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— Você a matou? — Drex perguntou, vindo por trás de mim quando me inclinei sobre a mulher cujo corpo estava muito imóvel no chão.

— Ela caiu, — Eu disse a ele, estendendo a mão para virá-la de costas, tirando o cabelo do rosto para olhar a ferida ensanguentada em sua cabeça.

— Você percebe que ela não será capaz de ajudar Red se estiver sangrando no cérebro, certo? — Ele perguntou, parecendo divertido enquanto balançava nos calcanhares.

— Você não está ajudando.

— Não sou conhecido por isso, — Ele concordou.

— Torne-se útil então, e pegue Lenore. Ela pode não ser capaz de ajudar Red, mas provavelmente pode fazer algo sobre isso, — disse, acenando para a cabeça da mulher.

Ouvindo Drex se mover, mesmo que fosse a passos de caracol, olhei de volta para a mulher, virando sua cabeça em cada direção para ter certeza de que ela não se machucou em nenhum outro lugar antes de deixar meu olhar deslizar para baixo, vendo um crachá laminado do hospital pendurado de um clipe baixo em seu quadril.

Josephine Walsh. Enfermeira.

Estava esperando por um médico. Mas imaginei que as enfermeiras faziam grande parte do trabalho em qualquer hospital. Certamente faziam a maior parte do cuidado de ferimentos. Ela deveria ser capaz de lidar com o que quer que estivesse acontecendo com Red.

―Oh, não, — Lenore disse, correndo para frente, vendo as algemas, o ferimento no rosto da mulher. — O que você fez? — Ela acusou, se abaixando, os dedos pressionando ao redor do corte.

— Arranjando alguém para curar Red.

— E quem vai curá-la? — Lenore perguntou, a frustração clara na voz.

Não era segredo que ela nunca tinha sido minha fã. Ao longo de seu tempo conosco, ela desenvolveu relacionamentos com a maioria dos outros, talvez especialmente com Daemon e Aram, os menos frios de todos nós. Mas também se aproximou de Minos. Eu desci para tomar café muitas manhãs para encontrar os dois conversando em sussurros abafados na cozinha. Ela também costumava pedir ajuda a Seven em uma tarefa ou outra. Ela tolerava Drex e sua indiferença sarcástica. E manteve uma boa distância em torno de Bael. Como todos nós mantivemos, para ser honesto. O homem não era alguém que queria conhecer qualquer um, formar qualquer tipo de relacionamento.

Ela abertamente não gostava de mim na maior parte do tempo.

Raramente lhe dei motivos para sentir o contrário.

— Você, — Eu disse a ela, me abaixando para levantar a enfermeira do chão. — Não parece tão ruim.

Lenore me seguiu para dentro, resmungando baixinho o tempo todo enquanto eu levava a mulher para o meu quarto, onde Red ainda estava na cama, sangrando, gritando contra sua mordaça.

— Cure a cabeça dela. Fique com ela. Então me chame quando ela acordar, — Exigi para Lenore enquanto colocava a enfermeira no sofá, em seguida, fui em direção à porta, precisando de café, sentar na frente do fogo, para ter um pouco de calor de volta no meu corpo depois de ficar tanto tempo fora.

— Gritando ordens para ela, — Ly disse enquanto eu entrava na cozinha, balançando a cabeça para mim. — Calma com essa coisa. Você é meu chefe, não dela.

— Se ela não me insultasse o tempo todo, não precisaria gritar com ela, — retruquei enquanto ia para a cafeteira, preparando um bule.

Não recebemos um impulso da cafeína como os humanos, e me peguei com inveja de sua suscetibilidade a substâncias químicas que alteram a mente e o corpo quando o dia começou a pesar sobre mim. Era cedo para me sentir cansado, mas enquanto embalava meu café em minhas mãos e me movia na frente do fogo que Bael estava alimentando, sabia que esse cansaço não era tão simples quanto precisar de descanso.

Estava com um tipo diferente de cansaço. Apenas cansado da vida.

Exausto, realmente.

