

A região configura-se como a área semiárida mais populosa do planeta (Inpe, 2015) e a maior concentração de população rural do Brasil (Baptista e Campos, 2014), mesmo diante de suas condições climáticas desfavoráveis e da consequente insuficiência hídrica (IBGE, 2017a). Dentre outras especificidades, esse cenário acabou gerando um ambiente de forte vulnerabilidade socioeconômica de sua população – sobretudo dos produtores familiares rurais, cujas atividades produtivas estão intimamente relacionadas às oscilações do clima –, fazendo com que seja historicamente objeto de estudos direta ou indiretamente interessados na promoção da qualidade de vida de sua população e na identificação de alternativas para seu desenvolvimento.

8. Trabalhos como os de Moyano (1999), Ortega e Só (2005), Putnam (2006) e De Janvry e Saudolet (2004) apresentam exemplos de localidades que, mesmo pertencendo a um mesmo ambiente geográfico e dotado de recursos econômicos similares, aproveitam os recursos disponíveis e/ou as políticas adotadas de modos distintos. Para todos esses autores, aquelas sociedades que se apresentavam mais bem articuladas em torno dos projetos coletivos, ou seja, aquelas que possuíam um melhor capital social, acabavam não só utilizando de forma mais adequada seus recursos disponíveis, como também acabavam obtendo melhores resultados diante das políticas públicas implementadas em sua comunidade.

9. Calculado pela escala de Thornthwaite (1948), que relaciona as precipitações e a evapotranspiração potencial. 10. Percentual de dias do ano caracterizados por déficit hídrico.

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Desenvolvimento Territorial no Semiárido: uma avaliação a partir da experiência do polo Petrolina-Juazeiro

FIGURA 2

Representação cartográfica dos municípios que compõem o semiárido brasileiro

Considerando todos os seus municípios, o produto interno bruto (PIB) do semiárido somou R$ 277,8 bilhões em 2014,11 representando uma participação

de 29,3% no PIB nordestino, apesar de comportar cerca de 40% de sua população e 60% da área da região. Ao se considerar o PIB per capita em 2014, o semiárido registrou um montante de R$ 11.649/habitante,12 o que representa 69,1% do

PIB per capita nordestino e 34,8% do PIB per capita brasileiro.13 De mais a mais,

com base nos dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud, 2017), considerando a média dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do semiárido em 2010, ponderada pela população de cada município no mesmo ano, calcula-se que o IDH no semiárido alcançou 0,617, representando 85,9% da mesma medida computada para o Brasil e 94,7% para o Nordeste.

Contudo, apesar das citadas condições climáticas desfavoráveis e dos baixos níveis relativos de renda e desenvolvimento descritos, é possível também apontar a existência de alguns polos de desenvolvimento na região semiárida brasileira. No Ceará, destacam-se três áreas: i) Sobral, marcado por atividades de indústria, comércio e serviços; ii) Caucaia, fazendo parte da região metropolitana (RM) de Fortaleza e com perfil mais ligado à indústria; e iii) polo de Juazeiro do Norte, que inclui Crato e Barbalha, com fortes atividades comerciais e de serviços.

No Rio Grande do Norte e na Paraíba, por sua vez, três polos podem ser citados: i) Mossoró (Rio Grande do Norte), em que são marcantes as atividades industriais e de comércio e serviços; ii) região do Seridó, com diversos pequenos municípios localizados entre o Rio Grande do Norte e a Paraíba, cujas atividades de comércio e serviços são marcantes, bem como seus elevados níveis de IDH, quando comparados com o restante do semiárido; e iii) Campina Grande (Paraíba), com perfil mais associado à indústria, ao comércio e aos serviços.

Por fim, em Pernambuco e na Bahia, quatro polos podem ser destacados:

i) Caruaru (Pernambuco), principalmente pelas atividades de comércio e serviços; ii) polo de Petrolina (Pernambuco), cujo município é contíguo a Juazeiro (Bahia),

formando um relevante aglomerado populacional marcado por atividades agrícolas e industriais, bem como de comércio e serviços; iii) Feira de Santana (Bahia), principal aglomeração urbana do semiárido e marcada fortemente pelas atividades de indústria, comércio e serviços; e iv) Vitória da Conquista (Bahia), também com perfil mais ligado ao comércio e aos serviços.

11. Dado equivalente ao ano de 2014, a preços de dezembro de 2016, corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) (IBGE, 2017b; 2017c; Brasil, 2017b).

12. Valor equivalente ao ano de 2014, corrigido pelo IPCA para dezembro de 2016 (IBGE, 2017b; 2017c; Brasil, 2017b). 13. Vale ainda frisar que, do total de municípios da região semiárida, em 2014, 37,2% apresentavam PIB per capita abaixo de R$ 7,5 mil, enquanto 39,5% alcançavam de R$ 7,5 mil a R$ 10 mil, totalizando 76,7% com renda per capita abaixo de R$ 10 mil.

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Desenvolvimento Territorial no Semiárido: uma avaliação a partir da experiência do polo Petrolina-Juazeiro

Das áreas citadas, chama a atenção o fato de apenas três desses polos estarem situados mais ao interior da região semiárida: o polo de Juazeiro do Norte (Ceará), a região do Seridó (Rio Grande do Norte e Paraíba) e o polo Petrolina-Juazeiro (Pernambuco e Bahia). Em contraposição, os demais polos citados estão localizados próximos aos limites do semiárido com outras áreas ou com o litoral. Em alguns casos, inclusive, destaca-se a proximidade com as capitais de seus respectivos estados, a exemplo de Caucaia (Ceará), situada na própria RM de Fortaleza, bem como Campina Grande (Paraíba), Caruaru (Pernambuco) e Feira de Santana (Bahia), todas a menos de 150 km de João Pessoa, do Recife e de Salvador, respectivamente.

Outra importante observação diz respeito às estruturas produtivas dos polos identificados. Com efeito, o polo Petrolina-Juazeiro é o único, dentre os citados, que combina elevados volumes de produção em todos os grandes setores agregados (PIB da agropecuária, PIB da indústria e PIB dos serviços).14 Quanto ao PIB da

agropecuária, o polo de Petrolina apresenta o maior valor produzido em todo o semiárido.15 Por sua vez, quanto ao PIB da indústria, este se encontra entre as

cinco maiores produções da área.16 Por fim, com respeito ao PIB dos Serviços

(que também considera o setor comercial), este polo fica na segunda colocação dentre todos os municípios do semiárido17. Tal característica é singular em todo o

semiárido, distinguindo o polo Petrolina-Juazeiro como exemplo de desenvolvi- mento na região, configurando-o como proeminente caso de sucesso estabelecido no semiárido brasileiro.