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AS ABORDAGENS OBJETIVAS: DINÂMICA CLIMÁTICA E ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO

CAPÍTULO 5

AS ABORDAGENS SUBJETIVAS DA PERCEPÇÃO CLIMÁTICA E DO CONFORTO TÉRMICO

CAPÍTULO 6

A ABORDAGEM INTER-RELACIONAL NA PERCEPÇÃO CLIMÁTICA E NO CONFORTO TÉRMICO NA CIDADE DE PALMAS

REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

Na presente pesquisa, o interesse na relação entre o ser humano e o clima está voltado à percepção climática, ao conforto térmico e à abordagem dinâmica em climatologia, em estudo aplicado na cidade de Palmas, sob seus aspectos não só objetivos, como também subjetivos. O interesse surgiu a partir da constatação que as pesquisas em tais campos apresentam pouco diálogo, e seu enfoque excessivamente objetivo, principalmente no conforto térmico, deixa muitas lacunas na sua compreensão. Apesar dessa constatação, os temas podem se articular na abrangência da percepção climática, como conceituada por Sartori (2000), que inclui tanto o conforto térmico, como a climatologia dinâmica. O conforto térmico é incluído na perspectiva das sensações do ser humano com o ambiente climático. A climatologia dinâmica é abarcada por meio da sucessão habitual dos tipos de tempo, cuja percepção, segundo Pédelaborde (1991), leva à consciência do clima, especialmente na escala local, no espaço de vivência cotidiana. A pesquisa tem como objeto de investigação, portanto, a percepção climática, inserido o conceito de clima caracterizado como o ritmo de atuação dos tipos de tempo, e o conforto térmico.

O conforto térmico sob o caráter biometeorológico, apesar de mais de um século de pesquisas, é abordado há poucas décadas nos currículos dos cursos de arquitetura e de algumas engenharias no Brasil, ambos no âmbito do conforto ambiental. Segundo Schmid (2005), a própria consciência do contexto ambiental do conforto é algo recente. Já a abordagem dinâmica em climatologia teve importante contribuição na década de 1950, por meio de proposta conceitual do geógrafo francês Maxmillien Sorre (SORRE, 1951), em que o clima é compreendido por um ritmo de atuação. No Brasil, tem como precursor o geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (MONTEIRO, 1971), que, a partir da compreensão sorreana, propôs uma metodologia complementar à análise estatística, denominada análise rítmica, em que a análise do ritmo dos tipos de tempo é imprescindível ao entendimento do clima. Tal técnica foi sistematizada por seu criador nas décadas de 1960 e 1970, e disseminada de forma mais abrangente por seus sucessores nas décadas seguintes.

O tema conforto térmico também é abordado em pesquisas aplicadas na climatologia, algumas vezes com “índices de conforto térmico”, mesmo que ainda em número reduzido. Apesar de tal aplicação ter ocorrido sob a influência do próprio Monteiro (1971), na maioria das vezes, são pesquisas gerais, apenas citando as implicações das características climáticas na saúde e no conforto das pessoas. Já as pesquisas específicas no campo do conforto térmico (não atrelado às pesquisas em climatologia), raramente incluem a compreensão do caráter genético e dinâmico do clima, e muito pouco sobre os aspectos subjetivos relacionados à percepção. O

conforto térmico humano sob o aspecto biometerológico tem caráter muito mais pragmático, cujo objetivo principal é a quantificação dos efeitos da ambiência atmosférica nas pessoas. A avaliação do complexo térmico é muitas vezes baseada nos citados “índices de conforto térmico”, expressos em cálculos e gráficos, que permitem a quantificação da influência de parâmetros físicos e fisiológicos no ser humano. No Brasil, tais pesquisas com proposições de índices só iniciaram no final do século XX e início do século XXI1, por isso, nesse campo, pode-se afirmar que seria ainda mais recente que a técnica utilizada na climatologia dinâmica proposta por Monteiro (1971).

