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Jo

Os gritos dentro do meu crânio foram a primeira coisa que percebi enquanto a inconsciência lentamente recuava como uma névoa na luz da manhã.

Já sofri de enxaqueca no passado, e essa dor era assim, mas amplificada, me fazendo tentar levantar as mãos para pressionar a palma na testa, sempre achando que a pressão ajudava com a dor.

Mas quando tentei levantá-las, senti resistência. Assim que me dei conta disso, a dor ao redor de meus pulsos competiu por reconhecimento.

Foi então que tudo voltou rapidamente. Sair do trabalho.

Preocupação com meu cabelo. Mãos. Um corpo. Um homem. Um carro. Algemas. Uma mordaça.

Tentando me libertar, tropeçando e depois nada.

Esse nada foi porque provavelmente bati minha cabeça. O que explicava a sensação de batidas em minha têmpora.

Meus olhos se abriram enquanto tentava me levantar para uma posição sentada, descobrindo que minha visão se recusava a focar por um longo segundo enquanto meu estômago revirava, fazendo a bile subir na minha garganta.

Possível concussão.

Isso não foi nem um pouco surpreendente, por não ter sido capaz de conter minha queda e tudo mais.

Apertando meus olhos fechados, respirei fundo algumas vezes, tentando lutar contra a tontura e a náusea.

A mordaça se foi, percebi, mas senti os resquícios de sua existência em uma dor em meus lábios, bochechas e na parte de trás da minha cabeça.

— Você está bem, — uma suave voz feminina declarou ao meu lado, me fazendo estremecer quando meus olhos se abriram.

Então lá estava ela.

Uma linda mulher com longos cabelos negros escuros que me fez sentir falta dos meus por um segundo absurdamente inapropriado. Ela também estava vestida de maneira estranha, com uma espécie de vestido verde longo com mangas compridas. Era um vestido fora do tempo, algo feito para filmes de época, não dos tempos modernos, sentado bem na minha frente em um banquinho. Eu pensei que era um truque de luz no início, mas quando ela se mexeu, a lâmpada brilhou em seu rosto, fazendo sua pequena tatuagem se destacar em sua pele pálida. Era uma lua crescente azul-clara no ponto mais alto de sua testa, as pontas pontiagudas desaparecendo em seu couro cabeludo.

Já tinha visto muitas tatuagens na minha vida, tudo desde uma Miss Piggy2 sensual segurando um chicote de montaria, até a

bunda nua de Caco, o Sapo, a uma suástica nazista real, e tudo mais nesse termo.

Eu nunca tinha visto um igual ao dela antes, no entanto.

— Onde estou? — Perguntei, a tensão crescendo em meu estômago.

— Ah, o que eles disseram? Utah, acho, — disse ela, parecendo confusa com a palavra.

Claro que estávamos em Utah.

— O que é este lugar? — Eu perguntei, olhos implorando para ela entender.

— Oh, uma casa. Uma casa alugada, — acrescentou ela, dando-me um sorriso encorajador. — Você teve uma queda feia. Cortou a testa, — ela me disse. — Limpei e embrulhei com um cataplasma.

Um cataplasma?

Quem ainda usava essa palavra, quanto mais sabia como misturar uma?

A minha parte que passou muito tempo aprendendo como cuidar de feridas de acordo com nossos padrões modernos estava tendo um leve ataque cardíaco ante a ideia de uma mulher hippie bancando a herborista colocando Deus-sabe que ervas, folhas ou cuspe em minha ferida aberta.

Mas haveria tempo para se preocupar com isso mais tarde. 2 Miss Piggy e Caco são personagens dos The Muppets, fantoches de série televisiva.

Depois que me libertasse, fugisse, conseguisse ajuda. Talvez esta mulher possa ajudar.

Mas foi aí que um barulho estranho soou atrás de mim. Um som abafado e estridente, algo que imediatamente me colocou no limite quando me virei, olhei para trás e encontrei uma cama grande atrás de mim.

Com uma mulher quase nua por cima. Completamente coberta de sangue. Com uma mordaça na boca.

Houve um momento instintivo e egoísta em que me preocupei por ser eu, que talvez fui trazida para substituí-la quando ele terminasse com seu corpo tão maltratado.

