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2.4 Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Sócio-ambiental

2.4.4 Capacidade de Carga como instrumento de sustentabilidade

O turismo é uma atividade marcada pelo desenvolvimento das regiões onde se instala, geralmente, esses lugares tornam-se atrativos aos olhos do homem porque trazem na essência a beleza de suas paisagens e o exotismo peculiar a cada manifestação natural ou cultural existente. Dando suporte, quando não planejado, a um aumento desordenado de seu fluxo, acarretando sérios problemas ao atrativo, debilitando-o e, muitas vezes, o deixando ameaçado como produto turístico ao perder as características que o tornaram um atrativo, a princípio.

Para se entender a idéia de lugar turístico, analisaremos primeiro o conceito de lugar conforme Santos (1996, p. 145):

Quando se trabalha uma concepção hierárquica e geométrica do espaço geográfico. Aí, a região pode ser considerada como um lugar, sempre que se verifique a regra da unidade e da contigüidade do acontecer histórico [...] os lugares se definem, pois, por sua densidade informacional e por sua densidade comunicacional, cuja função os caracteriza e distingue.

Dentro dessa perspectiva, Almeida (2003, p. 5) já afirma que “não existe o lugar turístico. Na verdade, todos os lugares não são turísticos, mas podem ser, isto é, em suma não existe um lugar que possa ser considerado turístico, pois muitos fatores devem ser levados em conta até que isso aconteça ou, até que o turismo seja

consolidado como atividade fundamental em determinado lugar”. Há regiões que possuem atrativos, mas não possuem os equipamentos para facilitarem sua utilização pelos turistas, assim como existem cidades com estrutura, porém, não possuem atrativos suficientes para que o turismo ocorra.

Além do mais, não adianta ter atrativos e equipamentos, infra-estrutura, se não há oferta. Portanto, para que um produto turístico seja assim considerado de fato, é essencial que haja estes três elementos: atrativos, equipamentos e serviços (as facilidades) e, oferta.

Para Ruschmann (1999, p. 26):

O produto turístico difere, fundamentalmente, dos produtos industrializados e de comércio, compõe-se de elementos e percepções intangíveis e é sentido pelo consumidor como uma experiência. Por isso, é preciso defini-lo e conhecer suas características [...] Portanto, os componentes do produto turístico, do ponto de vista do consumidor, são as atrações do núcleo receptor, as facilidades que são oferecidas ao turista, e as vias e meios de acesso.

Reforçando esse conceito, Vaz (1999, p.56) define produto turístico como sendo:

Um conjunto de benefícios que o consumidor busca em uma determinada localidade e que são usufruídos tendo como suporte estrutural um complexo de serviços oferecidos por diversas organizações. O conceito nuclear da definição é computado com a estrutura de serviços (dimensão especifica) que acompanham o benefício central e que estão presentes (transporte origem- destino, excursões) mesmo quando a dimensão genérica encontra-se em um equipamento turístico.

De acordo com esses conceitos, quando um lugar abriga tais características, pode se dizer que o mesmo possui o produto turístico, assim sendo, qualquer lugar passaria a ser um lugar turístico desde que houvesse demanda e que o produto não fosse descaracterizado em decorrência de seu uso desordenado. Por essa razão, a capacidade de carga nos destinos turísticos deve ser um elemento de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável do turismo.

O fluxo de turistas em determinadas áreas deve ser controlado e monitorado de acordo com o nível que o meio pode suportar, ou seja, capacidade de carga é o limite aceitável que um lugar ou atrativo turístico pode sofrer até que comece a ser prejudicado ou mesmo destruído em decorrência do processo de saturação. Isso pode

ocorrer principalmente com os recursos naturais e manifestações culturais dos lugares, pois são mais frágeis e suscetíveis à ação do homem.

Ruschmann (1997, p. 118) afirma que:

O excesso na quantidade de turistas nos equipamentos compromete a qualidade dos serviços e prejudica a continuidade e a repetição da visita dos turistas. Além disso, a diversificação das atividades econômicas do local, concentrando-as nos serviços turísticos, provoca a extinção das atividades de subsistência originais das destinações, e a conseqüente dependência econômica excessiva do turismo.