De uma forma geral, as pesquisas em conforto térmico têm abordagem de cunho positivista, por seu caráter utilitarista e por estarem atreladas ao campo das ciências físico- naturais. Segundo Schmid (2005), tal objetividade também encontrou reforço no movimento moderno na Arquitetura. Conceitos como máquina de morar, estilo internacional, que, ao mesmo tempo, proporcionaram avanços em conhecimentos sobre isolamento térmico e ventilação, lançaram contraditoriamente uma arquitetura sem uma “especificidade geográfica”, sem considerar diferentes climas, paisagens e culturas (SCHMID, 2005, p. 12). Para o autor, o nascimento de uma preocupação mais ambiental do conforto tomou forma a partir da crise energética dos edifícios (no início dos anos 1970), trazendo notoriedade ao conceito de Arquitetura Bioclimática (ou Sustentável). No entanto, apesar de estreitar relações com as questões climáticas, as pesquisas seguiram e seguem, de certa forma, isoladas do desenvolvimento da climatologia geográfica, e mais isoladas ainda da climatologia genética e dinâmica.

Outra dificuldade reside no fato de que a maioria das pesquisas em conforto iniciaram com aplicações para ambientes internos, e os modelos para espaços abertos começaram como uma derivação ou por analogia de situações tipicamente internas (MONTEIRO, 2008). Essa aplicação dos índices por analogia revela fragilidade e necessidade de aperfeiçoamento dos modelos, não só com relação à aplicação em ambientes externos, como também em condições climáticas distintas daquelas em que os índices foram criados. Como reconhecido por Araújo (2001), os trabalhos quantitativos em conforto térmico, em sua maioria, baseiam-se em análises estatísticas de dados experimentais e são válidos para as condições físicas nas quais foram determinados. Os principais índices conhecidos foram desenvolvidos na Europa e nos Estados

1 Refere-se às pesquisas específicas com índices de conforto térmico enquanto uma combinação de fatores em termos de uma “fórmula única”, entendimento em consonância com Givoni (1976) (ver seção 2.1.2). Ao se considerarem métodos que indiquem parâmetros ambientais para o conforto térmico, as pesquisas no Brasil têm início ainda na década de 1930, com os estudos empíricos de Paulo Sá. Para maiores informações, consultar dissertação de mestrado de Oliveira (2003).

Unidos. A aplicação em condições climáticas distintas necessita de maior aprofundamento, principalmente considerando a escassez de pesquisas sobre o meso e o microclima da cidade de Palmas, que teve sua implantação ainda muito recente, tendo completado apenas 29 anos neste ano de 2018.

A cidade de Palmas possui clima caracterizado por extremos de temperatura, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), superando os 40,0ºC nos meses mais quentes do ano, e mínimas superiores a 20,0ºC na última década. A cidade tem passado por um processo de elevação das temperaturas, já identificado em algumas pesquisas, como Pires (2017), e formação de gradientes urbanos de calor, como visto em Paz (2009) e Freitas (2015). Tais alterações podem ter sua origem em diversos fatores como: as modificações geradas com o alargamento do leito do rio Tocantins pela construção do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) Luís Eduardo Magalhães, em 2001, formando o Lago de Palmas; as transformações ocorridas na zona rural do município, impulsionadas especialmente pelo agronegócio e por loteamentos de chácaras; e o próprio processo de urbanização, intensificado nos últimos anos com a verticalização. Segundo Rodrigues (2016), o processo de verticalização na cidade de Palmas foi intensificado entre os anos 2011 e 2015.

Tais condições climáticas trazem consequências para a percepção do clima e o conforto térmico na cidade, pois a continuidade e a alternância de tipos de tempo, além da própria memória climática, não têm o mesmo sentido subjetivo para o conforto térmico das pessoas. Elas devem ser consideradas em estudos que envolvem tanto a caracterização do clima, como a aplicação de índices de conforto térmico, sem desconsiderar as variáveis fisiológicas revistas nos estudos atuais (relativas à homeostase2). No entanto, as pesquisas na área do conforto térmico permanecem orientadas apenas às necessidades técnico-pragmáticas de desempenho das edificações. Segundo Schmid (2005, p. 14), o desempenho do edifício permanece preocupado com uma excessiva quantificação, voltado a suas “funções-objetivo: temperatura, umidade, nível de intensidade sonora. Enfim, aquilo que é possível medir: como se a satisfação humana fosse cabível em algum modelo numérico”. Da mesma forma, para Alcoforado (2003,