Os pensamentos foram substituídos quase instantaneamente, porém, com preocupação. Por ela. Por seu bem-estar. Por sua dor óbvia enquanto ela gritava contra sua mordaça.

— O que aconteceu com ela?

— Eu, ah, não posso te dizer isso, — disse a mulher, balançando a cabeça.

— O que você quer dizer com não pode me dizer? Quem fez isso com ela? Quem você está protegendo? — Eu exigi, a voz aumentando.

Vamos apenas dizer que eu tinha visto muitas mulheres entrarem nos hospitais em que trabalhei com sinais claros de abuso por parte dos homens que as levaram para receber cuidados. E apesar de tentar me esforçar, às vezes, eu nunca conseguia chegar às mulheres, nunca conseguia ajudá-las.

E isso me fez ter um gatilho sensível quando se tratava de abusadores. E aqueles que os capacitaram por meio da inação.

— Abaixe a sua voz, — outra voz entrou na conversa. Mais baixa, mais profunda. Masculina. — Ou terei que colocar a mordaça de volta em você, — acrescentou ele enquanto meu olhar se erguia, encontrando um homem parado na porta, engolindo todo o espaço.

Ele estava com uma máscara, é claro, mas seu tamanho era familiar. Alto, forte, mas não excessivamente volumoso. Me senti razoavelmente confiante em dizer que este era o homem que me sequestrou, que me empurrou para dentro de seu carro, que me algemou e amordaçou, que me perseguiu até eu cair.

Então, aparentemente, me arrastou para dentro e instigou sua amiga com lavagem cerebral contra mim.

— Que tal não? — Retruquei, a mandíbula tensa.

Eu deveria ter ficado com medo. Mas encontrei uma quantidade surpreendente de raiva percorrendo meu corpo, fazendo minha pele parecer elétrica, minha mandíbula firme.

— O que você vai fazer? Me bater de novo? — Eu adicionei. — Você bateu a sua própria cabeça, — Ele me lembrou, parecendo irritantemente divertido com o fato.

Não queria pensar nisso, mas era impossível não notar, mesmo nessa situação.

O homem era lindo.

Como Adônis, escultura grega, pertence a uma galeria de arte ou colônia chique e meio que lindo.

Era a estrutura óssea clássica e perfeita, com uma mandíbula esculpida, um nariz grego, uma testa alta e orgulhosa e sobrancelhas severas sobre olhos azuis claros que quase pareciam ter manchas de uma cor diferente, mas estava muito longe para reconhecê-las.

Seu cabelo era loiro e perfeitamente penteado, mesmo depois de ter usado uma máscara de esqui para me sequestrar.

Ele estava vestido como se planejasse passar um tempo ao ar livre com um suéter bege de tricô sobre um moletom com capuz.

Estava quente na casa. Tipo, desconfortavelmente. Como ele não estava suando loucamente eu não conseguia explicar.

— Talvez eu não tivesse batido minha cabeça se não estivesse tentando escapar de um violento sequestrador psicopata, — Eu disse, atirando nele minha melhor cara maldosa.

Ele me ignorou completamente, olhando para a outra mulher. — Lenore, vá. Ly está esperando impacientemente no seu quarto, — disse ele enquanto a mulher me dava um longo e último olhar antes de se afastar.

— Me solta, — Exigi, tentando ser forte, mas com a ausência da mulher, me sentia muito menos confortável.

Por que ele a mandaria embora?

Para que pudesse fazer coisas terríveis comigo sem audiência? — Não, — disse ele, movendo-se em direção à cama, olhando para a mulher lá.

— O que você fez com ela? — Exigi, a raiva crescendo novamente enquanto ela se contorcia de dor.

— Nada.

— Oh, então ela se bateu e se cortou toda sozinha também? — Perguntei. — Que coincidência que coisas assim continuem acontecendo ao seu redor, hein?

— Você não está aqui para falar demais, — ele me informou naquele tom frio dele.

— Por que estou aqui então? — Eu perguntei, tentando contorcer meus pulsos, soltá-los, mas ele pôs as algemas em mim muito apertadas.

