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Ace

Eu não conseguia tirar aquele olhar da minha cabeça.

Mal tinha me recuperado de um orgasmo que me deixou com a visão branca. Estive por aí há muito tempo. Tinha fodido muitas mulheres. Sempre teve seu apelo, mas nunca foi para mim como imaginava que parecia para os homens, dada sua obsessão em fazê- lo.

Mas sexo com Josephine finalmente me fez entender aquele desejo que era mais como uma necessidade.

Foi opressor.

Mal cheguei a um acordo com essa ideia. Então ela se virou.

E aquele olhar. Porra, aquele olhar.

Nunca perdi o controle sobre mim mesmo durante o sexo. Nem mesmo pensei que era uma possibilidade ter uma Mudança com um orgasmo. Estive tão consumido pelas outras sensações que não tinha percebido minha língua, meus chifres, as pontas dos meus dedos.

Josephine com certeza percebeu, no entanto.

Eu nunca tive que ver aquele olhar no rosto de alguém antes. Proteger nossa verdadeira identidade era de extrema importância.

Quem sabe que tipo de punição que suportaríamos se o inferno, ou o céu, nesse caso, descobrisse que nos expusemos aos humanos.

Imaginei, porém, que o olhar de puro e absoluto pânico, medo e repulsa não teria me incomodado tanto no rosto de alguém.

Então ela gritou. Na verdade gritou de horror ao me ver em uma Mudança parcial.

Disse a mim mesmo que era apenas o choque disso quando vesti a calça e a segui pelo corredor. Mas então eu a encontrei atrás de duas portas trancadas.

Como se isso não fosse ruim o suficiente, ela tinha vomitado. Vomitado por causa da minha verdadeira forma.

Vomitado porque me deixou colocar minhas mãos do mal sobre ela.

Não reconheci a sensação lancinante em meu peito enquanto estava lá do outro lado da porta.

Mas no momento em que desci as escadas, arranquei a bebida da mão de Drex, e virei para sentir a queimação que ele sempre gostou tanto, pedaços de ficção, música e poesia voltaram correndo à minha mente. Homens e mulheres descrevendo exatamente o que senti ao ouvir Josephine vomitando porque dormiu comigo.

— Tão ruim assim, hein? — Drex perguntou, sorrindo para mim.

— De que porra você está falando? — Perguntei, voltando para pegar a garrafa. Não poderia ficar bêbado. Nem conseguia imaginar o que estar bêbado parecia para os humanos, mas a queimação era pelo menos distração para a dor no meu peito.

— Este lugar tem paredes grossas, — disse ele, ainda sorrindo para mim. — E ainda ouvi aquela cabeceira batendo contra a parede. Fiquei surpreso ao descobrir que você de repente é mais um tipo de líder de “faça o que digo, não como faço”.

— Não me teste agora, Drex, — grunhi, sugando um pouco do álcool direto da garrafa.

— Não a fez gozar, hein? — Ele perguntou, sempre do tipo que enfia o dedo em uma ferida aberta. — Não achei que tivesse ouvido nenhum grito. Perdendo seu toque, cara.

— Que porra eu disse? — Eu grunhi, agarrando-o pelo pescoço, levantando-o da cadeira quando a Mudança veio sobre mim novamente.

— Que merda está... — Ly começou, ele e Seven parando na porta da biblioteca.

— Ace, cara, que porra? — Seven perguntou, avançando, olhando-me com olhos preocupados.

— O que ele fez desta vez? — Ly perguntou, ganhando uma revirada de olhos de Drex.

— O que você está fazendo? — A voz de Lenore se juntou às outras, correndo para frente, alcançando meu pulso com a mão dela, me queimando.

Ela ficou muito melhor no controle de seus poderes. Tanto que podia invoca-los quando quisesse hoje em dia, não apenas quando estava com medo ou com raiva.

Posso ser imortal, mas uma queimadura de terceiro grau ainda doía pra caralho. Era intenso o suficiente para eu largar Drex, soltar uma série de maldições.

— O que está acontecendo? — Lenore exigiu, olhando ao redor.

— Você quer contar a eles, ou eu deveria? — Drex perguntou, não intimidado.

Depois de centenas de anos de desentendimentos entre cada um, muitas vezes brigando uns com os outros, demorava muito para qualquer um de nós se intimidar por causa de uma pequena discordância.

— Contar-nos o quê? — Ly exigiu, o olhar se movendo para mim.