2 Homeostase ou homeostasia, segundo Cortez e Silva (2008, p. 106), é a “capacidade que tem o organismo vivo de manter as condições constantes no ambiente corporal interno, frente a enorme variabilidade de estímulos externos, sendo um processo de interação orgânica, que dispara um conjunto de mecanismos, que equilibra várias influências e efeitos, de forma a gerar um estado ou comportamento interno estável”. Definição semelhante é encontrada no mais recente glossário de biometeorologia, em que homeostasis significa “the ability of an organism

to maintain a state of internal stability or equilibrium within a dynamic ambient environment”, ou seja, a

capacidade de um organismo de manter um estado de estabilidade interna ou equilíbrio dentro de um ambiente dinâmico (GOSLING et al., 2014, p. 288, tradução nossa). Os autores do glossário ressaltam ainda que, na biometeorologia, este conceito refere-se à capacidade de seres humanos ou outros animais de manter uma temperatura corporal saudável em condições quentes ou frias.

p. 14), apesar de existirem diversas propostas para o estudo do conforto térmico, o problema também reside na “quantificação de algo que é forçosamente muito subjectivo”.

Segundo Tuan (2012, p. 15), “o cientista e o teórico [...] tendem a descuidar da diversidade e a [sic] subjetividade humanas porque a tarefa do estabelecer ligações do mundo não humano já é enormemente complexa”. A maioria dos estudos de conforto térmico não considera os aspectos subjetivos e pouquíssimos trabalhos, apesar de reconhecerem tais aspectos, voltam-se ao seu entendimento com um caráter ainda muito quantitativo. Exemplos podem ser encontrados no Brasil, como Andreasi (2009), que compara os votos de sensação térmica entre grupos diferentes de indivíduos, considerando diversos temas subjetivos selecionados, com o objetivo de adequar a equação de um índice de conforto térmico, ou seja, considera a sua quantificação. Outros exemplos encontram-se em avaliações do conforto térmico baseadas em métodos adaptativos, como Nikolopoulou, Baker e Steemers (2001), que a partir da discrepância entre os dados teóricos e os dados coletados junto aos sujeitos, propuseram reavaliação do conforto a partir de dados subjetivos com extensivo tratamento estatístico, como análise de correlação, entre outros.

Tais estudos, ao avaliarem variáveis subjetivas no conforto, como história térmica, memória e expectativa, sujeita tais dados a métodos consolidados pelas ciências naturais, sem debruçar-se sobre a complexidade do tema. No entanto, a lacuna posta no conhecimento reduz a compreensão do fenômeno, problema reconhecido por Schmid (2005, p. 31), quando critica o excessivo mecanicismo nos modelos de conforto térmico, pois “embora didático, o mecanicismo só é viável porque omite facetas da realidade”. Em consonância, Tuan (2012, p. 15) expõe que “atitudes e crenças não podem ser excluídas nem mesmo da abordagem prática, pois é prático reconhecer as paixões humanas em qualquer cálculo ambiental”. Dessa forma, em divergência ao que se observa frequentemente no campo científico, assim como na maioria dos estudos de conforto, as ideias de qualidade e de quantidade não podem ser dissociadas. Tal separação é fruto da mentalidade positivista, que trabalha apenas com o que é considerado fato concreto.

Conforme exposto, verifica-se que os principais estudos em conforto térmico deixam lacunas no conhecimento tanto da gênese e dinâmica do clima, em que se inserem as variáveis ambientais, como na subjetividade humana em relação ao fenômeno, para o entendimento dessa realidade. Privilegiando os aspectos objetivos nas relações de conforto, em detrimento dos aspectos subjetivos, os estudos carecem de profundidade na compreensão da essência do fenômeno. O rigor climático, especificamente no que se refere à temperatura do ar em Palmas, carente de estudos mais aprofundados, principalmente sob uma perspectiva genética e

dinâmica, é mais um fator que reforça a necessidade do entendimento da percepção climática e do conforto térmico na cidade.

Considerando a discussão dos estudos pertinentes à avaliação do conforto térmico, questiona-se a insuficiência dos índices e demais estudos relacionados ao tema para a compreensão da percepção climática e do conforto térmico, na forma como têm se apresentado, excluindo a compreensão dos seus aspectos subjetivos. Questiona-se também a fragilidade no entendimento da percepção climática e conforto térmico dissociados do entendimento do clima em que está inserido, especialmente em climas quentes, como o de Palmas.

