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CAPÍTULO II A QUALIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.1. Introdução

2.5.5 CAF 2002 versus CAF 2006

A versão da CAF 2006 revela maior ambição no que diz respeito aos objectivos. Deixa de ser um mero instrumento de apreensão das características das organizações públicas e de melhoria de desempenho dos organismos para os gestores, passando a assumir a introdução na Administração Pública dos princípios da GQT, através do desenvolvimento do ciclo completo do PDCA – Planear, Executar/Implementar, Rever/Avaliar, Ajustar. Introduz, também, o conceito de “benchlearning” entre organizações do sector público.

No que diz respeito aos princípios, a CAF 2006 assume a auto-avaliação como uma medida que tem como fim último contribuir para uma boa governação.

Quanto às evidências e à sua medição, ela assume o papel que lhe é muitas vezes atribuído como sendo uma ferramenta de base ZERO, já que numa primeira auto-avaliação, na maioria das vezes, não se encontra disponível informação suficiente, pronta a reunir e a ser utilizada pelas organizações do sector público.

Relativamente à pontuação, a CAF 2006, introduz duas novas possibilidades: o sistema de pontuação clássico (classical CAF scoring) que constitui a versão revista e actualizada das tabelas

de pontuação da CAF 2002 e o sistema de pontuação avançado (fine-tuned CAf scoring) próprio para organizações que pretendam reflectir com mais detalhe a análise feita aos sub-critérios. O ciclo PDCA constitui o fundamento das duas formas de pontuar.

Quanto à escala de pontuação, a CAF 2002, apresentava níveis de 0 a 5. Na CAF 2006 a escala foi revista para um intervalo de 0 a 100, por ser um intervalo mais utilizado e aceite a nível internacional. Esta nova escala parece dar maior flexibilidade às Equipas de Auto-Avaliação para pontuarem cada um dos exemplos.

Ainda, no que respeita à pontuação, o que parece provocar alterações significativas é o significado que se atribui a cada um dos níveis da escala (0 a 100), já que para além desses significados parecerem facilitar o trabalho das Equipas de Auto-Avaliação, poderão, também, ter o efeito de elevar a pontuação atribuída a cada um dos exemplos o que se reflectirá na pontuação global da organização.

No que concerne à estrutura, dois dos critérios passam a ter denominações diferentes. O critério “Gestão das Pessoas” passa a denominar-se “Pessoas”, o critério “Gestão dos processos e da mudança” passa a denominar-se “Processos”. O número de critérios mantém-se e a divisão em cinco critérios de meios e quatro critérios de resultados também. O número de sub-critérios passa de 27 para 28 e o número de exemplos passa de 249 para 212. A redução do número de exemplos verifica-se por via da eliminação de exemplos duplicados e, sobretudo, pela reformulação de exemplos.

Nesta última versão é dada maior ênfase à modernização e inovação. Esta preocupação encontra-se presente, de forma mais explícita, nos critérios sobre a liderança, a estratégia e os processos.

2.6 – Aplicação da CAF

É difícil ter uma ideia clara sobre o número de casos de aplicação da CAF a nível nacional e europeu, o que se explica principalmente pela natureza desta ferramenta (instrumento de auto- avaliação) e pelo carácter essencialmente voluntário da sua aplicação.

Ainda assim, alguns estudos promovidos a nível europeu têm trazido algumas evidências. No primeiro, realizado em 2003, os interlocutores nacionais foram convidados a estimar o uso da CAF no seu país (ver Quadro I). Assim, os 22 países de que foi possível obter uma resposta, estimaram ter gerado aproximadamente 500 aplicações da CAF. Em 2005 (ver Quadro II), 20 países estimaram ter gerado cerca de 885 aplicações nos respectivos países, isto é, um aumento de cerca de 75%. Finalmente, 17 países fizeram uma estimativa quanto às potenciais aplicações

adicionais até ao final de 2006, tendo sido contabilizadas cerca de 990 aplicações. Neste total, Itália representa uma parte significativa, com 270 casos. Actualmente, encontram-se registados na base de dados do EIPA mais de 1000 utilizadores da CAF, mas o objectivo é alcançar os 2000 utilizadores em 2010.