Mas não consegui encontrar as palavras enquanto tentava encontrar algum autocontrole, forçar a Mudança de volta.

— Ele fodeu a enfermeira, — Drex disse. — E? — Ly perguntou, confuso.

Eu não queria contar a eles. Mas também tinha que contar. — A enfermeira sabe.

— Sobre o quê? Sobre nós? — Seven perguntou, o tom ficando sombrio.

— Bem, sobre mim, — respondi, sentindo meus chifres voltando, minha língua se juntando.

— Bem, merda, — Drex disse, caindo de volta em seu assento, olhos distantes.

— Não sei por que isso muda alguma coisa, — disse Bael, parecendo ter surgido do nada. — O plano sempre foi matá-la. Ela não terá nenhum contato com o mundo exterior enquanto cura Red. Qual é o problema?

O problema era a ideia de ela me olhar daquele jeito de novo. Dia após dia, até que Red melhorasse. O problema era que agora tinha sentido o gosto dela, queria mais, mas ela vomitou com a ideia de minhas mãos a tocando.

— O problema é que ela se trancou no banheiro de Red e não mostra sinais de que vai sair, — respondi, tentando manter o tom calmo. Merda já era ruim o suficiente, não precisava que eles soubessem minha verdadeira razão de estar tão desligado.

— Ela tem que comer, — argumentou Seven. — Ela vai sair eventualmente.

— Assim que ela se acalmar, irei falar com ela, — Lenore disse.

— Sim, porque saber que não só existem demônios mas bruxas também, certamente ajudará a situação, — eu disse lentamente, recebendo um revirar de olhos dela.

— Sou a única mulher aqui que pode falar com ela. Pode ajudar. Não tenho que dizer nada sobre ser uma bruxa. Ou, você sabe, parte demônio eu mesma.

— Faça o que você tem que fazer, — eu pedi, passando pela multidão na porta, indo de volta para cima, fechando-me no meu quarto que ainda cheirava a sexo. Os lençóis ainda estavam amontoados onde suas mãos os agarraram quando ela gozou. —

Foda-se, — eu sibilei, andando pelo comprimento do meu quarto, tentando forçar meus pensamentos a se acalmarem, para que pudesse me concentrar.

Não consegui isso.

E quando a exaustão finalmente me chamou para a cama, tive sonhos vívidos dela.

Ela não saiu no dia seguinte.

Ela não parecia nem mesmo verificar Red.

E certamente não tinha tocado na comida que Lenore e Minos levaram para ela duas vezes naquele dia. Daemon até correu para a loja para pegar vários itens que ouviu Josephine mencionar enquanto preparava comida.

Mesmo com seus favoritos lá para ela, ela se recusou a comer. Ela prefere morrer de fome do que pegar qualquer coisa de nós.

Essa percepção fez outra daquelas sensações penetrantes perfurar meu

peito.

— Basta derrubar a fodida porta, — Drex sugeriu, encolhendo os ombros. — Ela só é boa para nós por cuidar de Red. Não está fazendo isso. Então force-a a sair. Foda-se o que ela pensa sobre isso.

— Eu não tenho certeza se ela não está verificando Red, — Lenore disse, chamando minha atenção. — Red estava do lado oposto esta manhã como ela estava na noite passada. Quero dizer, não tenho prestado muita atenção, mas Red não parece estar mais

se contorcendo. Não vejo como ela teria ficado do outro lado, a menos que alguém a rolasse até lá.

— Então, não há problema, — Drex concluiu.

— Exceto que humanos morrem se não comerem, — Minos o lembrou.

— Ela vai comer eventualmente, — Drex disse, encolhendo os ombros. — Ela pode ser teimosa, mas os humanos têm um forte instinto de sobrevivência. Quer dizer, eles se canibalizam quando precisam, — acrescentou ele, dando de ombros. — Além disso, se ela não sobreviver, podemos pegar outra. Não estávamos planejando mantê-la para sempre.

Um som baixo e grunhido atravessou meu peito, alto o suficiente para Minos e Ly me olharem com curiosidade, mas, felizmente, ninguém mais percebeu.

— E se tudo estiver resolvido, estou saindo, — anunciou Drex. — Quer que leve esse merdinha comigo para deixar todos em paz? Se eu ouvi-lo reclamar de não ter nenhuma boceta enquanto estivermos confinados mais uma vez, eu mesmo vou esmurrar um buraco no centro da Terra para mandá-lo de volta para o inferno.