— Para curá-la, — disse ele, estremecendo um pouco quando a mulher na cama gritou contra sua mordaça quando ele tentou tirar o cabelo ensanguentado de seu rosto.

— Por que você não a levou para o hospital? — Perguntei.

— Por razões que não são da sua maldita conta. Apenas venha aqui e dê uma olhada nela. Diga-me o que você precisa para curá- la, e mandarei alguém arranjar isso.

Não tendo certeza se tinha escolha, me levantei do sofá, sentindo minha visão boiar por um momento antes de se acalmar e eu pudesse continuar através do quarto, indo para o lado oposto da cama que ele.

A mulher estava completamente coberta de sangue. E não era de admirar.

Porque suas costas pareciam ter sido chicoteadas, as lacerações profundas e longas, cruzando todas as suas costas, dos ombros até a cintura. Havia até uma marca de chicote profunda em sua bunda.

— Há quanto tempo ela conseguiu isso? — Eu perguntei, de alguma forma capaz de pensar além do meu sequestro e me concentrar na tarefa em mãos. Mas quando levantei minhas mãos para tentar tirar seu cabelo do caminho, as algemas foram um lembrete doloroso da minha situação.

Eu as levantei para ele, dando-lhe um olhar duro.

Para isso, ele analisou meu rosto por um longo momento antes de se mover ao redor da cama, dando a volta para se elevar sobre mim, estendendo uma mão para envolver meu pulso para ver a fechadura, em seguida, puxando a chave.

Não havia... absolutamente não havia... uma pequena corrente elétrica estranha que percorreu minha pele quando as pontas de seus dedos me tocaram. Porque isso não faria sentido algum.

— Nem pense em fugir, — ele me disse, em voz baixa, letal, atraindo minha cabeça para olhar seu rosto. — Tenho homens em todos os lugares, — ele acrescentou, segurando meu olhar por um longo segundo, me fazendo perceber que aquelas manchas que tinha visto em seus olhos azuis claros eram na verdade, bem, vermelhas. Exceto que não fazia sentido. Porque as pessoas não tinham detalhes vermelhos nos olhos.

— Não vou prometer ser uma boa prisioneira, — eu disse a ele, observando como seus lábios se contraíram ligeiramente antes de voltarem para sua linha severa.

— Cure Red, — ele exigiu, tirando as algemas totalmente, então se movendo em direção ao outro lado do quarto, encostando- se na parede perto da porta.

Tentei não notar, mas não havia como evitar sentir o olhar dele em mim enquanto estendia a mão na direção da mulher “Red”, movendo seu cabelo, para que pudesse ver melhor as bordas externas das feridas.

Não estavam inchadas e vermelhas como se fossem mais velhas, como se tivessem tempo para se infectar. Pareciam frescas.

— Tudo isso precisa ser costurado, — eu disse a ele, examinando cada corte individual em busca de qualquer sinal minúsculo de infecção que precisaria ser deixado aberto para drenar.

— Dê-me uma lista de itens, — ele exigiu, curto, prático.

— Um kit de sutura. Gaze. Solução salina. Creme antibiótico. Alguns antibióticos de verdade. Oral. Ela precisa estar em um hospital, — insisti, olhando para ele, balançando a cabeça. — Isso é ruim. Ela precisa de atenção médica.

— Ela tem. É por isso que você está aqui.

— Este não é um ambiente estéril. Eu não tenho...

— Eu te disse para me dar uma lista do caralho, — ele me interrompeu. — Seja o que for, eu consigo, — ele me disse, sem o menor indício de incerteza em suas palavras. E acho que se você estava disposto a sequestrar uma enfermeira para tratar alguém, roubar suprimentos médicos não era grande coisa.

— Tudo o que acabei de mencionar, — disse eu, sentindo que era inútil discutir. Se ela não ia para o hospital, eu teria que tratá- la com o melhor de minha capacidade. — Remédio para dor. Ela

está gritando. Você não a ouve gritando? — Eu perguntei, a voz tensa.

— Tenho alguém arranjando remédio para dor, — ele me disse, encolhendo os ombros. — O que mais?

Ignorando-o, me movi ao redor da cama, inspecionando alguns pequenos cortes e hematomas sob o sangue nas coxas e pernas da mulher. Eles eram piores na sola dos pés.