Vale salientar que a dependência econômica de uma única atividade num lugar (monocultura) pode prejudicar muito o desenvolvimento da localidade, pois acarretaria inúmeros problemas de ordem situacional.

De acordo com o Guia para oficinas de treinamento da EMBRATUR (2001, p. 41) capacidade de carga é “a utilização máxima de qualquer lugar sem efeitos negativos nos recursos naturais; redução da satisfação do turista; e impactos adversos sobre a sociedade, a economia e a cultura locais”.

Abaixo, segue demonstração do gráfico 01 que infere como um destino pode ficar, caso não haja um controle efetivo no número de visitantes em determinadas áreas, além de prejudicar os aspectos característicos e inerentes à comunidade do local, como por exemplo, a descaracterização da cultura.

Gráfico 1 – Nível das condições de uma determinada comunidade antes e depois da atividade turística.

Nível das condições da comunidade antes e depois

da atividade turística

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Qualidade Ambiental Riqueza Histórica e

Cultural

Atrativos turísticos Infra-estrutura

Urbana Aspectos relevantes N ív e l d e Q u a lid a d e % % Antes Depois

Fonte: Gráfico de elaboração própria, 2007.

Com base no gráfico acima, vê-se que os recursos naturais e culturais (qualidade ambiental e riqueza histórica e cultural) são os mais prejudicados porque são mais frágeis diante de seu uso indiscriminado pelo turismo, fator este que acarreta na redução da qualidade desses atrativos com o tempo.

Os atrativos turísticos apresentariam uma pequena melhora, se considerar que antes não havia muitos turistas e consequentemente muitos atrativos não eram vistos ou considerados como tal, ao serem apreciados pela atividade turística, estes de certa forma ganham incentivo, a princípio, para que possam oferecer ao turista condições mínimas de uso do mesmo.

Já com relação à infra-estrutura, nota-se um significativo aumento de sua qualidade, já que quando o turismo está presente, o desenvolvimento é impulsionado gerando melhorias para a localidade, principalmente com relação aos serviços básicos, como acesso, por exemplo.

Os níveis entre excelente e ruim a que o gráfico atribui são meramente fictícios, elaborados com base em estudos que geraram suposições próprias sobre as conseqüências da atividade turística não planejada nos destinos. Supõe-se que esses resultados estejam bem próximos da realidade que se deseja explorar no presente capítulo. Legenda: Excelente 9 a 10 Boa 7 a 9 Regular 4 a 7 Ruim 0 a 4

Deve-se lembrar que esse controle de capacidade de carga é algo extremamente complexo e que para dar certo requer pesquisas e estudos focados num planejamento social e ambiental do destino. Entretanto, existem inúmeros fatores que dificultam a gestão e o bom funcionamento da capacidade de carga nos lugares de interesse turístico.

Dentre estes fatores que limitam a capacidade de carga nos destinos turísticos Siart (2003, p. 25), considera seis aspectos principais que após interpretados pelo atual trabalho sugerem:

a) O sistema ecológico composto pela fauna, vegetação, água, ar e terrenos, ou seja, o meio ambiente e seus recursos naturais;

b) Os limites físicos da oferta turística disponível: compostos por alojamentos, territórios disponíveis e acesso, ou melhor, infra-estrutura;

c) Aspectos administrativo políticos, ou seja, capacidades, competências, propriedades e objetivos, sejam do Governo seja da iniciativa privada ou da gestão que administram;

d) A experiência do visitante de acordo com o grau de satisfação a partir do fluxo, comportamentos vivenciados e expectativas atingidas ou não;

e) A experiência dos nativos/comunidade local, mais precisamente no que se refere à privacidade, tolerância ao comportamento e á presença dos turistas que além de atingir a comodidade local podem alterá-la do ponto de vista psico-social;

f) E por fim, os aspectos econômicos, tais como: tecnologia, custo da mão de obra, aumento no custo de vida local, entre outros.