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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2.1 ABORDAGEM OBJETIVA

3.2.1.4 Seleção dos anos-padrão e períodos-padrão de análise

Em análise rítmica, há a necessidade de um recorte temporal, tendo em vista que a técnica não utiliza médias, mas dados absolutos diários de elementos climáticos, o que dificulta a realização desta tarefa em períodos maiores que um ano, por exemplo159. Nessa técnica, utilizam-se comumente como recortes temporais os anos-padrão, que são os anos mais representativos para caracterização do clima de determinado local.

A seleção de anos-padrão específicos faz-se necessária a partir de uma análise geral dos dados climáticos disponíveis. Há várias técnicas para determinação de anos-padrão de análise. Segundo (GOMES; SILVA; SOUZA, 2012, p. 629),

[...] a escolha dos anos-padrão para análise rítmica tem sido orientada por diferentes critérios, ora baseados na experiência e no arbítrio dos pesquisadores, [...] ora baseados em cálculos estatísticos, [...] não havendo um único procedimento para a realização dessa tarefa.

Normalmente, os anos-padrão são escolhidos pelos totais pluviométricos sazonais e anuais, a partir de dados absolutos, diferente das temperaturas que são expressas em médias, com o objetivo de determinar o ano mais chuvoso, o mais seco e o habitual. A seleção por

159 Em outros estudos meteorológicos baseados em médias, como no desenvolvimento de normais climatológicas, levam-se em consideração os dados ao longo de 30 anos ou mais.

pluviosidade é comum, tendo em vista que esse dado é absoluto, e pode ser calculado mensal e anualmente com os totais acumulados, ou seja, mantendo a característica absoluta do dado, coadunando com o conceito não mediano do clima. Além disso, a precipitação é um elemento climático que se destaca nos climas tropicais, determinando sua sazonalidade. Estudos em conforto térmico com paralelo na análise rítmica, como Gobo (2013), Gobo e Galvani (2015), muitas vezes permanecem no critério da pluviosidade na seleção de anos-padrão.

No entanto, há outros critérios que podem ser considerados. Silva (2013), como exemplo, considerou na seleção dos anos-padrão não só a partir dos totais pluviométricos, como por comparação entre estes e a produtividade da soja. Moura e Zanella (2012) propuseram um método para a escolha de anos-padrão para o estudo do conforto térmico em Fortaleza, utilizando o DIT. As pesquisadoras utilizaram medidas de tendência central e de dispersão,

usando valores mensais e anuais do índice, calculados a partir dos dados de uma série histórica definida e compararam a proposta com métodos tradicionais, baseados na pluviosidade.

Para a seleção dos anos-padrão e períodos-padrão de análise, a presente pesquisa, da mesma forma que Moura e Zanella (2012), teve como base a aplicação do DIT, com o objetivo

de determinar o ano mais confortável, o mais desconfortável e o ano habitual para o estudo rítmico do conforto térmico. Para a escala microclimática, com critérios semelhantes à seleção dos anos-padrão, o recorte temporal determinou períodos-padrão, ou seja, períodos de tempo ao longo do ano com características representativas ao índice climático utilizado para a seleção dos episódios.

No entanto, a técnica utilizada na presente pesquisa distingue-se da proposta de Moura e Zanella (2012) pela utilização somente de dados absolutos, inclusive do índice de conforto térmico. Considerou-se, pois, que a análise rítmica, sendo uma técnica que se coloca como alternativa ao uso de médias, não deve utilizá-las em nenhum dos elementos, inclusive no índice de conforto térmico.

Da mesma forma que na seleção da estação meteorológica na dimensão mesoclimática, foram utilizados os dados da estação convencional do INMET, por ser a mais antiga na área macroparcelada. Para o cálculo do índice, foram utilizados os dados nos horários-padrão da estação selecionada (00, 12 e 18h UTC, ou seja, 21, 09 e 15h no horário local, respectivamente), utilizando a equação do DIT em ºC (Equação 2). Os dados dos três horários-padrão fornecidos

são dados simultâneos160 de temperatura (bulbo seco e bulbo úmido) e umidade relativa, possibilitando o cálculo do índice.

Foram calculados os índices de 20 anos de dados, de 1995 a 2014161, utilizando planilhas eletrônicas, num total de 21779 índices calculados, sendo posteriormente totalizados os percentuais de frequência relativa nas três categorias do DIT (conforto, desconforto para calor

e desconforto para frio), resultando na Tabela 17.

Tabela 17 – Frequências relativas totais para cada intervalo de conforto do DIT em Palmas

(1995–2014) DESCONFORTO PARA O FRIO (≤ 18,9ºCDIT) CONFORTO (18,9ºCDIT< X ≤ 25,6ºCDIT) DESCONFORTO PARA O CALOR (> 25,6ºCDIT) 0,005% 59,798% 40,197%

Fonte: INMET (2017), organizado pela autora (2018).

O menor valor registrado do índice foi 18,48ºCDIT, em 12 de julho de 1996, às 00 UTC

(corresponde às 21h do dia anterior, horário local), e o maior registrado foi 32,40ºCDIT em 01

de março de 2002, às 18 UTC (15h, horário local). A maior frequência registrada foi de conforto, com quase 20,0% a mais que o desconforto para calor. Verificou-se também que, na cidade de Palmas, houve apenas um registro de desconforto para o frio, correspondendo ao menor valor registrado do índice.

Recorte temporal da dimensão mesoclimática

Para a seleção dos anos-padrão na dimensão mesoclimática, foram calculadas as frequências de conforto e desconforto para calor para cada ano da série, resultando na Tabela 18. Verificou-se que a primeira década, de 1995 a 2004, apresentou maiores percentuais de conforto na maioria dos anos (em 1995, 1996, 1997, 1999, 2000 e 2001), e a segunda década, de 2005 a 2014, apresentou maiores percentuais de desconforto (2005, 2007, 2009, 2010, 2012, 2013). No entanto, os totais anuais não permitem ver as habitualidades e excepcionalidades da cidade, pois apresentam apenas os totais de conforto e desconforto. Por esse motivo, e

160 Os dados mensais da estação convencional são médias do mês. Os dados diários possuem médias (temperatura média compensada, umidade relativa e velocidade do vento) e dados absolutos (precipitação, temperatura máxima e temperatura mínima), mas não simultâneos, o que impossibilita o cálculo do índice.

161 Apesar de serem disponíveis dados desde 1993, foram descartados da análise os anos 1993 e 1994, tendo em vista a grande ausência (falhas) de dados de temperaturas e umidade fornecidos pelo INMET. O ano de 1993 só possui dados a partir do dia 24 de novembro e o ano de 1994 não possui dados dos meses de fevereiro, março, abril e dezembro.

considerando as recomendações de Monteiro (1971), foi afastado o critério de avaliação pelos totais anuais.

Tabela 18 – Frequências relativas totais anuais para cada intervalo de conforto do DIT em

Palmas (1995–2014)