— Ouvi alguém chamar meu nome? — Daemon perguntou, aparecendo do nada, claramente escutando descaradamente.

— Sim, leve-o. Mas vigie-o, — eu exigi, dando a Drex um olhar duro. Eu não preciso dizer isso. Depois de todos esses anos, ele sabia o que eu estava tentando transmitir.

— Oh, ele não precisa me vigiar, chefe. Vou me manter ocupado e fora de problemas sob a saia de alguma senhora bonita, — disse Daemon, dando-me um sorriso antes de sair pela porta da frente. Drex seguiu atrás, deixando escapar um suspiro.

— E quanto a Red? — Aram perguntou, movendo-se para o antigo assento de Drex.

— O que tem Red? — Eu perguntei a ele.

— Por que ela não está se curando? Quem teria feito isso com ela? E por quê?

— Foda-se se eu sei. — Admiti, odiando as palavras mesmo quando elas saíam, mas não havia mais como contorná-las. Consultei todos os meus livros. Não consegui encontrar uma única razão para um demônio sofrer tanto. Ou perderem a cabeça. — Você tem alguma ideia? — Perguntei, olhando para Bael desde que ele esteve no inferno mais recentemente.

— Você sabe como é lá embaixo. Equipes diferentes. Normalmente não atacamos uns aos outros, mas problemas acontecem.

— Ela não tinha equipe, — Aram disse a ele. — Somos a equipe dela.

Isso era verdade... e não.

Éramos a equipe dela na Terra depois que todos nós, de alguma forma, fomos sugados aqui e presos. Antes disso, nenhum de nós realmente se conhecia.

— Nós somos a equipe dela agora. Não fomos sempre a equipe dela, — eu os lembrei. — Ela estava sob o comando de Marceaus, — esclareci, olhando para Bael.

— Marceaus? — Bael perguntou, as sobrancelhas franzindo. — Sim. Por quê? O que você não está dizendo? — Exigi. — Marceaus é uma lenda.

— Por que isso soa no passado? — Seven perguntou.

— Porque ninguém vê Marceaus há uma geração, — disse Bael. — O próprio Lúcifer está chateado desde que ele desapareceu. Marceaus era um de seus favoritos. Um dos bastardos mais implacáveis que alguém já conheceu.

Meu olhar deslizou para Ly, vendo refletido o que já tinha girando em minha mente.

— Marceaus tem que estar aqui, — disse Aram.

— Sim, é isso que todo mundo está pensando agora, — Ly concordou. Então ele olhou para mim. — Quanto Marceaus é mais velho do que você?

— Muito, — eu confirmei.

— Ele poderia saber de algo? — Perguntou Aram.

— Teríamos que encontrá-lo e perguntar, — concluiu Seven. — O que você acha? — Ele perguntou, olhando para mim.

— Acho que é um mundo grande pra caralho, — disse a ele. — Acho que se ele veio aqui uma geração atrás, ele poderia ter se aclimatado em qualquer lugar.

— Nós poderíamos investigar o assunto, — disse Aram, esperançoso, nem perto de estar pronto para desistir de curar sua amiga.

— Sim, — eu concordei, se não por outro motivo, só para tirar alguns deles do caminho. — Você, Seven e Bael devem ir depois de fazer as malas e elabore um plano.

— Você nos quer elaborando o plano? — Seven esclareceu, parecendo confuso. E por que não deveria? Eu nunca os deixei liderar missões sem nenhuma orientação antes.

— Sim. Fiquem longe de problemas com a lei. Fiquem longe de qualquer sobrenatural hostil. E mantenham contato.

Os homens trocaram um olhar. Aram estava ansioso. Seven estava determinado a provar que poderia lidar com isso. E Bael, bem, Bael tinha sua máscara fechada de costume.

— Você realmente acha que ele se importaria com Red depois de todo esse tempo? — Ly perguntou, recebendo uma cotovelada de Lenore que pode amá-lo como ele é, mas nunca parou de tentar lembrá-lo de ser um pouco mais gentil.

— Eu não sei. Ela falava sobre ele o tempo todo como se tivessem um relacionamento próximo mentor/pupila. — Que ela claramente queria que significasse mais. — Mulheres de nossa espécie não são comuns, então ele teria tido mais tempo com ela. Esperançosamente, foi o suficiente para que ele, pelo menos, oferecesse algumas perspectivas se tivesse algumas.