— Oh, Deus, — eu sibilei, sentindo meu estômago revirar, me fazendo precisar respirar para me acalmar.

— O que? — o homem perguntou, não parecendo mais preocupado do que estava um momento antes.

— Alguém removeu... você fez isso? — Eu perguntei, me virando, ignorando o turbilhão da minha visão, atirando adagas nele.

— Eu fiz o quê? — Ele perguntou, a voz tão cortante quanto a minha.

— Removeu todas as unhas dos pés, — esclareci, mesmo pensar nisso me fazendo sentir mal novamente. Eu tinha um estômago forte quando se tratava de todos os vários ferimentos que um corpo poderia ser atingido.

Duas coisas me assustavam. Unhas dos pés quebradas. E piercings sendo arrancados.

Provavelmente porque me lembravam de filmes de terror que eu tinha visto quando era muito jovem, aqueles que ficaram comigo, não importa o quanto tentasse me livrar deles.

— O que? — Ele perguntou, se afastando da parede, dando passadas longas através do quarto, movendo-se para ficar ombro a ombro comigo, inclinando-se para inspecionar seus pés.

Senti uma onda de alívio quando percebi que ele não tinha feito isso. Ele não precisaria inspecionar seu trabalho manual se tivesse.

Então, talvez eu não fosse acabar em uma cama coberta com meu próprio sangue, afinal.

Quando o homem se endireitou, não vi o choque, o horror ou a repulsa que senti, apenas um vazio, até mesmo uma resolução.

— Você precisa de algo específico para isso?

— Ahm, não agora. Quando sararem... se eles sararem... ela pode querer um pouco de cola.

— Cola?

— Para colocar nas peles sob as unhas, — eu disse a ele. — Essas peles são sensíveis. Elas ficam doloridas se forem expostas. A cola as protegeria e pararia com a dor.

— Entendi. Mais alguma coisa? — Ele perguntou, sem se preocupar em sair do meu caminho, me fazendo apertar na frente dele para ir para o outro lado da cama, minhas costas tocando contra sua frente.

Tentei inspecionar a face da mulher sem empurrá-la de costas. — Bolsas de gelo, — decidi, vendo como seu rosto estava inchado, seus olhos nada além de pequenas fendas acima dos olhos negros. — Talvez alguns suportes ou bandagens elásticas? — Eu disse encolhendo os ombros. — Não sei se alguma coisa está quebrada,

— esclareci. — Não quero tocá-la sem limpar suas feridas primeiro. Ah, e luvas. Vou precisar de luvas.

— Tudo bem. Vou pegar tudo isso, — ele concordou, virando- se, voltando para a porta, fechando-a com um estalo alto, me fazendo pular.

— Não sei se você está no seu juízo perfeito agora, — eu disse para a mulher, sentindo uma pontada de lágrimas no fundo dos meus olhos enquanto ela gritava contra sua mordaça. — Mas vou tentar tudo o que puder para te tirar da dor e ficar boa de novo. Quem fez isso com você é um monstro, — acrescentei, sentando-me na beira da cama, sem saber o que fazer até que tivesse os suprimentos de que precisava, então comecei a cantarolar porque era o único conforto que poderia dar a ela.

A porta se abriu alguns minutos depois, fazendo meu coração pular quando olhei por cima do ombro.

Mas não era o homem de antes.

Este também era alto, mas com um aspecto um pouco mais rude, com seu cabelo escuro, barba, jeans, botas e um colete de couro sobre uma camiseta preta.

— Desculpe, querida, — disse ele, caminhando em direção às janelas, e foi então que notei o martelo e a caixa de pregos em sua mão. — Ace disse que tenho que selar suas saídas, — ele me disse.

Ace.

O nome do outro homem era Ace.

— Você fez isso com ela? — Eu perguntei enquanto ele pegava um prego e o segurava contra o batente da janela.

— Porra, não. Foi isso.

Porra, não.

Mas pelo menos sabia que eram duas das pessoas nesta casa que não arrancariam minhas unhas dos pés. Era um pequeno tipo de conforto, mas pegaria tudo que pudesse.