De acordo com estes estudos, os Países podem ser classificados em dois grandes grupos. Os países com mais de 30 aplicações podem ser considerados como países que já estabeleceram uma base sólida para uma futura utilização da CAF. Países com menos de 30 aplicações podem ser creditados por terem ganho experiência inicial com o modelo.

Os dois estudos realizados pelo Instituto Europeu da Administração Pública (EIPA), um no ano de 2003 e o outro no ano de 2005, sobre as aplicações da CAF nas Administrações Públicas dos Estados Membros (www.dgap,gov.pt), evidenciam que, em Portugal, no ano de 2003, ainda eram muito poucos os serviços que tinham implementado a CAF (6 a 10), continuando em 2005 o número de aplicações a ser ainda reduzido, apesar de ter havido mais de 30 aplicações nos serviços públicos e se perspectivar um crescimento efectivo do número de aplicações, nos próximos anos (ver Quadros I e II).

Quadro I – Utilizações da CAF nos Estados Membros da UE – 2003

Grupo (número de

utilizações) Países

1 (0) Chipre, Luxemburgo, Holanda.

2 (1 a 5) República Checa, França, Grécia, Irlanda, Malta, Roménia, Espanha, Reino Unido.

3 (6 a 10) Portugal.

4 (11 a 25) Dinamarca, Estónia, Hungria, Polónia, Eslováquia, Eslovénia, Suécia.

5 (26 a 50) Áustria, Alemanha, Finlândia.

6 (mais de 50) Bélgica, Itália, Noruega.

Fonte: EIPA (www.dgap.gov.pt)

Quadro II – Utilizações da CAF nos Estados Membros da UE – 2005

Número de

utilizações Países

Mais de 30 Áustria, Bélgica, República Checa, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Hungria, Itália, Noruega, Portugal, Eslovénia, Suécia. Menos de 30 Chipre, Estónia, Grécia, Espanha, França, Irlanda, Látvia, Luxemburgo, Polónia, Eslováquia, Reino Unido, Roménia.

Fonte: EIPA (www.dgap.gov.pt)

1.º Estudo

Tal como já foi referido anteriormente, o 1.º Evento Europeu da CAF, realizado em Roma, foi dedicado ao tema "Self-Assessment and Beyond". Neste Evento foram apresentados os resultados do estudo do EIPA "The use of the Common Assessment Framework in European Public

Administration", e partilhadas experiências relativamente às estratégias nacionais de disseminação

da CAF, o processo de auto-avaliação e a relação entre a CAF e outros modelos de GQT. Este estudo foi desenvolvido durante o segundo semestre de 2003. Baseou-se na aplicação de questionários aos correspondentes nacionais da CAF e membros do IPSG responsáveis pela disseminação do modelo, e a 156 utilizadores da CAF dos Estados Membros (indicados pelos correspondentes nacionais da CAF ou registados na base de dados do Centro de Recursos CAF do EIPA). No entanto, estima-se que naquela data a CAF teria sido aplicada em cerca de 500 organizações de 22 países europeus.

Adicionalmente, o estudo demonstra que a aplicação da CAF desde o ano em que oficialmente nasceu (2000) segue diferentes ritmos e estratégias de disseminação nos Estados- membros11.

O estudo aponta igualmente para a relevância das iniciativas de promoção activa e apoio à CAF, ainda que se verifiquem alguns casos que evidenciam uma utilização "espontânea" da CAF.A promoção da CAF tem sido, com algumas excepções, geralmente uma abordagem bottom-up. Os países mais bem "sucedidos" incentivam a criação de redes de utilizadores da CAF e recorrem aos "agentes CAF" para convencer outros organismos sobre a utilidade da ferramenta. São apontadas como boas práticas mais relevantes para disseminar e promover a CAF:

• Conferências ou concursos da qualidade de âmbito nacional.