A presente pesquisa tem preocupação voltada à relação do ser humano com o ambiente térmico não só por meio da homeostasia e dos efeitos térmicos do clima, como a partir do indivíduo e sua percepção. No intuito de conhecer as essências do clima e do conforto térmico enquanto fenômenos percebidos, a pesquisa se propõe à utilização do método fenomenológico como outra perspectiva para avaliar o caráter subjetivo do conforto térmico. A fenomenologia, em contraposição à mentalidade positivista, busca a essência ou ideia, e não o fato concreto (SOUZA, L., 2013). Tal corrente vem sendo desenvolvida por diversos pesquisadores numa tentativa de aplicação prática do método fenomenológico, criado como método filosófico, às pesquisas empíricas. Sua utilização é muito ampla, na Geografia Humanista e Cultural, e na Psicologia, a exemplo de Giorgi (2012a; 2012b), e mais recentemente na percepção ambiental. Pretende-se contribuir com o entendimento da percepção do clima e do conforto térmico de forma interdisciplinar, inter-relacionando os aspectos objetivos e subjetivos do clima, da percepção climática e do conforto térmico em áreas externas na cidade de Palmas. Para isso, pretende-se compreender os aspectos climáticos da cidade de Palmas, a partir de abordagem genética e dinâmica do clima, em conjunção com índices de conforto térmico, em anos-padrão selecionados e por meio de análise episódica em área adensada na cidade como estudo de caso. Objetiva-se também caracterizar a percepção climática e o conforto térmico dos moradores da cidade de Palmas, não apenas sob o caráter quali-quantitativo dos estudos em percepção, mas também sob o caráter fenomenológico, e ainda refletir sobre o caráter complementar das abordagens objetivas e subjetivas do clima e do conforto térmico, bem como sobre sua viabilidade empírica e possíveis adequações metodológicas.

Parte-se da hipótese de que o entendimento do clima e a discussão sobre a percepção climática, incluindo a aplicação de índices de conforto térmico, requerem ampla discussão dos aspectos objetivos e subjetivos do tema, com metodologias adequadas a cada uma das abordagens de forma complementar, sem contraposições. A abordagem genética do clima propicia o estudo da origem das condições atmosféricas, ou seja, os sistemas atmosféricos

atuantes relacionados com os tipos de tempo, nos quais os indivíduos estão imersos. Já a característica da dinâmica ou do ritmo diz respeito ao desenrolar das condições atmosféricas no tempo cronológico, podendo ser cumulativas ou alternadas em diferentes intervalos, o que também refletirá nos aspectos de percepção climática e de conforto. Na avaliação quali- quantitativa da percepção climática, verificou-se a possibilidade da experiência e da relação topofílica do sujeito com a cidade e seu clima, e da forma como o indivíduo observa o ritmo do tempo, influenciarem o sentido da percepção climática e do conforto térmico para as pessoas.

Do ponto de vista subjetivo, quando da utilização do método fenomenológico, devido à natureza da pesquisa fenomenológica, não foram determinadas hipóteses ou expectativas prévias, voltando-se ao fenômeno a partir de uma suspensão do pesquisador. A ausência de hipóteses, no caso da aplicação do método fenomenológico, abre a possibilidade da descoberta, tendo em vista que os elementos subjetivos da relação do sujeito com as condições climáticas locais serão postos à mostra após a aplicação do método.

A escolha do tema objeto de investigação na cidade de Palmas, deve-se a três fatos preponderantes: à reduzida produção acadêmica sobre clima e conforto térmico na região Norte do país, redução agravada na cidade de Palmas; à grande carência de pesquisas que relacionem os aspectos climáticos genéticos e dinâmicos ao conforto térmico; e ao tratamento excessivamente positivista dos aspectos subjetivos relativos ao conforto térmico.

A região Norte do país é carente em estudos mais detalhados abarcando os temas conforto térmico e clima, tanto em escala regional como na escala do clima urbano, em especial sob o ponto de vista da gênese e da dinâmica climática. Nos Simpósios Brasileiros de Climatologia Geográfica (SBCG), de 1992, primeiro ano do Simpósio, até a edição mais recente, no ano de 2016, dos 2040 trabalhos citados nos anais, apenas 85 (4,2%) foram aplicados à Região Norte, enquanto 716 (35,1%) foram aplicados na Região Sudeste, 372 (18,2%) na Região Sul, 307 (15,0%) na Região Nordeste e 202 (9,9%) na Centro-Oeste (os demais não foram trabalhos aplicados). No Tocantins, o número é ainda mais reduzido, apenas 17 artigos (0,8%), sendo quatro (0,2%) em Palmas. Os primeiros trabalhos no Tocantins foram apresentados no ano de 2006, e na cidade de Palmas, apenas em 2014. Nos anais dos Encontros Nacionais de Conforto no Ambiente Construído (ENCAC), evento bianual mais importante na área de conforto ambiental no Brasil, desde sua primeira edição em 1990 até o ano de 2017, foram identificados apenas 16 trabalhos na região Norte, sendo sete no Tocantins, todos em Palmas (três em 2015 e quatro em 2017).

