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Jo

Parecia que fazia muito tempo que estive preocupada com minhas novas colegas de trabalho, em cortar meu cabelo, em talvez em conseguir um novo animal de estimação.

Eu tinha sido muito mais ingênua naquela época. Me sentia muito mais velha agora.

Agora que sabia como o mundo realmente funcionava, que demônios andavam entre nós, que não pareciam criaturas retorcidas saídas de pesadelos ou filmes de terror.

Ah, não.

Pareciam seres humanos muito atraentes.

Notei algumas coisas alguns dias depois que saí do banheiro para tentar encontrar alguma aparência de normalidade novamente. Como o fato de que Minos, Ly e Daemon todos tinham as mesmas manchas vermelhas em seus olhos que Ace tinha, apenas em padrões diferentes. Eram todos quentes. Você podia sentir isso a vários centímetros de distância. E havia frieza na maneira como se relacionavam comigo, que deve ser por causa de sua falta de alma.

Acho que fui capaz de ignorar todas essas coisas porque não tinha nada para compará-las.

Continuei procurando por outras coisas sobre eles que eram diferentes de mim, de nós, da raça humana.

Já que não eram malditos humanos.

Infelizmente, todos pareciam estar sob instruções estritas para não chegar muito perto de mim, para se demorar muito. Eles entravam, traziam-me comida, removiam pratos velhos, ajudavam- me com Red e, no caso de Daemon, vinham limpar.

— Você gosta de limpar? — Eu me peguei perguntando no quarto dia depois de sair do banheiro, observando Daemon esfregar a pia com um par de luvas de limpeza rosa ridículas. Sabia que eles vinham em amarelo e até mesmo em azul, mas ele sempre estava usando rosa por algum motivo.

— Não posso dizer que sim, moça bonita, — disse ele, dando- me seu característico sorriso de playboy.

— Então por que é você que está sempre fazendo isso?

— Acho que essa resposta é dupla. Por um lado, acho que todos acreditam que sou o menos ameaçador de nossa espécie para entrar aqui por um tempo. Por outro, eles gostam de me obrigar a fazer todas as tarefas ao redor daqui.

— Vocês são todos malvados, — eu disse, encolhendo os ombros.

— Verdade, — ele concordou. — Mas antes que soubesse disso, odiava a todos nós?

— Vocês me sequestraram.

— Você falou comigo como um amigo na cozinha enquanto cozinhava. Mesmo que tivéssemos sequestrado você.

— Claramente, não estive pensando direito, — eu disse, o tom cortante, uma grande parte minha determinada a desprezar todos eles, mesmo que não estivessem me dando uma razão para isso.

— Quer tentar de novo? — Ele perguntou. — Uma espécie de experimento? — Ele adicionou.

— O que você quer dizer?

— Quero dizer, agora você sabe o que somos. Vamos descer para a cozinha. Você pode preparar algo para comer. Vou falar com você como fiz da última vez. E então pode decidir se me despreza sem um bom motivo, além do sequestro que foi um fator até então, ou talvez entenda se está sendo preconceituosa sobre algo que não podemos controlar.

— Vocês podem não ser capazes de controlar em ser demônios, mas podem controlar andar pela Terra, fingindo ser homens.

— Na verdade, não. Estamos presos aqui, — disse Daemon, tirando as luvas rosa, colocando-as no balde de limpeza debaixo do gabinete da pia. — Já estamos há algum tempo. Bem, Red e os outros há muito mais tempo do que Bael e eu. Não escolhemos ficar aqui, embora agora que estou aqui, eu escolheria isso repetidamente, e não podemos voltar. Temos que ficar aqui. Portanto, fazemos o melhor que pudermos. Incluindo flertar com mulheres bonitas, — disse ele, dando-me um sorriso juvenil.

— Por que vocês não podem voltar?

— Porque não devíamos estar aqui pra começar. Algo a ver com o equilíbrio de poder. Realmente não sei. Ace é o especialista.

Vamos lá, faça-me perguntas enquanto cozinha. Você parece magra, — disse ele, fazendo uma careta.

Eu deveria ficar parada.

Sabia que era o que me permitiria manter a objetividade, permanecer irritada.

Mas estive no quarto deixada em paz com meus próprios pensamentos, ficando meio maluca, por dias.

Então aceitei.

E achei a despensa e a geladeira muito mais cheias do que da última vez. Na verdade, consegui fazer para mim mesma macarrão com queijo de caixa, comendo tudo sozinha enquanto Daemon tagarelava sem parar sobre suas aventuras desde que veio para o “plano humano” um pouco mais de um ano e meio antes.

— Ei, Daemon? — Perguntei quando ele imediatamente começou a lavar meus pratos para mim.

— Sim, moça bonita?