• Adaptação da CAF ao contexto nacional, embora neste ponto os autores alertem para o perigo de enfraquecer a ferramenta como uma base comum para actividades de benchmarking.

• Organização de redes de utilizadores e parcerias.

2.º Estudo

Este estudo12 ocorreu cerca de um ano e meio depois do anterior e foi solicitado ao EIPA pela Presidência Luxemburguesa. Com a finalidade de poder inteirar-se da coerência da evolução da utilização da CAF nos Estados Membros e em muitos outros países desde Outono de 2003, o novo estudo alinha-se nos objectivos principais e na estrutura global do precedente. Tal como se passou em 2003, foi preparado um questionário em colaboração com os correspondentes CAF e os

11

Estudo disponível no site do EIPA www.eipa.nl e da DGAP www.dgap.gov.pt . As apresentações do Evento da CAF estão disponíveis no site do Programa Cantieri. http://www.cantieripa.it integrado no Departamento Italiano da Função Pública.

membros do IPSG (Grupo dos Serviços Públicos Inovadores), no sentido de recolher informações sobre a difusão da CAF em cada país.

No que diz respeito a actividades e iniciativas ligadas à CAF, segundo o que este estudo conseguiu apurar, no âmbito do recurso a utensílios suplementares de ajuda à difusão da CAF, Portugal produziu um manual de 235 páginas para apoiar a aplicação da CAF. Além disso, concebeu, com o parceiro EFQM, um projecto-piloto que eleva a aplicação da CAF ao primeiro nível de excelência do programa EFQM.

Ao nível da formação sobre a CAF, na maior parte dos países, esta está organizada ao nível do Ministério (Bélgica, República Checa, Estónia, Grécia, França, Itália, Polónia, Portugal, Eslovénia), por organizações responsáveis pela CAF (SKCC na Dinamarca) ou pelos Institutos de Administração Pública (Hungria, Lituânia, Portugal, Espanha).

Em Maio de 2005, Portugal terminou a sua primeira edição de e-learning CAF em proveito de 29 participantes, tendo os responsáveis por este projecto sido a DGAP e o INA (Instituto Nacional de Administração). O instituto é responsável pelo desenvolvimento do conhecimento, inovação e processos de mudança no Sector Público português, através do ensino, actividades de consulta e investigação. A formação consistiu num programa de formação, com vista à atribuição do Diploma de Especialização CAF – DECAF – combinando e-learning e sessões de participação pessoal.

Em matéria de troca de experiências, o estudo revela que, a maioria dos correspondentes reconhecem que as conferências sobre qualidade e prémios de qualidade continuam a desempenhar um papel importante Neste sentido, Portugal organizou um concurso de boas práticas, em 2004, para as autoridades locais.

Relativamente a informações sobre a aplicação da CAF, é referenciada a plena expansão da aplicação da CAF associada à troca de experiências e de boas práticas (um dos objectivos-chave desta ferramenta). No caso de Portugal, segundo este estudo, foi aprovado um projecto de criação de um banco de dados numéricos de boas práticas na Administração Pública, financiado pelo Fundo Social Europeu.

Com base neste estudo, é possível concluir, que se verifica um aumento das iniciativas e actividades nos Estados-Membros para promover a CAF (formação, linhas de orientação, etc.); a CAF é mais usada nos serviços da Administração Central e em organismos da Administração descentralizada.

Importa ainda referir, que a CAF já atravessou as fronteiras do espaço europeu, existindo actualmente uma versão da CAF na China e estando também a ser preparada uma cooperação com os EUA e as Filipinas, no sentido de adaptar esta ferramenta às Administrações daqueles países.