Em levantamento detalhado em revistas específicas em climatologia e em conforto térmico, a carência no Tocantins e em Palmas foi ainda maior. Na Revista Brasileira de

Climatologia, publicação oficial da Associação Brasileira de Climatologia (ABClima), dos 288 trabalhos publicados na revista até o ano de 2017, apenas 25 (8,7%) foram aplicados na Região Norte, sendo dois (0,7%) no Tocantins, um no ano de 2016, e um (0,3%) no ano de 2017, sendo este último em Palmas. Na Revista Ambiente Construído, um dos principais periódicos científicos brasileiros na área, publicado pela Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC), dentre os 66 números publicados até o ano de 2017, cinco foram dedicados exclusivamente ao conforto ambiental e eficiência energética. Dos 676 artigos publicados de 1997 a 2017, 72 (10,7%) foram aplicados ao desempenho e ao conforto térmicos, e apenas um (0,1%) foi aplicado na região Norte, nenhum no Tocantins. A maioria dos trabalhos aplicados em conforto nessa revista está concentrada nas regiões Sudeste (22 artigos, 3,3%) e Sul do país (17 artigos, 2,5%).

No que diz respeito às pesquisas que relacionam conforto térmico aos aspectos genéticos e dinâmicos do clima, nos encontros, simpósios e revistas citadas, foram encontrados 12 artigos, e especificamente com a análise rítmica, apenas seis artigos. Nos anais dos ENCAC, encontra- se o primeiro esforço no sentido de iniciar a discussão do conforto e a abordagem dinâmica do clima, no ano de 1995, mas sem introduzir os gráficos de análise rítmica. Estes foram utilizados na última edição do ENCAC, em 2017, no estado do Tocantins, em estudo com aplicação de questionários de conforto térmico representados em paralelo ao gráfico de análise rítmica de um episódio de calor em Palmas (SILVA et al., 2017). Os gráficos de análise rítmica já haviam sido utilizados em conjunção com questionários relacionados ao conforto térmico em estudo no Tocantins, em um evento local — Seminário de Iniciação Científica da Universidade Federal do Tocantins (UFT) — realizado em 2010, mas de forma ainda preliminar. Nesta pesquisa, aplicada na cidade de Porto Nacional, Silva e Souza (2010) introduziram, nos gráficos de análise rítmica, dados coletados por questionários com respeito a algumas reações fisiológicas e comportamentais das pessoas (dores de cabeça, suor excessivo, alergia e uso do ar condicionado ou ventilador), mas não especificamente a sensação térmica no sentido biometeorológico (sensações de quente, neutro e frio).

Nos anais dos SBCG, a introdução do conforto térmico em conjunção com os aspectos genéticos e dinâmicos do clima surgiu a partir de 2012, com importantes trabalhos como Moura e Zanella (2012) e Gobo e Galvani (2014), que serão citado ao longo desta tese. Na Revista Ambiente Construído, não há nenhum artigo com o tema da análise rítmica, e na Revista Brasileira de Climatologia, foi publicado apenas um artigo em 2017, com aplicação de índices de conforto para metodologia aplicada à análise rítmica (SILVA; SOUZA, 2017), exemplificado em estudo de caso no Tocantins, na cidade de Palmas.

A maior carência, sem dúvida, ocorreu na identificação de pesquisas que relacionassem os aspectos subjetivos do conforto térmico com um caráter não positivista, e mais ainda em se tratando da abordagem fenomenológica. A maior parte dos trabalhos em conforto utilizando métodos fenomenológicos, em suas variantes, é encontrada na área da saúde, essencialmente na Enfermagem e na Psicologia, e não envolve o espaço arquitetônico e urbano com alguma variável térmica dentro do conforto ambiental. Apenas dois trabalhos foram encontrados um pouco mais próximos dessa perspectiva, a dissertação de mestrado de Slatyer (2013) e a tese de doutorado de Burris (2014). Slatyer (2013) tem investigação focada na percepção de ocupantes de edifícios sob a égide da arquitetura sustentável, e inclui o conforto ambiental em sua