— Devíamos ter dito a eles para pegar Daemon no caminho, — Ly sugeriu.

— Ele é um risco na estrada sem o resto de nós por perto para controlá-lo, — eu disse, encolhendo os ombros. — Se ele acabar gostando do clube, podemos mandá-lo cuidar do Drex na maioria das noites.

— Achei que você não fosse fã do clube, — disse Ly, levantando a sobrancelha.

— Não sou. Mas temos problemas maiores agora. — Problemas como a enfermeira? — Ele pressionou.

— Sim, ela morrer de fome seria inconveniente na melhor das hipóteses.

— Sim, esse deve ser o problema, — Ly concordou, balançando a cabeça, agarrando Lenore e saindo da sala.

— O que? — Perguntei quando Minos me deu um olhar longo e duro.

— Eu... quer saber? Nada, — disse ele, encolhendo os ombros e indo para o quarto tocar sua música triste, como de costume.

***

Outro dia se passou que Josephine não comeu.

Mas na terceira noite, entrei no quarto de Red, me escondendo no escuro de seu armário, esperando para ver se o que Lenore disse era verdade, que ela encontrava alguns minutos por noite para entrar e cuidar de sua paciente imóvel.

Foi naquele momento antes do amanhecer quando o céu ainda estava escuro, mas você podia ouvir alguns pássaros já acordando para o amanhecer.

Provavelmente era a única parte do dia em que nenhum de nós estava acordado, tarde demais para os outros e um pouco cedo para mim.

Foi quando a fechadura da porta se soltou e a porta se abriu. Sua cabeça apareceu, olhando ao redor primeiro, depois correndo para fora, dando à comida no prato do lado de fora da porta do banheiro um olhar triste, antes de chegar a Red, sentindo a temperatura, verificando as feridas, forçando o remédio pela garganta abaixo e depois rolando-a para o outro lado.

Com isso, foi de volta para o banheiro, parando, então se abaixando ao lado do prato, pegando um punhado de comida fria, finalmente provando que Drex estava certo. Ela não tinha força de vontade para morrer de fome.

— Se você não fosse tão teimosa, poderia ter comido quando estava quente, — eu disse, arrancando um suspiro de choque dela enquanto ela tentava se levantar, voltar para seu santuário de azulejos.

Mas fui mais rápido, pisando na porta assim que ela entrou, agarrando a porta, impedindo-a de fechá-la.

— Você deveria me deixar explicar, — sugeri, tentando manter meu tom

— Não preciso de uma explicação, — disse ela, dando passos para trás, querendo o máximo de distância possível de mim. — Você é malvado.

— Sim, — eu concordei, assentindo. — Você não tem alma.

— Isso anda de mãos dadas com a parte do malvado, então sim.

— Você nem vai tentar negar?

— Qual a utilidade disso? Você viu com seus próprios olhos. Você não é estúpida.

— Eu dormi com um, com um demônio, — disse ela, cuspindo a palavra como um xingamento.

— Sim, você dormiu. Não vejo como isso muda alguma coisa, no entanto.

— Você não é humano, — ela esbravejou.

— Isso é verdade e não é verdade, — disse. — Eu tenho carne humana. Meu corpo funciona como qualquer homem normal.

— Você tem chifres.

— Ocasionalmente. Normalmente quando estou com raiva, — esclareci. — E, aparentemente, quando faço sexo com você.

— Apenas comigo? — Ela perguntou. — Não, não responda isso. Não importa. Isso nunca vai acontecer novamente.

— Sim, só você. Já estou aqui há muito tempo, Josephine. Conheci muitas mulheres. Isso nunca aconteceu antes.

— O que isso significa? — Honestamente, não sei.

— Você... você fez algo comigo?

— Tipo o que? — Eu perguntei, franzindo as sobrancelhas. — Como me engravidar como um cenário de Herdeiro do Diabo? — Ela perguntou, parecendo pálida com a própria ideia.

— Você quer dizer que eu coloquei um bebê demônio dentro de você? Não, Josephine. Usei a porra de uma camisinha, lembra?

— Bem, não sei como isso funciona, — disse ela, acenando em direção à minha virilha.

— Funciona de forma semelhante ao homem típico com o qual você está acostumada. Exceto que só posso engravidar quando pretendo. E não o fiz, — acrescentei quando ela não parecia convencida. — Eu sei que seus filmes fazem parecer que tudo o que fazemos é vir aqui e engravidar mulheres desavisadas, mas não é assim que funciona.