Depois de descobrir que Lenore era capaz de fazer o que gerações de bruxas nunca conseguiram, abrir os portais do inferno para nós, comecei a me permitir esperar por algo que mal me permitia verdadeiramente esperar antes.

Um retorno para casa.

Sempre foi meu objetivo, um pelo qual trabalhei obstinadamente, um pelo qual fiquei obcecado, mas uma parte minha sempre duvidou que isso fosse possível. Ou, pelo menos, que ainda seria possível por várias gerações.

Sempre imaginei que, no pior dos casos, eventualmente haveria uma guerra entre o Bem e o Mal. E se o próprio Lúcifer decidisse abrir um Portal do Inferno, teríamos uma maneira de voltar para casa.

Mas então havia Lenore com seus poderes, com seu controle sobre eles.

Ela abriu o Portal do Inferno que saiu Bael e Daemon, o mesmo Portal do Inferno em que Red pulou em sua empolgação para voltar para casa depois de tanto tempo.

Houve uma agitação inquieta entre todos nós desde então. Mesmo depois de várias falhas. Todos nós imaginamos que seria apenas uma questão de tempo antes de encontrarmos o Portal do Inferno certo com energia suficiente para abri-lo.

Tive certeza quando a Terra começou a afundar em seu próprio núcleo que era isso, todos os anos neste plano finalmente acabaram, e poderia levar a maioria dos meus homens de volta para casa.

Não ter isso acontecendo, e ter Red aparecendo tão mutilada, era mais do que meu corpo queria lidar, muito menos minha mente. Eu precisava de alguns minutos para resolver isso na minha cabeça antes de poder voltar lá.

— O que? — Perguntei, sentindo o olhar de Bael em mim.

— Ela não se ferrou daquele jeito só de passar, — Ele me disse, me fazendo virar, encontrando seus olhos intensos, sua mandíbula rígida.

— Eu já deduzi isso, — concordei.

— Portanto, é lógico que alguém fez isso. Ele não estava errado.

— Já vi feridas como aquelas nas costas dela antes, — disse ele. — Eu já infligi feridas assim antes, — Ele continuou. — Como tenho certeza que você fez. — Eu não queria pensar nisso. Não queria tirar conclusões sobre isso. — Alguém a chicoteou, — Ele terminou.

Sim.

Não havia maneira de contornar esse fato.

Essas lacerações eram as que eu tinha visto um milhão de vezes em minha longa vida. Tanto no inferno quanto no plano humano.

Se os humanos alguma vez acreditaram que eram fundamentalmente bons, tudo que você precisava fazer era voltar um pouco na história para ver o quão maus muitos deles eram. Chicotadas, decapitações e queimar na fogueira. Mesmo aqueles que não infligiram a dor ficaram parados e testemunharam, participaram, encontraram alegria nisso.

— Sim, — Eu concordei, voltando-me para o fogo. As perguntas eram... quem... e por quê?

Red poderia ser difícil de lidar se você não estivesse acostumado com ela. Ela poderia ser arrogante e atrevida. Gostava de chamar atenção.

O tempo se move de maneira diferente lá embaixo. Para nós, tinha sido um ano e meio, mais ou menos. Para ela, haviam se passado décadas. Tempo suficiente para possivelmente fazer alguns inimigos, irritar alguém.

Normalmente não atacávamos um ao outro. Essa era a coisa básica e animalesca que os humanos faziam. Nós punimos os humanos. Era aí que eliminamos nossa raiva.

Pelo menos, era assim que costumava ser, como sempre tinha sido.

Mas quem sabe o que mudou desde então.

— Isso era comum? — Eu perguntei, odiando ter que me submeter a Bael, mas reconhecendo que não era o especialista nisso.

— Atacar um ao outro? — Ele esclareceu. — Não. — Isso já aconteceu?

— Não que eu já tenha visto.

— Esperançosamente, uma vez que ela estiver curada, estará em seu juízo perfeito novamente. Então pode nos contar o que aconteceu, — Eu disse, encolhendo os ombros.

Eu era um homem baseado em fatos. Parecia uma perda de tempo especular, debater ideias que podem ou não ser verdadeiras. Era melhor esperar, para obter as informações diretamente da fonte.