— Você pode me levar ao Ace? — Perguntei, então corri para esclarecer. — Ele disse que se quisesse saber mais sobre, bem, você sabe... todos vocês, que poderia ir até ele, e ele me contaria.

— Posso fazer isso, — ele concordou. — Aqui, você provavelmente precisará de um pouco de café, — disse ele, servindo duas xícaras. — Vai ser muita coisa, — esclareceu.

Com isso, ele me levou até a frente da casa, passando a segunda caneca que ele estava carregando e que pensei que era a dele em minha mão livre. — E é aqui que nos separamos, — disse ele, dando-me um sorriso encorajador. — Vá buscar sua

informação, — acrescentou ele, dando-me um pequeno empurrão antes de voltar para a cozinha, deixando-me sem mais nada para fazer a não ser ir para a biblioteca.

Foi onde encontrei Ace, sentado no sofá de couro estofado, vestindo seu suéter de costume, segurando um livro aberto em seu colo.

Parecendo sentir minha presença, seu olhar se ergueu lentamente, prendendo-me com seu olhar intenso.

Parecia completamente irracional até na minha cabeça, mas poderia jurar que ele parecia satisfeito. E aliviado.

— Eu, ah, pedi a Daemon para me trazer aqui, — expliquei, arrastando os pés. — Ele levantou algumas boas questões que me fizeram pensar.

— Daemon? — Ele perguntou, levantando a sobrancelha.

— Fiquei tão chocada quanto você, — admiti, recebendo uma contração dos lábios de Ace. — Isso é para mim? — Ele perguntou, apontando para a caneca extra na minha mão.

— Oh, ah, sim. Daemon fez isso, — expliquei, não querendo que pensasse que estive pensando nele. Mesmo que absolutamente tivesse estado, quer quisesse ou não. E quando tentei suprimir os pensamentos, eles simplesmente voltaram com força total quando adormeci.

Seguindo em frente, estendi a caneca. Quando Ace estendeu a mão para pegá-la, sua grande mão deslizou sobre a minha. E odeio admitir, mas não havia como negar o choque elétrico que senti em meu corpo com seu toque.

Se não estava completamente enganada, Ace parecia sentir isso também, seu corpo enrijecendo, sua mandíbula ficando tensa. — Então, — ele disse, tirando a caneca da minha mão. — Você quer saber.

— Sim, — eu admiti.

— Tudo bem, — disse ele, acenando para o outro lado do sofá. — Sente-se.

Então sentei. E ele começou.

Daemon estava certo. Havia muito nisso. Tanto que mal arranhamos a superfície no final daquele primeiro dia.

No segundo, estava fazendo perguntas ativamente.

No terceiro, o conceito parou de parecer tão assustador porque não eram mais tão estranhos.

E, realmente, tudo jogou muito do que pensava saber sobre a natureza do bem e do mal de ponta cabeça. Porque, sim, existia o inferno e existiam demônios. Mas o propósito daquele lugar e daqueles demônios era fazer as pessoas pagarem na vida após a morte por coisas que frequentemente faziam na Terra. Um sistema de justiça cósmica, se preferir. Demônios não vieram à Terra para nos estuprar e engravidar. Mesmo que Ace e seu clube tenham feito um trabalho maligno enquanto estavam aqui, tudo o que fizeram foi trazer o mal à superfície.

— Não, — ele me disse, balançando a cabeça. — Não funciona se eles são sobretudo bons. Todo mundo tem um pouco de maldade neles. Mas não lidamos com esse tipo de coisa de cortar os pneus

do seu marido traidor. A pior coisa que você já fez é a coisa mais legal que os outros fizeram. Veja as coisas dessa forma, e não é tão assustador. Todo mundo recebe sua punição por ser um idiota completo e absoluto enquanto está aqui. E a punição se encaixa também.

Ele tocou em tudo isso também. Os círculos do inferno, os níveis de tormento.

— Onde você caiu? — Eu perguntei, pegando- o desprevenido. — Hm?

— Quando você trabalhava lá, onde trabalhava? Qual nível de maldade você puniu?

— Eu, Ly e Bael, todos nós trabalhamos bem no topo. Assassinos em série e estupradores eram nosso forte.

— O que é pior do que isso?

— Pedófilos. Assassinos em massa. Pessoas que roubam a vaga em que você estava claramente entrando...

Uma risada surpresa borbulhou e explodiu, surpreendendo a nós dois. — Oh, meu Deus. Isso foi uma piada? — Perguntei, sorrindo.

— As coisas tinham dado uma virada séria aqui. Achei melhor alegrar um pouco.

— Bem, me deixou impressionada. Eu não tinha certeza se você tinha um senso de humor discernível, — provoquei. — Mas acho que faz sentido. Com você, Ly e Bael.