— Como funciona então? Por que você não faz isso?

— Porque não há razão para isso. Não temos estruturas de família típica. Não há nenhum impulso real para continuar nossa linhagem a menos que reivindiquemos uma mulher humana. E isso raramente acontece. — Exceto, não tão raramente como costumava acontecer, parecia

— Não entendo.

— Reivindicar é, de certa forma, involuntário. Algo em nós reage a uma certa mulher e a Reivindica. Lycus e Lenore têm isso. Significa que ele está ligado a ela por toda a eternidade. Ele faria

qualquer coisa para protegê-la, para mantê-la feliz. Mesmo se Lenore o tivesse rejeitado, a Reivindicação seria uma parte dele.

— Parece amor, — disse ela, balançando a cabeça para mim. — O amor é uma escolha, — rebati.

— Não, não é.

— Claro que é. É assim que você pode entrar e sair disso. Você escolhe. Não há nada disso com a Reivindicação. Não podemos cair fora. É uma parte eterna de nós.

Para isso, seu olhar caiu, inspecionando os ladrilhos no chão por um momento antes de olhar de volta para cima. — Não importa. Isso tudo não importa.

— O que importa então?

— Você é um demônio! — Ela gritou antes de recuar como se ela pensasse que eu poderia atacá-la.

— Sim, sou. Isso não muda nada. — Isso muda tudo!

— Como assim? Tenho sido assim desde que nos conhecemos. A única diferença agora é que você sabe. Nada mudou.

— O que você quer de mim?

— A mesma coisa que eu queria desde o início. Que você ajude Red.

— Red também é uma, não é? — Ela perguntou, o pavor em sua voz me deixando saber que ela não havia considerado isso antes.

— Parcialmente? Como você pode ser parcialmente demoníaco?

— Olha, é muita coisa, — eu disse a ela. — Se você quiser a informação, darei a você. Vou responder às suas perguntas, — eu ofereci, sabendo que o resultado seria o mesmo de qualquer maneira, mesmo que uma parte cada vez mais desproporcional minha odiasse a ideia de ser esse o destino dela. — Mas você tem que sair dessa porra de banheiro. Você tem que comer. Não há nenhuma razão para você estar miserável.

— Eu dormi com um demônio, então, sim, há, — ela murmurou baixinho.

— Ei, — falei, avançando, agarrando seu queixo, forçando-o para cima. — Chega, ok? Chega disso, caralho. Você me fodeu. Não importa o que eu sou.

— Isso... machuca seus sentimentos? — Ela perguntou, franzindo as sobrancelhas. — Que me sinto assim?

— Não temos sentimentos. Não do jeito que você tem. — Parece que você está chateado.

Mesmo enquanto ela dizia isso, podia ver o que ela dizia. Estava na tensão na minha mandíbula, na sensação de reviravolta no meu estômago.

Eu estava chateado. Ofendido.

Magoado.

Era difícil dizer depois de tanto tempo sem ter que lidar com a maioria das emoções humanas incômodas, exceto talvez aquelas que vieram mais naturalmente para a minha espécie... frustração e raiva.

Mas lá estavam eles, inconfundíveis, inegáveis.

— Se estiver, isso é algo novo para mim também, — eu admiti para ela, sentindo-me estranhamente desnudado. Era assim que parecia a vulnerabilidade. Nunca tinha realmente entendido o conceito antes. — Vamos, — eu disse, deixando o queixo dela, dando alguns passos para trás. — Saia daqui. Volte ao normal. Vou deixá-la em paz, se quiser. Ou, se preferir, posso esclarecê-la. Mas saia. Durma no sofá em vez de no chão...

— Banheira, — ela corrigiu, acenando, fazendo-me virar e encontrar uma coleção de toalhas e panos de limpeza empilhados no pequeno espaço.

— Isso é ainda pior, — eu disse a ela, balançando a cabeça. — Durma no sofá. Coma sua comida. Pense no que você quiser. Então me avise, ok? — Pedi, saindo do banheiro, dando espaço a ela.

Ela me deu um aceno de cabeça rígido. — OK.

— Ok, — concordei. — Vou pedir a Minos para fazer algo fresco para você, — eu disse, acenando para a comida.

— Certo. Obrigada, — acrescentou ela, sem dar nenhum passo