Uma olhada em meu quarto mostrou Lenore mexendo na cabeça da enfermeira, murmurando baixinho. Se eram palavras de encorajamento ou feitiços reais, não tinha ideia. Não dava a mínima. Contanto que ela se levantasse e trabalhasse na Red.

— O que? — Perguntei quando Drex empurrou seu queixo em direção à sala da frente.

— Aram, — disse ele, girando o copo antes de tomar um gole. Suspirando, desisti de meus planos de pegar um livro e me perder por um tempo antes que a enfermeira acordasse e pudesse nos dar algumas respostas.

— Aram, — chamei, entrando na sala da frente para encontrá- lo sentado na beirada do sofá, com a cabeça enterrada nas mãos.

— Ela não merecia isso.

— Ninguém está dizendo que merecia, — disse.

— Ninguém está preocupado com ela. Você acabou de jogá-la na cama com uma mordaça na boca.

— Porque precisava encontrar alguém para ajudá-la. Eu encontrei. Fiz o que pude fazer. Acho que todos podemos concordar que segurar na mão e confortar não é o meu departamento.

Mas era mais a dele.

E a julgar pelo sangue em cima dele, ele havia tentado. Sem sucesso, parecia, por sua postura derrotada.

— Ela gritou quando tentei tocar sua mão. — Ela está com dor, Aram, — Eu o lembrei.

Era fácil esquecer a dor, pois raramente a sentíamos e, quando a sentíamos, era passageira. E Aram levou uma vida muito mais encantadora na Terra do que eu.

Pode ter acontecido centenas de anos antes, mas ainda me lembrava vividamente de como era ter uma faca enfiada em meu estômago e puxada para cima, cortando tudo dentro.

Fui baleado algumas vezes desde então, mas nada comparado a ser estripado daquele jeito. A dor durou horas antes de finalmente me curar.

Imaginei que Red se sentia assim, mas da cabeça aos pés.

— Por que ela não está se curando? — Ele perguntou, precisando de respostas, algumas que não tinha para ele.

— Não sei, — admiti.

Razão pela qual eu queria ler. É verdade que os humanos não tinham as informações mais abrangentes sobre nossa espécie, mas alguns dos textos antigos continham alguns conhecimentos que podiam ser úteis.

Não era como se carregasse textos antigos comigo. Inferno, não era como se eu mesmo tivesse muitos. Mas os humanos percorreram um longo caminho nos últimos cem anos ou mais. Eu tinha um número infinito de textos antigos digitalizados em meu tablet que podia acessar a qualquer momento.

Que foi como planejei passar o resto da minha noite se a enfermeira não acordasse.

Tentando obter respostas.

Para que pudesse passá-las para meus homens.

Então eles não ficaram olhando para mim como se os tivesse decepcionado.

Evitei isso por gerações sendo proativo, sendo sempre o primeiro a saber as coisas, a aprender coisas, então nunca se sentiram perdidos neste mundo enquanto ele mudava ao nosso redor.

Era o mínimo que podia fazer. Como líder.

Nunca me senti tão indigno desse título como quando todos nós assistimos Red gritar e se recusar a curar, e não ter explicações para eles.

— Vou descobrir, — assegurei a Aram. — Por que você não vai falar com os motociclistas locais e ver se consegue um remédio melhor para a dor. Parece que tudo o que demos a ela não está resolvendo.

— Sim, tudo bem, — Ele concordou, pulando, ansioso por uma missão, de alguma forma para não se sentir tão inútil.

— Leve Seven com você. Ele tem um amigo que é um membro do clube.

E eram dois deles longe de mim enquanto tentávamos descobrir as coisas.

Com isso, fui para o quarto de Aram ficar um pouco sossegado para poder ler em paz.

Várias horas depois eu a ouvi.

Não Lenore me dizendo que a enfermeira estava acordada. Ah, não.

A própria enfermeira, gritando. Acho que agora é comigo.

Com um suspiro, coloco meu tablet de lado e vou em direção ao meu quarto para lidar com ela.