O som do martelo parecia ricochetear em meu crânio, fazendo meu corpo sacudir a cada golpe, deixando-me nervosa mesmo depois que ele terminou.

— Ahm, com licença, senhor...

— Drex, — ele corrigiu, parecendo horrorizado por eu chamá- lo de senhor. — Só Drex.

— Drex, — repeti, achando o nome desajeitado na minha língua. — Posso beber um pouco de água?

Para isso, ele encolheu os ombros.

— Acho que consigo isso, — ele concordou, se afastando, fechando a porta atrás de si.

Talvez eu devesse ter tentado ver se conseguia agarrar as pontas dos pregos e arrancá-los da janela, sair dali.

Mas se eu fosse embora, essa mulher provavelmente iria morrer. E não tinha certeza se era cruel o suficiente para deixar isso acontecer. Talvez nunca tenha feito o Juramento de Hipócrates, mas nunca fui o tipo de pessoa que poderia ver alguém sofrendo e pelo menos não tentar ajudar.

Eu iria limpá-la e costurá-la da melhor maneira possível, então tentaria encontrar uma maneira de sair dessa situação.

Porque eles não iam apenas me soltar, certo? Quer dizer, eu tinha visto seus rostos.

Claro, com o passar de algumas horas, os rostos da mulher Lenore e Drex começaram a borrar na minha memória. Por alguma razão, porém, o rosto de Ace estava tatuado em minha mente.

Mas só porque o tinha visto por mais tempo, é claro. Essa era a única explicação racional.

Se eles me deixassem ir, absolutamente poderia dar a um desenhista da polícia o suficiente para seguir com Ace.

— Aqui, — Drex disse, voltando com uma taça de vinho cheia de água.

— Obrigada, — eu disse, tentando lhe dar um sorriso, embora me dava impressão... e provavelmente parecia... falso. — Aquele outro cara era um, ah...

— Idiota? — Drex perguntou, sorrindo. — Vá em frente, você pode dizer isso.

— Bem, sim, — concordei.

— Não se confunda, loirinha, — disse ele, balançando a cabeça. — Somos todos filhos da puta aqui. Guarde os sorrisos para outra pessoa. Você não vai me bajular.

Com isso, ele se foi novamente, deixando-me com uma sensação muito tola por pensar que havia algo bom dentro desses homens para apelar. Bons homens levavam mulheres terrivelmente feridas para o hospital. Mesmo que tudo o que fizessem fosse deixá- las no pronto-socorro e fugir com medo de ser implicados.

Sozinha com o passar do tempo, me vi andando pelo quarto, cantarolando primeiro para tentar confortar a mulher. Então, conforme os minutos se transformavam em horas, para me acalmar.

— Aqui estão suas coisas, — Ace disse, me fazendo pular, um grito abafado escapando de mim quando me virei, encontrando-o já entrando no quarto quando nem o tinha ouvido abrir a porta.

Decidi não me preocupar com suas mãos ensanguentadas. Não era da minha conta como ele conseguia os suprimentos. E tudo o que ele fez para obtê-los não era minha culpa apenas porque eu precisava deles.

Pelo menos era disso que eu estava tentando me convencer enquanto colocava tudo sobre a cômoda, reorganizando na ordem que pensei que precisaria.

— Ace, aqui, — outra voz disse, fazendo-me virar para encontrar mais dois homens entrando no quarto.

Ambos eram altos.

Um era de pele escura com cabelos trançados e mais musculoso e robusto.

O outro era um pouco mais magro com cabelos bem pretos mantidos um pouco compridos e a pele bronzeada que talvez falasse da descendência do Oriente Médio.

Ambos tinham olhos castanhos.

E ambos pareciam ter aquelas estranhas manchas vermelhas nos seus também.

— O que é isso? — Perguntei enquanto o homem negro entregava uma garrafa a Ace.

— Bons companheiros, — o outro homem respondeu, olhando para mim.

Bons companheiros.

Você não trabalha em salas de hospital sem aprender alguns nomes de ruas para drogas.

Bons companheiros. Garota Chinesa. Febre da dança. He- man.

Eles arranjaram fentanil.

Que era cinquenta a cem vezes mais potente do que a morfina. — Ace nos disse para conseguir algo forte, — o homem